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"Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever - inclusive a sua própria história." Bill Gates

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sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Babá brasileira virou professora universitária e luta por direitos dos domésticos nos EUA

Joana Cunha na Folha de S.Paulo [via Livros e Pessoas]
Há 20 anos, a brasileira Natalicia Tracy desembarcou nos EUA acompanhada de um casal de médicos, também brasileiros, que a contrataram para ser babá por um período de dois anos, enquanto eles realizariam pesquisas em um hospital de Boston.
Ela pretendia aproveitar a oportunidade para ir à escola, aprender inglês e, assim, procurar um novo emprego quando voltasse. Porém, foi impedida de estudar, de falar com a família e submetida a condições degradantes. Hoje, ela é ativista, diretora do Centro do Imigrante Brasileiro em Massachusetts e Connecticut e uma das lideranças na ampliação dos direitos dos trabalhadores domésticos no país. Leia o depoimento dela:
*
Eu entrei nos Estados Unidos há 20 anos com documentação em dia: tinha um visto pelo contrato de babá para cuidar da criança de um casal de médicos brasileiros, que veio morar aqui para desenvolver pesquisas em um hospital em Boston.
Quando ainda estávamos no Brasil, eles me prometeram que eu poderia estudar, conhecer a cultura americana e aprender inglês, que era o que eu mais queria, porque eu só tinha estudados até a oitava série.
Viajei cheia de expectativas, mas não foi isso o que aconteceu quando cheguei.
Além de cuidar da criança de três anos, fiquei responsável por todo o trabalho doméstico: cozinhar, lavar e passar. Isso acontecia de segunda a segunda, sem folga.
Não me deixaram ir para a escola. E logo tiveram uma segunda criança, o que aumentou o meu trabalho e acabou com o meu sonho de estudar inglês.
No começo, me deram um quarto, mas depois, como recebiam muita visita, me colocaram para dormir em um colchão no chão da varanda.
O local era protegido apenas por um vidro bem fininho, e quando chegou o inverno, eu tinha que cobrir o chão com jornais e usava o aquecedor portátil.
Fiquei doente e tive uma reação alérgica por causa de um produto para limpar o tapete. Não me levaram ao médico, mas permitiam que eu usasse o restante do produto de inalação da criança.
Natalicia superou passado de exploração e hoje é professora universitária
Natalicia superou passado de exploração e hoje é professora universitária

Comida, me davam só quando sobrava. Caso contrário, eu tinha de comprar.
Mas eu só podia escolher um sanduíche de US$ 1,00 no McDonald’s porque o meu salário era de US$ 25 semanais.
Pegaram o meu passaporte dizendo que iam renovar o meu visto de trabalho, mas nunca renovaram. Eu fiquei ilegal nos Estados Unidos.
Quando eu pedia para estudar, a mãe dizia que eu era ingrata e que qualquer pessoa na minha situação beijaria o chão onde ela pisasse por ter me dado a oportunidade de estar em um país de primeiro mundo.
O pior de tudo foi terem me impedido de me comunicar com a minha família no Brasil. Diziam que o telefone era muito caro e não permitiam que eu colocasse meu nome na caixa de correio da casa deles. Naquela época, o carteiro não deixava as correspondências se o nome não estivesse na lista.
Dois anos se passaram e, quando chegou a hora de eles voltarem ao Brasil, eu pedi para ficar no país.
Quando eu andava na rua, sem saber falar inglês com ninguém, pensava até que seria melhor se um carro me atropelasse. Então, aprendi algumas palavras com um pequeno dicionário que eu trouxe na bagagem.
Achei no jornal de anúncios um emprego de babá para uma família americana. Eles me deram quarto, roupas novas, me pagaram o transporte para eu ir à escola e não aceitaram a minha oferta para trabalhar de graça. O meu salário era de US$ 100 por semana.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

