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"Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever - inclusive a sua própria história." Bill Gates

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sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Ex-técnico que combateu atletas de Cristo diz ter ajudado o futebol

Como treinador, Cassia (dir) dirigiu times como Grêmio, Internacional e Ponte Preta (foto: Marcelo Bertani)
Como treinador, Cassia (dir) dirigiu times como Grêmio, Internacional e Ponte Preta (foto: Marcelo Bertani)
Vanderlei Lima, no UOL
Agradecer a Deus é quase um discurso unânime nas entrevistas pós-jogo dos boleiros na saída de campo. Houve um tempo, porém, em que um grupo de jogadores se destacou por fazer verdadeiras pregações. Eram os atletas de Cristo, centro de polêmicas que dividiam os fãs de futebol. Maior combatente da facção, o ex-técnico Cassiá Carpes relembra hoje da ‘cruzada’ que liderou contra os jogadores e, olhando para trás, acredita ter feito um bem aos clubes.
Zagueiro nos anos 1970 e depois comandante de clubes como Grêmio, Inter e Ponte Preta, Cassiá, que desde a última década vem se dedicado à política, reprovava o que ele hoje chama de “isolamento” dos atletas de Cristo.
“Naquela época, eles não percebiam o sentido de grupo, se recolhiam, se isolavam. Tudo o que era bom vinha deles, o ruim não, então não tinham conceito de grupo”, analisou o atual deputado estadual em entrevista ao UOL Esporte.
“Dizia na época que não existia um time de Cristo, mas sim um coletivo, cada um com a sua religião. Hoje, entendo que ajudei a desmitificar essa questão”, disse Cassiá.
Apesar de ter travado quase uma guerra contra o grupo, o ex-treinador garante não ter problemas com religião. Pelo contrário, diz ser católico e ver um papel importante da religião na sociedade.
“Não tenho nada contra religião. Aliás, se não fosse a religião, o país estava pior, especialmente na questão das drogas. As igrejas têm papel importante. Sou católico não praticante, mas o importante é o caráter, a índole. Às vezes, não precisa ir à igreja para rezar”, argumentou Cassiá, citando o exemplo de um jogador por quem tinha admiração mesmo sendo do grupo.
“Me lembro do Gilson Batata no Rio Branco. Ele era símbolo de garra, raça e era atleta de Cristo. Então, era isso, eu não queria jogador melancólico”, pontuou.
De volta ao futebol
Cassiá abandonou o trabalho de técnico no ano 2000 e, desde então, somou dois mandatos como vereador e outros dois como deputado estadual, todos no Rio Grande do Sul. Agora, porém, diz que pretende deixar a política e retornar ao futebol, mas não no gramado.
“Estou anunciando que não irei mais concorrer na política. O quadro político nacional é de corrupção, hoje é toma lá dá cá”, declarou, avisando que concluirá seu último cargo no ano que vem.
“Penso em voltar a trabalhar como comentarista esportivo. Sou radialista, trabalhei por seis anos na Rádio Pampa. Na época, não tinha como conciliar rádio com a vida pública”.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O mercado da fé: Igrejas vendem de deguro de vida a objetos abençoados

Amuletos vão desde cartão de crédito missionário, consórcio de viagem e óleo de unção a até Seguro de Vida e Auxílio Funerário 100% Jesus


Affonso conta que avó morreu ao deixou de se cuidar por crer na promessa
de cura (Foto: Carlos Alberto)

Na Idade Média, o comércio de relíquias sagradas e mesmo de um pedaço do céu garantia ao homem pecador a possibilidade de se livrar da pena adquirida pelos seus erros.

Na modernidade, as indulgências continuam a exercer o mesmo poder. Porém, seus conceitos foram renovados e embutidos em produtos e serviços, como seguros de vida associados a Cristo, amuletos da salvação, cartões de crédito missionários, consórcios de viagem espiritual a Israel, pílulas de emagrecimento milagroso, carnês da cura que são vendidos por igrejas, seitas e grupos religiosos nos templos, na internet e na TV.

Em alguns casos, não é preciso comprar diretamente a “bênção”. Ao fazer doações em dinheiro ou de bens, o religioso está apto a receber, não só um mover sobrenatural, mas, também brindes e presentes, como CDs de músicos famosos, DVDs de grandes pregadores, revistas religiosas, cadernos, livros sobre fortalecimento da crença, almofadas e toalhinhas cheias de poder e água consagrada capaz de realizar transformações.

No mercado da fé, que tem movido no Brasil uma montanha de dinheiro – aproximadamente R$ 15 bilhões ano no Brasil– há casos de empresas e instituições religiosas que chegam a vender a “Santa Ceia” e “óleo da unção” pelos Correios.


No entanto, um dos produtos sagrados que têm causado polêmica no Brasil é o Seguro de Vida e Auxílio Funerário 100% Jesus, de R$ 24,90 mensais, comercializado pela Igreja Mundial do Poder de Deus, em parceria com a corretora Sossego e a Mapfre.

No Estado, a promotoria de Defesa do Consumidor de Vitória começou a investigar a regularidade do serviço. A intenção é verificar se o nome do seguro é coerente, respeita a harmonia das relações de consumo ou se faz propaganda enganosa.

“Notificamos a Superintendência de Seguros Privados (Susep) e
vamos esperar um parecer quanto à legalidade do serviço para verificar
 se o nome do serviço faz com que o consumidor fique vulnerável”,
explica a promotora Sandra Lenbruber.
O seguro tem cobertura de R$ 8 mil e assistência funeral de R$ 3 mil, mais vale-alimentação por seis meses aos beneficiários.

Em um vídeo publicitário na TV, transmitido nos comerciais do programa da igreja, os donos do seguro tentam chamar a atenção do consumidor ao mostrar um homem atormentado, com medo de morrer. Num criado-mudo, ao lado da cama do personagem, aparece uma Bíblia e ao ouvir o locutor da peça publicitária falar das vantagens do serviço, ele sorri, apaga a luz do quarto e volta a descansar aliviado.


Ida a igrejaA GAZETA foi a uma Igreja Mundial de Vitória na tentativa de comprar o seguro. O pastor do local, bem receptivo, disse que o serviço ainda não foi lançado nas igrejas e que por enquanto estava à venda apenas no site da Mundial e na TV.

A reportagem entrou no site da Igreja Mundial (www.impd.com.br), porém, as informações sobre os planos de benefício, que até junho estavam na página, foram retiradas devido à repercussão que a história alcançou na mídia nacional. As vendas agora são feitas por outra página (www.sossego.com.br/jesus).

No site, há, inclusive, o depoimento de um dos bispos da entidade sobre a qualidade do produto.

