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quarta-feira, 28 de março de 2012

Deus odeia pecadores?


Por Hermes C. Fernandes, no seu blog

Desde que me entendo por gente, ouço a frase: Deus ama o pecador, mas odeia o pecado. Jamais ousei questionar isso, pois sempre fez muito sentido pra mim. Deus odeia o pecado por conta do mal que ele nos faz. Portanto, o ódio divino pelo pecado está diretamente ligado ao Seu amor por nós, pecadores.

Apesar disso, deparo-me com passagens bíblicas que afirmam que Deus não odeia apenas o pecado, mas também o pecador.

Tomemos como exemplo Provérbios 6:16-19, onde lemos:

“Estas seis coisas o SENHOR odeia, e a sétima a sua alma abomina: Olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, o coração que maquina pensamentos perversos, pés que se apressam a correr para o mal, a testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas entre irmãos.”
Fica claro que Deus não odeia apenas a mentira, mas também que a profere. Assim como também odeia o que engendra pensamentos malignos, quem promove contendas entre irmãos, quem possui olhar arrogante, entre outros mais. O salmista é ainda mais abrangente ao declarar que Deus odeia “a todos os que praticam a maldade” (Sl.5:5). Ele odeia ao “ímpio e ao que ama a violência” (Sl.11:5). Basicamente, estas são as passagens mais usadas para respaldar o ódio que Deus nutre pelos pecadores.

Para alguns, jamais deveríamos afirmar que Deus ama igualmente a todos os homens, posto que alguns seriam alvos exclusivamente de Sua ira. Deus não poderia amá-los e odiá-los ao mesmo tempo.

Em cima desta compreensão, a meu ver equivocada, manifestações têm sido promovidas por cristãos ultraconservadores, ostentando placas que trazem inscrições do tipo “Deus odeia os gays”, “Deus odeia Lady Gaga”, e pasmem, “Deus odeia o Brasil”.

Somente os eleitos seriam alvo do amor de Deus. O resto da criação estaria sob a Sua ira por toda a eternidade.

Será que é isso que encontramos nas Escrituras?

De acordo com Paulo, “todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também” (Ef.2:3). Portanto, mesmo os eleitos já estiveram um dia sob a ira justa de Deus. Será que neste tempo, Deus deixou de amá-los? Claro que não!

Deus não passou a amar-nos quando fomos atraídos a Cristo. Pelo contrário, Ele nos amou mesmo quando estávemos mortos em nossos delitos e pecados. Ele mesmo afirma: “…com amor eterno te amei, por isso com benignidade te atraí” (Jer.31:3). Ele nos atraiu por nos amar desde a eternidade. Mesmo quando estávamos sob Sua ira, Ele não retirou de nós o Seu amor.

O próprio Jesus declara que “aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece” (Jo.3:36). Ora, se sobre uns a ira de Deus permanece, é porque sobre outros ela é retirada.

O ponto que quero enfatizar é a possibilidade de Deus amar, mesmo enquanto odeia. Ele odeia aquilo em que nos tornamos, por causa do pecado, mas ama aquilo que Ele nos criou para ser. Apesar de odiosos, somos amados.

Mesmo os répobros são alvo do amor de Deus. Repare no que diz o salmista: “Piedoso e benigno é o Senhor, tardio em irar-se e grande amor. O Senhor é bom para todos tem compaixão de todas as suas obras” (Sl.145:8-9). Ora, se é verdade que o Senhor fez todas as coisas, “até o ímpio” (Pv.16:4), logo, Deus também o ama. Caso o contrário, não poderíamos afirmar que Ele tem compaixão de todas as suas obras.

Um exemplo disso pode ser encontrado no episódio em que Jesus é abordado por um jovem rico. O texto diz que “Jesus, olhando para ele o amou” (Mc.10:21). Não obstante, ele recusou a oferta de Jesus, e saiu triste por não querer abrir mão de suas riquezas pela vida eterna. Portanto, sobre ele permaneceu a ira de Deus.

Quando um filho meu apronta, naquele instante sinto ódio dele, mas nem por isso perco o meu amor. A diferença é que a ira é momentânea, mas o amor é eterno. O salmista diz que a ira de Deus dura só um instante, mas no seu favor está a vida (Sl.30:5).

Até quando está irado, Deus não desiste de amar. É Seu amor teimoso a razão de sobrevivermos à Sua justa ira. O profeta Habacuque conclui que mesmo na ira, Deus lembra-se da misericórdia (Hc.3:2). Só por isso não somos consumidos. Enquanto Sua ira, além de tardar, dura um momento, Suas misericórdias se renovam a cada manhã.

A ira de Deus é a Sua reação ao pecado. Porém, o amor é aquilo de quê é constituído o Seu ser. Deus pode eventualmente irar-se, mas jamais deixa de ser amor. Deixar de amar seria aniquilar-se, deixar de ser Deus, negar Sua própria natureza. E a todos quanto ama, Ele os ama eternamente.

Um comentário:

  1. Gostei deveras.
    Bastante esclarecedor e dissipou de vez minhas dúvidas quanto a este assunto.
    Grata pela partilha.

    "A diferença é que a ira é momentânea, mas o amor é eterno". Inesquecível!
     

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