O fóssil batizado Ebenezer, que seria ‘contemporâneo de Noé’, é a ‘Mona Lisa’ do Museu da Criação (foto: divulgação) |
Homens e dinossauros caminhando lado a lado. Se você acha que já viu esse filme, pode tirar o tiranossaurozinho da chuva.
No Museu da Criação, essa ideia não é uma fábula ficcional à la “Jurassic Park”.
O espaço, gerenciado pela igreja Answer in Genesis (“Resposta na Gênesis”), reproduz a noção bíblica de que Deus fez o mundo em seis dias e tirou uma folga no sétimo, há provavelmente 6.000 anos.
Os lagartões não seriam incoerentes com o “design inteligente”, como é chamado o planejamento divino da gênese: teriam brotado no sexto dia, junto com gado, répteis, feras, Adão e Eva.
“Nós usamos os dinossauros em todo o museu para proclamar as verdades da ‘Gênesis’ [livro inicial da Bíblia] e rejeitar a evolução darwiniana”, diz Mark Looy, diretor de comunicação do ministério evangélico, por e-mail.
A atual “Mona Lisa” da construção em Peterburg, Kentucky (EUA), é o fóssil de um Alossauro, tipo carnívoro com cerca de nove metros de cumprimento.
Segundo a curadoria criacionista, o animal morreu há aproximadamente 4.350 anos, no grande dilúvio dos 40 dias e das 40 noites, em que poucas e sortudas espécies se salvaram na arca de Noé.
O que vai por água abaixo, nesse caso, é a hipótese de que o último dinossauro desapareceu cerca de 60 milhões de anos atrás. As ferramentas científicas que corroboram a tese são vistas com desconfiança pelo grupo religioso.
“Esses ossos não têm rótulos anexados dizendo quão velhos eles são. A ideia de milhões de anos de evolução é apenas uma visão dos evolucionistas sobre o passado. Nenhum cientista estava lá para ver”, diz um texto no site do museu.
Os dinossauros, por outro lado, teriam deixado suas pegadas na Bíblia. Na “Gênesis”, Deus fala com Jó, aquele da paciência, sobre Behemoth, uma besta gigante que possui ossos “como tubo de bronze” e não treme nem “se o rio trasborda”.
Estudiosos das Escrituras costumam associar essa criatura a um hipopótamo, mas criacionistas acreditam se tratar de um braquiossauro –dino herbívoro e pescoçudo.
Para desqualificar a teoria propagada por Charles Darwin, o museu questiona por que fósseis não revelam “dinossauros em transição”, ou seja, ossadas que mostrem como “répteis gigantes” teriam se transformado aos poucos em outro animal.
“Na verdade, se entrar em qualquer museu, você vai ver fósseis de dinossauros que são 100% dinossauro, e não algo entre os dois. Não há 25%, 50%, 75% ou mesmo 99% dinossauros. Eles são todos 100% dinossauros!”
‘O CARA DA CIÊNCIA’
Em fevereiro, um debate exibido pela internet opôs Ken Ham, presidente da Answer in Genesis, e Bill Nye, vencedor do Emmy pelo programa infantil em que se apresenta como “The Science Guy” (“o cara da ciência”).
A cena a seguir é relatada por um ex-criacionista: David MacMillan, blogueiro do site Huffington Post.
Nye foi disposto a mostrar uma verdade que estava o tempo todo aos pés do rival. Trouxe um pedaço de rocha do estrato que fica bem embaixo do Museu da Criação. Apontou camadas de criaturas fósseis microscópicas que só poderiam ter vivido e morrido em águas calmas e rasas. Ou seja, demoraram milhões de anos para se formar e jamais passaram por uma fulminante inundação global, como a enfrentada por Noé.
“Mas o criacionismo não é bem-sucedido porque ignora a evidência. O criacionismo é bem-sucedido porque sempre encontra maneiras de reinterpretar a evidência para encaixá-la em seus pressupostos”, escreve MacMillan.
“Ao longo do debate, Ham insistentemente repetiu que, enquanto a pesquisa científica do presente é testável e reproduzível, a investigação científica sobre o passado, o que ele chama de ‘ciência histórica’, nunca pode ser provada.”
MACACADA
Ken Ham, contudo, não está só. Cerca de um terço da população estadunidense não acredita, por exemplo, que o homem evoluiu de outra espécie, de acordo com uma pesquisa do Pew Research Center feita com 1.983 adultos em 2013 (a margem de erro é de 3%).
Mark Looy, o chefe de comunicação da igreja, afirma que o Museu da Criação atraiu dois milhões de visitantes em sete anos –na semana passada, aliás, esbarrou com uma família de São Paulo por lá.
A entrada para adultos custa US$ 29,95. Para matar a fome, o Café do Noé tem sanduíches como o “Cheese and Bacon Creation Burguer” (US$ 5,59).
Há ainda oferta de oficinas como “Monkey Business” (“negócio de macaco”).
Eis a descrição: “Os macacos são diversão para crianças de todas as idades, mas tornam-se um negócio sério quando alguns cientistas afirmam que os seres humanos vieram dos macacos! Neste workshop divertido e interativo, as crianças vão aprender que Lucy [famoso fóssil hominídeo] e outros homens chamados de macacos não estão na árvore genealógica humana. Em vez disso, entenderão que as pessoas foram criadas especialmente à imagem de Deus”.
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