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Jones F. Mendonça, no Numinosum Teologia
Na Bíblia hebraica reis, sacerdotes e profetas geralmente são tratados com respeito. Mas nos chamados “livros proféticos” as manifestações críticas às cerimônias religiosas mortas e aos líderes mercenários e egoístas são abundantes. Amós, por exemplo, critica sem pudor os reis (e suas esposas, aquelas “vacas”, cf. 4,1), sacerdotes e até profetas.
Isaías critica os jejuns artificiais e os cultos hipócritas (1,13-14; 58). Denuncia os crimes cometidos pelos “príncipes rebeldes e companheiros de ladrões” (1,23). O profeta enxerga o Israel de seu tempo como sendo composto por pessoas muito preocupadas com o “culto solene” e ao mesmo tempo indiferentes aos desamparados como órfãos e viúvas.
Oseias não mede palavras para denunciar reis corruptos (5,1) e “sacerdotes assassinos que matam no caminho para Siquém” (6,9). “Quero misericórdia e não sacrifícios” (6,6), proclama o profeta, filho de Beeri.
Miqueias acusa os “cabeças de Jacó” (líderes de Israel) de abominarem o juízo e perverterem o direito (3,9). Chama os sacerdotes de “interesseiros” e os profetas de “mercenários” (Mq 3,11).
Diante da injustiça que toma conta de Israel, Amós expõe aos quatro ventos a inutilidade das festas religiosas, das reuniões solenes, dos sacrifícios e dos cânticos, tornados desprezíveis diante de um cenário no qual impera o suborno, os pesados tributos sobre o pobre e o abandono dos necessitados à porta (5).
Malaquias, conhecido apenas pelo versículo “trazei todos os dízimos à casa do tesouro” (3,10), faz graves denúncias aos sacerdotes que “tropeçam na lei” (2,8) fazendo acepção de pessoas (2,9). Vaticina que o excremento dos animais sacrificados será lançado em seus rostos e que serão considerados tão imundos quanto esses dejetos fétidos (2,3, cf. Lv 4,11).
Hoje você denuncia aquele “profeta ladrão”, aquele “sacerdote explorador”, aquele “rei ungido” que usa a política para manipular fiéis ingênuos, aquele “levita” que enriquece às custas de fãs transloucados e é tido como herege. Dois mil anos e pouca coisa mudou...
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