A fé que merece morrer

imagem: Internet
Sentado na quarta fileira de um auditório superlotado, ouvi um pregador cativar cerca de mil pessoas. A oratória carismática extasiava a sala. Na contramão do frenesi, eu repetia um sonoro não à lógica que sustentava o discurso; dizia para mim mesmo: Já não comungo com os mesmos pressupostos deste senhor. Permaneci calado, obviamente (bastam as controvérsias em que me vi envolvido). Eu me recuso, entretanto, a escamotear dúvidas com cinismo. Escrevo agora para fugir de qualquer inconsequência sobre a fé. Sinto a urgência de reagir ao que ouvi naquele dia. Se não fizer, corro o risco de enrijecer a minha espiritualidade.
Reconheço, algumas intuições minhas sobre teologia ainda estão verdes – mas nem sei se desejo que amadureçam. Contento-me com o pouco sentido que meus pensamentos produzem. Permaneço resoluto em continuar no garimpo da verdade. Descobri um novo veio. Ele pode me fazer abandonar pedras que tomei, outrora, por pepitas de ouro. Que veio foi esse? O que abandonei?
1. Não consigo mais acreditar no Deus lá de cima ou lá de fora. Uma divindade distante, imóvel, e que carece de preces verdadeiras para se mover, não merece minha atenção. A concepção metafísica de um Deus, que na linguagem de Bonhoeffer, funciona ex machina, gera idolatria. Oração, prece ou reza com força de mover o braço de Deus daria onipotência ao fiel – já que ele consegue tirar a divindade de sua apatia. A espiritualidade que restringe a divindade a um provedor celestial, que vive lá em cima ou lá fora, e que pode ser acessado por meio da fé, cria um sistema religioso grosseiro. Eis um dos motivos para Nietzsche denunciar os cristãos. Quem pretende mover Deus em seu benefício não passa de interesseiro, egoísta e covarde. A caricatura de um Deus mágico, supremamente útil quando a vida constrange, não passa de um ídolo. Chegou a hora de acabar com essa divindade-consertadora universal, o Deus dos benefícios territoriais e que, arbitrariamente, distribui seu favor. O ponto nevrálgico que toca a espiritualidade do século XXI, não é tanto o ateísmo quanto a idolatria.
2. Não consigo mais acreditar que milagres sejam prêmios para o privilégio de poucos. Deus jamais poderia comportar-se como um intervencionista de micro realidades, resolvendo minudências. Como entender um gerenciador cósmico que não desbarata o exército organizado por um ditador? A noção da divindade movida por uma vontade permissiva é cruel. Não faz sentido que ele ajude os seus e faça vista grossa para multinacionais que lucram com remédios que poderiam salvar vidas. O encadeamento da história proposto pela teologia clássica implica na aceitação tácita de uma razão eterna por detrás de tudo. Facínoras como Idi Amin, Pinochet, Stalin e Bush cooperariam com oeterno propósito de Deus. Daí Dostoiévski por na boca de Ivan toda a indignação contra tal divindade. Deus teria que fechar os olhos, seletivamente, para o sofrimento de crianças. Depois de descrever o suplício de uma menina de cinco anos que os pais açoitavam e espezinhavam sem razão e que tinha o corpo coberto de equimoses, Ivan arremata: Toda ciência do mundo não vale as lágrimas das crianças. Não falo do sofrimento dos adultos. Eles comeram o fruto proibido, que o diabo os leve! Mas as crianças!
A grande maioria dos evangélicos latino-americanos acredita que Deus abre portas de emprego, ajuda a resolver causas na justiça, faz casamento, mas não se interessa em acabar com a malária ou com o HIV. Ronaldo Muñoz afirma em seu excelente livro, O Deus dos cristãos (Vozes):
Já não podemos, na hora de raciocinar, entender Deus como o grande relojoeiro do mundo, que no princípio construiu sua máquina e a deixou andar pelos séculos com sua lógica exata e inexorável. Já não podemos, tampouco, nos relacionar com Deus em nossa vida como se ele fosse a alma reitora do mundo; como se fosse o condutor sentado ao volante do cosmos, responsável direto pelos processos e fenômenos do mundo e de cada acidente de nossa vida, como se fosse ele o único que realmente cria e maneja os fios, e todo o resto – inclusive nós – não fosse senão “objeto” seu e instrumento de seus planos.  
3. Não consigo mais acreditar que Deus mantém o controle absoluto de tudo o que acontece no universo. Não tolero imaginar uma divindade conspirando, nas sombras, com Aushwitz, Ruanda, Darfur, Iraque e outras hecatombes humanas. Não é concebível que ele, semelhante a um tapeceiro, precise dar nós malditos do lado de cá da história; enquanto, do outro lado, na eternidade, teça o desenho perfeito. Qual o propósito de Deus em permitir que uma bala perdida atinja a cabeça do menino a caminho do treino do futebol? Por que a menina ficaria tetraplégica devido a irresponsabilidade de um motorista bêbado? Se o mal nos agride, ele deve agredir qualquer divindade. Concordo com François Varillon: Em vez de procurar em Deus, a todo custo, a justificação do mal, não será necessário descobrir Deus no próprio centro de nossa contestação e dos nossos esforços por suprimir o mal ou, pelo menos, superá-lo?
4. Não consigo mais acreditar que a função primordial da religião seja acessar o sobrenatural para tornar a vida menos sofrida. O senso comum entre cristãos tenta fazer da religião um meio de controlar o futuro. Para muitos a fé precisa ser preventiva. Eles aceitam como verdade que os verdadeiros adoradores se antecipam aos percalços da vida. Afirmam que os filhos de Deus preveem –  e anulam – acidentes, doenças ou quaisquer outros problemas existenciais. Concordo com Paulo Roberto Gomes em sua obra O Deus Im-potente (Loyola): A fé cristã não nega a dor, como o estoicismo; não se resigna, como o masoquismo; não a acolhe no que tem de irremediável. Combate-a e tenta dar-lhe sentido positivo à luz de Cristo. Eu também aceito a fé como aposta. Fé que não foge da lida, encara o drama de viver e incita coragem.
5. Não consigo mais acreditar em determinismo, fatalismo, carma, destino, oráculo, maktube. Depois de ler e reler o Eclesiastes da Bíblia, parei de conceber um cosmos preciso e pontual como relógio de quartzo. Deus criou o mundo com espaço para a contingência. Sem esse espaço, não seria possível a liberdade humana. Não advogo a pura aleatoriedade, todavia. Creio em um meio de caminho entre determinismo e absoluta casualidade. Nesse interstício, reside o arbítrio humano. Entendo liberdade como vocação, nunca como dom: mulheres e homens acolhem o intento do Criador e se empenham para construir, responsavelmente, a história. O porvir não está pronto. A história não foi pre-escrita. Acolher o Deus predestinador não se resume a aceitar o atributo da onipotência. Significa admitir que na vontade soberana não sobra espaço nenhum para a iniciativa criadora e para a autêntica responsabilidade. Um Deus de desígnios imutáveis reduziria tudo e todos a meros instrumentos seus – mais ou menos conscientes. Se ele é o único autor e exclusivo protagonista do drama humano, o solitário condutor da história, homens e mulheres não passam de peões em um vasto tabuleiro de xadrez.

Com 44% da população de ateus, Holanda transforma igrejas em livrarias, cafés e casas de shows

O mundo atual chega e as coisas antigas vão ficando para trás. É o que ocorreu com igrejas e templos na Holanda, que se transformaram em pubs, cafés, livrarias e até casas de shows.
Essa transformação ocorreu porque as instituições religiosas não têm mais recursos para manter as construções e elas ficam cada vez mais vazias por lá. Afinal, a última pesquisa realizada no país indica que 44% da população são de ateus. Enquanto os católicos ocupam 28%; os protestantes, 19%; os muçulmanos, 5%, e os fiéis das demais religiões, 4% da população.
Vale lembrar também que nem todos os crentes, que ainda são maioria no país, não costumam frequentar igrejas, templos ou locais de culto para praticar seus respectivos dogmas, ao contrário do que acontece em outros países como a Índia, por exemplo.
Alguns desses locais ficaram realmente bonitos, como a livraria Selexyz, que foi construída na igreja de Maastricht. Além disso, uma igreja do século 19 de Amsterdã virou uma casa de shows de rock, pop e sons internacionais, o Paradiso, que conta até com atrações brasileiras, como o Seu Jorge.
Dá só uma olhada:

