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"Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever - inclusive a sua própria história." Bill Gates

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segunda-feira, 28 de abril de 2014

Não desista de si mesmo


Publicado por Lucas Lujan, via Pavablog
Era uma conversa por telefone. Amigo de longe, ser humano bonito. Duvidava de sua coragem para viver. Eu, ao contrário, o julgava forte e seguro. Admirável. Era sensível e sabia tratar as pessoas com carinho.
Enquanto conversávamos, me confundi várias vezes com ele. Enfrentávamos dramas, não semelhantes nas circunstâncias, mas nas dores. Todos que sofrem, não importa o motivo, têm em comum a dor. Esse deveria ser um convite à solidariedade e à compaixão mas, egoístas, insistimos em sofrer sozinhos e ignorar o sofrimento alheio. Tão pequeno de nossa parte.
O remédio para o sofrimento não é deixar de sofrer, é ter com quem reparti-lo. Não sofrer é uma impossibilidade, dividi-lo é empreendimento do amor. Descobrir que alguém sente nossa ferida é o caminho para curá-la, porque a dor se dilui nos corações envolvidos. Quem tem companhia anda pelo vale da sombra da morte sem temer.
Contava-me que pensara em desistir da vida. Tão breve e frágil, muitas vezes perdia o sentido e nem sempre era fácil reencontrá-lo. Divagava sobre todas as inseguranças e incertezas da existência. Ele tinha razão, suas palavras me atingiam e encontravam em mim cabimento.
Tantas vezes pensei em desistir. Entregar-me à correnteza dos dessabores e me afogar no mar do esquecimento. Já quis mesmo me esquecer de mim. Por isso fui honesto e disse a ele que muitas vezes sentia o mesmo, e acreditava que todos, em algum momento, se sentiriam assim. É a inevitável angústia de viver, o desespero humano que nos visita hora ou outra. Legítimo.
Contei para ele sobre quando meu pai deixou minha família. Enfrentamos dias difíceis e amargos. Muitas vezes ouvi minha mãe chorar no banho, porque tentava nos proteger de seu sofrimento e desespero. Falei que ela tinha motivos para desistir.
Mas não desistiu.
Para o desespero humano, um salto de fé. Minha mãe não sucumbiu porque tinha fé. Acreditava que a angústia e o desespero não eram maiores que o amor; que os próximos dias seriam melhores, porque a felicidade era possível. E de fato a vi feliz nos anos que se seguiram.
Então passei a acreditar no futuro também. Vi que ele traz motivos para querer viver. E porque acredito, não desisto. O segredo é reunir forças nos dias bons para enfrentar os ruins.
A vida é bonita, mesmo quando faz careta.  Falei para ele sobre as infinitas possibilidades que estaria perdendo e sobre todos os amores que não viveria se entregando. Falei dos amigos que não faria, da família que não teria e dos vinhos que não experimentaria.
A vida é tão boa que seduziu Deus. Entregue, se fez homem para vivê-la.
Não se trata de ignorar as dificuldades da vida, mas de dar o salto de fé e enfrentá-las com bom ânimo.
Encerrei a conversa com uma alegoria, que construí para nós dois:
“- Pense nas flores dentes-de-leão, amigo. Quando estão secas e o vento sopra forte, se despedaçam e voam para longe. Ficam com a aparência destruída. Mas são suas sementes que voam, e farão brotar mais dentes-de-leão noutros lugares. O mesmo acontece com a gente. Quando o vento nos atinge com violência nos despedaça e destrói, mas nossos cacos logo encontram terreno fértil para renascermos de maneiras novas e bonitas. Sempre que pensar em desistir, lembre que os campos ficariam menos coloridos sem dentes-de-leão.”.

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