A pesquisa intitulada “Religious factors and hippocampal atrophy in  late life” [Fatores religiosos e a atrofia do hipocampo na terceira  idade], feita pelo Centro Médico da Universidade Duke (EUA) pode  representar um importante avanço na compreensão da relação entre o  cérebro e a religião.O estudo, publicado em março revela que pessoas que se identificam  com determinados grupos religiosos apresentaram uma maior atrofia do  hipocampo, algo comum em doenças como Alzheimer.
É um resultado surpreendente, considerando que muitos estudos  anteriores mostraram que a religião tem efeitos benéficos sobre a função  cerebral, em especial no que se relaciona com a ansiedade e a  depressão. Muitos estudos sérios já avaliaram os efeitos de práticas  religiosas como a meditação e a oração no cérebro humano.
Um número menor de estudos avaliou os efeitos da religião no cérebro a  longo prazo. Esse tipo de está centrado nas diferenças do volume do  cérebro ou da função cerebral nas pessoas fortemente envolvidas em  práticas espirituais comparadas às que se definem como não religiosas. E  um número ainda menor de estudos tem explora os efeitos das práticas de  meditação ou outra atividade espiritual, avaliando indivíduos em dois  momentos diferentes.
No estudo da Duke, publicado por Amy Owen, foi usada a ressonância  magnética para medir o volume do hipocampo, parte do cérebro que está  relacionado com a emoção e a formação da memória. Foram examinados 268  homens e mulheres, entre 58 e 84 anos. A ideia original era medir os  resultados neurocognitivos da depressão em idosos, mas que também estava  ligado às suas crenças religiosas. O estudo publicado pela professora  Owen é o único que foca especificamente as pessoas religiosas em  comparação com indivíduos não-religiosos. No artigo, mostra que existe  uma diferença na estrutura cerebral das pessoas que se consideram  cristãos “nascidos de novo” ou que tiveram alguma mudança de vida por  causa da religião.
Os resultados mostraram uma atrofia (encolhimento) significativamente  maior entre os protestantes nascidos de novo e os católicos, em  comparação com os protestantes nominais, que não se consideram “nascidos  de novo”.
A hipótese levantada pelos estudiosos é que essa atrofia maior do  hipocampo em determinados grupos religiosos podem estar relacionados com  o estresse. Eles argumentam que alguns indivíduos da minoria religiosa,  ou aqueles que lutam com suas crenças, registram níveis mais elevados  de estresse. Isto provocaria uma liberação de hormônios ligados ao  estresse que são conhecidos por diminuir o volume do hipocampo ao longo  do tempo. Isto também poderia explicar porque os não-religiosos e  algumas pessoas religiosas têm um hipocampo menor.
Existem estudos que mostram os efeitos negativos da religião e da  espiritualidade na saúde mental. Há evidências que membros de grupos  religiosos que são perseguidos ou que são minoria experimentam um maior  estresse e uma ansiedade acentuada. Em alguns casos, uma pessoa pode  entender que Deus a está punindo e, portanto, ter um aumento  significativo de estresse causado por sua “luta religiosa”. Outros  passam por conflitos internos por causa de idéias que contrariam sua  tradição religiosa ou a de sua família. Um mudança radical no estilo de  vida pode ser difícil para alguém incorporar ao seu sistema de crença  religiosa vigente o que também pode gerar estresse e ansiedade. As  transgressões religiosas (pecados) reconhecidamente podem causar  angústia psicológica e emocional. Esta dor “religiosa” e “espiritual” pode ser tão real quanto a dor física. E todos estes fenômenos podem ter efeitos potencialmente negativos sobre o cérebro.
Assim, Owen e seus colegas apresentam uma hipótese plausível, emb0ra  reconheçam as limitações do seu estudo, como o tamanho pequeno da  amostragem. Mais importante ainda, não conseguem determinar até onde os  fatores que levam alguém a ter uma mudança de vida são importantes e não  apenas a experiência em si. É possível também que as pessoas mais  religiosas sofram de um estresse inerente, mas que sua religião as ajuda  a se proteger.
Os autores do estudo advertem que não ainda há conhecimento  suficiente e detalhado sobre a mecânica de como o estresse afeta a  atrofia do cérebro. A religião é frequentemente citada como um mecanismo  de enfrentamento importante para lidar com o estresse. Este novo estudo  é intrigante e importante para esse campo de estudo, chamado  neuroteologia, e pode colaborar para uma compreensão mais ampla de como a  religião (ou a espiritualidade) gera mudanças no cérebro.
via PavaBlog da Agência Pavanews, com informações de Scientific American
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