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quinta-feira, 7 de julho de 2011

A arte de criar mentes vencedoras

Por Daniela Fernandes • Fotos Decout Benoit 
Publicado originalmente em Época Negócios


Decout Benoit
CORPO E MENTE
Larri ensina técnica...

Uma conversa com Larri Passos sobre disciplina, talento, espírito e os métodos de criar cavalos e búfalos – seu modo de se referir a campeões como Guga e Thomaz Bellucci. Ah, sim, ele também fala um pouco de tênis.

Há dois meses, o tenista brasileiro Thomaz Bellucci não é o mesmo jogador de antes. Ele se coloca mais perto da linha de base da quadra. Acerta as bolas quando ainda estão na ascendente, o que confere maior aceleração aos golpes. A movimentação também sofreu alterações. Ele não deixa mais os pés plantados no chão. Acompanha a bola com o corpo, gastando menos energia em cada jogada. Aprendeu também a se defender. Tudo isso – e sua nítida evolução na carreira – pode ser creditado a Larri Passos, seu treinador desde dezembro.
Essas mudanças, porém, são apenas metade da transformação – a sua parte mais visível. Larri considera que a construção de um campeão exige doses iguais de dois ingredientes: treinamento técnico e força mental. “O Bellucci mudou psicologicamente”, diz. “Ele errava uma bolinha e se enterrava. Agora, diante de um problema, reage e levanta a cabeça.”
Larri, um gaúcho de Rolante, de 53 anos, é o técnico de tênis mais famoso do Brasil. Ganhou notoriedade ao acompanhar por 18 anos um fenômeno do esporte: Gustavo Kuerten, o Guga, 43 semanas como número 1 do mundo, US$ 15 milhões em prêmios acumulados. A carreira de Guga terminou em 2008. A de Larri – como acontece com os técnicos em geral – tem sido duradoura. No meio esportivo, ele manteve o prestígio. Mas, para o cidadão comum, era considerado alguém que havia dado sorte, muita sorte, por ter um pupilo genial.

Depois das atuações recentes de Bellucci, essa percepção não tem mais como se sustentar. Em maio, em Madri, o jogador derrotou feras como o escocês Andy Murray (quarto do ranking mundial) e o tcheco Tomas Berdych (número 6). Por pouco não bateu o sérvio Novak Djokovic, a nova sensação das quadras. Com esses resultados, pulou de 36º para 22º do ranking (já foi 21º, no passado, mas nunca havia colecionado vitórias contra adversários tão expressivos).
Para extrair esse tipo de rendimento dos atletas, Larri aplica doses combinadas de energia física e mental. Mesmo nos treinos com bola, atua como um psicólogo de raquete na mão. As eventuais correções de golpes são feitas de forma sutil, indireta. “Não adianta dar uma bronca e falar que é errado jogar uma bola na rede”, diz. “Isso é óbvio, e o jogador vai se sentir uma porcaria.” Nesses momentos, em vez de reprimir e destacar a falha, ele cria exercícios para corrigir o problema. Se necessário, faz recomendações verbais, mas nada arrasador.

“Aflição nos olhos”
Larri também procura entender o perfil psicológico de cada pessoa com quem trabalha. Sempre colhe informações com os parentes dos atletas. Assim soube que Bellucci, um paulistano de 23 anos, foi uma criança que não chorava. Ele não externava suas emoções. Hoje, acredita que o rapaz mudou também nesse aspecto. “Quando o conheci, vi uma pessoa que carregava uma grande aflição nos olhos, meio no abismo, que havia passado bastante tempo brigando com si mesmo”, diz. “Hoje, até sua postura perto dos adversários é diferente.” Bellucci agora caminha no vestiário com segurança, como se sua presença ali fosse tão natural quanto a de qualquer outro peso-pesado do tênis.
Larri preocupa-se em encorajar seus pupilos permanentemente. Mesmo depois de uma derrota, a primeira coisa que faz é destacar as boas jogadas na partida. Mas odeia expressões como “tenha confiança” e “pense positivo”. Diz: “Isso não adianta nada, não tem força. Falar para alguém ser positivo significa dizer que ele é negativo. Não faço isso”. Nas partidas, quando percebe que um atleta “está no buraco”, Larri aciona as engrenagens de uma espécie de guindaste psicológico para resgatar o jogador. Ele dispara pérolas como “vai, cavalo!”, “pesado, pesado!” ou “para cima dele!”. Fala com tanto vigor que, mesmo durante a entrevista com Época NEGÓCIOS, em Paris, gesticulava como se estivesse na final de um torneio. Detalhe: “cavalo” era o Guga. Bellucci é o “búfalo”.
Independentemente do animal, a preocupação do técnico com o estímulo é tão grande que, em um treino em Roland Garros, na França, no final do mês passado, Larri começou a aplaudir uma jogada certeira de Bellucci. Ele batia a palma da mão contra as cordas da raquete. Acabou incitando o público que lotava o local a fazer o mesmo. Todos adoraram. Animados, os franceses diziam “oh la la” ao saber que estavam diante do ex-parceiro de Gustavo Kuerten.

/// Mente sã, corpo são.

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