Diego Schaun, no Terra Magazine
Quando o cientista Willard Libby descobriu a datação por carbono-14, ele não tinha a mínima noção do problema que acabava de criar. Nos anos quarenta, com toda a loucura da II Guerra Mundial, afirmar com exatidão a idade de fósseis, porcelanas, madeiras, tecidos e outros objetos arqueológicos, era um perigo. Por quê? Porque qualquer coisa que fosse instigante, perfeita, letal ou inovadora poderia cair em mãos erradas, a exemplo do avião, da bomba atômica e das armas de fogo. Até a persuasão, coitada, persuadiu-se em bocas bigodudas.
As coisas importantes surgem em épocas comuns. Nossos ancestrais viviam bem melhor do que nós quando ainda não existia a roda. Sem juros, novelas do SBT ou twitter… Mas a roda surgiu. Ninguém sabe ao certo quem inventou a simplória e genial máquina rotativa. Na era do bronze as pessoas não pegavam nenhuma cor. Por isso algumas civilizações cultivavam o ato da pintura corporal (isso foi uma piada). E assim qualquer relógio de hoje consegue fazer tic tac e informar a hora certa.
Às vezes passo horas imaginando a utilidade de cada coisa criada. A mão vai à torneira para abrir e sai água. O dedo aperta o botão e a TV é ligada. O cadarço segura as abas do tênis. A agulha perfura a veia e suga o sangue. Uma agulha cilíndrica, oca por dentro, como um cano… Que engenhoca! Mas, a mesmice do dia a dia nos engana e torna a nossa mente igual a uma terra arada, pronta para receber a semente. A mão planta o grão, o caule surge tímido e a vida nasce de dentro da terra, ou do cérebro. Isso não nos encanta mais. Nunca mais. O século XXI procura outras distrações, encantamentos, devoções e surpresas. E a gente tem que dançar conforme a música! Somente o Barrichello ficou para trás…
Outro dia os jornais anunciavam os protestos do dono da Record mediante a novela Salve Jorge, que estreou recentemente na tela da arquirrival Rede Globo. Segundo o bispo Macedo, o culto ao santo católico era um ato de profanação ou idolatria. Macedo ainda comparava a novela à série Rei Davi, dizendo: “Quem é mais importante? Davi, o rei que agradou ao coração de Deus, ou Jorge, um deus pagão travestido de santo? Quem merece sua atenção? Quem é o verdadeiro exemplo?”.
A tropa recordiana tem todo o direito de criticar qualquer coisa, principalmente a Globo. Afinal, rival é rival. Uma emissora cristã deve ter inimigos! Para combatê-los, precisam criar novelas ou séries com conteúdos educativos, cristãos, etc. Só não entendi qual é o lado cristão e moral do programa “A Fazenda de Verão”. Ah, me lembrei. Deve ser para hostilizar o despudor de Gabriela. Levando em consideração o término recente da micronovela global, ninguém sabe ao certo o plano do Bispo. Já que ele é um homem de Deus, a aprovação e exibição do programa “A Fazenda de Verão” deve ter algum motivo muito nobre, acima de ninharias como ibope, propagandas e entretenimento de mentes férteis, loucas para germinarem sementes bestiais.
Sim, os homens criam coisas desnecessárias na hora H. Mudam o curso dos rios por causa da evolução. Escrevem canções depois de tertúlias banhadas a conhaques baratos. Leem crônicas ao invés de lápides. Odia de finados é dos vivos. Inventar futilidades é a melhor ação, em algumas ocasiões. Alterar o plano de voo faz-nos viver com brilho nos olhos. Tudo muda o tempo todo no mundo! Por isso o Rei Roberto Carlos novamente faz a trilha sonora da noite dos brasileiros. Ele afirma de segunda a sábado que nós somos “os caras”. Pois é, esse cara sou eu! Somos nós.
imagem: TV Record/reprodução