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"Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever - inclusive a sua própria história." Bill Gates

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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Senso de humor

2177

Caros Ruas, em Um Sábado Qualquer

Dia do Saci, Viva a Cultura Nacional (Grega de 414 Antes de Cristo?)


publicado originalmente no Contraditorium

Como todos os grandes problemas nacionais estão resolvidos, já ganhamos um Oscar, temos um programa espacial atuante e meu despertador é cafuné da Luciana Vendramini, podemos nos dedicar a outras áreas, como comemorar… o Dia do Saci.

Sim, isso existe (o dia, não os sacis. Foi mau, Romeu Evaristo).

O problema é que como todo bom folclore, é pasteurizado e mingauzificado para consumo fácil pelas crianças, com isso muita informação é perdida. Temos a impressão de que TUDO surgiu aqui, e quando as próprias crianças alertam das semelhanças com lendas externas, são contrariadas pelos professores, que também não pesquisaram muito.

O Curupira por exemplo é uma variação da lenda do Imbunche, de origem chilena. A Iara nada mais é que uma sereia de água doce, uma das muitas lendas adaptadas pelos portugueses.

TODO MUNDO aprende na escola que os índios brasileiros (na verdade só os Tupis) eram bonzinhos monoteístas e só chamavam Deus pelo nome errado, usavam Tupã ao invés de Alanis Morissette. Os jesuítas distorceram e adaptaram Tupã, que era praticamente uma onomatopéia pro som do trovão, e transformaram-no no Deus Supremo indígena.

Eles fizeram com que culturas inteiras abandonassem sua mitologia, o mito criador Tupi quase foi esquecido, pois Nhanderuvuçu não era uma entidade antropomórfica, lembra mais a Força de Star Wars, do que um velho branco de barbas brancas. Aliás, ainda bem, se dependesse de escrever Nhanderuvuçu Indiana Jones estaria no fundo daquele abismo faz tempo.

É curioso que os defensores da “cultura nacional”, que gritam tanto contra “apropriação cultural” que consideram racismo brancos gostarem de comida japonesa, não se preocupam ou sequer reconhecem quando o inverso acontece. Culturas se influenciam o tempo todo, línguas se influenciam o tempo todo.

O discurso nacionalista-isolacionista é patético, pode ser desmentido em segundos. “Viva o Saci” como se ele fosse fruto da mente de algum nobre guerreiro tupi? Humm… vejamos.

As primeiras referências ao Saci apareceram no Século XVIII. Historiadores politicamente corretos dizem que ele deriva do Ŷaci-ŷaterê, entidade indígena que teria uma perna só, cabelo vermelho e assustaria as pessoas na floresta. O problema é que não há registros, desde o descobrimento, dessa entidade.

Já os portugueses tem os trasgos, um tipo de duende, vejam a semelhança do gorro:


Ah, mas então a lenda indígena se fundiu com a portuguesa, com uma pitada de cultura negra, que transformou o saci num negrinho de cachimbo?

Não tão simples. Na peça Os Pássaros, de Alfred Aristófanes, encenada em 414 antes de cristo, são mencionados os Monopodes, uma raça de criaturas de uma perna só. Eles viveriam em terras exóticas, como Índia e Etiópia.

Qualquer coincidência é mera semelhança.

A imagem acima é da Crônica de Nuremberg, de 1493, o que demonstra que a existências de criaturas de uma perna só era mais que “conhecida” desde antes do descobrimento do Brasil.

Papa afirma ter incertezas em sua fé


Gabriel Bouys/AFP

no UOL Notícias

Todo mundo, inclusive o papa, tem incertezas e dúvidas sobre sua fé, mas isso não é motivo de preocupação, afirmou nesta quarta-feira o sumo pontífice argentino Francisco durante sua audiência geral.

"Todos experimentamos extravios, incertezas, dúvidas. Quem não experimentou? Todos, eu também! Faz parte da fé", afirmou diante de mais de 50.000 fieis de todo o mundo reunidos na praça de São Pedro, no Vaticano.

"Somos seres marcados por fragilidades e limites, não há por que preocupar-se", acrescentou.

Francisco também pediu aos fieis que rezem e "encontrem o valor e a humildade para abrir-se aos demais e pedir-lhes ajuda" em momentos de crise.
Com um enfoque muito diferente de seu predecessor, Bento XVI, Francisco se coloca no nível dos cristãos e assegura que quer ser um "papa normal", reconhecendo que é pecador, tem grandes defeitos, como ser desorganizado ou autoritário, e que cometeu erros e viveu crise morais.

Espantalhos, corvos e os campos da vida



Nos campos da vida, há espantalhos. Alguém os pôs lá. Os campos da vida podiam ser semeados por qualquer um, por todos, mas alguém pôs lá espantalhos e, com medo dos espantalhos, nós não semeamos, nós não plantamos, não não colhemos. Corvos, ficamos nos galhos, olhando, terrificados, os espantalhos lá colocados pelos donos do mundo e por aqueles que, mesmo sem saber, trabalham para eles...

De vez em quando, um corvo ou outro vai lá, pousa sobre o espantalho inerte e sem vida, pica-lhe um olho, ri-se e vai colher milhos furtados. Mas, quando conta aos demais corvos que o espantalho é um boneco posto lá pelos donos da roça, a maioria não acredita e, ainda temente, ainda temerosa, ainda crédula, ainda crente, permanece nos galhos, observando o campo...

Nada mais direi...

Pense você, corvo, sobre quem são os corvos, quem são os espantalhos e quem os pôs lá...


Osvaldo Luiz Ribeiro, no peroratio

Bispo sorteará iPad mini em missa de capela de cemitério

 Luiz Antônio Guedes
Dom Guedes vai usar o
aparelho para iscar fiéis
O bispo Luiz Antônio Guedes (foto), da Diocese de Campo Limpo, em São Paulo, vai sortear um iPad mini no Dia de Finados, 2 de novembro, durante a missa das 8h da capela do Cemitério Gethsêmani. Essa versão do dispositivo móvel custa de R$ 1.200 a R$ 1600, dependendo de sua configuração.

Dom Guedes espera que o aparelhinho da Apple atraia mais fiéis para missa, que, principalmente nesse horário, tem despertado pouco interesse, mesmo no dia em que os cristãos reverenciam os seus mortos.

O sorteio foi comunicado aos parentes de mortos sepultados no Gethsêmani por intermédio do correio. Algumas pessoas ficaram indignadas ao  receber a correspondência, por acharem que a iniciativa banaliza a missa.

O cemitério Gethsêmani fica no bairro do Morumbi, uma região nobre de São Paulo. Foi fundado em 1965 pela Arquidiocese de São Paulo. O presidente do cemitério é o próprio Guedes. Ele é tido como um bispo conservador, o que contribuiu para que fiéis ficassem mais surpresos com a iniciativa dele de sortear o objeto endeusado por todos os jovens.


quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Tentam destruir meu ministério, diz pastor Valdemiro

foto: Isadora Brant/Folhapress

Ricardo Feltrin, no UOL
Em discurso emocionado, o apóstolo Valdemiro Santiago, que vai deixar a Rede 21, UHF, que pertence à Band, afirmou que “estão tentando destruir” seu ministério. Ele se referia à Igreja Universal, que tomou seu espaço não só no canal 21, mas também nas madrugadas da Band.
A igreja de Valdemiro, a Mundial, teria atrasado vários pagamentos do contrato de locação do canal 21 e da Band. A Universal fez uma proposta rentável à Band e tirou seu espaço. Valdemiro ainda deverá ficar alguns dias no ar, conforme reza o contrato com a emissora da família Saad.
“Não é a primeira vez (que tentam me destruir). Lembro que eu estava feliz numa rádio. Um dia chegou a polícia e confiscou tudo. Disseram: o senhor está preso. Fecharam a rádio, mas o dono mesmo da rádio nada sofreu. Eu perguntei, mas por quê? E um policial me disse: o senhor é a bola da vez.
“Não vão apagar minha luz”, afirmou Santiago, principal inimigo da Igreja Universal de Edir Macedo. “Ninguém vai destruir esta obra”.
Santiago está tentando comprar a extinta MTV, do grupo Abril, que hoje exibe a TV Ideal, um canal corporativo. Há rumores de que também estaria tentando adquirir uma parte das ações da RedeTV! A emissora nega.

