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"Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever - inclusive a sua própria história." Bill Gates

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terça-feira, 28 de outubro de 2014

Marina, teologia e política

Marina Silva no culto em que foi ordenada como Evangelista da Assembleia de Deus


Ricardo Gondim, no seu site.
A dias da eleição em primeiro turno fui convidado, por via indireta, para um encontro de líderes evangélicos com Marina. A reunião aconteceu em plena avenida Paulista. Sem saber quem também compareceria, achei que deveria ir.
Estranhei, de princípio, os que encontrei: pastores-presidentes de denominações e líderes neopentecostais, alguns auto-proclamados apóstolos e apóstolas e vários bispos e bispas. A faixa etária me chamou a atenção: a maioria era semi-idosa – iguais a mim. Faltavam jovens. Observei que uma gerontocracia sacerdotal continua a dar as cartas entre os crentes.
Depois, não podia deixar de notar a baixa frequência. Os organizadores não conseguiram lotar as cerca de 500 cadeiras dispostas no clube Homs. Murmurei para mim mesmo em tom crítico: dá para promover um evento gospel, mas é muito pouco para eleger um presidente – no caso, presidenta – do Brasil.
Antes mesmo de cantarmos o hino nacional, eu já conseguia suspeitar as percepções de mundo que inspiravam o encontro. Vi expoentes de uma onda que se popularizou no final da década de 1980 pelo Brasil conhecida como teologia da guerra espiritual – que procura combater demônios que se encastelam, desde os ares, em áreas geográficas definidas. Com textos bem alegorizados da Bíblia hebraica – Antigo Testamento – esse pessoal afirma que há príncipes diabólicos e potestadesinfernais designadas pelo próprio Satanás para reger, aprisionar e destruir bairros, cidades, estados e até o Brasil. A percepção fica entre o primitivo e o medieval: uma batalha entre forças espirituais antagônicas – anjos versus demônios – exige que os crentes se engajem através da oração. Sem a força das preces, os demônios vencem, mas, quando a igreja ora, os anjos triunfam. Identifiquei esses teólogos (grandes aspas aqui) nos corredores do encontro. Constatei, inclusive, que alguns se dirigiram para a coxia do salão e não voltaram mais. Minha intuição evangélica me avisa que foram interceder por Marina.
A candidata evangélica estaria vulnerável não ao constante bombardeio de marqueteiros de outros partidos, sequer desgastada pelo assédio e intimidação de certos televangelistas, mas por ataques satânicos. A vitória de Marina se daria, portanto, com jejum e oração; jamais por sua capacidade de transmitir boas propostas políticas ao povo brasileiro. Marina aconteceria no cenário político como encarnação de saias de Dom Sebastião, vinda dos joelhos dobrados em oração para a salvação do Brasil. Ela é guerreira do Senhor. Ela é ungida por Deus e capacitada pela intercessão dos crentes para conquistar, nas esferas espirituais, os territórios, as cidades e a própria nação do domínio que Satanás conseguiu exercer.
Marina entrou na reunião, cumprimentou a todos e se sentou. Um apóstolo fez a prece da abertura. Antes de orar, discursou por uns 10 minutos – que pareceram uma hora. Deixou claro: ele empenhava os votos de sua comunidade com dois milhões de membros – exagero que, sem juízo, pode ser creditado como mentira. Expressou outro ponto teológico que explicava o primeiro e, talvez, mais importante porquê de os evangélicos apoiarem Marina: uma reivindicação moralista.
Ficou nítida a força que animava aquele auditório: eles queriam que Marina combatesse o avanço nas conquistas civis dos homossexuais, impedisse o aborto e, num conceito mais difuso, protegesse a família. Com a bancada evangélica, notoriamente, manchada por enormes desvios éticos, o grupo sabe da conveniência de enxergar, nessas causas, a ruína do Brasil. Algumas grandes igrejas nacionais – seus líderes estavam no encontro – já foram investigadas até por assassinato. Se contar o número de processos contra políticos evangélicos no STF, fica ridículo os próprios evangélicos identificarem nos homossexuais, e na insistência da comunidade LGBT de ter seus direitos civis reconhecidos, a desgraça do país.
Convidaram um pastor para representar o presidente da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (ausente da reunião e que apoiou Aécio Neves). Lembro quase ipsis litteris de suas palavras: - A candidatura de Marina Silva nasceu no coração de Deus. Deus tem tudo, rigorosamente, sob seu controle. E ele levará sua serva à vitória. O ambiente, que vinha morno, se acendeu. Aleluia, glória a Deus e amém se repetiram entre mãos levantadas e salva de palmas. Minha reação imediata: E se ela não for eleita?
Eu acabava de escutar a tolice mais repetida em púlpitos, debates e nas frases de efeito que se espalham pelas redes sociais. Ela soa interessante, mas não passa de um disparate. Se Deus tem mesmo tudo sob seu mais absoluto e rigoroso controle e Marina perde, já no primeiro turno, restam duas alternativas: o pastor falou asneira ou os dois adversários que a suplantaram em votos – Dilma e Aécio – burlaram o Todo-Poderoso; isto é, foram mais astutos. O pastor e aquele auditório, com raríssimas exceções, não pensam nos desdobramentos de suas afirmações. A frase não se sustenta. E essa piedade mostra o quanto o movimento evangélico nacional prescinde de bom senso.
Além do mais, se Deus tem tudo sob seu mais absoluto e rigoroso controle e a candidatura de Marina nasceu no seu coração, aquela reunião devia ser uma celebração antecipada da posse. E todo o esforço do comitê de campanha, todo o dinheiro gasto e toda rouquidão da candidata não passavam de teatro, com o fim do espetáculo anteriormente definido.
Depois, o telão exibiu um pequeno vídeo com Marina em comícios, com um trecho de seu testemunho de menina pobre, sem comida em casa. A música da peça publicitária era, obviamente, gospel no melhor estilo triunfalista. Não lembro a letra toda, mas o refrão repetia sem parar a palavra vitória. Marina havia descido do palco para assistir ao vídeo de frente. Uma das protagonistas do movimento “O Brasil é do Senhor Jesus. Povo de Deus, declare isso” se pôs em pé, acenou com as mãos, pedindo palmas efusivas.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Vaticano desmente a mídia: Nem o Sínodo nem o Papa Francisco tomaram decisões doutrinais

