Publicado no F5
“Alô criançada, o Bozo chegou / Trazendo alegria pra você e o vovô…”
Quem não se lembra da clássica música de abertura de um dos programas infantis mais vistos da TV brasileira nos anos 80? O palhaço Bozo, criado pelo americano Alan W. Livingston, em 1946, fez sucesso em mais de 40 países, em especial no Brasil, onde foi ao ar pelo SBT de 1982 a 1992.
Por aqui, o personagem foi interpretado por cinco atores diferentes. A seção “Saiu no NP” traz hoje a louca história de vida de um desses intérpretes. Arlindo Barreto, um dos mais aclamados no papel, atingiu o auge da fama como Bozo, mas também conheceu o gosto amargo de chegar ao fundo do poço…
A trajetória de Barreto, que envolve dinheiro, drogas, mulheres e redenção através da religião, será em breve contada no filme “Vida de Palhaço”, que está em pré-produção e marca a estreia de Daniel Rezende (montador de “Robocop”, “A Árvore da Vida” e “Cidade de Deus”) como diretor, além de ter o ator Wagner Moura como protagonista.
Mas, muito antes de tudo isso, em 24 de novembro de 1998, o “Notícias Populares” já revelava em sua capa o lado triste do “palhaço mais famoso do mundo”. A manchete daquele dia estampava em letras garrafais: “Bozo era movido a cocaína na TV”.
O jornal trazia depoimento dado por Arlindo Barreto à repórter Keila Jimenez, durante sua ordenação como pastor da Igreja Batista da Vila Primavera (zona leste de SP) no dia 21 do mesmo mês.
Na ocasião, Arlindo Barreto abriu o jogo e contou que a cocaína era o “segredo” para manter toda aquela alegria, mesmo com oito horas de gravações diárias. “Eu tinha um pique incrível. O calor infernal dos estúdios, aquela roupa, a gritaria das crianças, tudo aquilo era desgastante, e, mesmo assim, eu ficava com a corda toda.”
Fora a rotina desgastante, o ator citou outros fatores que o levaram ao vício. “Eu tinha 30 anos na época e já gostava de beber. Para contrabalançar o efeito da bebida, que me deixava devagar, eu comecei a cheirar cocaína. Para piorar, minha mãe (a atriz Márcia de Windsor) morreu. Quando percebi, estava completamente dependente da droga.”
O sucesso na pele do palhaço lhe rendeu cinco troféus “Imprensa” e muito dinheiro, mas o artista não soube aproveitar a fama de forma positiva, e pouco a pouco arruinou sua vida: “Minha mulher me abandonou e levou meu filho. Meu nariz começou a sangrar. Eu tinha que gravar os programas com um algodão no nariz”.
No desespero para reverter essa situação, Arlindo Barreto tentou a sonoterapia, a macumba e o candomblé. A agonia que o consumia fez com que ele pedisse demissão no SBT. Sílvio Santos, o dono do canal, tentou ajudá-lo de todas as formas, mas nada resolvia seu sofrimento. Foi aí que um incidente em casa mudou sua vida. O ator levou um tombo no banho, quebrou o box com o braço durante a queda e desmaiou. Após perder muito sangue, foi socorrido e levado ao hospital. “Quando acordei no hospital, o médico disse que era meu fim.”
A salvação veio através de uma colega de emissora, que levou um pastor batista para pregar o evangelho a ele. “Só assim consegui largar as drogas”, afirmou à reportagem.
Para retribuir a paz alcançada, Barreto criou o projeto “Tenda da Esperança” e começou a espalhar a palavra de Deus vestido de Bozo. “Eu vou até as regiões mais pobres de São Paulo levando alegria, auxílio médico e odontológico gratuito para as pessoas. Só agora encontrei o verdadeiro caminho do palhaço Bozo em minha vida”, disse o recuperado.
Arlindo Barreto encontrou na religião a maneira de se recuperar da dependência química e hoje leva em conta o lema do palhaço Bozo “Sempre rir, sempre rir / Pra viver é melhor sempre rir” para professar, com alegria, sua fé como missionário da Igreja Presbiteriana do Brasil.
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