Para comprar MTV, Igreja Mundial pede para fiéis fingirem doença

Valdemiro Santiago toma o depoimento de fiíes em culto na igreja da
avenida João Dias no último dia 6

Por DANIEL CASTRO, no UOL

Em carta encontrada em uma sala do templo da Avenida João Dias, na zona sul de São Paulo, a Igreja Mundial do Poder de Deus pede a fiéis para se "passarem por enfermos curados, ex-drogados e aleijados" e assim "conseguir convencer mais pessoas a contribuírem financeiramente para a aquisição do canal 32".

O canal 32 é uma concessão do Grupo Abril, usada até 30 de setembro para transmitir a programação da MTV Brasil em sinal aberto. Estaria à venda por R$ 500 milhões.

A carta, reproduzida abaixo, chama a atenção pelo "pragmatismo". Os interessados não precisam comprovar que tiveram alguma doença. Necessitam apenas ter disponibilidade para viajar "para dar seu testemunho de consagração e vitória". Recompensa-se o esforço com "uma ajuda de custo".

A carta tem um espaço em branco para o preenchimento do nome do bispo local, mas diz que se trata de um "pedido feito diretamente pelo apóstolo Valdemiro Santiago a todos os seus fiéis". Pede-se a destruição da carta após sua leitura.

A carta obtida pelo Notícias da TV é uma impressão simples, embora colorida. Havia algumas dezenas delas na sala em que foram encontradas.

A Igreja Mundial do Poder de Deus passa por grave crise financeira. Devendo entre R$ 13 milhões e R$ 21 milhões para o Grupo Bandeirantes, perdeu a locação de 23 horas diárias da Rede 21 e de três horas diárias nas madrugadas da Band. O espaço será ocupado justamente por sua principal rival, a Igreja Universal do Reino de Deus, de Edir Macedo.

Ontem, em culto transmitido pela TV, o apóstolo Santiago praticamente se despediu da Rede 21 e convocou seus fiéis da Grande São Paulo a segui-lo pelo canal 25, de cobertura muito fraca.

A igreja vem fazendo intensa campanha para viabilizar seu projeto de televisão. Pede "ofertas de R$ 100,00" durante a transmissão de cultos.

sábado, 26 de outubro de 2013

Considerações sobre o amor


Ricardo Gondim, no seu site
Quem ama colore o vento, perfuma o sol, tempera as horas. O amor forja afeto, previne cinismo, fortalece benignidade. Amantes não se contentam com o cogitum definindo nossa humanidade. Imersos na graça, eles são sentimento puro. Os afetuosos, arbitrários na generosidade, transpõem os limites da lei. Discrição e amor partilham da mesma estrada. Afáveis conseguem se tornar mais eloquentes do que a solidão que tenta emudecê-los. O amor é maior que a fé, mais vigoroso que a esperança e mais contundente que a racionalidade.
Quem ama, espera e suporta a tortura das ausências. Saudade é nome para o buraco que o tempo cavou na alma e não encontrou quem o preenchesse. Amantes são ingênuos. Deixam-se enredar e mal sabem que os cordéis do amor não se esgarçam facilmente. Ao desdenharem do suplício de serem abandonados, padecem em alpendres, diante de álbuns, nos cheiros. Nos atos falhos da alegria, o ternos nivelam o fosso em que se meteram devido a dor do abandono. O amor não se protege e nem protege.
Quem ama obedece sem ser ordenado, cumpre sem ser requisitado, aceita sem ser forçado. Quando disputam com o objeto do seu cuidado, não se importam em chegar por último – embora sejam sempre vencedores. O amor cria vassalos altaneiros. Reis e rainhas se vulnerabilizam, próximos do filho, filha, da irmã, da noiva. Eles abrem mão de prerrogativas reais que os autorizariam usar força. Amar é ceder lugar, dividir jugo, lavar pés.
Quem ama perde medo. Os afetuosos desdenham o que ameaça seus sentimentos: tempo, abismo, acaso. Para quem ama, o ócio nunca parece pecado. Os afáveis consideram ganho, uma tarde na beira da praia para ver o por-do-sol, uma semana entre os pobres ou um mês investido entre dependentes químicos. Doar-se em alguma clínica odontológica no coração da África nunca é sacrifício.
Quem ama transgride. Os amigos são paradoxais. Pelo objeto do amor, desdizem o que um dia afirmaram categoricamente. Rasgam a lei para evitar um apedrejamento - se necessário, até a divina. Misericordiosos, perdem o receio de passar por tolos. Não têm vergonha de abraçar a prostituta indigna, de perdoar o ladrão contumaz, de apostar no covarde ou de repartir a ceia com o traidor.
Quem ama sofre. Amor e paixão partilham de uma mesma raiz. Não existem amantes tranquilos. O amor abre frestas em armaduras. No verbo amar, descansa a recusa de manipular. Os amorosos sonham com retornos pródigos. Nunca traem. Riscam a infidelidade de suas lógicas. Quem se atreve a amar se expõe a rejeições.
Amamos nossos filhos para que nos deixem um dia, nós os cobrimos de cuidados para prepará-los para a autonomia. Regozijamo-nos com suas alegrias, seus sucessos são os nossos, seus sofrimentos nos ferem pessoalmente. Ele não nos pertencem, não nos devem nada e vão nos deixar quando chegar o momento. Na fragilidade do homem pequeno, o amor lê sua própria fraqueza, seu caráter mortal: ele mesmo é uma delicada centelha de vida, pronta para ser acesa. Amar assim é consentir em perder o outro,mesmo que isso implique nossa infelicidade – nada é mais triste do que uma casa de família sem família -, é emancipá-lo de nossa custódia, não investi-lo do mandato impossível: a reciprocidade. ‘Ser amado é passar, amar é durar’ (Rilke)*. 
Quem ama conversa com as estrelas. Para os que se entregam, as paredes ouvem. Só eles gostam de monologar diante de espelhos. Insistem em escrever cartas de amor ridículas – que jamais poderiam ser publicadas. Eles enxergam beleza em véus encardidos, folhas secas, águas paradas, prados amarelecidos, dias chuvosos, pardais cinzentos, grãos de mostarda.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

‘Não reconhecia o valor dele’, diz filho sobre pai que pagou por roubos

Servente de pedreiro procurou vítimas do filho para pagar dívida.
Doadora ligou para vítima e pagou quantia que pedreiro quis ressarcir.
Servente de pedreiro abraça o filho, que está preso em Jales 
(foto: Reprodução / TV Tem)
Publicado originalmente no G1
O pai que assumiu o prejuízo que o filho causou a assaltar uma farmácia e um posto de combustíveis em Jales (SP) reencontou nesta quinta-feira (24), pela primeira vez depois que foi preso, o filho, em visita a cadeia da cidade. O jovem de 18 anos diz que está arrependido e que não esperava que o pai fosse até os locais dos crimes quitar as dívidas com os comerciantes. “Até então não reconhecia o valor que meu pai tinha, porque a atitude que ele teve eu não esperava isso. Agora estou reconhecendo de como o meu pai é guerreiro”, diz o jovem.
Na última semana, quando o jovem foi preso, o servente de pedreiro Dorivaldo Porfírio de Lima procurou os donos dos estabelecimentos para pagar a quantia que o filho teria roubado. Os dois não se viam há mais de 15 dias. Dorivaldo afirma que nunca tinha ficado tanto tempo longe do filho. Nesta quinta-feira, ele acordou cedo para ver o caçula. “A gente não conseguia dormir direito, só pensando que ele estava em um lugar que não deveria estar”, afirma o pai.
O abraço foi apertado e cheio de emoção. Dorivaldo disse que perdoa o filho, mas quer que ele se livre das drogas e volte a trabalhar. “Ele mesmo admitiu o que fez foi errado, que não é certo e já é difícil admitir isso. Então agora é quando sair da cadeia é trabalhar e correr atrás da vida”, afirma Lima.
Entenda o caso
Bruno foi flagrado no começo do mês com um outro rapaz assaltando um posto de combustíveis, logo depois a dupla roubou uma farmácia. Os dois foram identificados pelas câmeras de segurança e presos. Assim que soube dos assaltos, Dorivaldo voltou aos locais dos crimes e se comprometeu a quitar as dívidas. Como ganha pouco, parcelou o valor em várias vezes.
A atitude do pai ganhou repercussão e comoveu muita gente. João Duraval Tesar, dono da farmácia assaltada, diz que o telefone não parava de tocar, pessoas de longe querendo ajudar o servente a pagar a dívida do filho. “Foi muita gente ligando, de várias cidades querendo saber da situação financeira do pai, e achou o gesto dele de hombridade, honesta”, afirma.
Além da farmácia, anônimos quiseram pagar a dívida de R$ 900 com o posto de combustível. Uma doadora da cidade de Blumenau (SC) ligou para o dono do posto e pagou a quantia que o filho do pedreiro tinha roubado. “Ela me ligou um dia perguntando se a história que tinha visto na televisão era verdadeira e eu disse que sim, que tinha até as duplicatas da dívida. Dois dias depois ela me ligou dizendo que depositou o dinheiro na minha conta. Ela se sensibilizou com a história e, para mim, foi uma atitude muito generosa”, afirma.

