Google+

"Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever - inclusive a sua própria história." Bill Gates

Compartilhe

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Pequenos afetos na opressão de viver


Eclesiastes 4
Ricardo Gondim

Criei coragem de encarar a realidade e vi como a opressão se alastra pelo mundo. A tirania está por todos os lados; é câncer que destrói e esmaga indiscriminadamente. As lágrimas de milhões empoçam valas e inundam alamedas enquanto outros milhões desenvolvem mecanismos que os distraem. Eles não ligam para a banalidade do sofrimento humano. E mesmo que se importassem, qualquer esforço de aliviar a dor do oprimido não faria muita diferença. O opressor dispõe de mecanismos políticos, econômicos, midiáticos e religiosos. Quem esmaga se vê inocente e consegue convencer os demais de sua pureza. Ele detém o poder.

Melhor morrer do que viver a penúria do excluído. Melhor deixar de existir a padecer sob o jugo da miséria e no horizonte curto. Melhor desaparecer a aturar o desdém humano. Contudo, melhor mesmo é nunca ter nascido. Um aborto pode considerar-se mais bem-aventurado do que o menino e a menina, condenados a amargar a existência na masmorra da falta de perspectiva; numa indigência absoluta.

A vida não passa de competição, de batalha, de constante disputa. Para cada sucesso, inúmeros outros provam a dor do fracasso. Nada somos senão bichos numa corrida pela sobrevivência do mais forte. Os que desistem da lida cruzam os braços, contudo, apressam a decadência que trazem a si mesmos. A vida é um absurdo. Somos trágicos – tudo o que consideramos vitória se resume a correr atrás do vento.

Conheci um solteirão, sem herdeiros e sem sequer um irmão. Esse homem mergulhou no trabalho dia e noite. Sempre desejoso de ganhar mais, acreditou que a riqueza supriria a sua sede de afetos. Esqueceu-se de se divertir. E nunca se perguntou: Para quem estou trabalhando tanto? A estupidez dele se evidenciou ao notar que o dinheiro é ingrato; jamais retribui sentimento com sentimento.

Dinheiro produz vários bens, menos amigos. Triste, o rico se faz solitário. Mas o pobre se rodeia de camaradas. E os dois percebem que na hora do tombo, a sombra de um companheiro vale mais que os tesouros do rei. A mão que levanta o caído, que estimula o desanimado e que alenta o culpado é sagrada. Maldito aquele que, apesar de toda a fortuna, não conta com ninguém. Até no frio a presença do amigo aquece – bendito calor. Na solidão, qualquer inimigo parece mais ameaçador do que na verdade é. Ao darmos as mãos, tornamo-nos um barbante de três dobras, difícil de rebentar.

O jovem que não teme mudanças aponta para um futuro alvissareiro. O velho, mesmo que seja rei, mas que não aceita se corrigir, encarna o obscurantismo – ele é responsável pelo atraso e pela renitência da estupidez. Não importa se o jovem vem da marginalidade ou da linhagem nobre, vale sua coragem de apontar um futuro novo.

O povo, ansioso por mudança, atirou-se nas propostas que o jovem gritava na rua. Amargou, porém, o retrocesso ao ver a geração seguinte insatisfeita com as mudanças que aconteceram. Anos depois recrudesceu o conservadorismo. O pêndulo foi e voltou com a mesma rapidez. Viveremos sempre nesse limiar, inquietos, considerarando a vida uma tolice, um correr atrás do vento.

Soli Deo Gloria

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Compartilhe no Facebook

Related Posts with Thumbnails