Sínodo da Família. Foto: Daniel Ibáñez / ACI Digital
via ACI digital|

Após uma série de notícias difundidas ontem sobre uma suposta mudança doutrinal da Igreja a respeito dos casais homossexuais, o site oficial de notícias da Santa Sé, News.va, assinalou nesta terça-feira que as discussões que têm lugar no Sínodo da Familia não são “doutrina nem normas definitivas”, e sim propostas para um documento de trabalho que será enviado às dioceses para preparar o Sínodo de 2015.

“Em resposta às reacções e discussões que se seguiram à publicação da Relatio post disceptationem, e ao facto de que, muitas vezes, lhe tem sido atribuído um valor que não corresponde à sua natureza, a Secretaria Geral do Sínodo reitera que este texto é um documento de trabalho, que resume as intervenções e o debate da primeira semana e, agora, é proposto à discussão dos membros do Sínodo reunidos nos Círculos menores, como previsto pelo Regulamento do mesmo Sínodo”, esclareceu o News.va.

“Acima de tudo, é importante recordar uma vez mais que o que se fala no Sínodo não é nem doutrina nem normas definitivas: não haverá ‘resultados’ do Sínodo, pois o Sínodo só está preparando um documento de trabalho que será discutido em todas as dioceses do mundo para preparar o sínodo de outubro de 2015”.

“Será este segundo Sínodo o qual apresentará uma série de recomendações ao Papa e ele aprovará o que considere melhor para o povo de Deus. Mas no momento, não há nada definitivo em nenhum sentido, por isso as notícias que atribuem tal ou qual decisão ao Papa ou ao Sínodo não são certas”, assinalou também o portal em sua edição em espanhol.

Nesse sentido, diante a confusão gerada nos fiéis, News.va convidou a procurar “informação de primeira mão sobre o sínodo” nos meios da Santa Sé.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Documento do Vaticano defende mudança da Igreja em relação a gays

Homossexuais têm 'dons e qualidades a oferecer', diz texto. 
Documento foi preparado após uma semana de discussões com 200 bispos.

