Leandro Barbosa, no Lixeira Teológica, vi no Pavablog
Lutero em uma das suas mais famosas mensagens faz uma declaração que podemos julgar no mínimo polêmica. Falando de sua visão sobre a igreja e seus pregadores, ele faz uma crítica pesada aos clérigos que corrompiam a mensagem de Cristo, com isso, induzindo e prejudicando o povo, leiamos um trecho desta mensagem de Martin Lutero (Estevão):
“O guarda de um bordel público é menos pecador que o pregador que não entrega o verdadeiro Evangelho, e o bordel não é tão ruim assim como a igreja do falso pregador. Mesmo se o proprietário do bordel prostituísse diariamente virgens, esposas religiosas e freiras — por mais terrível e abominável que sejam tais coisas, ele não seria pior nem causaria mais dano que esses pregadores.”
Uma das maiores dificuldades que enfrenta uma pessoa que rompe com a religião, é, com certeza, se libertar da auto-programação que fica impressa na alma. Por mais que consigamos modificar a conduta ou ambiente, fica na alma destes um sentimento de culpa que atormenta a consciência com coisas banais como ficar um domingo sem freqüentar uma comunidade, ou a cobrança da obrigação de ter de participar de alguma organização religiosa.
Na grande maioria das igrejas protestantes percebe-se que mesmo com o passar dos anos, os efeitos da reforma nunca se concretizaram, anulando os dogmas. Subjetivamente eles seguem se perpetuando pelas vielas obscuras dos templos, reerguendo as velhas estruturas, coagindo os fiéis. Os dogmas são reavivados em formas mais criativas e coloridas, mas possuem os mesmos efeitos corruptores que dignificam a sua natureza maligna. Dentre estes posso citar um que considero o pior, que é o “fora da Igreja não há salvação”.
Grande parte destes cristãos que foram estuprados por estas igrejas corruptoras não conseguem lidar com estes dogmas subjetivos e acabam por cair em um caminho de autodestruição e culpa. Seja ao serem empurrados para o abismo por outros fiéis ou abandonados em uma solidão exclusa, são consumidos por fantasmas de acusação que absorvem toda a nobreza da mensagem libertadora de Cristo.
Partindo deste ponto de vista podemos entender com maior clareza o argumento de Lutero quando aponta um cabaré como mais justo do que uma igreja corrupta. Um cabaré até pode nos atolar em um mar de autodestruição, mas ainda assim ele deixa a possibilidade do arrependimento, enquanto uma igreja corrupta envenena a alma com falsas verdades que corrompem a pureza da mensagem de Cristo.
Com certeza o propósito de Cristo não foi nos tornar andróides que seguem uma matriz modelo, criada por uma religião dogmática. A falsa mensagem empacota, diminui, embaça o brilho da proposta libertadora de vida que Cristo propõe. Ela resume a vida cristã em meras liturgias e reuniões, afastando as pessoas do verdadeiro lugar de culto, que acontece no interior de cada discípulo.
Vivemos em um tempo de trevas em meio à igreja evangélica, pois claramente podemos dizer que os cabarés se converteram em lugares de maior aconchego e misericórdia do que a maioria dos ambientes evangélicos. Os cabarés são mais humanos, neles se encontram pessoas carentes de perdão e redenção, um lugar onde a possibilidade de se fazer amigos mais sinceros do que na grande maioria das igrejas que segregam e promovem a exclusão do diferente. Se hoje nossas igrejas se tornaram piores do que os cabarés, talvez não seria este o momento de torna-lás verdadeiros cabarés atraindo os piores tipos na esperança de pouco de perdão para nós?
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