O Tea Party à brasileira

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Protesto contra o aborto e o casamento gay em Brasília. / VALTER CAMPANATO (EFE)
Por Juan Arias, no El País [via Pavablog]
No Brasil, o reino de Deus é cada vez mais deste mundo. Como ocorre em outras partes da América Latina, o poder das igrejas evangélicas e pentecostais, que funcionam como um tea party à brasileira, está alterando a política. A tal ponto que a classe dirigente, mesmo se estiver a anos-luz da sua ideologia conservadora, entoa suas melhores preces quando tem de negociar assuntos espinhosos com seus representantes no Congresso Nacional, algo muito frequente.
Conhecedores de seu crescente poder, todos os partidos sonham em ter candidatos evangélicos nas suas listas eleitorais, porque sabem que seus seguidores, na maioria pobres e pouco instruídos intelectualmente, são muito mais obedientes na hora de seguir as ordens de seus pastores nas eleições do que, por exemplo, os católicos. “As forças políticas procuram ter evangélicos em seus quadros porque eles são um componente substancial do eleitorado. Essa religião está crescendo e interessa como massa eleitoral”, afirma João Paulo Peixoto, professor titular da Universidade de Brasília. Por exemplo: a própria presidente Dilma Rousseff, quando disputou a eleição presidencial de 2010 com o apoio de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, teve de apresentar um documento aos evangélicos no qual se comprometia a não defender, caso vencesse, a liberação do aborto. Do contrário, é muito provável que tivesse perdido.
A teologia da libertação foi substituída pela teologia da prosperidade. O teólogo Leonardo Boff, pelos pregadores televisivos, dizem os democratas, preocupados com a expansão dessas igrejas entre a classe C – as camadas médias que se incorporam ao consumismo, muito conservadoras politicamente, e às quais se promete algo melhor do que o paraíso: a cura das enfermidades mortais aqui na terra. Já são 42 milhões de fiéis (uma progressão incontrolável desde 1977, um em cada quatro brasileiros), distribuídos, sobretudo, entre a Assembleia de Deus e a Igreja Universal do Reino de Deus. No total, contam com 71 congressistas (68 deputados e 3 senadores) e, desde março, com a presidência da emblemática e importante comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, para cuja direção foi escolhido um personagem considerado homofóbico e racista. Mas as cadeiras parlamentares não são suficientes; eles aspiram a ter o primeiro presidente evangélico da história.
“Deus tem um grande projeto de nação elaborado por ele mesmo, e é nossa responsabilidade colocá-lo em prática”, confessou o bispo Edir Macedo, fundador da poderosa Igreja Universal, em seu livro Plano de Poder. Ao estilo norte-americano, Macedo é dono da Rede Record, segunda em audiência, depois da Rede Globo, e possui o quarto maior grupo de comunicação do país. Sua igreja tem ainda 23 emissoras de televisão, 40 rádios e uma dúzia de editoras próprias.
“Meu Deus, os cristãos e a política neopentecostal do bispo Macedo dão medo”, afirma o jornalista Plinio Bortolotti, diretor do grupo de comunicação O Povo. “Ele está obcecado com o poder e tem um plano para tomá-lo. Parece um novo Moisés que está convencido de atuar sob as ordens diretas de Deus.”
Carlos Eduardo Calvani, da Igreja Anglicana no Brasil, vai além. Segundo ele, os evangélicos brasileiros pregam uma política muito parecida com a dos fundamentalistas islâmicos, com a única diferença de que atuam dentro de uma democracia. Com seu sonho de chegar ao poder, poderiam, nas palavras de Calvani, levar o Brasil a uma espécie de “regime talibã evangélico”. Em um país aparentemente aberto, embora de um conservadorismo latente, os evangélicos se opõem, por exemplo, à laicidade do Estado, ao aborto, ao casamento gay, ao uso de células-tronco e à descriminalização do uso de drogas. Seus membros conseguiram estar presentes em 16 formações políticas e criaram três partidos próprios: o Partido Republicano do Brasil (PRB), o Partido Social-Cristão (PSC) e o Partido da República (PR). Às forças evangélicas se une uma série de deputados alinhados à Frente Parlamentar em Defesa da Vida e Preservação da Família, com 192 parlamentares, ou cerca de 40% do Congresso – uma força que até agora vem sendo capaz de paralisar qualquer abertura na aprovação de leis progressistas a respeito desses temas. O Congresso ainda não conseguiu, por exemplo, aprovar a regularização do aborto, e a aprovação do casamento entre homossexuais foi obra do Supremo Tribunal Federal, que o considerou constitucional.
Mas o maior êxito dos evangélicos foi sem dúvida a nomeação para a presidência de uma das comissões mais emblemáticas e sensíveis do Congresso, a de Direitos Humanos e Minorias, do pastor evangélico Marco Feliciano, 40 anos, figura polêmica e inimigo número 1 do movimento gay. Feliciano defende, de Bíblia na mão, que Deus criou o ser humano “macho e fêmea” e que não pode existir um “terceiro sexo”. O pastor chegou a afirmar que os africanos carregam sobre si uma “maldição divina” desde os tempos de Noé, o que os faz serem negros e pobres. A conquista da Comissão de Direitos Humanos da Câmara simboliza, segundo o colunista político Janio de Freitas, da Folha de S.Paulo, “o primeiro embate relevante em que os evangélicos se põem como um novo bloco orgânico, ideologicamente bem definido e poderoso” no Congresso. “Estamos no caminho para uma república teocrática”, diz o escritor Luiz Manfredini.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Devota vira 'ghostwriter' de Jesus

imagem: Internet

Mark Oppenheimer, na Folha de S.Paulo

Sarah Young pode ser difícil de encontrar, mas seus livros estão por toda parte.

“O Chamado de Jesus”, de Young, é uma coletânea de 365 textos curtos de devoção entrelaçados com trechos da Bíblia.

Desde que foi lançado, em 2004, o livro já vendeu 9 milhões de exemplares em 26 línguas. No primeiro semestre de 2013, vendeu mais exemplares que “Cinquenta Tons de Cinza”. Young já escreveu outros dois livros de devoção desde então, além de livros voltados para crianças e adolescentes e uma Bíblia com o tema “Jesus está chamando”.

