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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Ateísmo 2.0 em Tempos Natalinos


Thaysa Azevedo, no Unplanned, via Pavablog
Vem chegando o Natal e em homenagem a esta data, compartilho os aprendizados da conferência de Alain de Botton no Fronteiras do Pensamento, que aconteceu no final de novembro.
Alain ensina a olhar para as religiões com olhos analíticos de ateus que anseiam por aprender a lógica de atuação destas instituições: “Mesmo que você não creia em Deus, existem outras coisas que a religião pode trazer para você, além da parte boa dos feriados religiosos”, afirma o conferencista.
O Escritor e apresentador suíço, PhD em Filosofia Francesa pela Universidade de Harvard, falou sobre as diferentes áreas da vida as quais podemos tomar a religião como case de sucesso. As duas principais foram educação e artes.

Segundo Alain, a educação encontra-se no centro da vida. Serve para ensinar aptidões e habilidades para que o ser humano seja bem sucedido nos tempos modernos. Ele compara uma aula universitária que tem como objetivo transmitir informações, com um sermão religioso, que busca transformar vidas e questiona porque a educação não pode ter como objetivo esta transformação. O conferencista sugere a substituição da escritura religiosa pela cultura, pela literatura, pelas artes e afirma que, principalmente a literatura, pode ser usada como texto sagrado: “Ao invés de lermos o evangelho de São João, podemos ler Tolstói” como estímulo à transformação pessoal.
No caso das artes, Alain aponta uma percepção equivocada por parte de nossa sociedade. A arte surge porque os artistas não queriam trabalhar para terceiros. Hoje, existem inúmeros interesses, principalmente mercadológicos, ligados a esta área e, portanto, ela deixa de acontecer apenas por amor à própria arte. “Isto faz com que se perca parte do potencial de transformação na vida de seus apreciadores”, explica o conferencista.
Para Alain, afunção da arte religiosa é a de nos lembrar sobre o que devemos amar e o que devemos temer. Um dos exemplos são as pinturas de Rembrandt (séc XVII), que nos lembram que precisamos ser corajosos e dar vida às verdades esquecidas dentro de nós.Como aprendizado da religião, Alain posiciona a arte como propagadora de valores como fraternidade, missão, gentileza ou quaisquer mensagem que fomente transformações pessoais. Ele explica ainda que, a concepção de ganho de vida através da arte se dá de forma solitária e por conta própria, como poetas e terapeutas. Em contrapartida, as religiões nos ensinam a atuar em grupo pela alma. São colaborativas. Reúnem a inteligência de muitas pessoas para criar algo maior.
Foi então que pude traçar uma relação entre o poder de transformação da arte, almejado por Alain, e a arte urbana contemporânea, mais especificamente o grafite.
Neste vídeo do projeto The WynwoodWalls,os artistas mexicanos Sego e Saner falam sobre as possibilidades de transformação do ser humano a partir deste estilo artístico. Além de poder transformar a própria situação do artista, o grafite funciona como um veículo de mensagens poderosas. Seja expressando questionamentos à sociedade ou inspirando outras transformações pessoais.
Além disto, a maior parte dos projetos relacionados ao grafite são colaborativos. Nascem ou se realizam através da reunião de diversos artistas, como é o caso do projeto de revitalização Mural 191, no qual seis talentosos grafiteiros pintaram uma tela sem moldura de 191m de comprimento num bairro periférico em São Bernardo do Campo.
Precisamos ser ensinados a viver”, diz Alain de Botton. Existe sabedoria na cultura. Tanto no passado, através de grandes filósofos e artistas que pensaram as questões da vida antes de nós, quanto em pensadores e manifestações artísticas atuais, como é o caso do grafite. Olhar para este acervo de ideias nos faz sentir menos solitários.
Alain finaliza sua ode ao ateísmo 2.0 advertindo que as religiões são importantes demais, ricas demais, para serem deixadas nas mãos apenas daqueles que creem nela. Mais do que feriados religiosos, temos uma lógica estruturada que perdura há séculos. Algo temos a tirar disto.As inspirações e aprendizados podem vir de qualquer lugar.
Desejo a você uma data religiosa feliz e inspiradora. Nos vemos em 2012.
Foto: “Cartão de Natal ateu de Darwin”, vendido em uma loja virtual.

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