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| Foto: Dispertar da Luz | 
Assim,  todo o dia ia visitá-lo e lá chegando levava sempre um coice, depois  então um sorriso. Entre um e outro ela optava por esquecer o coice e  guardar dentro do seu coração o sorriso. Sempre o cavalinho insistia com  a borboleta que lhe ajudasse a carregar o seu cabresto por causa do seu  enorme peso. 
Ela,  muito carinhosamente, tentava de todas as formas ajudá-lo, mas isso nem  sempre era possível por ser ela uma criaturinha tão frágil. Os anos se  passaram e numa manhã de verão a borboleta não apareceu para visitar o  seu companheiro. Ele nem percebeu, preocupado que ainda estava em se  livrar do cabresto.
E  vieram outras manhãs e mais outras e milhares de outras, até que chegou  o inverno e o cavalinho sentiu-se só e finalmente percebeu a ausência  da borboleta. Resolveu então sair do seu canto e procurar por  ela.Caminhou por toda a floresta a observar cada cantinho onde ela  poderia ter se escondido e não a encontrou. Cansado se deitou embaixo de  uma árvore. Logo em seguida um elefante se aproximou e lhe perguntou  quem era ele e o que fazia por ali.
-Eu sou o cavalinho do cabresto e estou a procura de uma borboleta que sumiu.
-Ah, é você então o famoso cavalinho?
-Famoso, eu?
-É  que eu tive uma grande amiga que me disse que também era sua amiga e  falava muito bem de você. Mas afinal, qual borboleta que você está  procurando?
-É uma borboleta colorida, alegre, que sobrevoa a floresta todos os dias visitando todos os animais amigos.
-Nossa, mas era justamente dela que eu estava falando. Não ficou sabendo? Ela morreu e já faz muito tempo.
- Morreu? Como foi isso?
-Dizem  que ela conhecia, aqui na floresta, um cavalinho, assim como você e  todos os dias quando ela ia visitá-lo, ele dava-lhe um coice. Ela sempre  voltava com marcas horríveis e todos perguntavam a ela quem havia feito  aquilo, mas ela jamais contou a ninguém. Insistíamos muito para saber  quem era o autor daquela malvadeza e ela respondia que só ia falar das  visitas boas que tinha feito naquela manhã e era aí que ela falava com a  maior alegria de você.
Nesse momento o cavalinho já estava derramando muitas lágrimas de tristeza e de arrependimento.
-  Não chore meu amigo, sei o quanto você deve estar sofrendo. Ela sempre  me disse que você era um grande amigo, mas entenda, foram tantos os  coices que ela recebeu desse outro cavalinho, que ela acabou perdendo as  asinhas, depois ficou muito doente, triste e sucumbiu e morreu.
-E ela não mandou me chamar nos seus últimos dias?
-Não, todos os animais da floresta quiseram lhe avisar, mas ela disse o seguinte:
"Não  perturbem meu amigo com coisas pequenas, ele tem um grande problema que  eu nunca pude ajudá-lo a resolver. Carrega no seu dorso um cabresto,  então será cansativo demais pra ele vir até aqui." 
Você  pode até aceitar os coices que lhe derem quando eles vierem  acompanhados de beijos, mas em algum momento da sua vida, as feridas que  eles vão lhe causar, não serão mais possíveis de serem cicatrizadas.  Quanto ao cabresto que você tiver que carregar durante a sua existência,  não culpe ninguém por isso, afinal muitas vezes, foi você mesmo que o  colocou no seu dorso. 
OBS: Qualquer semelhança com seres humanos que você conheça, pode não ser coincidência.  
Contribuição: 
Licia D Spencer 
twitter: @LiciaSpencer 

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