Não há árvore genealógica que dê conta de explicar famílias com vários divórcios, novos casamentos, meio-irmãos e agregados. Essas famílias, cada vez mais comuns nas estatísticas, não são nada parecidas com aquelas do comercial de margarina.
"O conceito de família nuclear (com pais e filhos na mesma casa) não é mais suficiente. Há arranjos domésticos sem nenhum padrão", diz a socióloga Elisabete Bilac, do Núcleo de Estudos Populacionais da Unicamp.
As mudanças aconteceram nas últimas três décadas. Nos anos 1980, 70% das famílias eram nucleares. Hoje, menos da metade é assim.
Se a "família margarina" está cada vez mais rara, as monoparentais (com apenas pai ou mãe) são as que mais crescem. Efeito prolongado da popularização do divórcio, dizem especialistas.
Também são mais comuns os casais que decidem não ter filhos. Em inglês, são chamados de casal Dink, sigla para dupla renda sem filhos ("double income no kids"). No Brasil, já são 17% do total, segundo o IBGE.
"É uma grande mudança em pouco tempo", diz José Eustáquio Alves, demógrafo da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE. "Houve uma inversão demográfica. Temos menos filhos, demoramos mais para tê-los e vivemos mais."
Isso somado às novas formas de relacionamentos deu origem a famílias diferentes do padrão tradicional.
Mônica Fontes, professora, 33, e Thiago Fernandes, publicitário, 34, são um casal LAT ("living apart together", ou vivendo juntos separados). São casados, não no papel, têm um filho de 5 anos e vivem em casas separadas.