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"Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever - inclusive a sua própria história." Bill Gates

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segunda-feira, 15 de outubro de 2012

O cristão e a ateísta


publicado orginalmente no site da Ultimato
Por Mateus Otávio Alcantara
Há alguns dias, retornando de férias, conheci uma jovem alemã muito simpática e inteligente. Conversamos sobre diversos temas. Revelei meu fascínio pela história de seu povo, por alguns teólogos de sua pátria, e, por meio disso, o assunto rumou para religião. Falamos sobre tudo que críamos e sobre a maneira que enxergávamos a crença.
Falei sobre a situação atual do Brasil e sobre os “defensores da família” que usam a religião para atacar, denegrir, condenar e repudiar pessoas de credos religiosos e sexualidades diferentes. Também esclareci que minha crença não deve me impedir de ler, ter contato ou de dialogar com um ateu, por exemplo. Na metade da minha fala, a jovem interferiu sorrindo: “eu sou ateísta”. Ambos sorrimos.
Procurei saber o que a fez crer assim, aliás, o que a fez não crer assim. Perguntei se ela era ateísta por questões da razão ou por algo vindo de família. Era de família. No desenrolar da prosa percebi um pouco de acanhamento de sua parte. Foi nesse momento que joguei a “carta da manga”: “se não estou enganado, foi de Nietzsche a afirmação que ele seria um cristão se os cristãos parecessem um pouco mais com Cristo. Você não se vê cristã também por isso?”, – acrescentei ainda – “o que mais te impede de crer: a ideia mal explicada de Deus, um ser superior, ou a religião propriamente dita?”. Após impressionar-se por eu ler Nietzsche, confirmou: “a religião”.
Neste instante não pude deixar de lembrar das cruzadas, do aparthaid, das almas inocentes que queimaram nas fogueiras da inquisição. Lembrei-me de nossa situação atual brasileira. Os evangélicos crescem absurdamente, tão absurdamente que o evangelho que requer paciência e doação não é capaz de acompanhá-los. Nossos líderes estão na boca do povo, mas não mais caindo na graça. A igreja tem medo da perseguição e busca leis que os protejam. Esquecem de protestar a pobreza, a miséria e anunciar o reino que se manifestará aqui e agora. Reduziram Deus a um prestador de favores. Um ídolo. Deste deus eu também sou ateu.

Guardei de Franziska um sorriso, que me revigorou da minha última lembrança na ocasião, o lamento.
“Até onde vai tudo isso?”, você pode se perguntar. Confesso que não sei, mas nada ficará impune. O bumerangue da vida girará, nos trazendo culpa ou regozijo: o que o homem semear, isso também ceifará. Ainda há tempo de plantar o amor.
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Mateus Octávio Alcantara de Souza tem 20 anos, é Bacharel em teologia e escreve no blog Meditações*

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