O que mais impressiona é que Sarah Young virou uma marca rentável apesar de praticamente não conceder entrevistas nem comparecer em público como autora. Prejudicada pela doença de Lyme e outros problemas de saúde, ela geralmente sai pouco de casa. Quase não há fotos públicas da autora, que se nega a falar ao telefone.

Assim, se um repórter quiser lhe perguntar sobre seu trabalho –que vem provocando polêmica por ser escrito em primeira pessoa na voz de Jesus, como se Cristo tivesse feito novas revelações diretamente a Young–, as perguntas devem ser enviadas por e-mail, e a autora as responderá por escrito.

Uma edição recente da “Christianity Today” trouxe um longo artigo sobre Sarah Young, citando vários teólogos que expressaram preocupações com seu trabalho. “Os leitores críticos querem saber: será que Young pensa realmente que Jesus está falando diretamente com ela?”, escreve Melissa Stefan, autora do texto.

Kriss Bearss, responsável pelos livros de Young na editora Thomas Nelson, disse que os críticos da autora não entendem as nuances do projeto dela. “Young não diz que Jesus fala com ela”, explicou Bearss.

“Acho que ela foi bastante clara a esse respeito nos prefácios de seus livros. Ela não pensa, de modo algum, que seus textos sejam sagrados ou que ela tenha recebido novas revelações.”
Na introdução de “O Chamado de Jesus”, Young escreve: “Decidi ouvir Deus com a caneta na mão, escrevendo o que acreditava ser o que Ele estava dizendo”.

Sarah Young se formou no Wellesley College, no Massachusetts, em 1968, é casada com um missionário presbiteriano e tem dois filhos e dois netos. Está no processo de se mudar da Austrália para o Tennessee.

Na teologia protestante tradicional, as revelações de Deus cessaram desde os tempos bíblicos. Pessoas que alegassem receber ensinamentos novos diretamente de Deus estariam se declarando profetas. Para uma presbiteriana como Sarah Young, isso é proibido. Mas Young disse que está fazendo algo diferente.

“Concordo que a revelação parou, na medida em que a Bíblia está completa”, escreveu Young. “Mas o que eu faço é escrever textos de devoção. Para isso, peço a Jesus que guie minha mente quando passo tempo com Ele –para me ajudar a pensar os pensamentos d’Ele.”

Em certo sentido, o que ela faz não é nada de novo. Existe uma longa tradição de cristãos que interpretam a presença de Deus na vida das pessoas. “Os textos de devoção são um gênero fundamental na categoria de escritos religiosos do setor editorial cristão”, disse Lynn Garrett, que cobre livros de religião para a “Publishers Weekley”.

Da religião que proíbe à graça que liberta

imagem: Internet
Não nasci quebrado, com defeito de criação. Não herdei o pecado de Adão – ele não me representa. Não aprendi a dar os primeiros passos, a engatinhar, sob o olhar zangado de Deus. Em meus primeiros tropeços infantis não tinha o mau cheiro do perverso. Minha infância foi leve, moleca, solta. Na mesa, meus pais repartiram um pão singelo conosco, seis irmãos.  Vovô e eu escutávamos o rádio madrugada a dentro. A gente queria notícias vindas da BBC de Londres e da Agência de Notícias de Moscou. Exilados brasileiros podiam nos comunicar sobre os acontecimentos que a ditadura boicotava. Com papai preso, ouvir o noticiário vindo de fora furava o cerco da censura.
Todo essa realidade caiu por terra quando entrei para uma igreja. Na puberdade, me ensinaram que eu era ruim. Aprendi que era mau e que a mão de Deus estava prestes a pesar sobre mim. Eu devia acordar para a necessidade de me arrepender. Aqueles anos gostosos da minha meninice me condenavam. A qualquer instante podia morrer. E se morresse sem me converter, queimaria eternamente no inferno.
Reconheço tardiamente: a religião forjou em mim uma espiritualidade calcada no terror. Passados tantos anos, mesmo fazendo terapia, ainda não consigo avaliar o impacto das fobias que a religião impõe a um garoto; como se alguém colocasse um espelho na minha frente e me ensinasse a ver iniquidade, torpeza, impiedade, em meus olhos tristes. Converter-me significaria aceitar que eu havia nascido debaixo da ira de Deus. E realmente acreditar que eu nunca prestei para nada. Desde o dia em que fiz profissão de fé, toda a espiritualidade se resumia a orar pedindo que Deus perdoasse uma multidão de pecados. Ingênuo e obediente, fui iniciado nesse caminho e nele permaneci. Eu, Ricardo Gondim, internalizei todos os medos da religião e adiei a vida.
Minha espiritualidade se construiu no negativo. Eu me contentava em cultuar a Deus como meio de celebrar apenas a sua misericórdia; sem jamais esquecer a etimologia latina, miserere e cordis – misericórida significa “voltar o coração para o miserável”. Em minha prática, eu implorava que Deus voltasse o coração para mim, eterno miserável. A função do culto se resumia a pedir perdão, quitar dívidas com uma lei perfeita e prometer: daquele dia em diante tudo vai ser diferente. Na semana seguinte obviamente tendo tropeçado nos cadarços da condição humana, voltava à estaca zero. E assim, de multidão de pecados em multidão de pecados, esperava que Deus não se zangasse comigo além da conta.
Internalizei  a mensagem do medo com radicalidade. Passei a me considerar irremediavelmente torpe. Contaminado e culpado pela desobediência de Adão, eu jamais conseguia sentir perdão. Quantos sermões repetiram: torto, pecador, porco lavado. Tratava as minhas poucas virtudes como trapos de imundice. Meu corpo, propenso à lascívia, só me levava a fazer o que eu não queria. Só poderia me considerar justo se me projetasse na justiça de Cristo. Em mim mesmo não passava de ímpio (perdoado, mas ímpio) –  e sempre a um passo de voltar à lama.
Alegria? Só comedida. Para não dar lugar à carne. Satisfação? Se cantar satisfação é ter a Cristo, prazer maior já visto. Prazer? Poucos: comer e dormir. Prazer sexual?  Depois que casar. O medo de infringir tantos mandamentos estreitou a minha vida. Deixei de ouvir boa música já que um crente verdadeiro não pode ouvir música do mundo. Não me permiti ler romances já que eramescritos por ímpios. Passei longe da poesia: como um filho de Deus pode se nutrir de sentimentos devassos? Catalogaram uma lista lotada de práticas abomináveis; tão vasta que eu me desesperava para cumpri-la. Além de não desejar magoar o coração de Deus, temia condenar a alma ao inferno.
Fui a um show da saudosa Mercedes Sosa. Um espetáculo monumental. Escrevi sobre o meu arrebatamento diante de tanta sensibilidade. Os fiscais da religião foram rápidos em franzir a testa. Disseram que agi como criança; um deslumbrado em um evento profano e vulgar. A crítica, todavia, veio tarde. Eu já não me indignava com os comentários de crentes alienados. Hoje, prefiro a ingenuidade do menino à sisudez do fariseu. Não tenho vergonha, nem medo, de gaguejar diante da beleza. Se alucino, devo aos anos em que a alegria me foi proibida. O belo ressuscita em mimsentimentos ilhados, mortos e amordaçados.

