A jovem Lidiane do Carmo, de 15 anos, e sua família imigraram há 12 anos aos Estados Unidos
O explosivo engavetamento provocado pelo nevoeiro e fumaça na rodovia I-75 nas proximidades de Gainesville (FL), na manhã de domingo (29), deixou a adolescente brasileira Lidiane do Carmo, de 15 anos, órfã. Seus pais, José e Adriana, e sua irmã mais velha, Letícia, de 17 anos, todos morreram no acidente que envolveu vários veículos e caminhões. A jovem sofreu fraturas e ferimentos internos e foi submetida à cirurgia, mas já não corre risco de morte.
A família residia em um subúrbio de Atlanta (GA), onde José era pastor evangélico. Eles estavam a caminho de casa, depois de participarem de um encontro religioso na Flórida.
Eles imigraram aos EUA há 12 anos, seus vistos expiraram há muito tempo atrás, portanto, estavam ilegalmente no país. Horas depois do acidente, membros da congregação demonstraram receio de que, após a sua recuperação, agentes de imigração tentassem deportar Lidiane de volta ao Brasil. Entretanto, as autoridades migratórias rapidamente afastaram essa possibilidade.
No acidente também morreu Edson do Carmo, de 38 anos, e sua namorada Rose da Silva, de 41 anos. Na quarta-feira (1), as autoridades divulgaram que 11 pessoas morreram, uma a mais que o anteriormente previsto, e 18 sobreviventes foram hospitalizados.
Lidiane permanece internada no hospital local de Gainesville (FL). Ela foi informada na terça-feira (31), que toda a sua família havia morrido.
“Os nossos sentimentos e orações estão com a senhorita Lidiane do Carmo, enquanto ela lida com a perda trágica de sua família”, disse Bárbara Gonzales, porta-voz do Departamento de Imigração (ICE). “Notícias de que ela enfrenta deportação são completamente falsas”.
Um representante federal resumiu a situação: “O ICE não possui interesse no caso dela”, disse ela.
Diretrizes relacionadas à deportação permitem exceções humanitárias em processos normais. O advogado de imigração Richard Hujber, de Boynton Beach (FL), lembrou-se de um caso notório.
“Depois de 9/11, havia pessoas cujos membros da família foram mortos nos ataques e elas poderiam ter sido deportadas, mas as autoridades migratórias concederam-lhes isenção”, disse ele, utilizando o termo para indicar isenção da deportação. “As autoridades migratórias levam em consideração os interesses humanitários”.
Ele também citou um de seus clientes, que foi detido recentemente por agentes de imigração. Pouco antes, ele havia caído de uma escada de 20 pés de altura no trabalho, sofrido fraturas e ficou internado. Ele ainda estava tomando medicamentos e comparecendo às consultas, disse Hujber.
“Você tem que documentar essas coisas, mas os agentes de imigração levarão isso em consideração”, explicou o advogado. “O meu cliente foi liberado em 24 horas. Claro, no caso dele as autoridades devem ter se preocupado com os riscos também. Eles não possuem instalações médicas para tratar de alguém nessas condições”. O cliente ainda enfrenta o processo de deportação, mas está se recuperando em casa.
Kristen Williamson, porta-voz do grupo Federation for American Immigration Reform, um movimento poderoso na luta pelo aumento da rigorosidade das leis migratórias, disse que a entidade não vê a necessidade de exceções humanitárias para processos de deportação normais em alguns casos.
“Conforme o que sabemos com relação a esse caso, essa jovem obviamente merece”, disse Kristen. “Mas essas exceções deveriam ser concedidas caso a caso. Elas não deveriam ser aplicadas em grandes grupos de pessoas”.
“A família do Carmo estava nos Estados Unidos ilegalmente”, disse Alonso Oliveira, pastor evangélico e amigo da família, à rede de notícias CNN. “A família queria regularizar o status migratório, mas não havia leis que os ajudassem”.
“Ela não conhece o Brasil. Ela muito mal fala o português”, disse o pastor líder da congregação, Arão Amazonas, ao CNN na quarta-feira (1). “Ela fala inglês como uma norte-americana”.
Lidiane era caloura na escola secundária Sprayberry, em Marietta (GA), e sua irmã veterana na mesma instituição.
Durante um encontro na igreja na noite de terça-feira (31), a cônsul-geral do Brasil em Atlanta, Ana Rodrigues, ofereceu condolências em nome do governo, mas não prometeu ajuda ou esperança, publicou o diário USA Today. “Assuntos migratórios pertencem ao governo norte-americano”, disse ela.
Além disso, Rodrigues não detalhou se o governo brasileiro analisaria o pedido da congregação de ajuda financeira para o envio dos corpos à Marietta para o funeral e, posteriormente, traslado ao Brasil para sepultamento.
“Eu gostaria que eles (as autoridades) viessem aqui, compartilhassem a nossa dor e fizessem algo”, disse Weberson Barbosa ao USA Today, que dirigia a segunda caminhonete da igreja no momento do acidente.
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