Por Josemar Bessa, no Púlpito Cristão
Cristo vem primeiro para me matar e então me fazer de novo.
“Quem achar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida, por amor de mim, achá-la-á” – Mateus 10:39
“Porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.” – Colossenses 3:3
Jesus deixa claro aos seus discípulos que eles também suportarão a cruz, que Ele vai à frente, mas que eles o seguirão no caminho do Calvário. Suportarão a cruz, não por seus pecados ( Isso era o que Jesus faria por todos nós ) mas pelo testemunho da Verdade num mundo consagrado a mentira.
“Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas. Acautelai-vos, porém, dos homens; porque eles vos entregarão aos sinédrios, e vos açoitarão nas suas sinagogas; E sereis até conduzidos à presença dos governadores, e dos reis, por causa de mim, para lhes servir de testemunho a eles, e aos gentios.” – Mateus 10:16-18
A perseguição virá, diz Ele, até mesmo de pessoas próximas como familiares e irão entregá-los as autoridades… “E o irmão entregará à morte o irmão, e o pai o filho; e os filhos se levantarão contra os pais, e os matarão. E odiados de todos sereis por causa do meu nome…” – Mateus 10:21-22 –
Tudo aquilo que Cristo tinha dito a eles em secreto, Sua identidade, a verdade do evangelho… Eles deveriam proclamar ousadamente num mundo hostil: “Portanto, não os temais; porque nada há encoberto que não haja de revelar-se, nem oculto que não haja de saber-se. O que vos digo em trevas dizei-o em luz; e o que escutais ao ouvido pregai-o sobre os telhados. E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo” – Mateus 10:26-28
Cristo diz aos discípulos que o temor a Deus deve prevalecer sobre o medo de qualquer adversário humano… “Porque eu vim pôr em dissensão o homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra; E assim os inimigos do homem serão os seus familiares.” – Mateus 10:35-36 – A verdade é que chegará a hora de cada um de vocês tomarem sua própria cruz: “E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim.” – Mateus 10:38
Essa é uma ênfase essencial que tem sido esquecida no “evangelho” proclamado estridentemente em nossa geração. Diante de sua própria crucificação Jesus repete: “Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á.” – Mateus 16:25
Pouco tempo depois de sua morte e ressurreição a realidade de todas essas declarações de Cristo aos discípulos invadiram a vida deles. Como dominós,um por um vai caindo em meio a perseguição implacável. Um homem como Pedro, que havia negado a Jesus, morreu crucificado… e essa é apenas uma variação da história de cada um deles. Então, o que significa para todos nós essa afirmação: “Quem achar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida, por amor de mim, achá-la-á” – Mateus 10:39?
O contexto imediato era a perseguição iminente dos discípulos, e na verdade, de toda a Igreja de Cristo. Aqueles que se apegam a vida como ela é, como o mundo a vê, a persegue e abraça, jamais desfrutou da vida eterna. Todas as realizações e títulos dessa vida passageira e breve se empalidecem em comparação com as riquezas da herança que os santos tem em Cristo – “Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada… Porque em esperança fomos salvos. Ora a esperança que se vê não é esperança; porque o que alguém vê como o esperará? Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o esperamos.” – Romanos 8:18-25.
Nós podemos imaginar como essas passagens falam claramente ao sofrimento de cristãos verdadeiros em países muçulmanos… mas como isso fala as nossas vidas no mundo ocidental? No Brasil? Gostamos de pensar que sofremos de um modo diferente dos mártires… mas que também compartilhamos do sofrimento de Cristo. Mas os sofrimentos que Jesus tinha em mente não são os problemas gerais da vida que os crentes enfrentam juntamente com todas as pessoas que não tem nenhum relacionamento com Cristo – dificuldades, doenças físicas, crises financeiras… Os discípulos estavam sofrendo por causa do testemunho de Cristo – esse é o contexto do que Cristo estava dizendo a eles e a nós.
Como isso se aplica a nós se nós não nos encontramos ameaçados de morte por causa do evangelho? Temos mais dificuldade de ouvir e aceitar a clara exortação de Cristo num mundo como o nosso. Onde a cruz é apenas um símbolo que não está mais associado ao que a cruz realmente significa, é um acessório que ostentamos, vazio de significado verdadeiro.
Ao invés de termos um Império Romano nos acossando e nos levando a morte, somos todos os dias levados pelo demônio para o deserto de nossa cultura, tentando encontrar nossa identidade nos mesmos lugares, nas mesmas coisas que o mundo ao nosso redor, simplesmente com a tola tentativa de cristianizar essas coisas a medida que a cultura a nossa volta nos encanta. Não somos perseguidos, no deserto no qual somos tentados, a tentação é que os reinos deste mundo serão nossos se nós simplesmente nos afastarmos do Calvário ( o mesmo proposto a Cristo no deserto por Satanás ) – Então a verdadeira cruz sumiu, porque o “evangelho” de nossa geração cobiça ardentemente os reinos deste mundo.
