Publicado originalmente aqui.
Consegui! Foi uma jornada difícil, árdua, assustadora, tensa e desconfortável. Por diversas vezes eu tive vontade de guardar o livro no congelador - como Joey fazia quando chegava a um ponto da leitura que o deixava assustado e ele tinha medo de continuar. Mas pra minha satisfação, eu venci meu próprio medo e consegui ler até o fim. Graças a Deus, no incentivo de meus alunos.
Ensaio sobre a cegueira é uma viagem pra dentro. Pra dentro, pro fundo, fundo mesmo, lá onde fede. Sério, sem piada. Ele incomoda porque é real. Como Cleycianne, que é engraçada porque é verossímil. Saramago, pouco a pouco, desconstrói a humanidade. Não a humanidade do verbo o conjunto de todas as pessoas, mas a humanidade do verbo propriedade daquilo que é humano. Ou melhor, não descontrói - posto que descontruir é destruir, reduzi-la às bases instintivas, animalescas: o livro DESNUDA, DESMASCARA a humanidade. Revela o quão frágil ela é, quão rasa, como uma piscina infantil, com nossa consciência tentando manter nossa bestialidade no fundo - criança brincando de afundar uma bóia que teima em emergir.
Todo cristão devia ler esse livro. Todo presbiteriano, com sua certeza calvinista distorcida, devia experimentar o quão baixo nós pessoas podemos ir por sermos cegos sem olhos que nos guiem e vejam. Por que é quem somos. A crença na predestinação devia nos manter humildes por compreendermos que somos tão nojentos que nada do que façamos poderia nos tornar dignos de coisa alguma além de chafurdarmos em nossa própria imundície. entretanto, conheci muitos irmãos de denominação que se deixaram contaminar pela soberba de terem sido "escolhidos antes da fundação do mundo". Cegos. "Cegos que veem. Cegos que, vendo, não veem."
O Senhor é nossos olhos. Sua palavra é a luz que nos ilumina os passos. Sem ele, sem ela, nos resta vagar como espectros por esse mundo, meio mortos, meio vivos, sem compreender o que vai ao nosso redor, sem saber aonde nos leva a rua que tomamos.
Acho que Saramago, um dos ateus mais famosos hoje, ficaria horrorizado se soubesse que seu livro mais célebre foi capaz de despertar esse tipo de reflexão - sinto muito, Zé. Sua verdade é tão certa que remete a Deus - e qual verdade não o faz?
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