![]() |
Héber Negrão, no Paralelo 10 - capturado no Pavablog
Um dos fenômenos da natureza mais belos da região Norte do nosso país é a pororoca, também chamada de encontro das águas. A pororoca ocorre quando o rio se encontra com o mar ou quando as águas de dois rios se encontram. Às vezes, a Pororoca gera ondas grandes em extensão, outras vezes a beleza está em ver duas águas tão diferentes se encontrando sem se misturar.
Esse exemplo ilustra muito bem o que ocorreu em uma das festas mais esperadas entre as igrejas indígenas do Brasil: o 7º Congresso do Conselho Nacional de Pastores e Líderes Evangélicos Indígenas (CONPLEI), realizado de 18 ao 22 de julho no Centro de Treinamento AMI, na Chapada dos Guimarães, MT. O evento reuniu 2.300 irmãos indígenas provenientes de mais de 81 etnias de dentro e fora do Brasil (haviam 15 outros países representados) e foi marcado pela alegria em celebrarmos os 100 anos de evangelização dos povos indígenas do país. Esse fato foi frequentemente enfatizado e reforçado por cada pessoa que tomava a palavra no palco do evento.
Três ondas
O 7º CONPLEI contou com representantes das chamadas “três ondas missionárias” do Brasil. Segundo o missiólogo Isaac Costa, a primeira onda refere-se aos missionários estrangeiros que chegaram ao país e se importaram o suficiente com os indígenas para morarem com eles, mostrando-lhes o amor de Deus. A segunda onda trata-se da igreja brasileira que, mobilizada pelo esforço dos estrangeiros, assumiu para si a responsabilidade de continuar o legado deles (e ao lado deles). E a terceira onda então é a força da igreja indígena se levantando e trazendo para si a responsabilidade de assumir a obra missionária entre seus irmãos. A grande oportunidade da terceira onda é o livre acesso nas aldeias.
Ao longo dos cinco dias do CONPLEI os representantes destas três ondas compartilharam o pão, conversaram nas redes de dormir, louvaram ao Senhor na tenda de reunião e oraram juntos nos momentos de intercessão. Não foram poucas as comparações com Apocalipse 7.9 e 10 onde os remidos de toda tribo língua e nação louvam ao Cordeiro Jesus em alegria e união. Foi lindo ver principalmente nossos irmãos indígenas subindo no palco para darem seus testemunhos e para cantarem suas músicas tradicionais.
Entre os não-indígenas que receberam a oportunidade de ministrar a Palavra podemos citar os irmãos Rocindes Corrêa, de Asas de Socorro; Ronaldo Lidório, do Projeto Amanajé; e Paul Johnson da ALTECO (Amazon and Lowland Tribal Empowrement Coalition). Entre os preletores indígenas podemos citar o pastor Clever MaShiant do Equador; Alfredo Campo, da etnia Nasa, da Colômbia; Pablo Chuve, da Bolívia e os brasileiros Eli Ticuna, Edimar Terena e Marcos Mayruna. Em todos eles era evidente a alegria de fazer parte de um movimento como este no Brasil. Eles enfatizaram que gostariam de ver uma unidade entre os indígenas de seus países.
![]() |
Na tarde do dia 20 aconteceram três reuniões importantes: todos os indígenas participaram da Reunião do CONPLEI, onde foi eleita a nova diretoria e onde decidiram que os encontros nacionais do CONPLEI deveriam continuar. Os missionários brasileiros não-indígenas se reuniram com o Departamento de Assuntos Indígenas da Associação de Missões Transculturais do Brasil (DAI-AMTB). Ali foi definida a data do próximo Fórum do DAI, também foram ouvidas várias sugestões de palestras a serem ministradas neste fórum. Os vários missionários estrangeiros que estavam no evento ouviram Paul Johnson na reunião da ALTECO. O principal discurso da ALTECO é se colocar como servos dos missionários indígenas brasileiros. Seu principal objetivo é dar poder e oportunidade (empowrement) para que os ministérios da terceira onda possam acontecer.
Dentre as oficinas que ocorreram no período da tarde podemos citar as oficinas de Teatro com o grupo Oxygenio, Oficina da AMEI (Associação das Mulheres Evangélicas Indígenas) com Corina Terena, AITE (Associação de Indígenas Tradutores das Escrituras) com Leonízia Tucano, Música Indígena com Rosimeiry Bakairi e Festejando a Libertação com Edson Bakairi. Para os não-indígenas Ronaldo Lidório ministrou uma oficina sobre o apoio à igreja indígena. Nos momentos livres os cantores indígenas podiam procurar um modesto estúdio de gravação para gravarem as músicas que eles fizeram, coordenados por André e Aimee Janzen (Projeto Amanajé), Rosimeiry Bakairi (Centro AMI) e Héber e Sophia Negrão (MEIB). Essas gravações foram disponibilizadas em CD para aqueles que cantaram.
Encerramento: casamento e ceia
![]() |
Duas grandes festas marcaram o culto de encerramento do CONPLEI no dia 22. Paulo Nunes e Betânia celebraram uma belíssima cerimônia de casamento. Paulo Nunes faz parte da organização do CONPLEI e no último evento nacional em 2008 o Pr. Henrique Terena brincou dizendo que faria o casamento do Paulo no próximo CONPLEI. A brincadeira deu tão certo que o casamento realmente aconteceu tendo todos os indígenas e não-indígenas como testemunha.
O culto de encerramento foi importante não somente para celebrarmos uma união matrimonial, mas também para relembrarmos a morte de Cristo. Ministrada pelo presidente reeleito do CONPLEI, Henrique Terena, a ceia do Senhor foi realizada com beiju de tapioca representando o corpo e o açaí representando o sangue (um modo contextualizado e utilizando-se dos recursos disponíveis). Um momento marcante em que todos nós, indígenas, não-indígenas e estrangeiros, lavados pelo sangue de Cristo nos comprometemos, em um ato público e comunal, a anunciar a morte do Senhor até que ele venha.
O próximo encontro nacional do CONPLEI será realizado em julho de 2016 na aldeia terena Córrego do Meio, no Mato Grosso do Sul. Oremos para Deus continue a levantar obreiros indígenas para liderarem a sua igreja nas aldeias. Essa é a maior necessidade nos dias de hoje. Que o número de líderes cristãos indígenas comprometidos com o Reino cresça quando nos encontrarmos daqui a quatro anos no 8º CONPLEI.
Nenhum comentário:
Postar um comentário