Ex-garota de programa vê na igreja forma de tirar jovens da prostituição

Atualmente empresária, mulher mudou de vida ao ganhar livro de cliente.
Ela diz que decisão foi polêmica e questiona valores da sociedade.
Dulci diz que tem sido criticada por conta de sua decisão (foto: Gabriela Pavão/G1 MS)
Dulci diz que tem sido criticada por conta de sua decisão (foto: Gabriela Pavão/G1 MS)
Publicado originalmente no G1 [via Pavablog]
Até a semana retrasada, Dulci Paina era garota de programa, diz que era famosa na balada de Campo Grande, ganhava até R$ 1,5 mil por noite e ficou conhecida após ter fotos íntimas divulgadas sem autorização em redes sociais. Então mudou radicalmente de vida, largou a profissão e começou a frequentar a igreja. Agora empresária de uma loja de roupas e acessórios femininos e masculinos, ela diz ter a meta de resgatar outras mulheres do mundo da prostituição.
Dulci afirma ao G1 que tomou uma decisão polêmica, vista com preconceito por outras pessoas. “Antes, me criticavam porque eu era garota de programa, vendia sexo. Agora que eu decidi me converter, aceitar Deus e mudar de vida, também sou criticada. Que sociedade é essa em que vivemos, em que as pessoas se acham no direito de julgar?”, questiona.
Durante o tempo em que fazia programas, o lado financeiro sempre a impedia de abandonar o ofício. “Infelizmente durante esses meses eu optei pela forma mais rápida de ganhar dinheiro, mas isso não quer dizer que era a forma mais fácil. Nunca foi fácil transar com outros homens. A primeira vez foi tão difícil que não consegui”, lembra.
O desejo de mudar de vida era, segundo ela, conflito psicológico. Largar ou não a profissão que rendia tanto? Dulci fala que obteve uma resposta, segundo ela, por “ironia do destino” durante encontro com um cliente.
“Chegamos no quarto e eu já estava preparada para fazer o que sempre fiz com os clientes, mas ele falou que não queria nada comigo e que estava ali porque Deus o havia mandado para me ajudar. Pediu para eu me olhar no espelho e falou que eu era uma menina bonita, gente boa e que eu não precisava mais fazer aquilo. Que Deus tinha um propósito na minha vida”, relata.
Essa pessoa, de acordo com a empresária, lhe deu um livro evangélico, inicialmente ignorado por ela. “Eu não queria ler porque no fundo eu sabia que se eu me aproximasse de Deus ia acabar largando essa vida”, afirma.
Dulci conta que certo dia sua sobrinha abriu o volume aleatoriamente e leu um trecho dizendo que “Deus nos dava o caminho das bençãos e maldições e que eu deveria escolher o que eu quisesse”, relata. Na semana seguinte, foi convidada para assistir a um culto e aceitou.
Empresária diz que livro dado por cliente mudou sua vida (foto: Gabriela Pavão/G1 MS)
Empresária diz que livro dado por cliente mudou
sua vida (foto: Gabriela Pavão/G1 MS)
Momento de fraqueza
Dulci diz que não tem vergonha do passado e que não se importa com críticas sobre a antiga profissão. “As pessoas querem me julgar, mas eu não ligo. A sociedade não aceita bem quem fala a verdade, quem assume o que é sem medo de críticas. Eu fiz isso quando resolvi ser garota de programa, em maio deste ano, e estou fazendo o mesmo porque escolhi mudar. Eu determino o que eu quero para minha vida, tenho livre arbítrio e ninguém tem nada com isso”, explica.
A vida de garota de programa começou depois que a empresária, na época vendedora em uma loja de roupas e já proprietária da loja que tem hoje, começou a trabalhar também em casas noturnas fazendo recepção de clientes.
Entretanto, segundo ela, não dava para pagar todas as contas. Nesse momento apareceu a oportunidade de sair com homens em troca de dinheiro. “Foi um momento de fraqueza”, afirma.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Em severa crítica à Igreja, papa apresenta maior reforma do Vaticano em meio século


Rex Features
Exortação Apostólica "Evangelii Gaudium" apresentada hoje é o primeiro documento do novo papa e traça o caminho para a Santa Sé nos próximos anos. Documento propõe "nova etapa de evangelização" e "conversão" da Igreja

por Jamil Chade, no MSN Estadão

Cidade do Vaticano – Jorge Bergoglio lança um projeto de “conversão do papado”, propõe a “descentralização” da Igreja e apresenta o plano da maior reforma feita no Vaticano em pelo menos meio século. No primeiro documento de seu próprio punho apresentado hoje, o papa Francisco explica em mais de 200 páginas seu projeto para o futuro da Igreja, lançando duros ataques contra sacerdotes e denunciando a guerra pelo poder dentro dos muros da Santa Sé.

“Desejo dirigir-me aos fiéis cristãos para convidá-los a uma nova etapa de evangelização marcada por esta alegria e indica direções para o caminho da Igreja nos próximos anos”, escreveu em sua Exortação Apostólica publicada hoje, o Evangelii Gaudium do Santo Padre Francisco aos Bispos, Presbíteros, Diáconos às pessoas consagradas e aos fiéis laicos sobre o Anúncio do Evangelho no Mundo Atual. “É uma nova evangelização no mundo de hoje, insistindo nos aspectos positivos e otimismo”, explicou o cardeal Rino Fisichella, presidente do Conselho Pontifical para a Nova Evangelização e que admite que o papa é “franco”. “O centro é o amor”, insistiu. “Sem isso, a Igreja é um castelo de cartas  e isso é o nosso maior perigo”, declarou.