3 minutos com Bauman: as amizades de Facebook

Publicado no Obvious [via Pavablog]
Sociólogo polonês preocupado em compreender a sociedade pós-moderna, Zygmunt Bauman, 87 anos, autor de vários livros em que explica as relações sociais na contemporaneidade, comenta em 3 minutos, em uma de suas conferências que foi concedida para o Fronteiras do Pensamento, porquê nossas relações de amizade no facebook são tão atrativas, fáceis e superficiais.
Leia o trecho:
“Um viciado em facebook me confessou – não confessou, mas de fato gabou-se – que havia feito 500 amigos em um dia. Minha resposta foi: eu tenho 86 anos, mas não tenho 500 amigos. Eu não consegui isso!
Então, provavelmente, quando ele diz “amigo”, e eu digo “amigo”, não queremos dizer a mesma coisa, são coisas diferentes. Quando eu era jovem, eu não tinha o conceito de redes, eu tinha o conceito de laços humanos, comunidades… esse tipo de coisa, mas não de redes.
Qual a diferença entre comunidades e rede?
A comunidade precede você. Você nasce em uma comunidade. De outro lado temos a rede, o que é uma rede? Ao contrário da comunidade, a rede é feita e mantida viva por duas atividades diferentes: conectar e desconectar.
Zygmunt Bauman promotes his latest book
Eu penso que a atratividade desse novo tipo de amizade, o tipo de amizade de facebook, como eu a chamo, está exatamente aí: que é tão fácil de desconectar. É fácil conectar e fazer amigos, mas o maior atrativo é a facilidade de se desconectar.
Imagine que o que você tem não são amigos online, conexões online, compartilhamento online, mas conexões off-line, conexões reais, frente a frente, corpo a corpo, olho no olho. Assim, romper relações é sempre um evento muito traumático, você tem que encontrar desculpas, tem que se explicar, tem que mentir com frequência, e, mesmo assim, você não se sente seguro, porque seu parceiro diz que você não têm direitos, que você é sujo etc., é difícil.


quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Os pobres e os insetos

image: Internet


Ricardo Gondim, no seu site
Por anos, achei esquisito os gringos pensarem que a capital do Brasil é Buenos Aires. Agora entendo. Eles nos tratam com a mesma distância que nós, os brasileiros, conhecemos a África ou o Haiti. Não sabemos quase nada sobre a realidade dos países pobres do mundo. A grande maioria dos brasileiros desconhece os horrores da África. Verdadeiros holocaustos ocorrem no Congo, Darfur e Zimbábue e a grande mídia relata muito pouco sobre os genocídios que a pobreza produz. Quantos podem dizer a capital do Congo?
Tragédias repentinas provocam grande alarde. Tsunamis e furacões solampam a previsibilidade mínima que esperamos da vida. Já as hemorragias lentas, com a morte de milhões, são toleradas. Suportamos a miséria porque os limites do aceitável, na devastação de vidas, são expandidos milímetro a milímetro. A condescendência midiática chega a ser criminosa. Por que não se fazem reportagens especiais sobre a mortandade de Darfur? Qual o motivo do silêncio sobre o comércio ilegal de armas no Congo? Constantes epidemias do cólera dizimam o Haiti. Como há um distanciamento dessa realidade, poucos perdem o sono. Morrem dezenas no Iraque ou no sofrido Zimbábue, mas eles não ganham manchete. Um pequeno incidente nos países ricos causa espanto. Contudo, um mundo consumido pela miséria se torna tão perigosamente frágil quanto o mundo que foi arrasado em Hiroshima, ou que testemunhou Auschwitz.
O sofrimento crônico do pobre parece não oferecer atrativo para as redes de comunicação, ansiosas por índices de audiência. A banalidade impera. Tolices ganham espaço. Notícias menos importantes povoam as aspirações populares: final do campeonato de futebol; excessos consumistas de famosos; excentricidades do playboy que esbanja a fortuna da família. Impera a lógica: Ora, pra quê se importar com os bolsões de miséria?
Em Metamorfose, Franz Kafka narra a história de Gregor Samsa, caixeiro viajante e arrimo da família. Certo dia, ele acordou transformado num inseto asqueroso (alguns leitores de Kafka insistem que era uma barata). A reação da família diante de seus infortúnios reflete bem o comportamento da humanidade ao se ver diante do sofrimento. A princípio eles se preocupam com a condição pavorosa de Gregor Samsa. Mesmo provocando repulsa da irmã, ela o alimenta com cuidado. Importa-se sim com seu bem estar. Mas com o passar do tempo, o sofrimento de Gregor Samsa se prolonga e a vida precisa continuar. Sem o dinheiro que Gregor Samsa provê, a família se sente obrigada a trabalhar. Com as demandas do dia-a-dia, ele vai sendo esquecido. E assim o pobre caixeiro, metamorfoseado em inseto, acaba abandonado num canto do quarto, coberto de poeira.
África, América Latina e Haiti são um Gregor Samsa. O rosto esquálido de crianças, a miséria agressiva dos campos de refugiados e a diarréia mal cheirosa do cólera não são agradáveis para quem assiste ao telejornal antes de jantar. A alienação se alastra. Religiosos agravam o quadro – evangélicos principalmente. Pastores preferem gastar horas com testemunhos de gente que jura ter subido na vida à custa de milagre. Relatos procuram atrair mais gente gananciosa por conhecer uma divindade que suspende todas as leis para beneficiar os seus. Mais e mais igrejas se especializam em satisfazer o consumismo desenfreado. Deus a serviço do materialismo. Cantores gospel enriquecem.Igrejas-empresas se abarrotam de dinheiro – enquanto passam a ideia de que o mundo sofre por recusar converter-se à sua mensagem.

'Síndrome do celibato': por que os jovens do Japão não fazem mais sexo?

  • Japoneses hoje preferem investir na carreira a casar ou ter um relacionamento;
    pesquisa mostra que, no Japão, um terço das pessoas com menos de 30
    anos nunca teve qualquer tipo de experiência amorosa. Taxa de natalidade em 2012
    foi a menor de que se tem registro no país (Reprodução/The Guardian)

    no UOL.

    Japoneses com menos de 40 anos de idade parecem estar perdendo o interesse nos relacionamentos convencionais. De acordo com reportagem publicada pelo jornal britânico "The Guardian", a mídia do Japão tem tratado o fenômeno como "síndrome do celibato".

    Para o governo japonês, essa síndrome pode significar uma catástrofe iminente. O Japão já tem uma das menores taxas de natalidade do mundo, e a atual população de 126 milhões de pessoas --que vem diminuindo nos últimos dez anos-- pode ser reduzida em 30% até 2060, segundo projeções feitas no país.

