Por Rev. Ricardo Antônio da Silva Melo **
Pensamento do Clero - Qui, 12 de Abril de 2012 (www.dar.org.br)
“...pois a nossa luta não é contra pessoas...” (Ef 6.12)
Ultimamente muito se tem discutido sobre o uso de símbolos cristãos em ambientes públicos. Falo da decisão do Poder Judiciário no Estado do Rio Grande do Sul, que proibiu a exibição de crucifixos nas repartições públicas daquele Estado brasileiro.
Pensando no assunto, lembro-me das conversas com o Bispo Robinson Cavalcanti acerca das motivações ideológicas das novas gerações que têm assumido os postos de comando neste país. Dizia meu Bispo: “Ricardo, estamos testemunhando a chegada ao poder de uma geração filha de pais que eram contra o ensino religioso..., de pais que diziam ‘... quando eles crescerem, decidirão qual religião seguir... ’”. Pois bem, eles cresceram e decidiram seguir um caminho que está longe da inércia ou da neutralidade de seus pais. Vemos uma ruma de pessoas que estão adotando uma posição antirreligiosa num país que tem sua tradição cultural, histórica e religiosa impregnada de cristianismo que agora estão tentando apagar, à base de decisões proferidas em gabinetes refrigerados, longe da realidade multicultural do povo brasileiro (cf. Lc 21.17).
O Brasil é um país de formação cristã, de confissão polidenominacional, em seus símbolos e nomes. Qual será o próximo passo? Mudarão os nomes das cidades e Estados que tenham alguma alusão ao cristianismo, como opinou o jornalista Carlos Brickman em recente artigo?
A laicidade, tão defendida ultimamente de forma tosca e tendenciosa, que questiona estes símbolos mesmo eles sendo parte da estética brasileira há gerações; faz vista grossa para as outras expressões religiosas (cf. Cl 2.23).
Qual tem sido, por exemplo, a atitude dos críticos de plantão, frente ao panteão de divindades pagãs presentes em praças e ruas das cidades? E quanto aos símbolos religiosos usados até pelos próprios poderes do Estado?
Seria o símbolo do Judiciário, moça de olhos vendados com uma balança na mão, uma figura neutra e sem teologia? Claro que não!
Trata-se da deusa pagã Thémis (para os gregos) ou Justitia (para os romanos), que é, em tese, guardiã dos juramentos dos homens e da lei e invocada nos julgamentos proferidos. Isto mesmo. Thémis é, seja por omissão ou ação, invocada para influenciar, iluminar ou guiar os magistrados nas suas decisões!
Vejamos outros exemplos de símbolos religiosos pagãos comuns entre nós: o bastão de Esculápio (grego) da Medicina ou o seu irmão quase gêmeo da cobra enrolada na taça da Farmácia. Serão banidos de nossos hospitais e ambulâncias utilizadas pelo poder público?
Sem falar no Olho de Hórus (egípcio) utilizado por artistas nas mais diversas expressões da arte, que invadem nossos lares pelos meios de comunicação, fruto de concessões públicas. Também será objeto de decisão semelhante?
Diante deste quadro sincrético, miscigenado e multi-religioso do Brasil, qual deverá ser nossa postura?
Devemos, como cristãos confessos, nos posicionar contra este ataque à liberdade de expressão religiosa; defender nossa Constituição e nossa História, usando todas as formas de comunicação e influência para fazer valer a verdadeira laicidade neste país (cf. Jd 3.1). Não se trata apenas de defender o uso de crucifixo aqui ou ali, mas, também, de defender quem nos deu a verdadeira Liberdade (cf. 1Jo 5.4).
Hoje o problema é uma cruz numa parede, amanhã poderá ser o sinal da cruz, o peixe, a oração pública ou até nossa confissão de fé. Permaneçamos em oração e atenção.
Deus nos abençoe nesta luta que já dura milhares de anos (cf. MT 5.11).
(**)
- Presbítero da Diocese do Recife
- Membro da Equipe Pastoral da Paróquia Anglicana Espírito Santo (PAES), em Jaboatão dos Guararapes-PE.
- Colaborador do Instituto de Teologia e Liderança (ITEL), que funciona na PAES.
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