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"Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever - inclusive a sua própria história." Bill Gates

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segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A estrada, Deus e mamãe

imagem capturada na Internet


Ricardo Gondim, no seu site
Embora não cesse de repetir o óbvio dos óbvios – a vida é curta – olho para trás.  Busco traços do que a poeira do tempo soterrou.
Posso me valer da metáfora de uma estrada para descrever a minha vida. Desde muito encarei sendas íngremes. Desde a adolescência, tive que enfrentar montanhas, despenhadeiros, escarpas perigosas. Topei com o incômodo social de ter um pai preso político. Tentei driblar o desconforto familiar de ver mamãe obrigada a morar na casa dos seus pais. Convivi com a tristeza de não poder estudar em melhores escolas.
Nessas trilhas, vi-me obrigado a encarar dificuldades maiores do que os meus talentos. Na angústia de precisar desdobrar-me, compreendi: não existem estradas fáceis. Caminho largo não passa de ilusão – e muitas vezes tentação satânica. Hoje sei: se meu itinerário nunca foi fácil, o de ninguém é.
Se progredi em alguma área, devo à paciência dos pais, parentes, amigos, mestres, companheiros. Cedo aprendi que não me bastaria. Só canhotos sabem o que é sentir-se inadequado pelo simples fato de ser canhoto. Empurrado pelo constrangimento de não poder admitir publicamente que papai era um “subversivo”, acabei tímido nas relações pessoais. Sempre precisei que os outros tomassem a iniciativa de começar algum diálogo. Muitas vezes só venci porque peguei carona na inércia do entusiasmo alheio. Acabei me esforçando só para não passar pelo vexame da covardia.
A distância que me separa da imaturidade não é grande. Não refaço o meu trajeto, olhando de cima para baixo. Meus passos continuam incipientes e os patamares que galguei, baixos. Permaneço no meio da picada, esperando que outros venham ao meu encontro, e me estendam a mão.

Alguém já disse que os homens nunca abandonam a busca do colo materno, que os abrigou da fome, do abandono e do medo. Não temo admitir que a minha busca é igual a de todos.
Sigo. Vou por uma estrada, sem negar a “noite escura da alma”, o deserto e a cruz. Meu grito coincide com o do Nazareno: “Por que me abandonaste?”
Pretendo alongar a jornada por mais alguns anos – ah, como espero! Será se temerei novos perigos? Estou certo de que, nos amigos, nas parceiras e nos acenos mínimos de amor, conseguirei perceber Deus; o mesmo Deus que um dia se pareceu com uma mulher e me fazia dormir, dizendo: estou aqui.
Soli Deo Gloria

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