    Milhões de japoneses não estão sequer namorando, e o número de pessoas solteiras atingiu seu recorde. Uma pesquisa realizada em 2011 constatou que 61% dos homens e 49% das mulheres com idade entre 18 e 34 anos não mantinham qualquer tipo de relação romântica com outra pessoa. Outra pesquisa mostrou que um terço das pessoas com menos de 30 anos nunca havia tipo uma experiência amorosa --na vida.

    Dados oficiais mostram, ainda, que o número de bebês nascidos no Japão em 2012 é o menor de que se tem registro. Além disso, com o aumento da população de idosos, as vendas de fraldas geriátricas ultrapassaram as de fraldas para bebês pela primeira vez em 2012. Para Kunio Kitamura, da Associação de Planejamento Familiar, a crise demográfica é tão grave que o Japão "pode eventualmente acabar em extinção".

    Nesse cenário, surgiu, então, o profissional que trabalha como conselheiro de sexo e relacionamento, a fim de tentar curar a chamada "síndrome do celibato". Ai Aoyama, 52 --que cerca de 15 anos atrás ganhou a vida como dominatrix profisisonal-- é uma dessas conselheiras. Ela diz que, hoje, seu trabalho é muito mais desafiador.
    A ex-dominatrix Ai Aoyama, 52, conselheira de sexo e relacionamento, e
    um de seus clientes

    "Recebo mais homens, mas a presença das mulheres está aumentando", disse Aoyama, que trabalha em Tóquio. "Eu uso terapias como ioga e hipnose para relaxá-los e ajudá-los a entender o modo como o corpo do ser humano real funciona", disse ela, que às vezes --por uma taxa extra-- pode ficar nua para seus clientes do sexo masculino, a fim de guiá-los fisicamente em torno da forma feminina. "Mas sem absolutamente qualquer relação sexual", afirma. Como exemplo, ela cita um cliente de 30 anos, virgem, que só fica excitado quando vê robôs femininos em games, algo semelhante àqueles da série Power Rangers.


    Aoyama afirma que, além do sexo casual, vê o crescimento da procura por pornografia online e "namoradas virtuais". Ou então, opina, estão substituindo o sexo por outras formas de relaxamento e diversão.

    A pressão para se conformar ao modelo de família anacrônico do Japão --marido assalariado que trabalha 20 horas por dia e mulher dona de casa-- permanece forte, e talvez essa seja uma das explicações para o fenômeno do celibato. Ironicamente, o sistema que produziu papéis conjugais segregados também criou o ambiente ideal para aqueles que querem ficar só, sem qualquer incômodo, como costumam falar. "As pessoas não sabem para onde ir. Elas vêm até mim porque pensam que, por querer algo diferente, há algo de errado com elas", conta Aoyama.

Família X Trabalho


Embora as mulheres japonesas sejam cada vez mais independentes e ambiciosas, no mundo corporativo japonês é quase impossível que a mulher consiga combinar carreira e família. Assim, as mulheres japonesas hoje encaram o casamento como o "túmulo" da carreiras conquistada --cerca de 70% das mulheres japonesas deixam seus empregos depois de seu primeiro filho, e o Fórum Econômico Mundial classifica o Japão como um dos piores países do mundo para a igualdade de gênero no trabalho.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

As palavras têm poder




Rodrigo Cavalcanti

Ouço ainda hoje muitos cristãos fervorosos afirmarem: 'as palavras têm poder'. Discordava, não discordo mais. De fato, as palavras têm poder, elas possuem um poder transformador inimaginável. Um poder de criar aquilo que não existia, e matar aquilo que existia. Tudo depende de como a utilizamos.

Não falo de palavras como 'tome posse da sua casa', nem muito menos de alardear 'sou filho do Rei' lhe tornará um monarca... Não falo de mágica ou de teologia declarativa, nem confissão positiva. Falo da palavra no sentido o qual realmente ela é, a representações de nossas intenções e sentimentos.

Quer criar ódio, rancor, dúvida, amargura? Use a palavra. Quer criar amor, compaixão, misericórdia e tolerância? Use a palavra. Todavia, faça tendo consciência do alcance do que está sendo dito.
"Mas eu lhes digo que, no dia do juízo, os homens haverão de dar conta de toda palavra inútil que tiverem falado" [Mateus 12:36]
Não duvide do poder da palavra, ela pode dar a vida e até mesmo matar. Não, não, não! Não estou falando de rogar praga ou maldição. Mas o dolo da palavra pode causar desânimo, falta de fé, de esperança na vida, e aí assim, causar a morte, de nos tornar mortos vivos até o dia de sermos apenas mortos. Morre-se por dentro, antes de morrer para fora.
"A língua tem poder sobre a vida e sobre a morte; os que gostam de usá-la comerão do seu fruto" Provérbios 18:21
Talvez seja por isso que Tiago recomendou que tivéssemos cuidado com a língua, procurando refreia-la.
"a língua, porém, ninguém consegue domar. É um mal incontrolável, cheio de veneno mortífero". [Tiago 3:8]
Mas nem só de males vive a palavra, fonte de vida, de conhecimento, de consolo, de cura, ela deve ser utilizada.
"As palavras agradáveis são como um favo de mel, são doces para a alma e trazem cura para os ossos." [Provérbios 16:24]

terça-feira, 22 de outubro de 2013

A força da fé




Ricardo Gondim, no seu site
Durante a Segunda Guerra Mundial, alguns pobres e perseguidos políticos se refugiaram em um porão escuro e frio da Alemanha. Quando as tropas dos exércitos aliados libertaram a Europa do jugo nazista, achou-se inscrito numa das paredes daquele triste refúgio:
Creio no sol, mesmo que não brilhe.
Creio em Deus, mesmo que permaneça em silêncio.
Creio no amor, mesmo que se oculte.
As energias que brotam no coração, fascinam. Conhecemos a força de vontade e o poder do pensamento positivo. Sabemos também que as palavras possuem vida própria. A mais poderosa de todas as nossas energias, porém, vem da fé. Ela é dom. Com fé, o espírito triunfa sobre a matéria. A fé invoca o eterno sobre o temporal. Nela, a vida vibra. Fé revela que pontos de interrogação têm valor. Fé zomba da certeza –  toda certeza encurta os horizontes e somente a dúvida alonga os anseios do coração para além do horizonte. Fé diz não ao grito do desespero. Fé se faz cega ao escárnio da impossibilidade.
Com fé, cremos na força subjetiva do caráter. Quando se manifesta, agimos semelhantes ao homem que num incêndio se joga no vazio, sem ter absolutamente nada senão a voz do bombeiro que orienta o salto. Todo o crente é um cego, obstinado a dizer sim, quando todos os indícios evidenciam um não.
Fé faz com que as pessoas se comportem como a mãe quando entregou o filho nas mãos do cirurgião. A única garantia que esta mãe possuía era o médico ser uma extensão do seu amor. Pela fé, ela nada tem senão amor como guia. Fé é sempre uma aposta: Deus não desistirá de nós em tempo algum. A única certeza da fé descansa na fragilidade de um querer bem gratuito e unilateral.
Jesus falou a um homem ansioso e decepcionado com a vidaSe creres verás a glória de Deus. Semelhante a ele eu creio. Faltam-me evidências, por isso creio. Minha fé mora além da razão. Por uma tênue intuição, percebo: a glória que o nazareno prometeu pode ser traduzida como esperança, paz ou descanso.
Soli Deo Gloria

Vermelho Lucifer gera polêmica e Peugeot muda o nome da cor


publicado na Folha de S.Paulo

Entre as nove cores disponíveis para o hatch médio 308, sem dúvida o vermelho metálico é um dos mais vibrantes.
Divulgação
Detalhe da frente do 308, lançado na última semana em MG

Batizada de "Rouge Lucifer", na França, o tom por aqui passa a se chamar apenas "Luc", para evitar a rejeição de consumidores mais religiosos.

