Ricardo Gondim, no seu site
Vazio por cima de vazios, tudo não passa de uma gigante vaidade. Todo suor é vão; todo esforço, inutilidade. Sob as lajes frias do cemitério jazem os ossos secos de homens e mulheres que calejaram as mãos por coisa alguma.
O mar lava a praia, arrastando em seu movimento perpétuo, gerações inteiras. O sol silencioso e frio sela destinos, e em sua jornada cotidiana não toma conhecimento dos murmúrios humanos. O vento selvagem, rodopiando alucinado, desenfreado, cumpre a missão de anunciar: não há mensagem a ser aprendida senão a de que tudo se acaba sob enormes camadas de poeira.
O rio e a sabedoria desaguam no oceano universal, que dá de ombros aos dois. O imperativo de explicar o mistério, exaure; o dever de manter-se lúcido dobra tanto Titãs como Césares e Santos. O que foi, permanece intocado; morreremos antes de percebermos o que será. A despeito da aflição do herói, o trilho que traz o porvir permanece inamovível.
Quão patéticos os ineditismos. A soma dos saberes não altera a bússola que deveria apontar para a verdade. A história que ninguém atina continua esquecida. Sem a versão dos anônimos, que o fascínio revolucionário tragou, permanecemos perdidos. Quem saudará os que nascerão sob o manto que a miséria obscurece?
O Pregador tenta reinar em alguma cidade. Mas para que acorrenta o seu espírito às algemas da virtude?
Ele tentou interpretar a tragédia encenada no palco estrelado de meu vilarejo, só para ver que tal tarefa era uma punição. Deus afligiu mulheres e homens com o pecado da curiosidade. O Pregador, depois de avaliar o seu labor, ficou mais cético, repetindo a ladainha: “vaidade de vaidade, tudo é vaidade; a vida se resume a correr através de vendavais”.
Profetas sabem: o sinuoso não se endireita, o torto não se emenda. Generais recrutam valentes, matam corajosos, mas só conseguem produzir mais vazio; o mesmo vazio que traga simplórios e doutos, ímpios e justos, amantes e solitários. Ninguém evita o contrapé dos pusilânimes.
Permanecemos loucos, prostrados no altar dos ídolos que talhamos em nossa idiotice. Repetimos: “Veja, mesmo soterrado e condenado ao silêncio da morte, continuo magnificado; ninguém conseguirá repetir as glórias que amealhei para mim mesmo. Calo os que me advertem sobre a estupidez de perseguir os redemoinhos da frivolidade. Ensurdeço os ouvidos ao poeta; ele me avisa sobre a dor que convive com a sabedoria. Melhor o disfarce do conhecimento à suavidade da poesia”.
Soli Deo Gloria