“O Seguro 100% Jesus garante a sua tranquilidade financeira e de sua família nos momentos difíceis e evita que vocês fiquem desamparados. É seguro como a sua fé. Eu já contratei o meu”, afirma o bispo Fábio Valentte.

O apóstolo e líder da Igreja Mundial, Valdemiro Santiago, nos cultos na TV, tem negado que o seguro seja da igreja. Ela afirma só recomendar que os “obreiros” adquiram o produto apenas para proteger suas famílias.

Ao ligar para os canais de vendas do seguro, uma gravação eletrônica afirma vender produtos intitulados “família tranquila”. A atendente diz pertencer a uma empresa terceirizada contratada pela Mundial e pela Sossego para fazer a venda do seguro.

A Susep informa que o Seguro de Vida 100% Jesus se trata de um nome fantasia para um produto existente, vinculado à Mapfre. Por isso, não estaria irregular.

A Mapfre afirma que está vinculada ao produto, porém, explica que: “a adequação do produto quanto ao nome e às coberturas é de responsabilidade da instituição religiosa e da corretora.” A Igreja Mundial foi procurada, mas não respondeu à reportagem.


Carnê de cura substitui tratamento

O carnê da cura de uma igreja neopentecostal, pago todo o mês, prometia sarar a avó de Antonio Affonso do diabetes. Crente que estava livre da doença, ela parou de se cuidar. Um dia, a alta taxa de glicose, provocou nela um AVC fatal. “Fui conversar com o pastor e ele disse que minha vó morreu porque não teve fé suficiente. O valor que deveria ser pago à igreja dependia da doença e do poder do milagre esperado”, conta Antônio que é pastor Batista Reformado.
Ele se converteu ao protestantismo anos após a morte de sua avó e afirma que não há no Cristianismo espaço para a compra da salvação. “Ela é pela graça. O que vejo é que há muitas igrejas abusando da inocência das pessoas. O povo brasileiro é místico e carente e acaba sendo atraído por pessoas que oferecem óleo santo, pedaço da cruz. Há uma mercantilização da fé, com apelos para as ofertas”.

"Sou contra a venda de produtos na igreja. Não vejo ninguém
comercializando bênção. O lencinho é gratuito”.
Hércules Lima membro da Mundial (
Foto: Ricardo Medeiros)
 

Óleo da bênção vira brindeAlgumas igrejas não vendem produtos consagrados, porém prometem brindes materiais e espirituais para fiéis que fazem doações. Há casos de denominações que presenteiam seus membros até com chaves sagradas e entregam para os frequentadores, dentro do envelope do dízimo, um pequeno frasco de um óleo ungido, capaz de “resolver todos os problemas”. O líquido deve ser passado nos ouvidos para que a pessoa receba boas notícias.

Membro da Igreja Mundial, Hércules Lima não se separa do lenço da bênção, que ganhou da instituição. Ele afirma que em sua igreja não é uma prática vender objetos sagrados. O que ocorre é a entrega de presentes àqueles que doam.

“Não há a comercialização de livros e DVDs. Não acho correto uma denominação vender produtos. Ninguém está acima da Palavra de Deus. Ela proíbe essa prática. Quanto às doações, não há nada imposto. Mas a pessoa tem que ter consciência que, quando dá algo a alguém, pode receber um brinde ou mesmo um presente no futuro, lá no céu”.

Estímulo à doação

Com discursos encorajadores, e com promessas de salvação ou de retorno em dobro dos bens, a máxima “é dando que se recebe” tem tomado conta das orações.

Os pedidos são feitos para arrecadar dinheiro para a construção de igrejas. Tem pastor que chega a vender, pela TV, Bíblia por R$ 900 e afirma que o dinheiro levantado servirá para ajudar nas obras de um importante templo.

De pés descalços, peito aberto e mente arejada



Por Hermes C. Fernandes, no Cristianismo Subversivo

Lembro-me perfeitamente que, quando criança, meus pais não me permitiam andar descalço e sem camisa, alegando que com isso eu poderia pegar um resfriado. Resultado: durante muito tempo tive uma saúde frágil. Qualquer golpe de vento já me resfriava. Depois de casado, minha esposa achou graça de me ver dormir de meia. Foi a partir daí que resolvi romper com certas crendices que herdara dos meus pais.

Quanto mais nos expomos, mais resistentes nos tornamos. Ao passo que, quanto mais nos preservamos, mais frágeis e suscetíveis nos tornamos. Somente a exposição pode manter nosso sistema imunológico em alerta, produzindo anticorpos para combater as eventuais ameaças ao nosso organismo. O que não provoca minha morte, torna-me mais forte.

O mesmo vale para a nossa vida espiritual.

Uma espiritualidade alienante nos fará pessoas muito mais vulneráveis ao assédio do pecado.

Veja o exemplo do próprio Jesus. Ele andava entre publicanos e meretrizes, porém, jamais pecou. Apesar de saber de todos os riscos, Jesus não pediu ao Pai que nos tirasse do mundo, mas que nos livrasse do mal.

Muitos pensam que a proposta do evangelho é manter-nos numa espécie de quarentena, completamente isolados de tudo e de todos. Dizem: - Não ouço música do mundo porque não quero me sujar! Não tenho vida social porque sou santo e não me misturo com essa gentalha pecadora! É a teologia Kiko!

Este tipo de espiritualidade é castradora e adoecedora. Quanto mais nos priva, mais nos expõe.

Em vez disso, devemos transitar neste mundo de pés descalços, peito aberto, mente arejada, porém, revestidos de toda a Armadura de Deus.

Ao expor-nos, o pecado perde seu encantamento. Criamos anticorpos espirituais. Ativamos nossos sistema imunológico espiritual.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Em Brasília, PM é liberado do trabalho para estudar a Bíblia


Capelania Militar Evangélica, local onde policiais militares de Brasília poderão
 estudar a Bíblia (
Pedro Ladeira/Folhapress)

publicado originalmente na Folha de S.Paulo

A Polícia Militar de Brasília lançou neste mês um curso para policiais aprenderem a criar seus filhos e a ter um casamento em acordo com princípios bíblicos.

A "tropa de eleitos" está liberada de trabalhar durante as aulas: as reuniões são em horário de expediente, nas dependências da PM e os custos são bancados pelo órgão.

A ideia do chamado "Programa Educação Moral" é "aplicar princípios bíblicos" na educação financeira e no relacionamento familiar dos policiais militares.

Os nomes dos cinco cursos sugerem que aos homens cabe ser o "máximo". Às mulheres, "única". São eles: Como criar seus filhos, Homem ao Máximo, Mulher Única, Aliança e Como chegar ao fim do mês (educação financeira). O projeto é uma parceria com a "Universidade da Família", instituição que oferece cursos com base bíblica.

