Por Hermes C. Fernandes, no seu blog
São mais de duas da manhã, e o povo evangélico ainda não foi dormir. As redes sociais não falam de outra coisa: o embate do século. De um lado Marília Gabriela, com suas madeixas louras, seus óculos de armação colorida, pesando alguns pontos de audiência. Do outro lado, o mais controverso tele-evangelista brasileiro, Silas Malafaia, com suas 120 igrejas (70 alugadas, 50 próprias), seu avião, sua casa em Boca Raton, e seus supostos 300 milhões de reais (que segundo ele, não passariam de míseros 4,5 milhões).
Prometi a mim mesmo que não escreveria sobre isso em meu blog. Mas a tentação foi grande e acabei cedendo. Silas é um empreendedor. Homem de visão. Empresário. Marqueteiro de primeira. Defensor dos fracos e desvalidos, paladino dos valores da família e da moral cristã, etc. Considerados por muitos o inimigo número 1 do movimento gay.
Não é à toa que seja tão cultuado nos setores mais conservadores do evangelicalismo brasileiro. Ele tem mérito para isso. Seu estilo agressivo atrai multidões. Todos querem testemunhar in loco seu jeito amalandrado de se expressar.
Para uns, o resultado da briga, ops, da entrevista, favoreceu o ex-bigodudo. Para outros, a loura o nocauteou. Não quero ater-me a isso. Quem perdeu foi a igreja, cuja credibilidade ficou mais uma vez exposta por conta do discurso moralista radical do líder da ADVEC.
Assuntos de primeira grandeza tais como a corrupção, a justiça social, a salvação gratuita bancada pela cruz de Cristo, passaram em largo. Tudo girou em torno do seu patrimônio, que o coloca na lista dos pastores mais ricos do Brasil, da teologia da prosperidade (antes combatida por ele) e da homossexualidade.
Como bom debatedor que é, se Silas quisesse, ele conduzia a entrevista noutra direção. Porém, ele sabe que o que dá IBOPE é a polêmica. É disso que vive seu ministério. Trata-se de sua marca registrada. Foi justamente isso que lhe rendeu notoriedade.
O mais conhecido tele-evangelista brasileiro desperdiçou a oportunidade de falar ao Brasil inteiro acerca da graça salvadora de Cristo. Ele vociferou. Foi contundente. Apontou o dedo. E por fim, ouviu dos lábios da Gabi: "Que o meu Deus, que não sei se é o mesmo que o teu, te perdoe" (o que considerei uma deselegância vindo de uma das maiores jornalistas brasileiras)
O mais conhecido tele-evangelista brasileiro desperdiçou a oportunidade de falar ao Brasil inteiro acerca da graça salvadora de Cristo. Ele vociferou. Foi contundente. Apontou o dedo. E por fim, ouviu dos lábios da Gabi: "Que o meu Deus, que não sei se é o mesmo que o teu, te perdoe" (o que considerei uma deselegância vindo de uma das maiores jornalistas brasileiras)
Sabe aquele pit bull que é ótimo pra guardar a sua casa, mas que lhe deixa constrangido pela reação que desperta nas pessoas quando você o leva pra passear? pois é... Tem gente que é ótima para proteger o quintal, mas péssima como relações públicas. Cada um serve a seu propósito... Quem tem ouvidos, ouça. Se quero que as pessoas se sintam bem-vindas à minha casa, prendo o pit bull. Prefiro mantê-lo solto somente à noite, quando vou dormir.
Creio que a igreja até precise de homens como Silas para serem guardiões dos valores morais. Porém, isto não é da conta do mundo. Questões doutrinárias e comportamentais a gente resolve no quintal.
Não será um pequinês que afugentará ladrões. Mas para passear pelos jardins, prefiro a companhia agradável do pequinês à do pit bull.
Lamentavelmente, o mundo continuará olhando para nós com medo de aproximar-se. Novos pregadores assimilarão os trejeitos malafaianos, pois afinal, todos querem ser como ele quando crescerem.
O que o mundo precisa saber é que nos importamos não apenas com valores que nos são caros, mas também com aquilo que diz respeito à todos, independente de credo. A moral não pode pesar mais que a ética. Quem se coloca contra a promiscuidade homo ou heterossexual, também deveria portar-se contra a promiscuidade política. Quem denuncia adultérios, deveria igualmente denunciar as falcatruas feitas com dinheiro público, inclusive para beneficiar instituições ligadas às igrejas.
O que o mundo precisa saber é que nos importamos não apenas com valores que nos são caros, mas também com aquilo que diz respeito à todos, independente de credo. A moral não pode pesar mais que a ética. Quem se coloca contra a promiscuidade homo ou heterossexual, também deveria portar-se contra a promiscuidade política. Quem denuncia adultérios, deveria igualmente denunciar as falcatruas feitas com dinheiro público, inclusive para beneficiar instituições ligadas às igrejas.
Peço a Deus que levante ainda em nossos dias homens como Martin Luther King Jr. que consigam conclamar nosso povo à mobilização por mudanças em nossa sociedade. Como carecemos de líderes, que, por não terem rabo preso com setores políticos, desfrutem de isenção profética para colocarem o dedo nas chagas sociais, denunciar o pecado estrutural, desafiar nosso povo a romper com a cultura do 'jeitinho', etc.
Ainda não perdi a esperança... E, sinceramente, não me importaria se esse cara fosse ele.