Em seu texto, Francisco apela à Igreja a “recuperar a frescor original do Evangelho”, mas encontrando “novas formas” e “métodos criativos”. “Precisamos de uma conversão pastoral e missionária, que não pode deixar as coisas como elas são."

Uma parte central de seu trabalho será o de “reformar as estruturas eclesiais” para que “todas se tornem mais missionárias”.

O recado é claro: promover uma “saudável descentralização” na Igreja, num gesto inédito vindo justamente da pessoa que representou por séculos a centralização da instituição e sempre lutou contra repartir poderes. A esperança é de que as conferencias episcopais possam contribuir para “o sentido de colegialidade”.

A descentralização apontaria até mesmo para a abertura de espaços para diferentes formas de praticar o catolicismo. “O cristianismo não dispõe de um único modelo cultural e o rosto da Igreja é multiforme”, escreveu. “Não podemos esperar que todos os povos, para expressar a fé cristã, tenham de imitar as modalidades adotadas pelos povos europeus num determinado momento da história”. Para o papa, teólogos precisam ter em mente “a finalidade evangelizadora da Igreja”.

Nem o próprio papa estaria isento da reforma. Sua meta é a de promover uma “conversão do papado para que seja mais fiel ao significado que Jesus Cristo lhe quis dar e às necessidades atuais da evangelização”.
A burocracia e a aristocracia da Santa Sé também precisa ser revista. “Nesta renovação não se deve ter medo de rever costumes da Igreja não diretamente ligados ao núcleo do Evangelho, alguns dos mais profundamente enraizados ao longo da história”.

Bergoglio insiste que prefere “uma igreja ferida e suja por ter saído às estradas, em vez de uma igreja preocupada em ser o centro e que acaba prisioneiras num emaranhado de obsessões e procedimentos”.

Abertura – Um dos pontos centrais é ainda a abertura da Igreja aos fiéis. “Precisamos de igrejas com as portas abertas” para evitar que aqueles que estão em busca de Deus encontrem “a frieza de uma porta fechada”. “Nem mesmo as portas dos Sacramentos se deveriam fechar por qualquer motivo”, escreveu.
A escolha dos fiéis que deveriam comungar também é atacado pelo papa. “A Eucaristia não é um prêmio para os perfeitos, mas um generoso remédio e um alimento para os fracos”, alertou.

Poder – O documento ainda lança severas críticas a padres e sacerdotes. O papa pede que se evite as “tentações” do individualismo e alerta que “a maior ameaça é o pragmatismo incolor da vida cotidiana da Igreja, quando na realidade a fé se vai desgastando”.

Pedindo uma “revolução de ternura”, o papa critica “aqueles (religiosos) que se sentem superior aos outros” e que apenas fazer obras de caridade não seria o suficiente. O papa também ataca os sacerdotes que “em vez de evangelizar, classificam os outros”, adotando um “certo estilo católico próprio do passado”.

Bergoglio também ataca os religiosos que tem “um cuidado ostensivo da liturgia, da doutrina e do prestígio da Igreja, mas sem que se preocupem com a inserção real do Evangelho” às necessidades das populações. “Esta é uma tremenda corrupção com a aparência de bem. Deus nos livre de uma igreja mundana sob cortinas espirituais ou pastorais."

As batalhas por poder dentro do Vaticano também são alvos de ataques do papa contra a Igreja. Ele apela para que as comunidades eclesiais “não caiam nas invejas e ciúmes”. “Dentro do povo de Deus, quantas guerras”, lamenta o argentino. “A quem queremos evangelizar com estes comportamentos?”, atacou, indicando um “excesso de clericalismo”.

O papa ataca o “elitismo narcisista” entre os cardeais. “O que queremos? Generais de exércitos derrotados? Ou simplesmente soldados de um esquadrão que continua batalhando?”, questionou.

Até mesmo as homilias (sermão feito nas missas) são alvos de ataque do papa. “São muitas as reclamações em relação a este importante ministério e não podemos fechar os ouvidos." Bergoglio insiste que ela não deve ser nem uma conferência e nem uma aula. “Temos de evitar uma pregação puramente moralista”.
Um ataque especial vai também aos religiosos que não se preparam devidamente para as missas. “Um pregador que não se prepara não é espiritual, é desonesto e irresponsável”, escreveu. Quanto às confissões, o argentino é ainda mais duro: “não se trata de uma câmara de tortura”.

Mulher – O papa volta a defender um maior papel da mulher dentro da Igreja. “Ainda há necessidade de se ampliar o espaço para uma presença feminina mais incisiva na Igreja, nos diferentes lugares onde são tomadas decisões importantes”, defendeu. “As reivindicações dos direitos legítimos das mulheres não se podem sobrevoar superficialmente”, apontou.

Bergoglio deixa claro a posição da Igreja contrária ao aborto. “Entre os fracos que a Igreja quer cuidar estão as crianças em gestação, que são as mais indefesas e inocentes de todos, às quais hoje se quer negar a dignidade humana”, escreveu.

“Não se deve esperar que a Igreja mude a sua posição sobre essa questão. Não é progressista fingir resolver os problemas eliminando uma vida humana”, declarou.

Economiae política – Bergoglio ainda destina uma parte importante de seu texto à situação mundial e não deixa de atacar o modelo econômico que prevalece. “O atual sistema econômico é injusto pela raiz”, declarou. “Esta economia mata porque prevalece a lei do mais forte”.

“Os excluídos não são explorados, mas lixo, sobras”, atacou. “Vivemos uma nova tiraria invisível, por vezes virtual, de um mercado divinizado onde reinam a especulação financeira, corrupção ramificada, evasão fiscal egoísta”. O dinheiro, segundo ele, deve servir, e não dominar.

Para ele, esse modelo estaria promovendo uma “crise cultural profunda” nas famílias. “O individualismo pós-moderno e globalizado promove um estilo de vida que perverte os vínculos familiares”, alertou.

