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quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Lenine, Spurgeon e Salomão

LeninePor Rodrigo Ribeiro
Nem todo dia o sol brilha com a mesma intensidade. Em nossa existência também iremos nos deparar com o céu nublado e até mesmo tempestades torrenciais. A mentira habita nos lábios daquele que propaga uma verdade diversa desta, ainda mais se esta fábula for direcionada aos cristãos, uma falsa promessa de vida mansa e pacífica, distante de tribulações. Certo é que todos já encaramos e também iremos encarar tempos difíceis em nossa vida, a grande questão é somente uma: como iremos líder como eles? Seremos despedaçados em meio à turbulência ou iremos sair dela mais fortalecidos?
Neste sentido, dentre várias preciosas orientações de como lidar com os tempos nebulosos da vida, destaco uma frase do príncipe dos pregadores, o Pastor Batista Charles Spurgeon que afirmou que “aqueles que mergulham no mar das aflições trazem pérolas raras para cima”, apontando para soberania de Deus e sua maravilhosa providência, que nos fez descansar certos de que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus (Romanos 8:28).
A respeito deste dilema onipresente nos corações humanos, é possível perceber ainda uma profunda e verdadeira reflexão vinda de um lugar inesperado, pelo menos para alguns mais ascéticos. Também existem verdade e graça fora dos muros eclesiásticos, ainda não seja a graça salvífica, mas sim a comum, pois “toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.” (Tiago 1:16-17) e nisto está incluso a boa arte, assim como a boa ciência e etc.
No instante que o movimento gospel declina de uma teologia saudável, especialmente em temas como o sofrimento, Deus tem levando pedras para clamar. E vos apresento neste instante uma breve reflexão num destes clamores, nos instruindo a respeito de uma forma de lidar com os dias maus em perfeita consonância com a verdade bíblica. Observem a letra da canção “Eu Envergo Mais Não Quebro” do Pernambucano Lenine:
Se por acaso pareço
E agora já não padeço
Um mal pedaço na vida
Saiba que minha alegria
Não é normal todavia
Com a dor é dividida
Eu sofro igual todo mundo
Eu apenas não me afundo
Em sofrimento infindo
Eu posso até ir ao fundo
De um poço de dor profundo
Mais volto depois sorrindo
Nesta etapa inicial da música, especialmente na estrofe em negrito, podemos observar uma nítida semelhança com a perspectiva apresentada no inicio pelo Pastor Batista Charles Spurgeon, com base nos escritos do Apóstolo Paulo. De fato ainda que sejamos submersos pelo mar bravio das aflições, não devemos sucumbir em meio à dor, devemos retornar a superfície trazendo uma pérola preciosa, com um retumbante sorriso nos lábios. A mesa verdade é manifesta nas palavras destes dois homens, e só porque um incrédulo (Lenine) falou não podemos descartar uma verdade tão visível. Ela também vem de Deus.
Em tempos de tempestades
Diversas adversidades
Eu me equilíbrio e requebro
É que eu sou tal qual a vara
Bamba de bambú-taquara
Eu envergo mas não quebro (2x)
As adversidades certamente nos acometem, mas nessa hora é preciso compreender que ainda que moídos, torcidos, envergados, não devemos desfalecer, pois não seremos quebrados. O choro pode durar uma noite, ou várias, mas amanhã irá despontar na alvorada. O que nos resta? Nos equilibrar e aguardar o raiar do sol.
Não é só felicidade
Que tem fim na realidade
A tristeza também tem
Tudo acaba, se inicia
Temporal e calmaria
Noite e dia, vai e vem
Neste momento é possível chamar o Rei Salomão para tomar parte na melodia, visto que ele mesmo em Eclesiastes 1, versículos de 2 à 7, nos informa, sob a inspiração do Espírito Santo, que não há nada de novo debaixo da terra e que tudo é vaidade, de modo que o sol nasce e depois se põe, as gerações vem e vai, o mar sempre corre para o mar e assim por diante. Tudo sempre começa e termina, num ciclo sem fim. O temporal e o dia mau não fogem desta regra. Aparentemente o mesmo inspirador este por trás destes versos. E por que não?
Quando é má a maré
E quando já não dá pé
Não me revolto ou me queixo
E agora o músico envergonha uma multidão de religiosos que não se contentam em murmurar contra a providência de Deus, mas chegam ao disparate de coloca-lo na parede, ordenando que mude a sorte deles, restituindo e lhes dando um bom tempo. Lenine, embalsamado na graça de Deus, nos apresenta outro caminho, que não é novo: a piedade com contentamento, que nos é ensinada por Paulo em 1 Timóteo 6.6-8. Mais uma voz o apóstolo participa da melodia popular brasileira.
E tal qual um barco solto
Salto alto mar revolto
Volto firme pro meu eixo
Em noite assim como esta
Eu cantando numa festa
Ergo o meu copo e celebro
Os bons momentos da vida
E nos maus tempos da lida
Eu envergo, mas não quebro (4x)

Por fim, para terminar com chave de ouro, a poesia musicada nos indica mais uma postura: aproveitar e celebrar os dias bons, como forma de nos equipar para suportar os inevitáveis dias maus. Mas uma vez precisamos nos arvorar na antiga e sempre atual sabedoria de Salomão que corrobora com o cantor pernambucano: Vai, pois, come com alegria o teu pão e bebe com coração contente o teu vinho, pois já Deus se agrada das tuas obras. (Eclesiastes 9:7). E contexto do texto em questão é exatamente este: o homem não controle sobre o bem ou mal que lhe é acometido, sendo assim, ele deve aproveitar as bênçãos de Deus e descansar Nele, pois o Senhor se agradou de antemão de suas obras.
Diante desta análise gostaria de sugerir duas reflexões oportunas: primeiramente, não limite a verdade de Deus às quatro paredes do templo. A igreja é sim o baluarte da verdade, mas a graça de Deus ainda se encontra em várias manifestações e ignorar isto, rejeitando as coisas pela fonte e não pelo conteúdo, significa ingratidão contra o próprio Deus que capacitou os homens. Prestemos atenção nas palavras de Calvino: “Mas contaremos qualquer coisa como digna de louvor ou nobre sem ao mesmo tempo reconhecermos que vem de Deus? Que nos envergonhemos de nossa ingratidão, na qual nem os poetas pagãos caíram, pois eles confessavam que deuses tinham inventado a filosofia, as leis e todas as artes úteis.” [1]
E por último, que possamos refletir nesta canção, assim como na frase Spurgeon e nos textos bíblicos de Paulo e Salomão que fazem coro em uma só voz. A dor estará presente nesse mundo, pelo menos até que Cristo volte. Os dias maus ainda irão nos alcançar, mas que possamos descansar nos braços de nosso Senhor, sabendo que ainda que venhamos a envergar, certamente ele não permitirá que sejamos destruídos.
Deixo convosco a canção supracitada. Apreciem!
***
Fonte: UMP da Quarta.

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