Douglas Eralldo, no Listas Literárias [via Livros e Pessoas]
O Blog leu 12 Anos de Escravidão, o livro que inspirou o filme. Os relatos de Solomon Northup nesta edição de clássicos da Penguin/Companhia das Letras ainda apresenta a particularidade de manter o projeto gráfico que marca o estilo deste selo, mas também aproveitando o sucesso do filme nos cinemas com uma sobrecapa com a imagem do filme. Neste post as 10 considerações do Listas Literárias sobre o livro:
1 – 12 Anos de Escravidão, o relato do negro liberto que se torna escravo, Solomon Northup, é arrebatador a tal ponto que impede que o leitor se desgrude de suas páginas; com uma lucidez impressionante o autor nos leva a acontecimentos inexplicáveis e que tanto envergonha a história da humanidade, expondo os fatos com clareza e esmiuçando os verdadeiros sentimentos dos escravos americanos;
2 – Fosse escrito por qualquer outro autor 12 Anos de Escravidão, por si só já mereceria estar entre as melhores ficções já publicadas. No entanto, o que Solomon Northup revela se torna tão mais assustador porque longe de ser uma ficção, seu relato nos apresenta um drama real e sombrio que só mesmo com muitas virtudes, o que era o caso de Solomon, ele consegue enfrentar o problema de frente; muitas vezes até mesmo esperançoso durante os doze anos que sua liberdade foi extirpada por ladrões escravagistas;
3 – O relato revela Solomon Northup um homem culto e muito inteligente, e seu texto conciso permite o leitor compreender os verdadeiros dramas da escravidão, e de uma forma poucas vezes vista, já que a condição de ser negro, liberto, e letrado, acaba desta forma permitindo que como raramente ocorreu os próprios escravos tivessem voz, o que torna seu relato muito mais impressionante pois Solomon transcreveu para o papel aquilo que os negros sentiam, diferentemente do que seria qualquer outra pessoa escrevendo;
4 - Além do valor histórico dos relatos de Solomon Northup seria impossível também não falar de suas qualidades literárias, especialmente pela forma de que ele descreve sua jornada épica, colocando sempre mais curiosidade no leitor. É como se ele próprio, Solomon, junto conosco numa roda noturna ao redor de uma fogueira e ele nos contasse seu período de aprisionamento, onde toda sua humanidade foi negada por causa da cor de sua pele. E num grande exemplo, sua narrativa e a forma com qual ele lida com “seus proprietários” e a falta de liberdade é de uma grandiosidade raramente vista nos homens, independente de seus credos ou cor;
5 - Ainda assim, sofrendo demasiadamente como a qualquer outro escravo a mercê dos caprichos ou das ordens de seus senhores, Solomon muitas vezes é condescendente com aqueles que minimamente se mostram dignos (se é que isso seja possível em alguém que realmente acredite que uma pessoa por causa de sua raça possa ser comparada aos cavalos ou porcos da fazenda) para com ele. Ele geralmente acaba culpando mais o sistema vigente por criar e possibilitar a escravidão como algo normal e de maneira alguma indecente, do que diretamente as pessoas que usufruíam desse mesmo sistema;
6 – Solomon Northup de certa forma também apresenta sua jornada como uma jornada de fé. Isto está presente em muitas referências religiosas em seu texto, bem como a fé que manteve ao longo dos seus 12 anos de escravidão;
7 – Outra preocupação evidente no texto de Northup é sua persistente tentativa de tornar o mais real e plausível seu relato. E isto não é algo difícil de entender, pois somente os excluídos e os realmente esquecidos e maltratados podem saber o quanto é difícil fazer crer que há coisas terrivelmente ruins no mundo, que para aqueles cujos jardins são floridos os problemas dos outros não passam de mera especulação;
8 – Por isso em determinadas partes do texto, Northup não se priva de algumas divagações explicando nos mínimos detalhes o trabalho envolvido em determinadas culturas; como a do algodão e do açúcar, onde a mão-de-obra escrava produzia a riqueza de um país inteiro que cresceu “bebendo” do sangue e da alma de homens que tiveram destinos ainda mais sombrios que o de Northup;
10 – Enfim, 12 Anos de Escravidão é um relato fascinante por sua crueza e ao mesmo tempo sobriedade ao narrar parte de um obscuro momento histórico, dando como disse antes, voz aos próprios escravos; e assim nos apresentando uma verdade que nenhum outro autor que não fosse alguém a vivenciar tudo aquilo seria incapaz de nos revelar. O livro vale por tudo o que representa, por sua riqueza cultural e literária, se constituindo num dos principais relatos da história humana.
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