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"Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever - inclusive a sua própria história." Bill Gates

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domingo, 22 de agosto de 2010

Reducionismo, seus perigos e seus incômodos

Gente, o momento da pregação num culto é um momento em que a gente se aquieta, deixa o coração em silêncio e se concentra em ouvir a voz do Senhor. Um momento de profunda reflexão, estimulada por 40 minutos de sábias palavras de um servo de Deus que vive exclusivamente para abençoar as pessoas através de seu ofício. Eesse servo ouve a voz do Santíssimo compartilha com seu rebanho a mensagem de salvação, de arrependimento ou de afirmação que esse rebanho precisa ouvir.

Certo?

Até parece.

Pelo que tenho percebido, o púlpito tem se transformado num monumento à mediocridade. Um marco de onde pregadores que passaram muito menos tempo preparando seu sermão do que eu passo preparando uma aula expõe idéias bobas, superficiais e emburrecedoras, sustentadas por argumentos que não resistem ao menor questionamento de uma criança.

Porque pregadores insistem em insultar minha inteligência? Foi Deus quem deu!

Num momento particularmente tosco desses em minha vida eclesiástica recente aconteceu o seguinte: sobrecarregada por um pessimismo quase científico, eu estava toda murcha no banco esperando a pregação começar. As primeiras palavras do pregador foram: "Muitos não sabem bem o que é ter uma vida abundante". Estas palavras me fizeram mudar até de postura, uma vez que eu mesma não compreendo muito bem essa vida em abundância. Achei que aquele momento seria realmente esclarecedor e edificante. Eu sinceramente acreditei que minha vida seria abençoada por aquele sermão.

Ô, ilusão!

O pastor em questão (que não era da minha igreja, registre-se) não só não falou sobre vida abundante como começou a dar um sermão relevante APENAS para pessoas solteiras que fossem sexualmente ativas. Ponto. Simples assim. Ou ele acha que a maioria da igreja (que ele nem conhece) está solteira e mandando ver ou ele deliberadamente pregou pra uma minoria e deixou uns 85% de nós de fora. De propósito.

Ele começou dizendo que há coisas que nos afastam da vida abundante (sem dizer o que isso era) que não eram necessariamente pecado. Logo em seguida começou a enumerar pecados que podem nos impedir de ter uma vida abundante com Deus. Mas sua longa lista (durou uns 30min) acabou sendo uma lista de um ítem só: sexo antes do casamento. Simples assim. Reducionista assim. ESSE é o único pecado que merece a atenção do crente. Se você, solteiro, está na seca,você está na bênção, com certeza.

O grande perigo desse discurso reducionista cretino e burro é o seguinte: todo mundo que não está cometendo aquele pecado... está vivendo em santidade! Assim, domingo após domingo, pessoas mesquinhas, manipuladoras, mentirosas, caloteiras, sacanas, fofoqueiras, avarentas, medíocres, fanáticas (idólatras) e grossseiras são estimuladas a permanecerem nessas práticas abomináveis! Afinal, se eu não tô transando com meu namorado, eu sou santo e perfeito! Quem se importa com o fato de que eu só ajo em benefício próprio dentro da própria igreja? Eu sou virgem! Quem se importa se eu desrespeito meus professores na escola? Eu sou casto! Tá, eu admito que aumentei um pouco aquela estória sobre Fulano e passei minha versão maldosa adiante - mas e daí? Eu nunca fui pra cama com ninguém! Fora todos os problemas que acabam surgindo quando o sexo está realmente "autorizado": foram 25 anos de reprimendas e agora, do nada eu tenho que me liberar pra agradar meu marido? Not gonna happen!

O grande inconveniente desse discurso idiótico e permissivo (SIM, permissivo!) é que ele não se sustenta. Ele é burro. Ele reproduz a idéia de que crente é burro. A casa do Senhor - daquele que fez os céus, a terra, a vida, que estabeleceu todas as leis da física que sustentam o universo como ele é, que desenvolveu a psiquê humana, o pai de toda a sabedoria e ciência - está se transformando num antro de lavagem cerebral e emburrecimento coletivo. Já percebeu como é difícil falar do amor de Cristo pra uma pessoa com nível alto de escolaridade? Ou pra alguém que lê jornal? Deus tomou o lugar do dicionários - ele agora é que é o pai dos burros! Eu queria muito dizer isso no sentido de que ele nos acolhe como somos e nos dá sabedoria para deixarmos de ser burros, mas não é o caso. A casa dele está se transformando num estábulo. E nem é aquele  onde nosso salvador nasceu.

Líderes, acordem! Parem de ter medo de que seus rebanhos passem a raciocinar por conta própria! estimulem seus fiéis a ler, a estudar, a ser militantes de causas sociais, a serem questionadores! PAREM DE SER COVARDES!!!! Nós não queremos mais ir à igreja pra comer capim!

Um comentário:

  1. Infelizmente as pessoas estão deixando de pensar, e ainda estão sendo estimuladas a aceitar um fastfood intelectual de péssima qualidade.

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