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"Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever - inclusive a sua própria história." Bill Gates

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terça-feira, 7 de agosto de 2012

Expansão ou retraimento

Simone Weil, foto obtida aqui
Ricardo Gondim, no seu site
Ainda adolescente, Simone Weil impressionou o mundo acadêmico francês. De Albert Camus à sua xará, Simone Beauvoir, filósofos que conviveram com ela reconheceram: a menina era de fato um prodígio. Simone não se confinou na academia, mas se engajou em causas sociais. Lutou para denunciar as engrenagens opressoras da indústria, indo trabalhar  na linha de montagem de uma fábrica de automóveis. Depois,  em solidariedade aos judeus que padeciam nos campos de concentração nazistas, passou a comer uma ração igual aos que o seu povo dispunha. Ela era judia, mas simpatizou com o cristianismo. Suas conversas com o padre Joseph-Marie Perrin, que se tornou um grande amigo e conselheiro, a tornou uma cristã bem diferente dos membros de qualquer igreja.
Aos 34 anos, em 1943, com a saúde debilitada por tanto sacrifício auto imposto, Simone Weil morreu em um sanatório inglês. Alguns anos depois, no pós guerra, Camus afirmou: “Parece-me impossível imaginar um renascer para a Europa que não tenha em conta as exigência definidas por Simone Weil”.
Ao questionar as construções conceituais que os judeus desenvolveram sobre Deus, Simone Weil enfatizou que era preciso pensar a fé a partir do Cristo da cruz. Ele, crucificado, era o eixo fundamental para se compreender Deus. Na apresentação do livro “Espera de Deus”, José M. Pacheco Gonçalves descreve assim a contribuição de Simone Weil para uma espiritualidade centrada na cruz: “Simone Weil encontra no Crucificado a chave do conhecimento, a via da verdade, a porta da alegria interior…”
Simone Weil, como poucos, encarnou até a morte o que considerava a sua fé; e soube esvaziar-se, doar-se, com uma radicalidade comovedora. Dois parágrafos expressam o pensamento de Simone Weil sobre o esvaziamento (kenosis) da Encarnação. Eis, para ela,  o ponto máximo da revelação: no retraimento e não na manifestação do poder está a maior grandeza do amor.
A criação é da parte de Deus um ato não de expansão de si, mas de retraimento, de renúncia. Deus e todas as criaturas, isto é menos do que Deus apenas. Deus aceitou essa diminuição. Esvaziou-se desde então nesse ato da sua divindade; é por isso que S. João diz que o Cordeiro foi degolado desde a fundação do mundo. Deus permitiu que existissem outras coisas, coisas distintas dele e valendo infinitamente menos do que Ele. Pelo ato criador, Ele negou-se a si mesmo, tal como Cristo nos prescreveu que nos neguemos a nós mesmos. Deus negou-se em atenção para nos dar a possibilidade de nos negarmos por Ele. Esta resposta, este eco, cuja recusa depende de nós, é a única justificação possível para a loucura de amor criador do ato criador.
As religiões que conceberam esta renúnica, esta distância voluntária, este apagamento voluntário de Deus, a sua ausência aparente e a sua presença secreta neste mundo, estas religiões são a religião verdadeira, a tradução em linguagens diferentes da grande Revelação. As religiões que representam a divindade como dominando por toda a parte com o seu poder são falsas. Mesmo se monoteístas, são idólatras.
Soli Deo Gloria
[Simone Weil – Espera de Deus – Editora Assírio & Alvim – Lisboa, 2009, página 152]

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