Ivan Martins, em Época
Outro dia, em circunstâncias suaves e domésticas, lembrei de um poema do Mario Benedetti que costumava me comover até os ossos. Chama-se Hagamos un trato -Façamos um trato, em português – e fala dos sentimentos de um homem por uma militante política, que ele chama de compañera.
Em linguagem simples e direta, o poema diz, essencialmente, que ela pode contar com ele “não até dois ou até dez”, mas contar com ele, em qualquer circunstância. É um poema de amor que expressa um compromisso político. Ou talvez seja um poema épico suavizado por um toque de amor. Não sei. Vocês leiam e me digam.
Mas é evidente, para mim, que qualquer que tenham sido as intenções do Benedetti, seu poema resume uma verdade essencial: afeto é compromisso. Os problemas do outro passam a ser parte dos meus problemas, minhas dores são em alguma medida as dores dele. Eu cuido dele e ele cuida de mim. Não deixei de ser eu, ele tampouco deixou de ser ele, mas há um projeto que nos vincula e nos torna responsáveis um pelo outro. Voluntariamente. Talvez temporariamente. Mas, enquanto estivemos ligados, será assim.
Em linguagem simples e direta, o poema diz, essencialmente, que ela pode contar com ele “não até dois ou até dez”, mas contar com ele, em qualquer circunstância. É um poema de amor que expressa um compromisso político. Ou talvez seja um poema épico suavizado por um toque de amor. Não sei. Vocês leiam e me digam.
Mas é evidente, para mim, que qualquer que tenham sido as intenções do Benedetti, seu poema resume uma verdade essencial: afeto é compromisso. Os problemas do outro passam a ser parte dos meus problemas, minhas dores são em alguma medida as dores dele. Eu cuido dele e ele cuida de mim. Não deixei de ser eu, ele tampouco deixou de ser ele, mas há um projeto que nos vincula e nos torna responsáveis um pelo outro. Voluntariamente. Talvez temporariamente. Mas, enquanto estivemos ligados, será assim.
Se isso parece consistir um fardo, não é. Dividir é bom. Cuidar também é bom. Andamos tão acostumados a pensar de forma egoísta que a ideia de ser responsável pelo outro nos apavora. Temos medo também de depender da atenção e dos cuidados alheios. Mas tem sido assim por alguns milênios e acho bom que continue. Somos indivíduos, inescapavelmente, mas algo em nós anseia por ligar-se e partilhar de uma forma que não seja superficial ou declaradamente provisória. Quando isso acontece, nos sentimos parte de algo maior que o mercado ou as redes sociais. E há um profundo conforto nisso.
Talvez essa seja o sentido atual do “conte comigo” de Benedetti. Ele expressa uma forma de amor que não está na moda. É algo que se manifesta não apenas como partilha de prazer e hedonismo, mas como potencial de sacrifício. O poema nos lembra que não estamos nessa apenas pelo riso e pela noite inesquecível. Às vezes será inevitável sofrer, fazer coisas chatas, deixar de lado vontades e interesses imediatos. Às vezes será necessário abrir mão. Seremos capazes? Espero que sim.
Quando li Hagamos un trato pela primeira vez, por volta de 1995, ele me pareceu uma promessa de amor em meio à guerra. Benedetti, afinal, era um homem de esquerda. Fora exilado pela ditadura militar em seu país, o Uruguai, e sempre voltara seu arsenal de palavras contra ela. Hoje, com outros olhos, o poema me sugere outros sentimentos, que vão além do contexto político.
O poema, que antes me parecia tão somente romântico, hoje me comove por sua austeridade. Evoca uma promessa de fidelidade que vai além da exclusividade sexual ou sentimental. “Conta comigo” sugere sentimentos e laços profundos, assim como pessoas capazes de sacrifícios e cuidados. Não é a leveza de sentimentos ou a combustão instantânea que estação recomenda, mas me parece aquilo que muitos querem e precisam. Senão hoje, certamente amanhã, quando seremos um pouco melhores e mais sábios.
Nenhum comentário:
Postar um comentário