Marina Oliveira e Rita Trevisan, no UOL Mulher (via Pavablog)
No meio científico, o preconceito com a religião ficou no passado. Atualmente, há milhares de estudos que avaliam a influência da religiosidade no bem-estar físico e mental. E a conclusão é sempre a mesma: a de que os religiosos, ao darem significado ao que é caótico e aparentemente incontrolável, não só lidam melhor com os momentos de crise, como sofrem menos de ansiedade, depressão e estresse, assim como são menos vulneráveis adoenças diversas, a exemplo das cardíacas.
Há também quem defenda que não é preciso seguir uma religião para colher esses benefícios, mas apenas vivenciar a espiritualidade. E é desse movimento, que prega a união do conhecimento com a crença, que nasceu uma nova corrente de estudos, a que investiga a fé na ciência.
Deriva dessa vertente o estudo divulgado em 2013, conduzido pelo Departamento de Psicologia Experimental da Universidade de Oxford, nos Estados Unidos, que apontou que os mesmos benefícios encontrados pelos religiosos nos cultos ou na vivência da espiritualidade também podem ser usufruídos por aqueles que acreditam na ciência, no poder explicativo e revelador da soma dos conhecimentos humanos.
Endeusamento da ciência
De acordo com o pesquisador Miguel Farias, líder desse grupo de estudos, a crença na ciência pode ajudar as pessoas não-religiosas a lidarem com a adversidade, oferecendo conforto e tranquilidade.
Para o especialista Ricardo Monezi, do Centro de Estudos em Medicina Comportamental da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o estudo condiz com a realidade. “Hoje em dia, temos uma pluralidade de religiões. Você tem até a liberdade de não ter uma, se não quiser”, diz. Isso possibilita que um agnóstico enxergue na medicina uma base onde pode depositar sua confiança. “Ao acreditar na ciência, o cérebro faz uma construção, entende o conhecimento como algo maior, que pode ajudar”, afirma.
Segundo Monezi, os avanços tecnológicos propiciaram, inclusive, um “endeusamento” da ciência, que passou a ser vista como algo que pode salvar o ser. “Quando alguém pergunta a um religioso o que dá segurança a ele, a resposta provável será ‘Deus’. Já para o ateu, o importante é saber que a medicina está tão avançada que poderá socorrê-lo em um momento complicado”, explica. “Os benefícios nas dimensões biológica, psicológica e social do indivíduo estão presentes em qualquer dessas situações, porque o que faz a diferença é acreditar”, diz.
A escolha de cada um
Ser religioso ou espiritualizado tem a ver com as experiências pessoais e individuais. Quem cresceu em uma família na qual a religião faz parte da tradição, por exemplo, poderá se influenciar por essa experiência. Da mesma forma, há pessoas que, por terem passado por vivências traumáticas, adotaram as práticas espirituais.
“Já quem não teve experiências dessa ordem, tende a crer mais no âmbito material das ocorrências, em algo que converse com métodos de investigação”, explica o psicólogo Julio Fernando Prieto Peres, que realizou o seu pós-doutorado no Centro de Espiritualidade e Mente da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos.
O importante é ter fé
Nesse sentido, acreditar em uma determinada religião não implica em deixar de crer na ciência. E vice-versa. “Não é mais verdade que se você crê em Deus, não pode acreditar na ciência. Essa união pode ser saudável e complementar”, afirma Peres. Para o psicólogo, essa é, inclusive, uma condição para chegar a um ponto de equilíbrio. “Talvez a única regra para colher benefícios seja tornar-se flexível para transitar por vários campos. Quem se apega demais a um lado só, vai ganhar menos do que aquele que une os dois conhecimentos”, diz.
Religiosa, espiritual ou científica, o importante mesmo é a crença colaborar para o aprimoramento pessoal. “Ajudar no amadurecimento, na busca da plenitude e na conquista da serenidade”, diz Moreira-Almeida. E para quem ainda não sabe por onde iniciar a busca por algo que traga conforto emocional e psicológico, a dica é procurar em si mesmo. “O primeiro passo é trabalhar a crença em você, nas suas potencialidades. Entender que os seus atos podem transformar o mundo”, diz Monezi.
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