A PM não garante que haverá cursos para outras religiões: "A ação da Capelania Militar da PMDF [Polícia Militar do Distrito Federal] não implica que um policial militar seja liberado de trabalhar para fazer cursos de qualquer religião. O Programa é institucional, não é de uma religião", diz a PM em nota enviada à Folha.

A corporação tem à disposição cinco capelães, sendo três católicos e dois evangélicos.

Até agora, mais de 150 PMs já fizeram inscrição no curso, mas só 70 terão a oportunidade este ano. O restante poderá ter aulas nas novas turmas, em 2014. "Líderes" poderão replicar os ensinamentos nos quartéis, se houver demanda.

Cada aula tem duração de duas horas e ocorrerá uma vez por semana, no período de até três meses, dependendo do curso.

Questionada pela Folha, a PM não declarou o custo da iniciativa, mas reconheceu que será a responsável por fornecer o material didático. Para a Polícia Militar, o curso tem respaldo na lei e não fere o Estado laico.

10 nomes do Metal que assumiram ser cristãos

metal-cristaoPublicado originalmente por SoundTech [via Pavablog]
O Heavy Metal e as suas vertentes possuem uma certa fama anti-cristã (exceto o Black Metal que afirma ser influenciado pela ideologia satanista e o White Metal que é considerado uma espécie de Metal Gospel), mas no geral quando se ouve o termo “Metal” vem à cabeça um gênero fortemente brutal inspirado pelas “forças ocultas do demônio”. Não se sabe exatamente a origem deste pensamento, Talvez se deve à agressividade do gênero, que foi uma novidade no cenário musical da época em que surgiu, ou letras de algumas bandas que são explícitas ou até mesmo implícita sobre o tema da religião cristã, ou também pelo visual dos integrantes ou pelo simples ditado: “O diabo é o pai do Rock!”. Mas há grandes astros do gênero que afirmam serem cristãos, católicos ou evangélicos, mesmo possuindo uma certa fama considerada pejorativa. Vamos conferir alguns:
1. Dave Mustaine
O primeiro da lista não podia ser nada mais ou nada menos que Dave Mustaine (Megadeth) que após anos se envolvendo com drogas (o que levou a sua expulsão do Metallica) e se metendo em confusões, decidiu se converter à fé cristã e chegou até mesmo a ser batizado novamente no ano de 2004, o que o fez até parar de tocar algumas músicas do Megadeth com letras mais “sombrias” como “The Conjuring”. Em sua própria autobiografia ele relata a sua jornada espiritual e alega que teve momentos difíceis por assumir ser cristão. Uma última curiosidade: em maio de 2005, Mustaine cancelou dois show na Grécia e um em Israel, pois se negou a subir ao palco com bandas de Black Metal, que utilizavam muitas referências Anti-Cristo em suas letras.
2. David Ellefson
Outro membro do Megadeth que assume a sua fé cristã é o baixista David Ellefson. “Eu percebi que minha fé no cristianismo é honesta e verdadeira, e não apenas para diversão e distração. Ser um cristão e um roqueiro não são duas coisas totalmente opostas. Algumas pessoas saem de uma para crer em outra, mas para mim, as duas trabalham muito bem juntas. Quando você quer começar a ser honesto e crer em si mesmo, você perseguirá as virtudes que o Senhor colocou em você”, afirma Ellefson em uma entrevista.
3. Marty Friedman
Não é à toa que muitos dizem que o Megadeth se tornou uma banda cristã. Outro que também se considera cristão é o ex-guitarrista Marty Friedman que esteve presente no Megadeth no ano de 1990. Ele tocou por um bom tempo com a banda Cristã Tourniquet na gravação do “Where Moth and Rust Destroy”, tido como o melhor álbum deles. Sua saída do Megadeth foi devido a sua própria decisão de rumo de carreira.
4. Ozzy Osbourne
Mesmo considerado como o “Princípe das Trevas”, Ozzy Osbourne considera-se católico apesar de ter um Buda completamente de ouro em sua casa, que deu de presente para sua mulher Sharon, que se considera budista. Também não se pode esquecer de algumas de suas atitudes de um “bom cristão”, como por exemplo dando seu colar com crucifixo, no valor de nada menos que 3.000 libras (em torno de 8.000 reais) a um pedinte, e o pedindo para que rezasse por um futuro melhor. Para quem costuma ser chamado de ‘príncipe das trevas’, esta foi uma atitude bastante cristã.
5. Nicko McBrain
O baterista da mais famosa banda de Heavy Metal, Iron Maiden, converteu-se em 1999 na companhia da sua esposa cristã Rebecca, na igreja de Spanish River perto da sua casa em Boca Raton (Flórida). Segundo relatos do próprio, a sua esposa orava por ele há bastante tempo e ao entrarem os dois na igreja, Michael teria chorado e ouvido um chamamento. Em depoimentos posteriores, disse: “Sentei-me a pensar, ‘não bebi nada ontem, porque não consigo manter-me de pé?’” e “‘Eu tinha uma fervente relação com Jesus a acontecer no meu coração”.

