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"Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever - inclusive a sua própria história." Bill Gates

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terça-feira, 30 de agosto de 2011

Porque a Ética é Importante

por Stephen Kanitz

Download (2)Antigamente, moral e ética eram transmitidas às novas gerações pelas classes dominantes, pela aristocracia, pelos intelectuais, escritores e artistas.

Era uma época em que os nobres eram nobres, exemplos a ser seguidos por todos. 

Hoje, isso mudou. 

Nossas lideranças políticas, acadêmicas e empresariais não são mais "nobres", nem se preocupam em transmitir valores morais às futuras gerações. 

Nossa televisão só pensa em lucro, seus donos não têm nenhuma preocupação em ser respeitados pelos seus pares. 

Não existe mais o noblesse oblige, a obrigação dos nobres, como antigamente.

Poetas brasileiros até enaltecem os nossos "heróis sem caráter". 

Hoje, quem quiser adquirir valores morais e éticos neste mundo "moderno" terá de aprender as regras sozinho.

Portanto, para não perder mais tempo, vamos começar com a primeira lição.
Vou mostrar a importância de criar um código de ética com um exemplo real. Um estudo de caso.
Vou romancear os personagens para os proteger, mas a história é verdadeira.
Um amigo de infância, o Zeca, casou-se com a garota mais linda de nossa turma. 
Que para piorar a situação tinha uma irmã mais nova e ainda mais bonita de 16 anos.


Nosso comentário na época era que ele estava casando com a irmã errada, mas no fundo estávamos todos morrendo de inveja.

Após dois anos de casado, o Zeca acabou transando com a linda cunhada. 
E óbvio foi prontamente descoberto pela esposa.
Foi o escândalo da cidade. Só falamos disso por seis meses.
Ele se desculpou todo envergonhado dizendo: "Não sei o que passou pela minha cabeça, ela simplesmente se entregou". 

Fato mais comum do que se imagina, fruto de uma rivalidade não resolvida entre belas irmãs.
Muitos anos depois, cada vez que encontrávamos o Zeca tentávamos disfarçar nosso sorriso malicioso.
Mesmo vinte anos se passando, toda vez que eu o encontro, a primeira imagem que me vem à mente é:
"Lá vem o Zeca, aquele que transou com a cunhada".

Eu sei que Isso é totalmente injusto de minha parte, afinal seu crime não durou mais que meia hora, e ele nunca voltou a repeti-lo. 

Já sofreu e pagou seu pecado, se separou, perdeu metade do seu patrimônio e mesmo assim, vinte anos depois, nós ainda o estávamos condenando.
Pelas leis brasileiras, ele já teria cumprido uma pena, seria perdoado e ponto final.
Esta é a diferença entre leis e ética. Ética não tem ponto final. Ética não tem perdão, nem cumprimento de pena. Transgredir a ética é uma mancha para sempre. Um horror! 

Por isso as gerações mais velhas criam uma moral e uma ética, uma religião, uma filosofia de vida.
Para ser transmitida às novas gerações para que elas não façam besteiras que possam marcá-las para o resto da vida.

Transgredir a moral e a ética de sua comunidade traz penas bem mais severas que transgredir as leis de seu país.
Agora, ter uma religião e não seguir os preceitos que ela advoga, algo que ocorre com frequência, é o pior dos dois mundos: aí você não procura uma ética melhor que o satisfaça nem segue a ética determinada por sua religião.

Só o caso termina ainda pior. Na semana passada ligou um amigo de meu filho e anotei o recado:
O Alfredo, filho do Zeca, te ligou. 
– O Zeca, aquele que papou a cunhada? – disse meu filho com um sorriso malicioso.

Acho que ninguém de nossa turma tem hoje inveja do Zeca.
Ele não somente pagou o preço, mas esse preço vai ser pago agora por seus filhos, netos e talvez bisnetos.
Posso até imaginar daqui a trinta anos um comentário desses:
Aquele não é o neto do Zeca, aquele que foi pego na cama com a cunhada?

Os filhos, netos e bisnetos de nossos políticos, homens públicos, líderes e artistas que romperam com a ética terão de conviver com o eterno tititi sobre seus pais e nunca saberão dos comentários ditos pelas costas.

Se você tem uma religião e não a pratica, se você odeia as pregações de moralidade que seus pais lhe impõem, isso não o exime de procurar um sistema de referência melhor para sua vida, seja uma outra religião, seja uma conduta filosófica, seja um simples livro de auto ajuda.

As consequências podem ser muito mais severas que as leis impostas pelo Estado, como descobriu meu querido amigo Zeca, aquele que transou com a cunhada.

Stephen Kanitz é administrador (www.kanitz.com.br)
Artigo Publicado na Revista Veja, edição 1733, ano 35, nº1, 9 de Janeiro de 2002.

4 comentários:

  1. Excelente sua reflexão, Rodrigo.
    Os principais vetores de nossos valores éticos continuam sendo nossos parentes mais próximos. Contudo, hoje, há uma poluição desses valores pelas mídias de massa.
    Tenho que contestar quando você fala dos “nobres”. Nem sempre os seus ideais eram tão nobres assim, pelo menos para nossa cultura. Muitos reis financiaram cruzadas não para fortalecer suas convicções religiosos mas, sim para pilhar, saquear e escravizar.
    Se a ética se apoia no respeito, não havia ética para os “nobres”, O feudalismo é prova disso já que os nobres tinahm poder sobre a vida e a morte dos demais.
    Agora o que você nos trás em seu texto tem uma verdade. Não basta a pessoa ter pago pelo seu erro. Estamos sempre lhe jogando na cara que cometeu um erro.

    Parabéns pela análise.

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  2. Pertinentes suas observações, mas vale lembrar que o texto não é meu =) é de Stephen Kanitz, e o mesmo foi publicado na Revista Veja, edição 1733, ano 35, nº1, 9 de Janeiro de 2002, como também no seu blog www.kanitz.com.br

    Valeu!

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  3. Peço perdão. Lí o texto porém, não observei os créditos....
    E também não qui fazer uma crítica. Desejava apenas apimentar o debate. Ética é algo muito bom para ser debatido.

    Um grande abraço.

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  4. André seus comentários são sempre bem-vindos, concordantes ou não, pois acho que crescemos não quando pensamos todos da mesma maneira como um produto em série, mas quando temos pontos de vista complementares e até contrapostos.

    Aqui não publico apenas conteúdo que coincida com minhas idéias, conhecimento e crenças, mas que as estimulem o debate sobre eles.

    Continue trazendo suas perspectivas, opniões e impressões que tanto enriquecem.

    Um abração!

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