"Não queremos causar polêmica no Brasil no lançamento de um produto tão importante para a Peugeot", diz Carlos Gomes, presidente do grupo PSA (Peugeot-Citroën).

Substituto do 307, o 308 traz como principal novidade mecânica o motor 1.6 "flex" (122 cv) sem "tanquinho".

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Porta dos Fundos ironiza programas de fidelidade com evangélicos na TV

No vídeo, divulgado nesta segunda-feira, 21, um pastor e uma crente discutem se aceitam ou não uma tentadora proposta em dinheiro

Foto: Porta dos Fundos ironiza programas de fidelidade com evangélicos na TV / Crédito: Reprodução/Youtube

publicado no CARAS On line

No vídeo intitulado Fidelidade, do grupo Porta dos Fundos, uma evangélica é colocada contra a parede ao ter que decidir se aceita trabalhar como empregada doméstica, com salário de R$ 5 mil e benefícios, mas precisa lidar com o fato de seus futuros empregadores, também "crentes", crerem em 'Satanás, o Pai das Trevas".

Como resposta, a mulher avisa que o "pastor não vai gostar muito dessa história", e mostra-se confusa com a proposta. O patrão, por sua vez, lhe mostra o contrato, pronto para ser assinado.
Na sequência, o vídeo corta para o programa de televisão Fidelidade Show, que mostra um apresentador ao lado do pastor Paulo. A crente entra no palco, segurando um buquê de flores, e é atacada pelo pastor, que a chama de "vagabunda desalmada" e "de linha do tinhoso".

No fim, mostra-se que tudo não passou de uma armação do programa, com os atores comentando a participação e recebendo uma quantia em dinheiro.

Recado a um possível biógrafo




Ricardo Gondim, no seu site
Não sei porque alguém se interessaria em escrever, algum dia, uma biografia minha. Não consto na agenda da presidente, nunca almocei com o secretário geral das Nações Unidas. Jamais fui capa de revista semanal. Todavia, sempre é possível haver algum maluco, especialista em temas excêntricos. Se uma pessoa se interessar em pesquisar minha vida, facilito sua pesquisa.
Biógrafo amigo,de antemão advirto: você não encontrará em minha história nada fenomenal. Logo aprenderá que não fui gênio em nada. Nunca voltei os ponteiros dos relógios. Jamais abri o mar para que uma multidão atravessasse a pé enxuto. Não fui sequer apontado para ganhar alguns concurso literário, quiçá o Prêmio Nobel. Saiba, porém, e eu juro: sempre tentei.
Tentei ser poliglota. Meses antes de completar treze anos, matriculei-me, simultaneamente, em cursos de alemão, inglês e esperanto. Cedo notei que meu quociente de inteligência não alcançava o alemão. Cheguei a apostar que os sonhos de Zamenhof se concretizariam. Contudo, logo percebi, se não houvesse um investimento milionário ou multinacional, patrocinando o projeto do esperanto, Babel jamais seria revertida. Que grande perda - ouvi de meu professor quando desertei a língua que pretendia unificar a humanidade. Foi realmente um estrago. Eu já sabia recitar em esperanto certos trechos da Iracema de José de Alencar. Progredi no inglês. Hoje me orgulho de dominá-lo com facilidade.
Tentei ser atleta. Deus sabe como. Fui vice-campeão cearense infantil de judô – perdi o título de campeão, numa amarga derrota para o Jorge, meu irmão mais novo. Migrei para o basquete. Quando tentei fazer tabelas, ouvi do Luiz, técnico do Maguari Esporte Clube: Mais cuidado, canhoto mongol. Nunca mais voltei aos treinos. Eu realmente não conseguia coordenar os três passos permitidos no basquete para fazer as tabelas. Voltei-me para a natação. Ganhei um terceiro lugar nos Jogos Brasileiros das Escolas Técnicas. Subi a um pódio em que apenas cinco disputaram. Ficou nisso! Como não baixei o tempo, no ano seguinte sequer me classifiquei para os próximos jogos. Quando morei nos Estados Unidos, tentei enganar. Cheguei lá com ares de quem jogava pólo aquático. Alcancei o time principal. Mas como goleiro. E você, querido biógrafo, sabe o que significa o posto de goleiro, não é?
Tentei ser diplomata. Matriculado no curso noturno na faculdade de administração de empresas da Universidade Estadual do Ceará, não dispunha de tempo, dinheiro ou cabedal para o Instituto Rio Branco, além de não dominar o francês – só agora vejo que tentar falar alemão não foi boa empreitada. Me vi obrigado ao cargo de chefe do departamento de tradução de uma empresa filantrópica americana. Eu traduzia cartas de crianças pobres para seus padrinhos.
Tentei ser um bom presbiteriano. Só que, não sei explicar, numa epifania, tive uma experiência pentecostal. Falei em uma língua que parecia soluços espirituais – a que os teólogos chamam de glossolalia. Cordialmente convidado a não mais permanecer entre os presbiterianos, tive que sair. Resolvi tentar a Assembléia de Deus. Esforço vão. Eles nunca pararam de me olhar com suspeita. Não entendo suas razões. Quem sabe? Eu nunca admiti que brincos na orelha das mulheres fossem piores do que a vaidade de suas disputas eleitorais para cargos na denominação. Anos depois, continuei em minha saga pelas estruturas da religião. Agora como evangelical. De novo, amarguei insucesso. Desencantei-me com a fôrma teológica dos irmãos reformados. Tem gente que consegue ser mais luterano do que lutero, mais calvinista do que Calvino e mais wesleiano do que Wesley. O adesismo cultural de certos setores ao american-way-of life, me enervava. Perdi amigos. Escanteado, não tive opção senão prosseguir.
Tentei ser um bom líder espiritual. Dei-me com todas as forças ao projeto de edificar uma comunidade compromissada com a missão de Jesus. Sonhei com uma igreja engajada socialmente, amando os pobres e desafortunados. Desejei ver mulheres e homens preocupados em encarnar valores verdadeiros. Por décadas compareci a todos os acampamento de jovens e de casais. Varei madrugadas em vigílias de oração. Jejuei. Preguei com esmero. Só subi ao púlpito depois de me preparar por horas a fio. Depois de tudo, não fui poupado. Tentaram me escorraçar. Lealdade foi para o lixo em nome da defesa da sã doutrina. Gente que hospedei em minha casa não contou até três na hora da traição. Para me desacreditar publicamente, espalharam que eu negava Deus. A cidade onde nasci e morei me tratou como um apóstata sem vergonha. Um enorme número de pessoas, que poderia ser minha amiga, não sei hoje nem por onde anda. Filhos de amigos rejeitam o jeito de encarar a fé, que consumiu meus melhores anos.
Tentei ser um bom pai. Procurei não repetir os erros da família de onde vim. Sonhei viver os últimos dias cercado pelos filhos e netos. Nos últimos anos, depois que somo os quilômetros que me separam da Cynthia e Naran, choro.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Minha História: 'Quis pagar o que meu filho roubou'

O ajudante de pedreiro Dorivaldo Porfírio de Lima, 44, quer
 devolver dinheiro que o filho teria roubado de dois comércios
(
Reproduçao/TV Globo)

No último dia 8, um rapaz de 18 anos foi preso em Jales (585 km a noroeste de São Paulo) sob suspeita de ter assaltado um posto de combustíveis e uma farmácia, levando R$ 1.500. Ao saber do caso, já na delegacia, o pai do jovem, o ajudante de pedreiro Dorivaldo Porfírio de Lima, 44, decidiu procurar as duas supostas vítimas para ressarcir o prejuízo. Sem recursos, assinou promissória para parcelar e pagar a dívida.

Eu nunca havia pisado em uma delegacia antes, graças a Deus. Só passava na frente.

Meu filho caçula Bruno estava jogando bola lá perto de casa quando um policial veio e o prendeu. Eu estava na casa da minha irmã. Não estava trabalhando porque está difícil arrumar serviço como ajudante de pedreiro --tem dia que tem, mas passa muitos dias sem ter.