A viagem que nunca termina

imagem: Internet

Ricardo Gondim, no seu site
Por anos Raimundo sonhou que viajava de avião. Na porta, era recebido por uma tripulação sorridente. Ainda em terra, os procedimentos para alçar voo aconteciam sem percalços. O vôo, entretanto, nunca transcorria tranquilo. No sonho, logo após decolar, Raimundo sentia como se estivesse em um filme de ficção científica. Bastavam os primeiros instantes no ar e o piloto começava a fazer manobras arriscadas para não derrubar a aeronave. Precisava desviar de fios elétricos e galhos, passar por entre corredores estreitos de edifícios.
No sonho de Raimundo sempre algum problema forçava um pouso de emergência. Na maioria das vezes, ele se via empacado em um campo, vale ou selva. Impedido de decolar, Raimundo se via obrigado a participar de piqueniques, churrascos, jogos de futebol. Fazia caminhada e explorava mata ao lado de outros passageiros. Não raro, enfrentava bandidos, animais selvagens e labirintos. Acordava antes de terminar a viagem. A viagem nunca prosseguia. Frustrado, Raimundo se levantava da cama sem entender o porquê do inconsciente encenar aquela peça. Fez terapia. Ele buscava decifrar os devaneios recorrentes. Mas a terapia não ajudou, só aumentou a inquietação.
Semana passada, Raimundo e eu conversamos. Sentamos numa praça, virados para o por-do-sol amarelado do outono. Sem compreender os meandros da opereta que o seu inconsciente encena há tantos anos, ele pedia ajuda. Não esqueço os seus olhos. Queria parar de sonhar com as viagens interrompidas. Afinal de contas, a sensação de ficar no meio do caminho nunca é agradável. Com uns quinze minutos de conversa, Raimundo despertou: igual aos sonhos, ele de repente viu que a sua vida acordada também era marcada por projetos inacabados.
–Já abortei muitos planos. Em minha história, amarguei diversas decepções. Apertou o olhar, procurando espremer uma lágrima. Me fitou de soslaio e continuou.  – Engravidei o coração de alucinações. Mas abortei a maioria delas como se fossem fetos indesejados.
Evitei olhar para o lado. Concentrei-me em acompanhar o sol em sua última escorregada para detrás de um barranco. Mas, antes que a noite se alastrasse, repliquei: – Esse tipo de sonho pode transformar-se em pesadelo. Raimundo, você corre o risco de encurralar-se pela dor.  O sonho é sua alma avisando que não consegue continuar a jornada – e que sua vida rodopia em círculos estéreis. De repente o ID grita. Você se recusa esmorecer, opresso pelo superego. Os Quixotes que povoaram seu ideal juvenil provavelmente pedem para se aposentar. Uma fadiga existencial esvazia de sentido a sua viagem. Sem metas, restam os piqueniques. O superego, todavia, rejeita que você viva um ócio não produtivo. Você se pune, Raimundo. Perder objetivos que uma dia animaram seus ideais custa caro. Você sonha porque está cansado de se cobrar: tenho que me reinventar, não sei como.
O sol por fim se escondeu. Deixou, porém, uma tênue linha resplandecente no horizonte. Continuei a falar: -Os desencantados não cedem espaço para a esperança. Os desiludidos, depois das rupturas, abandonam-se na imobilidade. Marasmos acontecem na esteira da decepção. Paralisações passam a ser inevitáveis. E a alma não aceita que os desenganos levem à melancolia.
Por fim, arrematei: – Nào se inquiete com o seu sonho. Um avião que não chega a lugar nenhum é recurso do inconsciente para lidar com a angústia. A vida é assim: não há porto de desembarque.As estações têm sala de embarque, apenas. Começamos nossa aventura e logo experimentamos  traições, algumas bobas outras sinistras e elas nos roubam de nosso destino. Mesmo rodeados por amigos, sofremos dissabores que nos levam por estradas nunca cogitadas. Nas incompreensões, amargamos atalhos impensados. Vemos trajetórias se esfumaçarem. Nossas biografias estão recheadas de tiros pela culatra, dardos sem rumo, cataventos malucos, pontes inacabadas. Ferimos e somos feridos e ficamos sem sair do lugar. Feito caramujos, fugimos da possibilidade da luta e desperdiçamos a energia que nos empurraria para a maturidade. Imaturos, nos escondemos debaixo de mesas, melindrosos.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

"Uma morte horrível nas garras do demônio", diz ativista cristão no maior festival de metal da Europa

Título Original: Pequena cidade alemã recebe maior festival de heavy metal da Europa

Com 2 mil habitantes, Wacken terá Alice Cooper, Motörhead e Deep Purple. Município reforça estoque de comida e bebida; evento começa nesta quinta.

Aos 90 anos de idade, fã de heavy metal posa no primeiro dia do 24º Wacken
Open Air (WOA), que acontece na pequena cidade alemã
(Foto: Axel Heimken/DPA/AFP)
publicado originalmente no G1

A pequena cidade alemã de Wacken recebe a partir desta quinta-feira (dia 1º) a maior concentração de amantes do heavy metal da Europa para os três dias desse atípico festival de verão que há mais de duas décadas é realizado nessa tranquila cidade de 1,8 mil habitantes.

Polícia, equipes de saúde e, sobretudo, os moradores do lugar já receberam o primeiro contingente de amantes do metal, espalhados em um grande camping. Os fãs aguardam ansiosamente por mais de 100 atrações, uma mescla de veteranos e nomes mais recentes divididos em vários subgêneros do metal.

Este ano, nomes como Alice Cooper, Anthrax, Danzig, Deep Purple, Motörhead, Nightwish, Rammstein, Trivium, Lamb of God, entre outros, devem fazer os headbangers sacudir suas longas cabeleiras durante os três dias de festival.

As autoridades locais prepararam um dispositivo com 750 auxiliares médicos para atender a todo tipo de situações, desde ossos quebrados no meio dos shows até o consumo excessivo de álcool.

A idílica cidade, no norte da Alemanha, concentra milhares de fãs de todo o mundo todos os anos, atraídos tanto pelas atrações musicais, como pela fama de boa convivência entre os moradores e os amantes do metal.

Os primeiros fãs começaram a invadir as ruas, parques e campos da cidade, enquanto cafeterias e supermercados reforçaram sues estoques de bebida e comida para esses dias.

O Wacken Open Air (WOA) nasceu há mais de 20 anos por iniciativa de dois fanáticos pelo metal, Holger Hübner e Thomas Jensen, que queriam criar um festival para que sua banda – Skyline – pudesse se apresentar.

Desde então, o festival foi crescendo e o WOA se tornou uma referência no circuito internacional do metal. Os visitantes barulhentos vêm todos os anos à cidade com suas melhores roupas do estilo. Os habitantes de Wacken fazem piqueniques enquanto assistem ao desfile dos exóticos visitantes, seja com café e tortas ou cervejas e salsichas.

A oferta de hospedagem no local é nula, de modo que os visitantes devem acampar pelos parques e campos da cidade, mais ou menos organizados nos últimos anos para evitar que o festival vire um caos.
Frequentadores da edição do 2013 do Wacken Open Air (WOA), na pequena
cidade alemã, fazem 'batismo' de colega no dia de abertura
do evento, que há mais de 20 acontece no local
(Foto: Philipp Guelland/AFP)

Camping do 24º do Wacken Open Air (WOA), que em 2013 começa nesta
quinta-feira (dia 1º) na pequena cidade do norte da Alemanha
(Foto: Philipp Guelland/AFP)

Frequentador tira um chochilo durante o 24º Wacken Open Air (WOA), que
em 2013 começa nesta quinta-feira (dia 1º) (Foto: Philipp Guelland/AFP)
Dois momentos do primeiro dia do Wacken Open Air (WOA) 2013, que começa
nesta quinta-feira (dia 1º) (Foto: Philipp Guelland/AFP)

Malafaia lança 'rede abençoada' de desconto em serviço de saúde

Silas Malafaia
Pastor anunciou por R$ 9,90 por mês um
misto de seguro de vida e plano saúde limitado
Com o nome pomposo de “mega projeto social”, o pastor Silas Malafaia (foto), da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, fechou acordo com a seguradora Zurich para o lançamento de uma mistura de seguro de vida e de residência com descontos em uma lista de medicamentos e em consultas e procedimentos médicos, compondo o que ele chamou de “rede abençoada”.

