Não fustigue as feridas que ainda supuram dentro de mim. Se você não se importa com os traumas que padeci na infância, não tripudie a mulher [homem] que me tornei. Tenha cuidado com os nervos expostos. Sou nevrálgica. Se lágrimas escapam de meus olhos cansados, não tente julgá-las. Se insistem, nascem das injustiças e repreensões que penei.
Por favor, não pise se você me vir caída. Não escarneça de mim na derrota. Não basta? Gente abatida não merece mais inclemência. Preciso de misericórdia. Por me sentir assim, fragilizada, qualquer lâmina pesa feito espada sobre o meu pescoço. Careço de um olhar calmo. Necessito de compaixão. Como firmar joelhos desconjuntados? Como levantar braços cansados? Me dê a sua mão. Não transforme o meu medo em pânico.
Eu imploro: não me exile. Ostracismo não regenera ninguém. Para que servem fósforo riscado, jarra trincada e pente quebrado? Acolha-me como órfã. Transforme o seu colo em maca, as suas mãos em atracadouro e os seus ombros em arrimo. Não me recrimine por ter ambicionado o inacessível norte. Seja samaritano. Encare a minha sorte como a do viajante saqueado que agoniza na beira da estrada.
Não tente me encurralar em crise de aceitação. Já sofro por perceber que ninguém se lembrou de colocar prato para mim na mesa. Como é duro notar que meu nome constou entre os inconvenientes. Não ajude os que me descartam. Não nasci para ser estorvo. Ando alquebrada. Sou constrangida por risos sarcásticos e pilhéria. Todas as pessoas desejam ser queridas e desejadas. Eu também.
Espero, realmente espero, que aprendamos a rir e chorar juntos. O que poderia ser mais importante do que a grandeza de nos respeitarmos?
Vamos bordar a nossa história no caminho da paz?
Soli Deo Gloria
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