“O PT trocou um projeto de Brasil por um projeto de poder”, diz Frei Betto

frei-betto-voto-nuloPublicado por Instituto Humanas Unisinos [via Pavablog]
“Os governos Lula e Dilma são os melhores da nossa história republicana, mas eu esperava muito mais. Lula teria condições, no primeiro ano de governo, com todo o apoio popular que recebeu, de ter feito uma reforma agrária. É uma demanda histórica, até hoje não cumprida. Estamos com 10 anos de governos do PT, com todos os avanços que teve, com a inclusão econômica de milhões de brasileiros miseráveis e pobres, mas não tivemos nenhuma reforma de estrutura”, afirma Frei Betto, em entrevista publicada no jornal Zero Hora, 24-11-2013.
Ele especifica; “Nem a (reforma) agrária, nem a tributária, nem a política, nem a previdenciária, nem a de educação, nem a da saúde” e, apesar dos avanços, não houve a redução da desigualdade social. “Segundo o Ipea, dado de outubro de 2013, a desigualdade no Brasil entre os mais ricos e os mais pobres é de 175 vezes, e isso é escandaloso”, constata.
Segundo ele, “o PT trocou um projeto de Brasil por um projeto de poder. Permanecer no poder passou a ser mais importante do que criar uma alternativa civilizatória para a nação Brasil”.
Lula 2018
Analisando a conjuntural eleitoral de 2014, Frei Betto diz estar convencido “de que, se a Dilma não apresentar bons índices de possibilidade de vitória eleitoral em 2014, Lulavoltará. E, se ela for eleita, também estou convencido de que ele volta a ser candidato em 2018”.
Despolitização da sociedade brasileira
Para o frei dominicano, “paradoxalmente, os 10 anos de governo do PT foram 10 anos de despolitização da sociedade brasileira. Então, os jovens, agora, querem ter esse protagonismo político, estão ocupando as ruas, querem participar. Acreditou-se que a política era um privilégio do andar de cima, que as coisas se resolveriam entre os partidos, numa total indiferença para com o povo, com os jovens”.
Altruísmo
Narrando aspectos da sua trajetória de vida, Frei Betto afirma: “Sou de uma geração que tinha 20 anos nos anos 60 e os nossos ídolos eram pessoas altruístas: Jesus, Francisco de AssisCheGandhiLuther King. E quem são hoje os ídolos da garotada? Sebastian Vettel,Lady Gaga…”
Buraco no coração
E continua:
“São os valores do capitalismo neoliberal. E aí? Você vai querer que o adolescente se levante no ônibus para mulher idosa? Ele fica com o fone no ouvido e faz de conta que ela é invisível, ele nem a enxerga. Enquanto escola, Igreja e família querem formar cidadãos, a grande mídia e a publicidade querem formar consumistas. O sistema quer formar consumistas. Daí porque muitos jovens hoje estão

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Os ideais revolucionários de Jesus

RESUMO Livro de autor norte-americano de origem iraniana defende que as pregações de Jesus convocando o "Reino de Deus" sejam lidas de forma mais literal e revolucionária que espiritual. Embora a tese não seja totalmente inovadora,"Zelota" popularizou-se após seu autor, muçulmano, ser atacado em entrevista à TV nos EUA.

*
Reinaldo José Lopes, na Folha de S.Paulo

"Não penseis que vim trazer paz à Terra; não vim trazer paz, mas espada. Vim trazer divisão entre o homem e seu pai, entre a filha e sua mãe", declara Jesus no capítulo dez do Evangelho de Mateus.

Durante séculos, a maioria dos cristãos interpretou a frase belicosa do Nazareno de modo espiritual. Afinal, se levadas ao pé da letra, as exigências de Cristo para abandonar riquezas, casa, pais e filhos para segui-lo não estão entre os assuntos mais agradáveis para um almoço familiar de domingo.

Para o escritor norte-americano de origem iraniana Reza Aslan, no entanto, está na hora de voltar a ler os versículos em seu contexto original -no qual a ideia era desembainhar uma espada literal, e não metafórica.

Eis, em essência, a premissa de "Zelota: a Vida e a Época de Jesus de Nazaré" [trad. Marlene Suano, Zahar, R$ 36,90, 308 págs.], novo livro de Aslan, 41, que acaba de ser lançado no Brasil: Jesus não era um mestre pacifista, que só pensava em exaltar as virtudes dos lírios do campo e oferecer a outra face.

O principal objetivo do profeta de Nazaré, fomentar a vinda do "Reino de Deus", equivalia a um programa político (e revolucionário), que envolvia a expulsão dos romanos da Palestina e a recriação da antiga e gloriosa monarquia israelita, com o próprio Jesus no trono, sob as bênçãos de Deus.

Daí o nome do livro: zelota (do grego "zelotes") é como os autores bíblicos denominavam os judeus especialmente zelosos das prerrogativas religiosas do Deus de Israel -uma divindade que, ao menos no Antigo Testamento, era capaz de uma aterrorizante fúria militar contra os inimigos dos israelitas. Mais tarde, o termo seria usado para designar uma seita revolucionária judaica.

"Vamos colocar a coisa da seguinte forma: há aqueles que acham que Jesus era total e absolutamente único, diferente de todos os judeus do seu tempo. E há os que acham que, embora ele fosse extraordinário e inovador, ainda assim seu pensamento tinha muito em comum com o de outros judeus. Eu faço parte desse segundo grupo", explicou Aslan, à Folha, em entrevista por telefone.

"Os demais judeus do século 1º d.C. acreditavam que o Messias era um descendente do rei Davi cujo trabalho seria derrotar os inimigos de Israel e implantar o Reino de Deus na Terra. Acredito que essa era a visão que Jesus tinha sobre si mesmo."

Aslan é um acadêmico, com mestrado em teologia na Universidade Harvard e doutorado em história das religiões na Universidade da Califórnia, em Santa Barbara, mas seu livro conquistou o grande público. Razões alheias ao seu conteúdo contribuíram para que a obra tivesse virado best-seller nos nos EUA.