Em seu programa na TV, Malafaia informou que a mensalidade do benefício é de R$ 9,90. O pagamento pode ser por débito automático em conta corrente, cartão de crédito ou boleto.

Embora tenha ressaltado que não se refere a um “plano de saúde”, o propósito do pastor e da seguradora é atingir os evangélicos que não têm esse tipo de prestação de serviço. Seria um plano de saúde limitado, sem direito a atendimento hospitalar ou mesmo em ambulatório. Ele espera a adesão de "milhões" de pessoas.


Domingos corta fast-food e bebidas após virar evangélico

Zagueiro Domingos, do Guarani, disputa a bola com jogador da Ponte Preta
foto: Leonardo 
publicado originalmente no UOL

Domingos diz ter encontrado no Qatar o lugar ideal para viver. Atleta do Al-Kharitiyath, time local, o zagueiro conta que o país oferece tranquilidade para residir com a família e ótima educação para os filhos. Evangélico há dois anos e morando na Arábia desde janeiro, ele se distanciou das tentações que o atormentaram durante a carreira: comidas gordurosas, carteado e bebidas.
Em entrevista por telefone ao UOL Esporte, Domingos, que teve passagens marcantes por Santos, Portuguesa e Guarani, reconheceu que levou uma vida desregrada. Ele relata fatos do passado que, segundo ele, não combinam mais com seu comportamento atual.
Os carteados e churrascos promovidos em casa, misturados com noitadas com cerveja, resultavam em constantes atrasos a treinos.
"Sempre depois dos jogos de sábado eu saía para beber 'umazinha' à noite. Mas essa umazinha virava duas, três, quatro, cinco...Hoje eu tenho consciência da importância do meu corpo e agradeço a Deus por ter me dado saúde. Se eu continuasse bebendo ainda hoje, estaria 10kg acima do meu peso", relembra Domingos.
No Qatar, há forte restrição a bebidas alcoólicas. É proibido o consumo nas ruas, e a venda é controlada a turistas. O rigoroso sistema árabe não foi o que determinou mudança no estilo de vida, enfatiza Domingos.
O jogador de 27 anos conta que "ouviu chamado de Deus" em 2009, defendendo o Santos, quando Roberto Brum apresentou mensagens bíblicas. Desde então, Domingos riscou excessos fora de campo e passou a dar mais valor à família.
Sempre depois dos jogos de sábado eu saía para beber 'umazinha' à noite. Mas essa umazinha virava duas, três, quatro, cinco...Hoje eu tenho consciência da importância do meu corpo e agradeço a Deus por ter me dado saúde
"Eu não dava tanta importância para minha família como agora. Não tem coisa melhor do que estar ao lado de sua mulher e ver sua filha crescendo com educação em um país tranquilo. Bebida agora posso dizer que é vinho no jantar com minha mulher. Esse é o máximo", afirmou.
A manutenção do peso ideal (85kg) era algo difícil anos atrás. Domingos deixava de lado as recomendações alimentares feitas pelos clubes para matar a fome à noite.  
"Eu costumava ganhar peso. O [Emerson] Leão disse uma vez que eu cheguei sete quilos a mais. Ele falou uma verdade. A nutricionista do Santos fazia o cardápio certinho, mas aí eu passava no McDonald´s à noite e comia muito. Eu gostava bastante de fazer churrasco com cervejinha em casa. Isso tudo engorda".

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Menina de família pobre chega à universidade aos 13 anos na Índia

Sushma Verma vai estudar microbiologia e sonha se tornar médica. Pai vendeu o pouco que tinha para pagar os estudos da filha.

Publicado originalmente no G1
Sushma estuda na janela do apartamento onde mora com a família (Foto: Rajesh Kumar Singh/AP)
Sushma estuda na janela do apartamento onde mora com a família
(Foto: Rajesh Kumar Singh/AP)

Em um país onde muitas meninas ainda são desencorajadas de ir à escola, Sushma Verma vive uma realidade promissora. A menina de 13 anos, de uma família pobre no norte da Índia, vai estudar microbiologia em uma universidade da Índia, depois que seu pai vendeu sua terra para pagar algumas das aulas de sua filha, na esperança de que Sushma possa ascender à crescente classe média indiana.
O pai leva Sushma para a universidade de bicicleta (Foto: Rajesh Kumar Singh/AP)O pai leva Sushma para a universidade de bicicleta
(Foto: Rajesh Kumar Singh/AP)
Filha de pais analfabetos, Sushma terminou o ensino médio aos 7 anos e obteve uma licenciatura aos 13 anos.
“Eles me permitiram fazer o que eu queria”, disse a menina à agência Associated Press. “Espero que outros pais não imponham suas escolhas sobre os seus filhos.”
Sushma tem três irmãos mais novos. A família mora em um apartamento de um quarto apertado em Lucknow, no norte da Índia. O pai dela é trabalhador da construção civil e ganha 200 rúpias (cerca de R$ 7,50). A casa não tem televisão. Seus bens mais preciosos incluem uma mesa de estudo e um computador de segunda mão. “Não tem nada a fazer a não ser estudar”, diz Sushma.
Sushma Verma com as colegas do curso de microbiologia da universidade de Lucknow, na Índia (Foto: Rajesh Kumar Singh/AP)Sushma Verma com as colegas do curso de
microbiologia da universidade de Lucknow, na Índia
(Foto: Rajesh Kumar Singh/AP)
A adolescente começa na semana que vem a ter aulas na Universidade BR Ambedkar Central de Lucknow. Nos últimos dias, o pai a levou para lá de bicicleta, para que Sushma pudesse se reunir com os professores antes do início das aulas.
Ela gostaria de estudar medicina, mas pela lei só poderá fazer o curso depois que completar 18 anos.  “Então, optei por fazer graduação em microbiologia e depois vou fazer um doutorado”, disse ela.
Sushma estuda em uma escada que dá acesso ao apartamento onde mora (Foto: Rajesh Kumar Singh/AP)Sushma estuda em uma escada que dá acesso ao
apartamento onde mora (Foto: Rajesh Kumar
Singh/AP)
Sushma não é a primeira pessoa prodígio na família. O irmão dela terminou o ensino médio aos 9 anos e se tornou um dos mais jovens graduados em ciência da computação da Índia aos 14 anos.
Em outra família, Sushma poderia não ter sido capaz de chegar ao ensino superior. Milhões de crianças indianas ainda não estão matriculadas na escola e muitas delas são meninas cujos pais optam por manter em casa. Em algumas aldeias, as meninas são criadas para se casar.
O pai de Sushma pai vendeu seu único pedaço de terra, de 930 m² por 25 mil rúpias (R$ 910) para cobrir algumas de suas mensalidades escolares.  “Não houve oposição da minha família e amigos, mas eu não tinha nenhuma opção”, disse Tej Bahadur Verma, pai da menina.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Amor sem proselitismo e outras intenções



Por Hermes C. Fernandes, no Cristianismo Subversivo

Deus não nos enviou ao mundo para convertê-lo, mas para amá-lo. Conversão são outros quinhentos e não cabe a nenhum de nós. Achar-se capaz de converter o mundo beira à presunção.

