A explicação para isso está na lógica da compaixão e do eufemismo. Consta que a região vivia na época, devido a uma deficiência crônica de iodo em sua dieta, uma endemia de casos de disfunção da tiroide, com grande número de pessoas sofrendo de retardo no desenvolvimento físico e intelectual.
Chamar essas pessoas de crétins era uma forma de se condoer de seus problemas e enfatizar sua humanidade. Como dizer que, apesar de tudo, elas também eram filhas de Deus.
Essa ligação se perdeu quando, no século 18, a palavra dialetal dos Alpes foi incorporada à corrente principal da língua francesa, em que cristão é chrétien. A recém-chegada designava apenas quem sofria de crétinisme, termo médico cunhado a partir dela em 1786, segundo o Trésor de la Langue Française. Ao se espalhar para outras línguas, já não restava ao termo o menor traço de compaixão ou eufemismo.
Em português, cretino e cretinismo foram dicionarizados no fim do século 19. Como se sabe, as palavras não ficaram restritas ao território médico: como já havia ocorrido em outros idiomas, cretino passou a ser empregado entre nós como termo ofensivo, sinônimo de idiota e, num desenvolvimento semântico que parece ser uma originalidade brasileira, também de “inconveniente, atrevido”.