Juliana Dacoregio, capturado no Pavablog
Estou na casa de uns amigos depois de alguns dias difíceis. Tentando colocar a cabeça e outras coisas no lugar. Toca o telefone. Uma pessoa muito querida me convidando para ir ao culto.
- Oi July, vamos ao culto comigo?
- Não, Cassia, prefiro ficar por aqui hoje. Depois das últimas 48 horas, só agora é que estou conseguindo parar de repassar todos os acontecimentos, só agora estou sentindo um pouco de paz.
- Mas, então, vamos ao culto! Você vai sentir a verdadeira paz.
- Olha amiga, acho melhor não. Sei que posso ouvir palavras que preciso, mas também sei que dependendo da pregação pode acabar dando um nó ainda maior na minha cabeça.
- Mas Ju, tu sabe que tu estás precisando. Deus vai falar contigo hoje lá. É agora mesmo que tu deves ir.
- Cassia… Deus pode falar comigo aqui também.
- Por quê? Você vai abrir a Bíblia? Vai orar?
- Não, não vou. Mas era só assim que Jesus falava com as pessoas? Ele sabe que estou precisando ouvi-lo, que estou precisando Dele. Ele não é poderoso pra usar situações corriqueiras no lugar onde estou para falar comigo ou dar paz ao meu coração?
- Olha, July, cuidado com esse engano.
Diálogo conhecido por qualquer um no meio evangélico, tanto os que estão de um lado quanto de outro. Sempre uma questão problemática. Esse “engano” seria o fato de faltar a um culto e esperar que Deus me toque, não através da Bíblia, mas talvez em um filme que eu assista, um livro que estou lendo, um texto que eu for escrever, ou mesmo brincando com as crianças, estando perto da família… Por que o Nosso Grande Pai não poderia me trazer revelações apenas enquanto olho as crianças brincarem?
Poderia sim, e pode! Foi assim que Ele me trouxe de volta ao Caminho. Quem sou eu pra colocar Deus numa caixinha, onde só quando eu a abrir, Ele poderá me tocar? Deus fala das mais diferentes formas e nos lugares mais inusitados. Ele já me trouxe revelações incríveis em momentos inesperados. Foi assim que acabei me entregando novamente. Foi nessa liberdade que o Espírito Santo possui de pegar banalidades do dia-a-dia e nos fazer sentir Sua presença que, pouco a pouco, aceitei novamente que Deus é real e não apenas uma ideia criada pelo ser humano.
Não estou descartando as benesses de congregar. Fazer parte de um grupo que se une para agradecer a Deus, refletir, ouvir uma preleção inspirada é extremamente importante e necessário. Não acredito mesmo que seja possível permanecer uma vida inteira seguindo a Deus sem nunca congregar. O momento do culto, para mim em particular, é também a hora em que consigo me achegar a Deus através do louvor. O ditado é batido e mais usado por católicos, mas muito verdadeiro: quem canta reza duas vezes. Sim, eu creio no louvor como forma de oração e não uma necessidade que Deus tenha de ser adorado. Nós precisamos louvar. Deus não PRECISA ser louvado. Ele não cresce com o louvor, nós sim. Nós é que somos transformados e renovados a cada vez que abrimos nossa boca e nos deixamos levar por canções de quebrantamento, júbilo, gratidão. (Mas esse é assunto para outro texto.)
O ponto aqui é a falta de sabedoria e eu diria até mesmo de pura e simples compreensão em permitir que seus irmãos na fé tenham sua maneira própria de se achegar a Deus. Nem sempre o que precisamos ouvir estará lá na Igreja, na ministração do Pastor. Talvez esteja num instante de silêncio ou com a família, que muitas vezes negligenciamos numa noite de domingo (pois às 6 horas da tarde já estamos atarefados em escolher a roupa para o culto) e, às vezes quando chegamos perdemos aquele momento precioso. É bom que os irmãos vivam em união, sim. Mas até onde eu sei, Deus não nos criou para sermos gêmeos siameses.
foto: M de Mulher
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