Minha mulher ligou: "Estão prendendo o Bruno, nosso filho". Pensei: "Vou direto na delegacia saber o que é isso". Porque meu filho é trabalhador, pedreiro como eu. Ajuda a pagar as contas. E nunca tinha visto nada estranho em casa, como dinheiro, arma, droga.

Eu e minha mulher sabíamos que ele usava maconha, e desconfiávamos que tinha alguma outra droga, porque ele chegava às vezes meio irritado. Ele contou para a gente que usava, pediu para ser internado. Estávamos arrumando uma comunidade [terapêutica] aqui com a Igreja Católica, mas aí ele foi preso.

No caminho da delegacia, pensei que talvez poderia não ser nada. Ele estava trabalhando certinho, mas sempre tem as más companhias.

Quando cheguei, me mostraram as imagens dele [captadas pelas câmeras de segurança do posto e da farmácia]. Fiquei meio em dúvida, porque nunca tinha visto aquelas roupas. Mas ficaram falando lá que foi ele, foi ele, então a gente fica quieto. E não o vi ainda desde que foi preso [em 8 de outubro].

Falaram o valor roubado por ele e um colega: R$ 600 da farmácia e R$ 900 do posto. Era bastante.

Veio na hora a vontade de devolver o dinheiro. Quando o filho não presta, os pais abandonam, nem vão atrás. Mas corri atrás para mostrar caráter, o que é certo. E porque ele é trabalhador, não é vagabundo. A avó do outro rapaz [suspeito de participar dos roubos] me disse que os pais nem vão atrás do menino, que ele já não tem jeito.

No meu caso não. Não é porque é meu filho, mas eu acho que ele tem conserto.

No dia seguinte fui ao posto e perguntei quem era o dono. O próprio respondeu, é até conhecido meu. Contei o acontecido com o Bruno. "Era teu filho? Não acredito", ele disse. E eu: "Se meu filho fez isso, quero parcelar e pagar". Ele não acreditou, ficou surpreso com a honestidade. Eu disse: "Acredite porque, se for meu filho, vou pagar porque ele é trabalhador".

Pedi para parcelar os R$ 900 em promissórias de R$ 90. O ganho da gente é pouco, não chega ao fim do mês. A diária [de auxiliar de pedreiro] é R$ 70, mas às vezes você consegue trabalhar dois dias na semana, depois para.

Fiz a mesma coisa na farmácia. O dono falou que como foram dois envolvidos no roubo, ele dividiria os R$ 600 em R$ 300. Mas soube depois que um comerciante viu a história na TV e pagou a conta.

Nascemos para a imensidão


imagem: Internet
Ricardo Gondim, no seu site
A imensidão fascina. A distância sideral maravilha. O céu se craveja de brilhantes para nos revelar uma glória que precisou navegar anos-luz. Os superlativos cósmicos deslumbram. Só os pequenos intervalos atormentam. Os espaços diminutos afligem.
O preso sofre porque sonha com o outro lado da muralha. Bastariam alguns metros e ele poderia caminhar por onde quisesse. A liberdade, que lhe parece tão próxima, o oprime. O peixe se desespera porque foi jogado pela onda na areia. Ele vê a água pertinho e por mais que se debata, não alcança o espaço onde consegue respirar. O canário gorjeia na gaiola. Seu canto é um lamento. Enjaulado, contempla por entre barras vazadas, os galhos de uma árvore. A independência parece acenar-lhe um convite para um voo livre, mas o pássaro não sabe como sair dali.
A felicidade parece, simultaneamente, próxima e afastada. Sofremos com a sensação de que bastariam alguns milímetros e seríamos plenos. O amor mora na casa vizinha, não nos confins do mundo. No país vizinho, na redondeza bem alí, encontraríamos a bonança que sonhamos. Bastaria termos a chave do portão – nunca temos. A paz pode acontecer a qualquer momento. Sofremos. Reconhecemos que não dispomos de tempo, energia, ânimo para fazer acontecer tudo o que sonhamos, e que supomos ao nosso alcance.
No mito grego, Tântalo foi rei na Frígia. Certa vez, para testar a onisciência dos deuses, Tântalo roubou os manjares divinos. Procurando enganá-los, matou o próprio filho e serviu a carne do menino no lugar da comida que roubara. Descoberta a trapaça, Tântalo precisou ser castigado. Os deuses o lançaram ao Tártaro – um vale abundante em vegetação e água. O castigo de Tântalo consistiu em ver-se impedido de saciar a fome e a sede em meio a tanta fartura. Sempre que se aproximava da água, ela escoava. Ao tentar colher frutos, os ramos das árvores se afastavam para além de suas mãos.
O mito de Tântalo tem a ver com a nossa humanidade. Seu suplício lembra a máxima da psicologia: somos seres desejantes. O preço de nos reconhecermos humanos tem a ver com a percepção de que nossos desejos continuarão a nos acenar de perto, enquanto permanecem inalcançáveis. A espera e o esforço pela felicidade vão torturar sem trégua; a luta pela alegria, exauri e a vontade de triunfar, vergar.
Existe um algo fantástico, que quase podemos experimentar. Pensamos que nos pareceremos com aquele alguém, que quase podemos descrever. Sonhamos com aquele lugar, que quase concebemos. Sabemos de uma alegria, que quase podemos vivenciar. Anelamos por um amor, que quase podemos sentir. Esses quases nos mortificam.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

A transparência do mal

“Lindberg Farias ´ora´ ao lado de Silas Malafaia: uma imagem que diz tanto quanto todas as palavras de O príncipe, de Maquiavel, ou Fausto, de Goethe. Por Jean Wyllys
malafaia
O senador Lindberg Farias e Silas Malafaia durante culto na Assembleia de Deus Vitória em Cristo (ADVEC) do bairro da Penha, no último domingo
Publicado na Carta Capital
Uma frase muito repetida e cuja autoria é atribuída a Confúcio – embora não se saiba ao certo se é mesmo dele – diz que “uma imagem vale mais que mil palavras”.  Ainda que existam palavras que mil imagens não consigam traduzir (“honestidade” é uma delas!),  trata-se de uma verdade válida para a maioria das imagens, inclusive para a fotografia de um culto evangélico que circula pelas redes sociais e que veio parar em minha caixa de e-mails no fim de semana.  Nesse flagrante fotográfico, o senador Lindberg Farias (PT-RJ) aparece “orando” ao lado do pastor e empresário Silas Malafaia: uma imagem que diz tanto quanto todas as palavras de O príncipe, de Maquiavel, ou Fausto, de Goethe.
Não é segredo para ninguém que o senador Lindberg Farias é pré-candidato do PT ao governo do Rio de Janeiro. E que sua pré-candidatura ameaça a aliança sempre conflituosa – sempre por se romper a qualquer interesse privado não atendido – entre seu partido e o PMDB, sigla que no momento não só governa o Rio, mas tem a vice-presidência da República, além de presidir as duas casas do Congresso Nacional.  O atual governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, mesmo sucumbindo a uma impopularidade sem precedentes, fruto de denúncias de corrupção em sua gestão, não quer a candidatura de “Lindinho” e pretende eleger seu vice, Pezão, a qualquer preço. Ameaçado pelo impacto negativo de sua pré-candidatura na aliança nacional entre PT e PMDB e sentindo que esse impacto se amplia na medida em que a parceria entre Marina Silva e Eduardo Campos emerge como a possível aposta da “grande mídia” para eleições do próximo ano, Lindberg decidiu pôr a alma à venda em busca de força para sua empreitada. Ora, se o fato de se pôr a alma à venda já suscita um debate sobre ética, imaginem quando a alma é oferecida a negociante que costuma pagar pouco e pedir mais que alma!
Todos sabem como Silas Malafaia se comportou nas eleições de 2010 em relação à então candidata do PT Dilma Rousseff. Em conluio com José Serra, candidato do PSDB, ele demonizou a petista e reduziu o debate eleitoral a uma agenda moralista – quase fascista – que obrigou os principais candidatos à presidência a se colocarem contra os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres e contra a cidadania plena de homossexuais. Não contente, nas eleições do ano passado, Malafaia tentou derrubar o candidato do PT à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, com a mesma estratégia de demonização e rebaixamento (aliás, o apoio do pastor ao candidato do PSDB me levou a sair em defesa de Haddad mesmo contra a vontade de meu partido).
A militância petista teve ânsias de vômito quando viu imagens de José Serra em cultos evangélicos, acompanhado de Malafaia, proferindo expressões cristãs – “A paz do senhor, irmão” – que, em sua boca, soavam tão naturais quanto um pacote de Tang. O que essa mesma militância estará dizendo de seu senador?
A foto de Lindberg orando ao lado de Malafaia me fez lembrar das lições de Roland Barthes na memorável A câmara clara, obra que li para a disciplina Fotografia quando cursava Jornalismo nos idos anos 90. Nela, Barthes elabora dois conceitos – Studium e Punctum  - para se referir a dois modos de envolvimento com a fotografia. O studium corresponde a uma “leitura” da fotografia por meio de critérios e objetivos definidos; uma espécie de crítica intelectual da imagem a partir de um repertório cultural. Posso dizer, então, tendo em vista o studium da foto em que o senador do PT aparece “orando” ao lado do pastor fundamentalista e boquirroto, que a mesma revela um “fenômeno extremo” da contemporaneidade: o abraço eivado de cinismo entre o marketing e a política.