Bispos em reunião matinal do sínodo da família, no Vaticano, nesta segunda-feira (13)
(Foto: Gregorio Borgia/AP)
publicado no G1

Numa grande mudança de tom, um documento do Vaticano declarou nesta segunda-feira (13) que os homossexuais têm “dons e qualidades a oferecer” e indagou se o catolicismo pode aceitar os gays e reconhecer aspectos positivos de casais do mesmo sexo.

O documento, preparado após uma semana de discussões sobre temas relacionados à família no sínodo que reuniu 200 bispos, disse que a Igreja deveria aceitar o desafio de encontrar “um espaço fraternal” para os homossexuais sem abdicar da doutrina católica sobre família e matrimônio.
saiba mais

Embora o texto não assinale nenhuma mudança na condenação da igreja aos atos homossexuais ou em sua oposição ao casamento gay, usa uma linguagem menos condenatória e mais compassiva que comunicados anteriores do Vaticano, sob o comando de outros papas.

A declaração será a base das conversas da segunda e última semana da assembleia, convocada pelo papa Francisco. Também servirá para aprofundar a reflexão entre católicos de todo o mundo antes de um segundo e definitivo sínodo no ano que vem.

"Os homossexuais têm dons e qualidades a oferecer à comunidade cristã: seremos capazes de acolher essas pessoas, garantindo a elas um espaço maior em nossas comunidades? Muitas vezes elas desejam encontrar uma igreja que ofereça um lar acolhedor”, afirma o documento, conhecido pelo nome latino de “relatio”.

“Serão nossas comunidades capazes de proporcionar isso, aceitando e valorizando sua orientação sexual, sem fazer concessões na doutrina católica sobre família e matrimônio?”, indagou.

John Thavis, vaticanista e autor do bem-sucedido livro “Os Diários do Vaticano”, classificou o comunicado como “um terremoto” na atitude da Igreja em relação aos gays.

“O documento reflete claramente o desejo do papa Francisco de adotar uma abordagem pastoral mais clemente no tocante ao casamento e aos temas da família”, disse.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Mãe evangélica reescreve Harry Potter, com medo de seus filhos virarem bruxos


