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segunda-feira, 7 de abril de 2014

Entenda por que o mundo não impediu o genocídio de Ruanda

Em 100 dias, 800 mil pessoas morreram no país africano. Caso é exemplo de omissão de potências internacionais.

Giovana Sanchez
Do G1, em São Paulo

As mortes de ruandeses da etnia tutsi pela maioria hutu começaram antes de 1994, quando ocorreu o genocídio que deixou 800 mil mortos em 100 dias no país. Desde 1990, agências humanitárias e a ONU vinham documentando matanças isoladas e a deterioração da situação no país. Quando o genocídio efetivamente começou, as lideranças políticas foram também avisadas. Então por que, dias depois da retirada de estrangeiros, a ONU não aprovou uma intervenção militar? Por que, ao invés disso, diminuiu o número das forças de paz?



Há muitas respostas para a questão da omissão das potências no caso de Ruanda(veja abaixo a cronologia dos eventos em Ruanda e no mundo). De fato, houve pedidos posteriores de desculpa de governos, como o americano, que tentaram se redimir com uma boa ajuda para a reconstrução.

Segundo a historiadora Cíntia Ribeiro, que pesquisou o tema no mestrado, Ruanda não despertava o mesmo interesse nas grandes potências que a Bósnia, em guerra na época. "A Bósnia, por se tratar de uma região que é importante para a Europa, teve muito mais preocupação das grandes potências do que Ruanda, um país pequeno no centro da África, que não tem nenhum recurso mineral, nenhum interesse econômico, não é nem zona de influência."

Outro fator, segundo ela, foi o fracasso de uma intervenção militar americana pouco tempo antes na Somália. "Eles tentaram uma intervenção [na Somália], mas entram no país sem um conhecimento profundo do que acontece, muito por conta de uma certa arrogância militar. [...] Eles tinham a ideia de que aquilo ia durar três meses, iam sair de lá com uma vitória completa. Um filme que retrata bem isso é 'Falcão negro em perigo'. Eles foram fazer uma operação no centro da capital e um dos helicópteros caiu. O episódio foi televisionado e a comunidade americana ficou chocada. Tudo caiu em cima do [ex-presidente Bill] Clinton. Logo depois disso ficou decidido que eles só interviriam se houvesse extremo interesse, porque ficar fazendo missão de paz só pela questão de direitos humanos não interessava, porque a vida de um soldado americano é muito mais importante. Então quando eles entram no Oriente Médio, por exemplo, é porque existe um interesse efetivo lá, é legitimada a morte de um soldado, ainda que cause grande problemática", disse a historiadora cuja dissertação “O genocídio de Ruanda e a dinâmica da omissão estadunidense” analisa a resposta americana no país africano.

Nigel Eltringham, professor de antropologia da Universidade de Sussex, no Reino Unido, também cita o fracasso da investida americana na Somália no ano anterior como um dos fatores. "Os americanos ficaram chocados com o que aconteceu em Mogadishu e o governo achou que não havia apoio da opinião pública para uma intervenção, então não apoiou o chamado de outras nações para intervir."

Segundo Eltringham, outro fator foi "uma completa falta de entendimento de que o genocídio era um ataque planejado aos tutsis (e hutus moderados) com um objetivo político claro (a manutenção do poder). Em vez de mostrar essa realidade, a imprensa reportou que o conflito era 'tribal' com 'raízes de ódio'. Ao despolitizar o conflito, a mídia deu a impressão de que era um confronto que não poderia ser resolvido, o que era incorreto."

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