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"Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever - inclusive a sua própria história." Bill Gates

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terça-feira, 11 de junho de 2013

Por uma fé que se torna cultura



Uma fé que não possa ser partilhada e vivenciada de modo significativo pelas pessoas a partir do seu contexto cultural não vale a pena ser vivida. É celebre a formulação do papa João Paulo II: “Uma fé que não se torna cultura é uma fé que não foi plenamente recebida, não inteiramente pensada, não fielmente vivida”. O cristianismo sempre vagueou entre a inculturação e a globalização da fé, entre uma fé que se expressa no contexto da cultura e a universalização de valores e princípios que orientam a vida de fé. A grande questão que envolve a teologia tem a ver com a maneira como se torna possível vivenciar a chamada “fé uma vez por todas confiada a santos” (Judas 1.3).

Uma fé assim tem a ver com a identidade de uma comunidade local, com a maneira como as pessoas enfrentam seus conflitos de vida. Isso é o que está presente no cotidiano da vida comunitária, é o que encoraja as pessoas diante da crise, é o que ilumina a busca de sentido, é o que fortalece a esperança e o que aponta um futuro. Uma experiência de fé assim está sujeita a uma atualização constante, carece de aperfeiçoamento a partir de um processo permanente de diálogo. Já houve tempo em que fazer missão era exportar um modelo cultural, confundido-se unidade com uniformidade.

O fenômeno da globalização, marcado pelas novas tecnologias de informação, permite um fluxo cultural maior entre o global e o local num efeito de complementaridade. Daí a máxima “pensar globalmente, agir localmente”. O que se percebe é que o global é sempre assimilado localmente de uma forma muito particular, de modo que a experiência de uma cultura local só pode ser compreendida à luz de paradigmas globalizados. E isso se dá no campo da fé também.

A realização da missão no contexto da cultura é a característica principal do Reino de Deus. Nesse sentido, Jesus afirmou que seu Reino não é deste mundo, mas que é trazido para as pessoas que nele vivem como realização plena de sua humanização. A realização do Reino em diferentes épocas e em diferentes espaços traz exigências para a vida de fé. Sua essência permanece, mas suas formas de expressão podem mudar, como mudou ao longo da história.

O que é comum todos os povos, línguas e nações é a graça salvadora, revelada na pessoa de Jesus de Nazaré e proclamada no Evangelho. Trata-se de uma iniciativa divina de se autocomunicar com a humanidade toda, de modo que a fé deve ser entendida sempre como a resposta a esse gesto de Deus. Fé que não acolhe o gesto divino como graça não faz sentido. O gesto divino se realiza nessa acolhida de fé por parte das pessoas e se expressa por meio das representações e ações no âmbito da cultura. O humano é marcado pela cultura. É por causa dela que fazemos uso da linguagem e de gestos para interagir com outras pessoas. Sendo assim, toda a revelação só é compreendida como inculturada. Não dá para falar em uma fé pura, mas que é sempre vivenciada no interior de uma realidade cultural.

Uma fé que não se expressa através das habilidades e talentos das pessoas em seu contexto cultural carece de aperfeiçoamento. Uma comunidade de fé que não consegue compreender isso não alcançou o sentido da missão e precisa rever seus conceitos. Além disso, a vida marcada pela fé envolve a experiência com o transcendente de modo tal que a graça salvadora se manifesta de forma diversa para o bem comum. É a fé que expressa como dom, é a graça que se torna concreta nas ações em favor do outro. Dons espirituais são amostras da multiforme graça de maneira que possa ser acolhida em fé. Uma fé que se transforma em dom, talentos e habilidades é o que permite que a missão seja levada a efeito e de tal modo que possa ser relevante para um tempo que aprendeu a viver sem Deus.

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