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Duda Delmas Campos, no Literatortura (via Livros e Pessoas)
No presente momento de frenesi eleitoral e acirradas discussões políticas, muito se diz a respeito do conservadorismo religioso, que não só no Brasil, mas mundo afora, afeta as vidas de muitas pessoas, assim como se debate acerca da validade do fundamentalismo. E é nesse contexto que surge Grace-Ann, nos EUA. A texana, amedrontada ante a possibilidade de seus filhos tornarem-se bruxos ao lerem Harry Potter, decidiu reescrever a saga, retirando-lhe as partes mágicas. Pois é.
A nota que precede essa releitura de Harry Potter, que você pode conferir aqui, lê: “Olá, amigos! Meu nome é Grace Ann. Sou nova nessa coisa de fanfic; mas, recentemente, encontrei um problema para o qual acredito que essa seja a solução. Meus pequenos têm pedido para ler os livros de Harry Potter, e é claro que fico feliz que estejam lendo, mas não quero que se transformem em bruxos! Então pensei… por que não fazer algumas pequenas mudanças para que esses livros sejam familiares? E depois pensei, por que não compartilhar isso com todas as outras mães que estão enfrentando o mesmo problema?”
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Segundo a autora, a história de Harry Potter tem muito potencial, já que trata de amizade e coragem, mas, pela existência de bruxaria, seus filhos não podem ler, de forma a ter sido necessário que ela a reescrevesse mantendo toda a aventura e a “boa moral”, mas eliminando todas as coisas ruins, ou seja, a magia. Você pode estar perguntando-se: e como ela simplesmente retira a magia de um livro que é fundamentalmente sobre isso? Bom, então vamos a uma breve sinopse desse novo mundo.
Basicamente, o bom e obediente órfão Harry Potter mora com seus tios, evolucionistas que negam a existência divina, até que um dia é visitado por Hagrid, um pregador cristão que bate na casa dos Dursley para perguntar se eles querem ser salvos. Harry, puro e pleno de “santa energia”, aceita e parte para a Escola de Orações e Milagres de Hogwarts, a fim de aprender a ser cristão. Lá é recebido pelo Reverendo Dumbledore e sua esposa, Minerva, pais de Hermione Granger. A menina lhe explica sobre Voldemort, um homem que deseja destruir tudo por que eles lutam, pressionando o Congresso a aprovar uma pauta que os impediria de expressar livremente sua religião.
Temos também Rony, um sonserino que deixa Harry bastante intrigado por estar rezando a uma estátua. O Rev. Dumbledore explica que, como tempos difíceis estão chegando, a escola é inclusiva em relação a todos aqueles que acreditam n’O Senhor, independentemente de como, de modo que as divisões do cristianismo funcionam como as Casas Grifinória, Sonserina, Lufa-Lufa e Corvinal. A esta última casa pertence Draco, que crê que mulheres são inferiores a homens, por isso não devem trabalhar, o que incomoda profundamente nosso herói Harry, para quem mulheres não devem ter uma carreira porque devem cuidar dos filhos. Já Luna pertence à Lufa-Lufa, pregando Mateus 7:1:“Não julgueis, para que não sejais julgados”.
Outra alteração é que Snape é o professor responsável pela Grifinória e defende que existem forças malignas que querem a derrocada dessa Casa, já que as outras ou estão conspirando com Voldemort, ainda que isso contrarie a 1ª Emenda Constitucional, ou simplesmente acreditam em tudo. E isso é o que temos até agora. Não há muita aventura ainda, contrariando o que a autora afirmou, mas quem sabe nos próximos capítulos? Talvez…?
Finda a nossa sinopse, é preciso constatar: claramente há alguns problemas aí. Pelo menos alguns. Dentre eles, os mais imediatos seriam: Dumbledore e McGonnagall, casados? E pais de Hermione? Rony, aluno da Sonserina? Pelas barbas de Merlin! Snape, professor da Grifinória??! Um pouquinho de verossimilhançacom o mundo fictício, por favor! Já em termos de qualidade literária, a “obra” peca pela monotonia das cenas, sempre marcadas por discussões religiosas e pensamentos castos, corretos e puritanos do herói, tornando-a uma leitura bastante chata, principalmente se considerarmos o público alvo.
No entanto, a fanfic evidencia outros problemas muito mais graves, obviamente. Evidencia o quanto as artes ainda são censuradas e revisadas com intuito doutrinário. Evidencia como o fundamentalismo religioso não é restrito apenas a jihadistas do Oriente Médio. Evidencia como a intolerância religiosa é perigosa para a sociedade. E ratifica uma visão errada sobre a religião, perpetuando o equivocado estereótipo de instituição arcaica e ignorantemente extremista.
Em primeiro lugar, é preciso deixar bem claro que Grace-Ann tem todo o direito de fazer isso. Ela não está falando em nome de um governo ou instituição laica, nem mesmo obrigando ninguém a ler. Mas isso não quer dizer que possamos tão somente ignorar iniciativas como as dela, pois, assim como cabe a apologia por ela feita, cabe também a crítica. Crítica porque ela se utiliza de um discurso falacioso segundo o qual religião e Teoria Evolutiva são excludentes; crítica porque ela confunde religião com misoginia e esvazia o papel da mulher na sociedade; crítica porque ela hierarquiza as religiões de acordo com a proximidade de Deus ao invés de colocá-las em patamar de igualdade; crítica porque ela crê que ficção e magia possam ser demoníacas e não sensibilizantes, libertadoras e enriquecedoras (imagine o que ela deve não fazer com contos de fada). Enfim, como todo projeto polêmico, a Escola de Orações e Milagres de Hogwarts invariavelmente atrai críticas. E tanto a desaprovação quanto a defesa, você deve expressar nos comentários – vamos aquecer a discussão!