Em nosso deserto, não somos tentados a nos tornar não cristãos, “renunciar” a Jesus Cristo. Na verdade o nome Jesus Cristo pode até ser “onipresente” para nós – em shows, canecas, camisetas, canetas, redes sociais… mas na direção de tudo o que é necessário para o caminho oposto ao do Calvário, na insistência de querer ganhar a vida e não perdê-la e nos apegarmos aos valores, aspirações, necessidades sentidas e todas as relações que nos definem agora e que escolhemos para nós mesmos, ao invés de nos apegar a identidade que Deus em Cristo escolheu para nós. Nossa geração está tentando ganhar a vida e não perdê-la: “Quem achar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida, por amor de mim, achá-la-á” – Mateus 10:39
A clara advertência de Cristo sobre encontrar a nossa vida perdendo-a, entra no foco de nossa visão real quando fazemos a nós mesmos a pergunta: Eu defino a história de Jesus ou Jesus define a minha história? Os objetivos de Cristo dão significado universal a minha existência, ou eu defino o significado de minha vida e o significado de Cristo na minha vida? A palavra de Paulo a todos nós é: “Porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.” – Colossenses 3:3
Nada pode ser mais radical que isso. De acordo com a verdade do Evangelho, “eu” realmente está morto, não existe mais. Nossa identidade não é mais definida pela história que construímos. Nada poderia mudar minha identidade senão a radicalidade da cruz. Minha natureza “em Adão” é corrupta, escrava do pecado e da morte. Minha identidade já não tem nenhuma relação com aquilo que define a identidade de todas as pessoas não regenerados ao meu redor neste mundo. Mesmo na mais “sublime moralidade” do homem natural, sua ânsia por espiritualidade… ele não passa de um idólatra – e eu, em “Adão”, estava preso a esta mesma coisa que aprisiona todos os homens. Outra e outra reforma não alteraria em nada a essência da minha existência, a formação da minha identidade. Eu devo ser crucificado e sepultado com Cristo, e com Cristo devo ressuscitar para novidade de vida.
A tentativa de manter nossa autonomia, nosso “auto-governo” simplesmente adicionando Jesus a nossa vida, encaixando ele em nossa vida com todas as coisas em comum com o mundo que formaram nossa identidade, o transforma em mero acessório. Nos tornamos como os romanos nos dias de Cristo, sempre havia um lugar no seu panteão para mais um deus… foi a completa negação da ideia de que Cristo pode ser acrescentado assim que levou os primeiros cristãos para o Coliseu. Tornar-se cristão (quando regenerados pelo Espírito) significava ( e jamais significará outra coisa não importanto as mudanças da cultura humana que vai se metamorfosiando…) renunciar a todos os senhores que definem a vida e a identidade de todos os homens naturais, a fim de estar unidos a Cristo.
A salvação prometida por Deus em Cristo requer a morte. Não posso “alegremente” simplesmente dar um papel a Jesus na minha vida ( junto com os papéis que dei a tantas outras coisas que definem a minha identidade ) como algo útil na construção e na busca de alcançar meus objetivos traçados por mim mesmo baseados na identidade formada pelo mesmo mundo que forjou a identidade de todos os homens em “Adão”.
O evangelho diz que o personagem escrito por mim mesmo está condenado a morte. Que eu devo renunciar todo o roteiro que já tinha sido construído nas bases que governavam minha vida em “Adão”. Eu devo abraçar incondicionalmente o roteiro que Deus estabeleceu para minha vida. A Boa Nova do evangelho é que eu não sou mais um filho de Adão, morto em delitos e pecados ( Ef 2.1) – agora sou filho de Deus em Cristo, e se de fato fui transformado pelo evangelho e sou uma nova criatura, eu já não vejo de modo algum Deus como existente para me fazer feliz, satisfazer minhas necessidades sentidas, nem mesmo para me dar simplesmente um sensação de bem-estar adicionando alguma sugestões e melhoramentos a minha velha vida.
Ele vem primeiro para me matar e então me fazer de novo. Eu paro definitivamente de fingir que posso escrever a história da minha vida. Cristo não vem me ajudar a continuar a escrever a história da minha vida de forma melhor, com sugestões e acréscimos… Através da obra perfeita de Cristo, da Regeneração, Justificação… pela ação de Deus, pela fé me dada soberanamente, pela manifestação da Graça de Deus em minha vida, me torno um personagem da história de Deus, apenas parte da nova criação.
“Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” 2 Coríntios 5:17
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Josemar Bessa é casado com Cláudia, pai do Matheus e Thomás, músico, pastor, reformado, calvinista e flamenguista.
Josemar Bessa é casado com Cláudia, pai do Matheus e Thomás, músico, pastor, reformado, calvinista e flamenguista.
Fonte: Fides Reformata