Igreja Mundial unge celulares para que só deem boas notícias

Unção do celular pela Igreja Mundial
Ao celular é colocado um adesivo que faz referência
 à Bíblia "O que ligares na terra será ligado nos ceus" 
Pastores de um templo da Igreja Mundial do Poder de Deus em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, estão realizando cultos para ungir celulares de modo que os aparelhos só deem boas notícias aos seus portadores. O programa da Mundial em uma rádio afirma que “é garantia de que o telefone só vai tocar para dar notícias maravilhosas”.

Em um culto recente, o pastor Alvaro Moura citou a Bíblia: “O que é ligado na terra é ligado nos céus. O celular faz o quê? Ligações!”

No rádio, supostos fiéis dão testemunho de que a unção funciona. “Depois da unção do meu celular, quando sai da igreja, meu telefone tocou e era um cliente querendo fechar negócio em uma fazenda”, fala um. “Eu tinha um Celtinha, mas consegui comprar meu carro importado, de luxo”, diz outro.“

Há outros testemunhos como: “meu nome saiu do SPC”, “consegui um emprego em uma multinacional” e “vendi três casas que estavam encalhadas”.

Nos cultos, a unção dos celulares é procedida por uma longa pregação sobre a importância de se pagar o dízimo. Disse o pastor: “Hoje você vai deixar um dízimo que você nunca deixou. Pode ser em cheque, dinheiro... ”

O pastor explica que o fiel, para ficar rico, tem de ouvir pelo celular um sermão de 40 minutos, além de pagar o dízimo. 


Dificuldades

2169

Carlos Ruas, em Um Sábado Qualquer

Vaticano é paraíso fiscal com mais de 300 milhões de euros

por Fiona Ehlers e Fidelius Schmid
Mais de mil clientes usam o banco para
 esconder dinheiro de origem ilícita
para a revista Der Spiegel

Mais de mil clientes que não têm nenhum motivo para ter contas no Banco do Vaticano têm lá depositado mais de 300 milhões de euros, dinheiro que os funcionários da instituição suspeitam ser ilícito. Agora eles estão pedindo para que os fundos sejam retirados.

No final de maio, dois alemães estavam no interior fortemente vigiado do Banco do Vaticano e olharam para fora para a Praça de São Pedro. Ernst von Freyberg, 54 anos, tinha acabado de ser nomeado presidente do banco – e ele acabava de ser entrevistado pelo padre Bernd Hagenkord, o diretor do programa alemão da Rádio Vaticano. Os dois servos da Igreja Católica fizeram um balanço do que havia sido feito até então e concluíram que o chefe do banco havia sobrevivido a seu batismo de fogo.

"Estou convencido de que somos uma instituição financeira limpa e bem gerenciada", disse Freyberg no microfone. Ele também contou sobre as missas da manhã com o Papa na Casa de Santa Marta e encontrou palavras elogiosas para os diretores do banco. "Quando eu cheguei aqui, achei que teria que fazer antes de mais nada o que se conhece como uma limpeza", Freyberg admitiu, "mas ainda não descobri nada de errado".

O aristocrático presidente do banco – que em seu tempo livre organiza peregrinações a Lourdes para pessoas com deficiência física – aparentemente teve que mudar sua opinião de forma rápida e fundamental. De fato, praticamente no mesmo momento em que a entrevista foi ao ar, mais de 20 especialistas da consultoria norte-americana Promontory Financial Group entravam na fortaleza medieval Niccolò V para passar um pente fino em cerca de 30 mil contas que clientes do mundo inteiro mantêm no banco papal. Os auditores externos são especializados na detecção e rastreamento de irregularidades como corrupção e lavagem de dinheiro.

Uma história de escândalos

Os especialistas de fora também foram contratados para determinar quem está realmente por trás dos depósitos noBanco do Vaticano e o que está acontecendo nas contas individuais. De acordo com os estatutos do banco, a instituição financeira do Estado-Igreja é encarregada de abrigar fundos pertencentes a membros do clero e ordens religiosas. À medida que os auditores do Banco do Vaticano investigaram mais a fundo a natureza das contas, no entanto, ficou cada vez mais claro que um grande número de pessoas – que na verdade não deveriam nem ter permissão para ter contas no Banco do Vaticano – apreciam e muita suas discretas práticas de negócio.

O Estado da Igreja procurou a ajuda de uma firma de consultoria como parte de uma mudança de estratégia na qual está deixando o sigilo em direção a mais integridade e transparência. Na verdade, o Vaticano tem sido incomodado por assuntos relativos a seu banco desde que a Comissão de Obras de Caridade foi fundada em 1887. Isso serviu para proteger os ativos da igreja do apetite de desapropriação do Estado italiano. Ao longo das décadas, esta instituição financeira, que mais tarde foi rebatizada como Instituto para Obras Religiosas (IOR), parece ter se envolvido numa série de negócios escusos: houve acusações de lavagem de dinheiro para a máfia siciliana,manipulação da bolsa de valores e transações ilegais no valor de bilhões que passaram pelo banco.

O Banco do Vaticano também desempenhou um papel fundamental no colapso do Banco Ambrosiano de Milão em 1982, a maior quebra de um banco na história italiana. Pouco tempo depois, o presidente do banco foi encontrado pendurado numa ponte de Londres. Porém, assassinado. Na década de 1990, industrialistas italianos usaram o banco da igreja para lavar imensas propinas para políticos.

As reportagens escandalosas sobre a instituição financeira atingiu o seu pico mais recente em maio de 2012, quando funcionários da igreja, de repente derrubou o então chefe do banco Ettore Gotti Tedeschi no meio de uma investigação de lavagem de dinheiro por funcionários da justiça italiana e do escândalo Vatileaks. Agora que a investigação contra Gotti Tedeschi foi fechada sem qualquer acusação, há suspeitas crescentes de que ele teve de sair por outras razões. Em sua luta para implementar padrões internacionais na instituição, o presidente do banco evidentemente se desentendeu com outros funcionários poderosos do Vaticano.

Isso, em todo caso, é sugerido por um memorando que Gotti Tedeschi entregou a sua secretária dois meses antes de ser demitido. Altos funcionários do banco tinham dito que ele iria "entrar para a história como o homem que destruiu o IOR", ele escreveu.

Absoluta discrição e proteção contra processos criminais por autoridades seculares são há muito tempo as marcas registradas do Banco do Vaticano. Só em 2010 que a Igreja-Estado cedeu a uma pressão considerável da União Europeia e passou a proibir a lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo em seu território.

Gotti Tedeschi compilou um dossiê no qual descreveu o problema que os auditores do Promontório descobriram: clientes que, de acordo com os estatutos do banco, não têm permissão para ter contas no Banco do Vaticano, que "podem ser uma das razões para as dificuldades que estamos enfrentando" , escreveu o ex-presidente do banco.