O amor deve ser totalmente despretensioso, entregando-se voluntariamente sem esperar resultado algum. De modo que, se não formos correspondidos, isso não nos afetará. Nem mesmo a ingratidão nos fará desistir de amar. O alvo supremo do amor sempre é o bem de quem se ama.

Qualquer coisa que se faz na expectativa de algum retorno não é amor, mas barganha, e, portanto, contrário ao espírito do evangelho.

Muitas igrejas têm promovido trabalhos sociais dignos de louvor. Todavia, o índice de frustração é muito grande, pois os mesmos não vêm acompanhados de resultados considerados satisfatórios.

A meu ver, precisamos rever nossos paradigmas.

Aproveitar a dor alheia para empurrar nossa visão religiosa não é evangelismo, mas proselitismo, do tipo adotado pelos fariseus; em vez de alívio, agrava o sofrimento, tornando-o insuportável. Jesus os advertiu, dizendo: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas vezes mais do que vós” (Mt. 23:15).

Nosso modelo de evangelização ainda está atrelado à visão colonialista europeia. Nossa abordagem está contaminada pela presunção de que temos algo que os outros não têm. Somos os civilizados, e eles, os selvagens. Somos os cristãos, e eles, os pagãos. Temos Cristo, eles não.

Oferecemos ajuda humanitária como uma moeda de troca, exatamente como os espanhóis e portugueses faziam com os índios ao oferecer-lhes bugigangas tais como espelhos e pentes.

É claro que almejamos compartilhar Cristo ao maior número possível de pessoas. Todavia, antes disso, devemos compartilhar nossa própria alma de maneira despretensiosa (1 Ts.2:8).

Por conta do forte proselitismo de algumas igrejas e instituições cristãs, as pessoas já estão escaldadas. Qualquer aproximação é vista com suspeita. Nossas obras sociais e humanitárias se tornaram a isca que camufla o anzol.

Jesus disse que faria de Pedro e André pescadores de homens. Todavia, o tipo de pesca que eles faziam era com rede e não com vara. Portanto, dispensava o uso de iscas.

Será que a intenção de Jesus ao multiplicar aqueles pães e peixes era meramente proselitista? Então, por que não houve um “apelo evangelístico” após alimentar a multidão?

E quando a igreja em Jerusalém resolveu assumir os cuidados das viúvas da comunidade, elegendo diáconos para dedicar-se a esse “importante negócio”, havia alguma intenção “evangelística”? Ou teriam sido movidos exclusivamente por amor?

Alguns poderão contestar dizendo: Se amamos as pessoas, queremos vê-las salvas. Concordo! Mas não me parece ético se aproveitar de uma necessidade material ou emocional para apresentar o evangelho. Seria mais ou menos como um político cheio de boas intenções oferecendo dentaduras e botijões de gás para quem lhe der o voto.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Gustavo Ioschpe: devo educar meus filhos para serem éticos?

HANNAH ARENDT -  “Os maiores males não se devem àquele que tem de confrontar-se consigo mesmo. Os maiores malfeitores são aqueles que não se lembram porque nunca pensaram na questão” (foto: Getty Images)
HANNAH ARENDT – “Os maiores males não se devem àquele que tem de confrontar-se consigo mesmo. Os maiores malfeitores são aqueles que não se lembram porque nunca pensaram na questão” (foto: Getty Images)
Gustavo Ioschpe, na Veja on-line [via Pavablog]
Quando eu tinha uns 8 ou 9 anos, saía de casa para a escola numa manhã fria do inverno gaúcho. Chegando à portaria, meu pai interfonou, perguntando se eu estava levando um agasalho. Disse que sim. Ele me perguntou qual. “O moletom amarelo, da Zugos”, respondi. Era mentira. Não estava levando agasalho nenhum, mas estava com pressa, não queria me atrasar.
Voltei do colégio e fui ao armário procurar o tal moletom. Não estava lá, nem em nenhum lugar da casa. Gelei. À noite, meu pai chegou em casa de cara amarrada. Ao me ver, tirou da pasta de trabalho o moletom. E me disse: “Eu não me importo que tu não te agasalhes. Mas, nesta casa, nesta família, ninguém mente. Ponto. Tá claro?”. Sim, claríssimo. Esse foi apenas um episódio mais memorável de algo que foi o leitmotiv da minha formação familiar. Meu pai era um obcecado por retidão, palavra, ética, pontualidade, honestidade, código de conduta, escala de valores, menschkeit (firmeza de caráter, decência fundamental, em iídiche) e outros termos que eram repetitiva e exaustivamente martelados na minha cabeça. Deu certo. Quer dizer, não sei. No Brasil atual, eu me sinto deslocado.
Até hoje chego pontualmente aos meus compromissos, e na maioria das vezes fico esperando por interlocutores que se atrasam e nem se desculpam (quinze minutos parece constituir uma “margem de erro” tolerável). Até hoje acredito quando um prestador de serviço promete entregar o trabalho em uma data, apenas para ficar exasperado pelo seu atraso, “veja bem”, “imprevistos acontecem” etc. Fico revoltado sempre que pego um táxi em cidade que não conheço e o motorista tenta me roubar. Detesto os colegas de trabalho que fazem corpo mole, que arranjam um jeitinho de fazer menos que o devido. Tenho cada vez menos visitado escolas públicas, porque não suporto mais ver professores e diretores tratando alunos como estorvos que devem ser controlados. Isso sem falar nas quase úlceras que me surgem ao ler o noticiário e saber que entre os governantes viceja um grupo de imorais que roubam com criatividade e desfaçatez.
Sócrates, via Platão (A República, Livro IX), defende que o homem que pratica o mal é o mais infeliz e escravizado de todos, pois está em conflito interno, em desarmonia consigo mesmo, perenemente acossado e paralisado por medos, remorsos e apetites incontroláveis, tendo uma existência desprezível, para sempre amarrado a alguém (sua própria consciência!) onisciente que o condena. Com o devido respeito ao filósofo de Atenas, nesse caso acredito que ele foi excessivamente otimista. Hannah Arendt me parece ter chegado mais perto da compreensão da perversidade humana ao notar, nos ensaios reunidos no livroResponsabilidade e Julgamento, que esse desconforto interior do “pecador” pressupõe um diálogo interno, de cada pessoa com a sua consciência, que na verdade não ocorre com a frequência desejada por Sócrates. Escreve ela: “Tenho certeza de que os maiores males que conhecemos não se devem àquele que tem de confrontar-se consigo mesmo de novo, e cuja maldição é não poder esquecer. Os maiores malfeitores são aqueles que não se lembram porque nunca pensaram na questão”. E, para aqueles que cometem o mal em uma escala menor e o confrontam, Arendt relembra Kant, que sabia que “o desprezo por si próprio, ou melhor, o medo de ter de desprezar a si próprio, muitas vezes não funcionava, e a sua explicação era que o homem pode mentir para si mesmo”. Todo corrupto ou sonegador tem uma explicação, uma lógica para os seus atos, algo que justifique o porquê de uma determinada lei dever se aplicar a todos, sempre, mas não a ele(a), ou pelo menos não naquele momento em que está cometendo o seu delito.
Cai por terra, assim, um dos poucos consolos das pessoas honestas: “Ah, mas pelo menos eu durmo tranquilo”. Os escroques também! Se eles tivessem dramas de consciência, se travassem um diálogo verdadeiro consigo e seu travesseiro, ou não teriam optado por sua “carreira” ou já teriam se suicidado. Esse diálogo consigo mesmo é fruto do que Freud chamou de superego: seguimos um comportamento moral porque ele nos foi inculcado por nossos pais, e renegá-lo seria correr o risco da perda do amor paterno.
Na minha visão, só existem, assim, dois cenários em que é objetivamente melhor ser ético do que não. O primeiro é se você é uma pessoa religiosa e acredita que os pecados deste mundo serão punidos no próximo. Não é o meu caso. O segundo é se você vive em uma sociedade ética em que os desvios de comportamento são punidos pela coletividade, quer na forma de sanções penais, quer na forma do ostracismo social. O que não é o caso do Brasil. Não se sabe se De Gaulle disse ou não a frase, mas ela é verdadeira: o Brasil não é um país sério.
Assim é que, criando filhos brasileiros morando no Brasil, estou às voltas com um deprimente dilema. Acredito que o papel de um pai é preparar o seu filho para a vida. Essa é a nossa responsabilidade: dar a nossos filhos os instrumentos para que naveguem, com segurança e destreza, pelas dificuldades do mundo real. E acredito que a ética e a honestidade são valores axiomáticos, inquestionáveis. Eis aí o dilema: será que o melhor que poderia fazer para preparar meus filhos para viver no Brasil seria não aprisioná-los na cela da consciência, do diálogo consigo mesmos, da preocupação com a integridade? Tenho certeza de que nunca chegaria a ponto de incentivá-los a serem escroques, mas poderia, como pai, simplesmente ser mais omisso quanto a essas questões. Tolerar algumas mentiras, não me importar com atrasos, não insistir para que não colem na escola, não instruir para que devolvam o troco recebido a mais…

