Samy Dana e Leonardo Siqueira, na Folha de S.Paulo
A última semana foi marcada pelos protestos contra o aumento das passagens de ônibus pelo país; parece que a manifestação originada em São Paulo está escrevendo um capítulo da história.
Mas será que nossa passagem de ônibus é tão cara? Pesquisamos o preço das passagens de ônibus em dez cidades ao redor do mundo e os comparamos com Rio e São Paulo, onde os protestos foram mais intensos.
Muitas análises pesquisam o preço na moeda local e os transforma em dólar. Esses resultados chegam à mesma conclusão: o Brasil está longe de ser o local com passagens mais caras -São Paulo e Rio são mais baratas, pela ordem, do que Londres, Tóquio, Ottawa (Canadá), Nova York, Lisboa, Paris e Madri.
Esse tipo de análise é superficial, pois não considera o salário médio; ou seja, um dólar num país ser mais fácil de ganhar do que outro.
Mais realista é levar em conta o preço das passagens em minutos trabalhados, considerando, portanto, a renda média e as horas trabalhadas em cada cidade.
Ao classificar os preços pelos salários, São Paulo e Rio têm as passagens mais caras.
O paulistano tem que trabalhar 14 minutos para pagar uma passagem. Para o morador do Rio, são 13 minutos.
São superiores aos quatro minutos dos chineses.
Talvez as manifestações não sejam contra o aumento de R$ 0,20 na passagem, mas contra um transporte que não apresenta os serviços encontrados ao redor do mundo.
Como diria o ex-prefeito de Bogotá, Enrique Peñalosa, “a cidade avançada não é aquela em que os pobres andam de carro, mas aquela em que os ricos usam transporte público”. O que está acontecendo aqui parece ser o oposto.
SAMY DANA é Ph.D em business, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas) e coordenador do núcleo GV Cult
LEONARDO SIQUEIRA DE LIMA é economista pela FGV
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