Congresso eleito é o mais conservador desde 1964, afirma Diap


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Publicado no Estadão

Apesar das manifestações de junho de 2013 – carregadas com o simbolismo de um movimento popular por renovação política e avanço nos direitos sociais – o resultado das eleições do último domingo, 5, revelou uma guinada em outra direção. Parlamentares conservadores se consolidaram como maioria na eleição da Câmara, de acordo com levantamento do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).

O aumento de militares, religiosos, ruralistas e outros segmentos mais identificados com o conservadorismo refletem, segundo o diretor do Diap, Antônio Augusto Queiroz, esse novo status. “O novo Congresso é, seguramente, o mais conservador do período pós-1964″, afirma. “As pessoas não sabem o que fazem as instituições e se você não tem esse domínio, é trágico”, avalia.

Ele acredita que a tensão criada pelo debate de pautas como a legalização do casamento gay e a descriminalização do aborto deve se acirrar no Congresso, agora com menos influência de mediadores tradicionais, que não conseguiram de reeleger. “No caso da Câmara, muitos dos parlamentares que cuidavam da articulação (para evitar tensões) não estarão na próxima legislatura. Algo como 40% da ‘elite’ do Congresso não estará na próxima legislatura, seja porque não conseguiram se reeleger ou disputaram outros cargos. Houve uma guinada muito grande na direção do conservadorismo”, diz.

O levantamento do Diap mostra que o número de deputados ligados a causas sociais caiu, drasticamente, embora os números totais ainda estejam sendo calculados. A proporção da frente sindical também foi reduzida quase à metade: de 83 para 46 parlamentares. Junto com a redução desses grupos, o aborto, o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a descriminalização das drogas – temas que permearam os debates no primeiro turno da disputa presidencial – têm poucas chances de serem abordados pelo Congresso eleito, que tomará posse em fevereiro de 2015.
“Posso afirmar com segurança que houve retrocesso em relação a essas pautas. Se no atual Congresso houve dificuldade para que elas prosperassem, no próximo isso será muito mais ampliado. Houve uma redução de quem defendia essa pauta no Parlamento e praticamente dobrou (o número de) quem é contra”, diz.

Parte consistente do conservadorismo, segundo Queiroz, virá da bancada evangélica. Ele estima que o número de religiosos desta corrente deve crescer em relação aos 70 deputados eleitos em 2010. “A bancada evangélica vai ficar um pouquinho maior, mas com uma diferença: nomes de maior peso dentro das igrejas para melhor coordenar e articular os interesses desse segmento junto ao Congresso”, diz. Entre essas lideranças, o Diap já identificou 40 bispos e pastores.
Militares

O Diap também estima um aumento consistente de policiais e militares eleitos. Queiroz prevê que o aumento de parlamentares com este perfil deve chegar a 30%. “Esse grupo, necessariamente, vai fazer parte da ‘bancada da bala’, porque defende a defesa individual”, diz, referindo-se ao lobby da indústria armamentista.