Orar pela Síria, nessa hora tão dura...

imagem: Internet
Se você vai chorar pelos que sofrem na Síria, eu entendo... Faz sentido.

Se você vai orar pelos que sofrem na Síria, não entendo. Não mesmo.

Sei que você vai ficar chateado comigo, mas não tem problema: chateação é coisa que dá e passa e, de mais a mais, daqui a dois dias você está fazendo as coisas como sempre fez...

Mas, se Deus pode fazer alguma coisa pelos que sofrem na Síria e não faz, de que vale orar? Se ele pode fazer, mas fica esperando você orar, faça-me o favor...

Se a sua oração é choro, entendo.

Se é pedido para que Deus faça alguma coisa, bem, não faz sentido nenhum.

(...)

Se me disseres que a mim me falta espiritualidade, retrucarei dizendo que a ti te falta juízo...


OSVALDO LUIZ RIBEIRO, no Peroratio

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

O que as religiões pregam sobre os animais de estimação

Islamismo permite que apenas gatos sejam animais de estimação (Foto: Reprodução/ Papo de Pet )
Islamismo permite que apenas gatos sejam animais de estimação (Foto: Reprodução/ Papo de Pet )
Priscilla Merlino, na Época
Derivação do termo latino “Re-Ligare”, que significa “religação” com o Divino, a religião é o culto prestado a uma divindade. Trata-se da crença na existência de um ente supremo como lei universal. Apesar dos aspectos que distinguem a filosofia e doutrina de cada crença, a “fé” e o “amor” aparecem na base de praticamente todas as propostas religiosas.
Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a religião Católica ocupa o primeiro lugar no ranking da fé no Brasil, ao todo 70% dos entrevistados. Em segundo lugar vem a Igreja Evangélica com 17% da população. As outras religiões que compõem o mosaico da diversidade estão bem divididas, entre elas, destacam-se o Islamismo, religião que mais cresce no mundo, embora por aqui sua presença ainda seja menor que a do Judaísmo (87 mil) e a do Budismo (214,8 mil). Os seguidores da Umbanda e do Candomblé somam 515 mil e os Espíritas lideram o ranking dos menores, com 2,3 milhões.
Com a busca incessante pelo sentido da vida, as pessoas caminham cada vez mais rumo à religiosidade. E nossos amigos pets? Como são vistos perante a doutrina das maiores religiões do mundo?
São Francisco de Assis pregava que os bichos não são coisas, objetos nem serviçais, mas sim companheiros dos humanos, e devem ser respeitados, assim como toda a natureza. (Foto: Reprodução/ Papo de Pet )
São Francisco de Assis pregava que os bichos não são coisas, objetos nem serviçais, mas sim companheiros dos humanos, e devem ser respeitados, assim como toda a natureza. (Foto: Reprodução/ Papo de Pet )
Catolicismo
A Igreja Católica nasceu com a presença e pregação do próprio Jesus Cristo. “A partir do anúncio da vida, morte e ressurreição de Cristo somos convocados ao amor, à solidariedade, justiça e a transformar o mundo, para que aqui já se inicie o Reino de Deus”, explica o padre Juarez Pedro de Castro, da Arquidiocese de São Paulo.
Considerada a religião com maior número de fiéis no País, a Igreja Católica acredita que os animais são criaturas de Deus e por isso devem ser respeitados e amados. “A Igreja sempre considerou a proteção e o amor aos animais como algo importante. A própria Bíblia obriga o descanso semanal não só para o homem como também para os animais”, destaca padre Juarez. Embora admitam que o convívio com os animais seja benéfico aos seres humanos e simbolizem um sinal de amizade fiel, para os católicos os bichos não possuem a alma racional e inteligente, e, portanto não têm o mesmo destino dos homens e mulheres após a morte.
Um dos Santos mais populares da Igreja Católica, São Francisco de Assis amava e respeitava todas as pessoas, ao mesmo tempo, em que protegia animais e plantas aos quais chamava, carinhosamente, de irmãos. Considerado o santo mais amigo dos animais, foi intitulado Patrono do Presépio e dos Ecologistas. Graças à sua mensagem de paz, é respeitado por várias religiões, e sua Basílica em Assis, na Itália, é a segunda mais visitada por turistas de todo o mundo, ficando atrás apenas do Vaticano. Conhecido como protetor dos animais, São Francisco de Assis pregava que os bichos não são coisas, objetos nem serviçais, mas sim companheiros dos humanos, e devem ser respeitados, assim como toda a natureza. “Os animais não são coisas nem objetos, são criaturas de Deus, ou seja, criados por Deus segundo o relato bíblico e por isso devem ser amados e respeitados. É bom que se diga que antes de toda essa “moda” atual de proteção aos animais, quem sempre levantou a voz para protegê-los foi a Igreja Católica, que já desde os primórdios proibia e ainda proíbe, considerando pecado, a vivissecção de animais para fins de estudo”, ressalta padre Juarez.
Igreja Adventista do Sétimo Dia
A igreja Adventista do Sétimo Dia surgiu nos EUA no século XVIII com o despertar protestante para a doutrina da segunda vinda gloriosa de Jesus a este mundo (Apocalipse 1:7).
