Impulsionado pelas declarações do papa Francisco sobre homossexuais, o padre Beto, excomungado em abril deste ano após declarações de apoio a gays, decidiu recorrer à Justiça para tentar anular sua exclusão da Igreja Católica.
Roberto Francisco Daniel, 48, conhecido como padre Beto, contratou advogados e protocolou na segunda-feira uma medida cautelar contra a Diocese de Bauru (329 km de São Paulo). Questiona a forma como foi expulso da igreja, num tribunal em que, segundo ele, compareceu sem saber do que se tratava e sem direito à defesa.
Ele estudava a possibilidade de ir à Justiça desde a época do excomunhão, mas diz que a postura do papa Francisco o estimulou ainda mais. No final de sua visita ao Brasil, o papa fez a mais ousada declaração de um pontífice sobre o homossexualismo. "Se uma pessoa é gay e busca Deus, quem sou eu para julgá-la?", disse.
A ação judicial tramita na 6ª Vara Cível de Bauru. O religioso alega que tratado assinado entre o Vaticano e o governo brasileiro determina que o sistema constitucional e as leis brasileiras sejam seguidos pela igreja. Beto afirma que, além de não ter tido direito de defesa, a decisão foi publicada no mesmo dia em que foi tomada, no site da diocese.
"Fui tratado como um adolescente. Fui exposto publicamente", diz. "Essa ação judicial é também para que todo brasileiro entenda que nenhuma instituição pode fazer isso com uma pessoa".
Roberto Francisco Daniel foi excomungado da Igreja Católica por dizer
que pode haver amor em relacionamentos bissexuais
Denise Guimarães - 3.mai.13/Folhapress
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O ex-padre disse que acreditava que seu processo de excomunhão não estivesse encerrado e ainda teria de ser assinado pelo Vaticano. Ao estudar o caso, descobriu que a decisão da Diocese de Bauru é definitiva na igreja. Por isso resolveu tentar revertê-la na Justiça.
"Não movo uma ação contra a Igreja Católica. Existe igreja e igreja. A ação é contra a diocese", ressalta.
Antes da excomunhão, Beto havia decidido pedir um afastamento temporário de suas funções. Isso aconteceu depois que o bispo de Bauru, Dom Caetano Ferrari, 70, determinou uma retratação por causa de entrevistas em que o religioso falava sobre os homossexuais e questionava o conservadorismo da Igreja Católica.
A Diocese de Bauru ainda não se manifestou sobre a ação judicial. O argumento oficial para a excomunhão foi que Beto "negou categoricamente a cumprir o que prometera em sua ordenação sacerdotal: fidelidade ao Magistério da Igreja e obediência aos seus legítimos pastores".
Depois da excomunhão, Beto seguiu dando aulas em universidades, concedeu entrevistas para programas de TV e escreveu o livro "Verdades Proibidas - ideias do padre que a igreja não conseguiu calar", lançado esta semana.
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