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José barbosa Junior, no seu blog
Gosto de reler textos bíblicos como se nunca os tivera lido. É um bom exercício. Não é fácil, mas é bom.
Somos contaminados por muita coisa antes de chegar ao texto, logo nossa leitura é, na maioria das vezes (se não todas), viciada. Já sabemos o significado antes mesmo de ler o texto.
Temos a resposta antes da pergunta.
Hoje me peguei lendo Mateus 6.33 – o famoso “buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça…”
Logo vieram à mente as interpretações mais conhecidas. Destaco a que mais ouço por aí (e que, por muito tempo, defendi):
“Deus tem que ser prioridade em nossa vida. Primeiro Deus, depois o resto.” E ainda arriscam uma lista de “prioridades”:
1) Deus
2) Família
3) Trabalho
4) Igreja
5) Pessoas
A lista é interminável, mas a “cabeça” é sempre essa, às vezes variando os itens 2, 3 e 4.
Só há um detalhe esquecido:
Jesus não fala para se buscar a Deus em primeiro lugar.
Ele fala para se buscar o Reino de Deus. E o Reino de Deus é diferente do Deus do Reino. No Reino, Deus já está, mas muitas vezes quando se busca “só a Deus”, esquece-se do Reino.
Mas há outros detalhes que passam despercebidos, ou não.
Se o dever é buscar o Reino, a busca já não é “lá e além”, em “jejum e oração”, porque o Reino está ENTRE nós.
Evangelho! Boa Notícia! O Reino de Deus chegou!
Se chegou, está! Se está, permanece! Se permanece, permanece ENTRE nós!
Então, buscar o Reino de Deus não é buscar a “Deus”, distante e metafísico, mas um desaguar na direção do outro, tangível, que se abraça, que é de carne e osso.
Buscar o Reino de Deus é caminhar entre as gentes.
Buscar o Reino de Deus é buscar pessoas.
Se não caminhamos entre as pessoas. Se não experimentamos suas dores e alegrias. Se não sentimos seus medos e excitações… não estamos buscando o Reino. Estamos adorando um ídolo.
E não é só o Reino… é o Reino e sua justiça.
Então, se não busco a justiça ENTRE as pessoas, de nada adiantará a “intimidade” que digo ter com o Rei do Reino.
Buscar a justiça ENTRE as pessoas é lutar pelo que não tem direito (escrevo quando o silêncio parece reinar entre os cristãos no caso do genocídio dos Guarani-Kaiowa).
Buscar a justiça do Reino é lutar pelo direito do gay de ter sua união legitimada pelo Estado.
Buscar a justiça do Reino é defender o direito de qualquer um manifestar sua religião, livremente, sem pechas de “amaldiçoado”.
Buscar a justiça do Reino é, enfim, amar as pessoas ENTRE as quais o Reino se manifesta: TODAS.
O problema é que os que buscam “a Deus” em primeiro lugar são exatamente os que não acolhem o Reino ENTRE. São os que condenam ao inferno os que pensam diferente. São os que estão mais preocupados com a novela do que com a realidade. Buscam a si mesmos, e chamam de “Deus” suas neuroses e preconceitos.
Mas ainda há esperança. Há uma voz clamando no deserto:
“O Reino de Deus chegou”!