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Ricardo Gondim, no seu site
Permitamos, por um pouco, imaginar a vida em opostos. Contraponhamos alto e baixo, quente e frio, necessário e casual, áspero e macio. Desprezemos a média. Vamos nos ater a bem e mal, sem suas nuanças.
O mal é atabalhoado e o bem sabe esperar. Paciente. Sem afobação, entende que serralheiros, especialistas em forjar grilhões, um dia perderão seus lugares. E os poetas, artesãos da beleza, continuarão a falar de espadas fundidas em arados.
O mal é bruto e o bem, delicado. Frágil, carece de proteção; pede que humildes e mansos ousem defendê-lo. O bem é simples, depende de ambientes despretensiosos para sobreviver. Mantem-se com o olhar sobre o indefeso, importa-se com o exilado e procura entender as razões do proscrito.
O mal é irascível e tempestivo, mas o bem, íntimo. Suas origens estão ligadas às entranhas da alma, de onde brotam os afetos. O bem vem do âmago, da medula do espírito. Para sobreviver, não se apóia em estruturas poderosas. Discreto, não carece de luz, como as mariposas.
O mal se impõe e o bem corteja. Atrai por suas insinuações. Seduz, desde as mãos delicadas da fisioterapeuta que exercita o ancião, desde o rosto da assistente social que pesa a criança subnutrida, desde o esforço do voluntário que distribui cobertor para o desabrigado na enchente.
O mal é vago e o bem, concreto. Sua realidade, desce no conta gotas do sangue doado; pode ser atestada pelo empenho do médico estrangeiro quando escolhe viver na Faixa de Gaza; na disposição do rapaz que marcha pela paz, mesmo no frio que congela a ponta do nariz e nas bombas de gás que o fazem chorar.
O mal se dissolve em nada. O bem, que escapou ao pelourinho, há de resistir o perene massacre do opressor. Quando o ódio tenta extingui-lo, renasce na esperança de meninos e meninas. Celebrado das catedrais aos bordéis, o bem se perpetua, simultaneamente, humano e divino, angelical e terreno.
Soli Deo Gloria