No segundo turno, um plebiscito


ilustração: Internet
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Elio Gaspari, na Folha de S.Paulo
A doutora Dilma vai para o segundo turno sem uma plataforma clara. Em junho, durante a convenção do PT, ela anunciou um “Plano de Transformação Nacional” no qual, além de generalidades, prometeu uma reforma dos entraves burocráticos e um projeto de universalização do acesso à banda larga. Como? Não explicou. No seu lugar entraram autolouvações e manobras satanizadoras contra os adversários. Delas, a mais mistificadora é aquela que confunde os oito anos de Fernando Henrique Cardoso com uma ruína econômica e social. Foi o período de esplendor da privataria, época em que um hierarca do Ministério do Trabalho dizia que o aumento do número de brasileiros sem carteira assinada era uma boa notícia, mas deve-se ao tucanato algo muito maior: o restabelecimento do valor da moeda. Sem isso, Lula, Dilma e o PT não teriam conseguido quaisquer avanços sociais. Por questão de justiça, reconheça-se que o DNA demofóbico de parte do tucanato seria um obstáculo para que fizesse o que Lula fez.
A ideia segundo a qual o PT precisa continuar no poder porque no poder deve continuar é pobre e pode funcionar como uma armadilha. Na noite de domingo, a doutora Dilma afirmou que o “povo brasileiro vai dizer que não quer os fantasmas do passado de volta”. Pode ser, desde que se entenda que o Brasil de FHC foi um castelo mal-assombrado. Mesmo nesse caso, o PT faz sua campanha pretendendo continuar no governo pelos defeitos do adversário, e não pelas suas próprias virtudes. Colocando a questão dessa maneira, deu a Aécio Neves a oportunidade de responder: “O Brasil tem medo dos monstros do presente”.
O desempenho da doutora no primeiro turno foi o pior desde 1998. Ficou em terceiro lugar em São Bernardo, no coração do ABC paulista. A bancada petista no Congresso perdeu 18 cadeiras. Em Pernambuco, foi dizimada. Boa notícia o PT só recebeu de Minas Gerais, onde o eleitorado negou ao PSDB o mandato que lhe daria 16 anos de poder ininterruptos. É isso que o PT busca na esfera federal. Nunca na história deste país um grupo político homogêneo ficou no poder por 16 anos.
Dilma vai para o segundo turno com a arma do favoritismo de quem ganhou no primeiro. Contudo faltam-lhe dois amparos. Agora o tempo de televisão será o mesmo e os debates serão mano a mano. Aécio, como fez o petista Fernando Pimentel em Minas, falará em desejo de mudança. É o “Chega de PT”. Dilma defenderá o “Mais PT”. Darão ao pleito um tom plebiscitário. Seria melhor se discutissem propostas para os próximos quatro anos. O PT carrega êxitos e escândalos, porém o programa de Aécio é mais uma coleção de platitudes e promessas. Seus capítulos para a educação e a saúde não enchem um pires. Se Marina Silva obtiver dele a meta de implantar em

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Até que as eleições nos separem


Mariliz Pereira Jorge, na Folha de S.Paulo
charge: Internet
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Na contabilidade do barraco eleitoral, nesta guerra de farpas verbais, deixei de ler os posts de uma amiga, que virou uma maleta desbocada, e deletei dois colegas que se achavam cientistas políticos. Em época de eleição, todo mundo se acha e esfrega, sem cerimônia, sua estupidez, sua prepotência e sua ignorância na timeline alheia.
Quando vejo alguém panfletando, sempre penso: prefiro você bêbado às 5h da manhã, gritando “toca Raul”. Detesto Raul Seixas, mas não terminaria amizade com ninguém por causa do seu desgosto musical. Convivo com gente que curte pagode, sertanejo, funk. Nenhuma amizade desfeita. Uma vez peguei carona com uma amiga e vi no carro um adesivo escrito “sou chicleteira”. É pessoa do bem, apesar disso. Só não ando mais de carro com ela.
É claro que também caio na cilada de me achar bem mais sabida do que alguém que pensa diferente de mim. Não é raro ler um post e pensar: que imbecil. Eu mesma devo ter me revelado imbecil para algumas pessoas, apenas porque não penso, não voto e não quero para mim o mesma que elas. Todo mundo certo. Todo mundo errado. Todo mundo mordido pela mosquinha da vaidade de ter razão, de ser mais inteligente do que os outros.
Prometi que evitaria embates por causa das eleições. Que iria escolher bem as brigas e só gastar o latim se valesse a confusão, porque está difícil ficar do lado de qualquer candidato. Mas as discussões entre os apaixonados são piores que briga de torcedor de time que caiu pra série B. O sujeito insiste que “meu escolhido é menos ruim que o seu”.
A sua candidata é arrogante e incompetente. O seu é cheirador e baladeiro. A sua é pau-mandado de pastor. Só não arruma encrenca quem diz que vai votar no Eduardo Jorge porque ele é muito engraçado no Twitter. Ninguém fala do que interessa. Só observo a rinha.
Sempre gostei de política. Quis ser jornalista pra escrever sobre o assunto, mas meus chefes nunca botaram fé. Eles me achavam loira demais, alegre demais e baladeira demais para cobrir um assunto tão árido. Escalavam a loira para fazer o tricô, os assuntos menos nobres do jornal. Ainda bem. Talvez eu estivesse me engalfinhando pela internet se continuasse tão entusiasmada pela pauta.

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