“[35] ‘Pois eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram; [36] necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram’” [Mateus 25.35-36].
Dizem os pregadores:
“Seja íntimo de Deus; seja amigo de Deus; converse com Deus diariamente. Fazendo isso você verá o quanto sua vida espiritual vai mudar. Quando oramos, quando falamos intima e secretamente com Deus, nos tornamos amigos dEle. Deus é amigo daqueles que o buscam com fervor”.
Não gosto desse apelo a uma fé intimista, que busca a intimidade com Deus por meio da oração e da piedade em si mesmas. Esse tipo de fé costuma se degenerar facilmente numa piedade individualista, completamente cega ao que afeta a vida do outro e ao que afeta o mundo social como um todo.
Para mim, a fé mais profunda que existe não é a fé que traz Deus para dentro de mim, mas a fé que me leva para fora de mim mesmo, em direção ao outro. A pessoa mais íntima de Deus não é a que o adora na individualidade intimista, mas a que o serve quando ele [Deus encarnado na vida do oprimido] pede água, comida, dignidade, respeito a direitos humanos fundamentais etc.
Alguns dizem, com certa razão, que sigo uma teologia cheia de princípios pós-modernos. Nesse caso específico, não sou nem um pouco pós-moderno. Quer algo mais pós-modernista do que viver uma fé individualizada e intimista, centrada no eu e em suas necessidades?
O apelo de fé que faço é: seja íntimo de Deus. Esteja disposto a sair de si para se encontrar com outro, que está bem perto de você lhe pedindo que seus direitos a uma remuneração justa, à diversidade cultural, à alimentação, ao afeto etc. etc. etc. sejam garantidos. Penso que só nos tornamos amigos íntimos de Deus, quando nos ancoramos numa fé que nos impele para fora, para a realidade, para o espaço no qual o fraco está sendo explorado.