No dia 26 de julho, dez dias após o lançamento norte-americano do livro, Aslan foi hostilizado por uma entrevistadora do canal conservador Fox News, que exigiu que ele explicasse por que um muçulmano iria querer escrever um livro sobre Jesus. "Ser atacado de falta de 'jesusidade' por uma âncora da Fox Nex é aparentemente um bom caminho para conduzir seu livro ao número 1 das listas", comentou Adam Gopnik, na revista "New Yorker".

O que a âncora de TV provavelmente não sabia era que o histórico religioso de Aslan é mais complexo do que ela deu a entender. Nascido numa família iraniana secular, ele tornou-se evangélico na adolescência e, mais tarde, retornou à fé de seus ancestrais.

O escritor Reza Aslan 
(Larry D. Moore/Wikimedia Commons )


"O ponto mais importante, que muito gente não conseguiu entender, é que o livro não é sobre o cristianismo -Jesus, afinal, não era cristão, mas judeu. Meu tema é o judaísmo de veia revolucionária que existia no século 1º d.C., do qual Jesus era um representante", sustenta Aslan, que hoje é professor da Universidade da Califórnia em Riverside.

O BÁSICO

A abordagem do escritor é, em grande medida, uma espécie de "retorno ao básico" na pesquisa histórica sobre a figura de Jesus Cristo.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Como administrar melhor nosso tempo



Por Hermes C. Fernandes,  no Cristianismo Subversivo

Como administrar algo sobre o qual não temos qualquer controle? Se você sabe, por exemplo, o quanto vai ganhar no final do mês, você pode fazer um planejamento de gastos, para não se endividar, nem ter dificuldades para pagar suas contas. Mas quanto ao tempo, como administrá-lo? Se ao menos soubéssemos quanto tempo ainda nos resta!


É justamente por saber que o futuro é imprevisível, que devemos administrar da melhor maneira o tempo presente.

Do passado, a gente adquire experiência. Do futuro, a gente nutre expectativas. E do presente a gente busca tirar o melhor proveito para que não tenhamos do que nos arrepender amanhã.

* O Passado

O passado deve ser considerado como um professor, cujas lições devem ser aprendidas e utilizadas no presente e no futuro. Porém, não há como reviver ou recuperar o tempo perdido. Há algo no passado que deve ser esquecido, deixado para trás. Não devemos, por exemplo, permitir que nossos fracassos passados nos impeçam de tentar novamente. Nem viver reféns da saudade de sucessos passados. Porém, aprende-se muito, tanto com os acertos, quanto com os erros. Suas lições devem ser constantemente relembradas e aplicadas para se evitar fracassos futuros.

O sábio Salomão nos adverte:
“Não digas: Por que foram os dias passados melhores do que estes? Pois nunca com sabedoria isto perguntarias.” Eclesiastes 7:10
O saudosismo nos prende a um passado impossível de se reviver. Já a culpa nos prende a um passado impossível de se consertar. Temos que adotar a mesma postura de Paulo ao dizer: “Mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que para trás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo” (Fp.3:13b-14a).

Se quisermos avançar rumo a um futuro promissor, temos que ser alunos do passado, mas jamais seu refém.

* O Futuro

Nossa relação com o futuro deve ser de planejamento e expectativa. Porém, deve-se ter cuidado para que nosso planejamento não se torne em presunção, e nossa expectativa não se torne em ansiedade. Tiago nos deixa uma importante advertência:
“E agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã iremos a tal cidade, lá passaremos um ano, negociaremos e ganharemos. Ora, não sabeis o que acontecerá amanhã. O que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e logo se desvanece. Em lugar disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo.” Tiago 4:13-15
Portanto, todos os nossos planos devem ser submetidos ao crivo do Senhor. Temos o direito de planejar e de nos preparar para o que virá. Mas não podemos ser presunçosos. “Ao homem pertecem os planos do coração, mas do Senhor procede a resposta da língua” (Pv.16:1). “O coração do homem propõe o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos” (Pv.16:9). É a vontade de Deus que deve sempre prevalecer em nossas vidas.

Antes de executarmos qualquer plano, por melhor que seja, devemos consultar ao Senhor, buscando descobrir o que Lhe é agradável (Ef.5:10).

Alguém já disse que “quem falha em planejar, está planejando falhar”. Não se pode brincar com o futuro. Pois antes que a gente perceba, ele se torna presente...e, finalmente, passado. Por isso, é melhor planejar, do que sacrificar o que jamais poderemos reaver. Se Deus fosse contrário ao planejamento, as Escrituras não diriam: “Confia ao Senhor as tuas obras, e os teus planos serão estabelecidos”(Pv.16:3).

Assim como planejamento pode tornar-se presunção, se não o submetermos a Deus, nossas expectativas quanto ao futuro podem tornar-se ansiedade. Todo ansioso deseja que as coisas ocorram antes do tempo deter-minado. A expectativa é gerada pela certeza de um futuro melhor. A ansiedade é filha das incertezas.
Jesus disse:
“Qual de vós poderá, com as suas preocupações, acrescentar uma única hora ao curso da sua vida? (...) Portanto, não andeis ansiosos pelo dia de amanhã.” Mateus 6:27,34a
A cura para a ansiedade é a fé. É pela fé que sabemos que “tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu” (Ecl.3:1). Portanto, não adianta tentar apressar as coisas. No tempo certo determinado por Deus, elas acontecerão.
Pedro declara em sua epístola:
“Humilhai-vos, portanto, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte. Lançai sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós.” 1 Pedro 5:6-7

* Vivendo o Hoje

O salmista afirma: “Todos os dias que foram ordenados para mim, no teu livro foram escritos quando nenhum deles havia ainda” (Sl.139:16b). O Senhor conhece o futuro tão bem quanto o presente e o passado. Nossos dias já foram previamente ordenados.

Porém, isso não significa que devemos viver pródiga e irresponsavelmente. Lembremo-nos que “Deus pede conta do que passou” (Ec.3:15b).

Assim como fazemos com os recursos financeiros, devemos “contabilizar” o tempo. Deveríamos fazer a mesma oração do salmista: “Ensina-nos a contar os nossos dias de tal maneira que alcancemos coração sábio” (Sl.90:12). Neste texto “contar” significa “contabilizar” ou “administrar”. Portanto, temos que aprender a administrar nossos dias, a fim de que nos tornemos sábios.

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