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terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Família de Mandela trava disputa por nome, fortuna e legado

Brigas judiciais e confusões públicas são encaradas como uma ‘novela de horror’ pelos sul-africanos
Publicado em O Globo
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Mandela cercado pelos netos em foto de 2008: sul-africanos já esperam uma ‘novela familiar de horror’ pela disputa de seu legado Reuters
BUENOS AIRES – Nelson Mandela, símbolo da reconciliação sul-africana, parece ter falhado na união de uma só família: aquela que leva seu sobrenome. Há muitos anos, a família Mandela – composta de seis filhos, 17 netos, 12 bisnetos, duas ex-mulheres e vários sobrinhos – disputa por poder, herança, nome, fortuna e legado através de ações judiciais e brigas públicas.
Em sua autobiografia, “Longa caminhada até a liberdade”, o homem que derrotou o apartheid reconhece que seu compromisso com o povo o levou a descuidar daqueles que estavam mais próximos.
“Um homem envolvido na luta era um um homem sem vida familiar”, escreveu.
Mas Madiba, como era chamado em seu país, provavelmente nunca imaginou as cenas de mesquinharia que seus descendentes seriam capazes de provocar. Uma saga de brigas, acusações e inveja que levou Desmond Tutu, também ganhador do prêmio Nobel da Paz, a pedir respeito a seu amigo.
“Podemos, por favor, não pensar em nós mesmos? Isso é como estar cuspindo na cara de Madiba”, disse o arcebispo da Igreja Anglicana ao tentar apaziguar uma disputa.
O último e mais marcante capítulo da novela aconteceu em junho deste ano, quando a justiça ordenou transferir os corpos de três filhos do ex-presidente a Qunu, cidade natal de Mandela. Mandla, neto e atual representante do clã, havia retirado os corpos para enterrá-los em Mvezo.
Mandla, membro governante do Congresso Nacional Africano (CNA) no parlamento, havia feito essa mudança com o propósito de poder sepultar rapidamente seu avô em sua cidade. Ele tomou a decisão sem consultar os outros familiares, nem mesmo a filha mais velha de Mandela, Makaziwe, que deseja que seu pai seja enterrado em Qunu, a 700 quilômetros de Johannesburgo. Ela foi a responsável por reunir outros 16 familiares para reaver os corpos ao local onde haviam sido sepultados. Nesta sexta-feira, o presidente sul-africano, Jacob Zuma, anunciou que o funeral ocorrerá no dia 15, em Qunu, cidade onde Mandela nasceu.
Mandla demonstrou sua insatisfação na remoção dos corpos debatendo publicamente todas as divergências da família: acusou um dos irmãos de semear a mentira de que é fruto de uma relação extraconjugal, e ainda disse que um outro irmão engravidou a mulher com quem Mandla era casado, o obrigando a repudiar o recém-nascido.
O episódio irritou os sul-africanos, que encheram as redes sociais de mensagens em protestos. A mais replicada no Twitter foi: “Talvez Mandla seja um Mandela, mas está longe de ser Nelson”.
Desde abril, 17 membros da família, liderados por Makaziwe, iniciaram uma ação na Justiça para conquistar o direito de controle das empresas fundadas por seu pai. Tratam-se da Harmonieux Investement Holdings e da Magnifique Investment Holdings, que geram mais de US$ 1 milhão por ano.
Esta é apenas uma das brigas judiciais em torno da herança de Mandela, que arrecadou muito dinheiro graças às vendas de seus livros e memórias, além de aquarelas e desenhos feitos por ele na prisão de Robben Island, onde ficou 18 dos 27 anos que passou encarcerado. Grande parte dessa fortuna foi doada por Mandela a instituições de caridade.
Em qualquer negócio familiar, o nome de Mandela sempre é usado de alguma maneira para despertar interesse da população. As netas Zaziwe Dlamini-Manaway e Swati Dlamini criaram uma grife de roupas cujo slogan é “Um toque de magia de Madiba para a roupa”, o que acabou causando uma repercussão negativa para elas por banalizarem seu legado. As duas ainda participaram de um reality show chamado “Ser Mandela”, que abordava uma vida de festas badaladas, regadas a champagne francês, em Nova York. Um estilo de vida bem diferente do avô.
Com a morte de Mandela, os sul-africanos já esperam por mais capítulos de brigas, conflitos e uma novela de horror protagonizada pela família.

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