“Adventista é um termo que se refere a uma pessoa que “acredita no segundo advento (volta) literal de Cristo”. E Adventista “do Sétimo Dia” é uma referência ao dia que observamos (Êxodo 20:8-11), dedicando-o ao repouso, culto a Deus, companhia da família e contato com a natureza”, explica Leandro Quadros, consultor bíblico da Rede Novo Tempo de Comunicação.
Assim como a Bíblia, para a religião Adventista os animais são considerados companheiros do ser humano. “O livro de Gênesis relata que quando Adão e Eva foram criados, Deus também fez os animais para que juntamente com os seres humanos desfrutassem das alegrias do jardim do Éden (Gênesis 1:20-22). Ao criar os animais no quinto dia, Deus disse que aquela criação era “boa”, destaca Leandro.
Para os adventistas é importante lutar pela preservação da vida animal, levando ao pé da letra citações bíblicas, como as encontradas em Apocalipse 11:18, onde há uma séria advertência para quem maltrata os animais: “terá que prestar contas a Deus no dia do juízo final”.
“O fato de Deus ter criado os animais no quinto dia da criação e o ser humano no sexto, demonstra que o reino animal fazia parte do preparo do planeta para receber a “coroa da criação de Deus”: homem e mulher. A felicidade humana também estava no contato com a natureza animal. Além disso, estudos científicos provam que a Bíblia está com a razão. Pessoas que têm algum bichinho de estimação possuem menos possibilidades de terem algum problema de coração”, enfoca Leandro.
Baseando sua crença em textos bíblicos como Gênesis 2:7 e Gênesis 1:20, os adventistas acreditam que o ser humano se tornou alma (e não que recebeu uma alma), ou seja, tornou-se uma pessoa viva, no conceito bíblico, onde os animais vivos também são chamados de “almas”. Sendo assim, como os homens não possuem vantagens sobre os animais, pregam que ao morrer ambos vão para o mesmo lugar, sem diferenças: todos procedem do pó e ao pó tornarão.
“Não cremos que seres humanos e animais tenham alma, mas sim que são almas. O conceito bíblico de “alma” não é o mesmo que o apresentado por Platão e pela filosofia grega. Alguns dos textos citados devem encher de alegria os leitores da revista Papo de Pet que perderam pessoas queridas e animaizinhos de estimação, pois, ambos existirão novamente em nosso Planeta renovado, afirma Leandro que finaliza: Ao orientar Noé a sair da arca, além de abençoar a raça humana o Senhor abençoou também os animais (Gênesis 8:15-17)”.
Judaísmo
O Judaísmo surgiu há mais de 4 mil anos. Segundo sua principal fonte escrita, a Torá, Abrahão foi o primeiro hebreu, ao reconhecer que um mundo tão diverso de seres e de vida só poderia ter sido criado por um único Deus.

Ex-detento comanda presídio na PB e unidade se torna modelo no Estado

Sertanejo da cidade de Patos, a 300 km de João Pessoa, Silva Neto, teve a vida marcada por uma tragédia
Presos em oração
Presos em oração
Publicado no Portal Correio [via Pavablog]
Ex-presidiário, estudante de Direito e diretor de uma cadeia pública na Paraíba. Essa é apenas parte do currículo de Antônio Silva Neto, de 46 anos, que vem surpreendendo o sistema prisional paraibano ao implantar um modelo de qualificação para os apenados e se tornando referência em outros estados brasileiros e faz escola em outros países. O diretor está percorrendo cidades brasileiras e a Bolívia, na América do Sul, dando palestras sobre administração prisional.
Sertanejo da cidade de Patos, a 300 km de João Pessoa, Silva Neto, teve a vida marcada por uma tragédia. Em 1991, um tiro disparado por ele vitimou a esposa. Ele jura que foi acidental. Na época, trabalhava como policial militar e foi condenado a 15 anos e 8 meses de prisão, por homicídio doloso, ou seja, com intenção de matar.
Hortaliças cultivadas na ressocialização
Hortaliças cultivadas na ressocialização
“Quando fui policial militar era muito violento. Meu objetivo era matar e tirar os criminosos de circulação. Quando cheguei à cadeia, conheci o inferno. Os presos batiam na grade e ficavam agitados com a minha presença”, relembrou Silva Neto. Por ter um bom comportamento, o então detento ganhou o benefício do regime semiaberto e cumpriu apenas 5 anos, dos 17 de condenação impostos pela Justiça paraibana.
Neto já trabalhou como vigilante da Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB) por 16 anos e, em 2011, foi nomeado como diretor da cadeia pública, agora presídio de Sapé (na região do Brejo paraibano, a 55 km de João Pessoa), sob críticas de setores da Segurança Pública estadual. Ele mesmo reconhece isso. “Fui muito criticado por colegas que integram a Segurança, mas, graças a Deus, venho desempenhado meu trabalho com sucesso e isso me fez ser convidado para participar de seminários e palestras no país e até mesmo na Bolívia, abordando o modelo de administração prisional”, comemora Silva Neto.
Dados da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) confirmam que o presídio de Sapé, é uma referência no quesito ressocialização. Estão reclusos 168 apenados, porém, a capacidade da unidade é de 70. Apesar da super lotação, não há registro de rebeliões ou tumultos. Todos frequentam a escola e cursos de qualificação profissional.

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