Agora está claro que à sombra da Basílica de São Pedro, mais de mil pessoas realizam atividades bancárias que não podem ser atribuídos à Santa Sé, ou a uma organização de igreja ou uma fundação de caridade. Elas se beneficiam do fato de que não há impostos no Vaticano – e de o Vaticano ser extremamente lacônico em suas comunicações com o Ministério Público. Durante décadas, foram feitas transferências perto do Palácio Apostólico que praticamente não diferem dos negócios nas Ilhas Cayman. Em essência, o Banco do Vaticano se tornou um paraíso às margens do rio Tibre.

Novo diretor do banco do Vaticano
quer acabar com o dinheiro sujo
Pessoas de dentro do Vaticano disseram à Spiegel que mais de 300 milhões de euros (US$ 407 milhões) ainda estavam nessas contas no verão passado. "A grande maioria disso" é aparentemente de ganhos ilícitos, dizem as fontes.

Como parte de seus esforços de limpeza, o novo chefe do banco, Freyberg, enviou uma carta aos proprietários dessas contas. A mensagem triste é que o IOR tem a intenção de acabar com o a relação de negócios. Os clientes terão que transferir seu dinheiro para outro lugar.

Um choque cultural

Ao que tudo indica, no entanto, estes não eram os únicos clientes problemáticos do banco. Transações surpreendentes também acontecem nas contas de dignitários da igreja. As irregularidades de Monsenhor Nunzio Scarano – até recentemente um auditor da Administração para o Patrimônio da Sé Apostólica – são tão óbvias que o clérigo foi levado em custódia pela polícia. De acordo com investigações de funcionários da justiça italiana, Scaranotentou enviar 20 milhões de euros a partir da Suíça com a ajuda de um agente de inteligência. "Don 500", como ele é conhecido no Vaticano devido à sua preferência por grandes notas de dinheiro, teve inúmeras contas no Banco do Vaticano.

Fundamentalismo gera trauma religioso


foto: Arquivo pessoal
foto: Arquivo pessoal
Grazieli Gotardo, no Jornal Extra Classe [via Pavablog]
Marlene Winell, norte-americana, é psicóloga, educadora e escritora, com 28 anos de experiência tanto em atendimentos clínicos, quanto na área acadêmica. Doutora em Desenvolvimento Humano e Estudos da Família da Universidade Estadual da Pensilvânia, nos Estados Unidos, é a autora do livro Leaving the Fold: A Guide for Former Fundamentalists and Others Leaving their Religion, ainda sem edição em português. Trata-se de um guia sobre como identificar e se livrar de problemas desencadeados por religiões fundamentalistas. Marlene cunhou o termo Síndrome do Trauma Religioso para classificar os sintomas de pacientes que sofrem de transtornos mentais em decorrência da doutrinação dessas crenças. Para ela, religião é algo que não deve ser ensinado para crianças e o fundamentalismo rouba a identidade das pessoas.
Extra Classe − O que é a Síndrome do Trauma Religioso e como você desenvolveu sua teoria?
Marlene Winell
 – É a condição vivida por pessoas que estão lutando para sair de uma religião autoritária, dogmática e sofrendo os danos dessa doutrinação. Eles podem estar passando por um momento de quebra de conceitos e de paradigmas pessoais ou rompendo com uma comunidade ou estilo de vida controlador. Os sintomas dessa síndrome podem ser mais facilmente comparados com o Transtorno de Estresse Pós-Traumático, que resulta da experiência de ser confrontado com a morte ou lesões graves que provocam sentimentos de terror e impotência. Como no Transtorno de Estresse Pós-Traumático, o impacto da Síndrome do Trauma Religioso é de longa duração, com pensamentos intrusivos, estados emocionais negativos, convivência social deficiente e outros problemas.
Eu mesma sofri com isso por algum tempo. Foi quando comecei a escrever sobre minha recuperação de uma religião cristã fundamentalista, que me dei conta que não estava sozinha. Muitas pessoas também estavam ansiosas para falar de seu sofrimento. Desde então, tenho trabalhado com clientes na área de “recuperação da religião” e escrevi um livro. Meus estudos têm como base resultados clínicos de 20 anos de atendimento psicológico.
foto: Igor Sperotto
foto: Igor Sperotto
EC − Como a Síndrome do Trauma Religioso pode ser reconhecida em uma pessoa?
Marlene
 – A Síndrome do Trauma Religioso é vivida de diferentes maneiras e depende de uma variedade de fatores. Alguns sintomas-chave são confusão mental, dificuldade em tomar decisões e pensar por si mesmo, falta de sentido ou direção na vida, baixa autoestima, ansiedade de estar no mundo, ataques de pânico, medo da condenação, depressão, pensamentos suicidas, distúrbios do sono e alimentares, abuso de substâncias, pesadelos, perfeccionismo, desconforto com a sexualidade, imagem corporal negativa, problemas de controle de impulso, dificuldade de desfrutar o prazer ou estar presente aqui e agora, raiva, amargura, traição, culpa, sofrimento e perda, dificuldade em expressar emoções, ruptura da rede familiar e social, solidão, problemas relacionados com a sociedade e questões de relacionamento pessoal.
Os sintomas podem variar de acordo com os ensinamentos e práticas específicas de determinadas igrejas, pastores ou dos pais. As pessoas mais sensíveis à síndrome são aquelas que foram criadas dentro de uma determinada religião, protegidas do resto do mundo ou de uma religião muito controladora. A Síndrome do Trauma Religioso é uma realidade. Embora possa ser mais fácil de entender os danos causados por um abuso sexual ou um desastre natural, as práticas religiosas podem ser tão prejudiciais quanto esses traumas. Mais e mais pessoas precisam de ajuda e o tabu sobre criticar as religiões precisa ser questionado.
EC − Como é o tratamento? É possível comparar com a recuperação da dependência de drogas?
Marlene − Essa é uma questão muito profunda e eu estou no processo de escrever e fazer pesquisas sobre as melhores práticas. Há alguma semelhança com o vício de drogas no sentido em que as pessoas tentam encontrar formas de evitar a responsabilidade por suas vidas, e a recuperação é difícil porque requer que você enfrente este problema. No entanto, eu prefiro comparar com o Transtorno de Estresse Pós-Traumático, especialmente se a doutrinação ocorreu na primeira infância. O medo do inferno incutido nas crianças, por exemplo, pode criar um trauma de longa duração.
EC − Como as vítimas do fundamentalismo religioso podem se reconhecer e, depois disso, o que devem fazer?
Marlene − Esta é uma pergunta difícil, porque é como uma esposa maltratada reconhecer que é vítima de violência doméstica e se separar. Em ambos os casos, a vítima sente que a culpa é sua pelos problemas e tende a insistir para permanecer na situação. Essas pessoas normalmente também têm pouco conhecimento de outras opções de vida. Por isso, a melhor maneira de começar é se informar. Não tenha medo de questionar o que lhe foi ensinado ou descobrir o que outras pessoas podem fazer para ajudá-lo.
entrevista_3EC − Você diz que quem “sair do rebanho” geralmente perde a identidade individual e tem problemas de autoestima. Por quê?
Marlene − Na verdade, a pessoa passa por um período de confusão sobre isso porque ela foi ensinada a formar sua identidade pessoal afim de identificar-se com Deus e considerar apenas Deus como algo bom e valioso. Normalmente, eles acreditam que são pecadores desde o nascimento e precisam ser salvos, portanto, não veem nenhum valor além da graça de Deus. Quando deixam sua fé e suas crenças precisam reconstruir a autoestima e senso de identidade. Eu não diria que eles perdem a identidade quando deixam sua fé, pelo contrário, a religião já roubou sua identidade e outros aspectos do seu desenvolvimento pessoal. Então, quando eles saem, eles têm muito trabalho para descobrir quem são, aprender o amor próprio, autocuidado e autoconfiança, tudo que era considerado pecado e orgulho, de acordo com suas religiões.

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