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"Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever - inclusive a sua própria história." Bill Gates

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quarta-feira, 29 de maio de 2013

Itália acha em biblioteca manuscrito da Torá mais antigo do mundo

O professor de estudos hebraicos da Universidade de Bolonha, na Itália, 
encontrou o manuscrito 
 da Torá mais antigo do mundo guardado na biblioteca 
da instituição acadêmica. O pergaminho de pele de cordeiro, que mede 
36 metros de comprimento e 64 centímetros de largura, foi escrito entre o fim do 
século 12 e o início do século 13
Agência de notícias AFP, no UOL Ciências

A Universidade de Bolonha, na Itália, encontrou o que pode ser o manuscrito da Torá mais antigo do mundo, segundo um professor italiano que afirma que o texto sagrado foi escrito no século 12.

valioso pergaminho de pele de cordeiro foi catalogado de modo equivocado por um arquivista da biblioteca universitária em 1889, acreditando que ela pertencia ao século 17.

Mas o professor de estudos hebraicos Mauro Perani constatou que o texto era anterior às normas de escrita da Torá adotadas no século 12.

"Imediatamente, percebi que era muito mais antigo", disse ele.

O professor explicou que o texto contém letras e sinais proibidos pelo erudito e filósofo judeu Moisés Maimônides no século 12.

"Este pergaminho é muito raro porque quando os manuscritos estragam, perdem sua santidade e não podem ser mais utilizados. Então, são enterrados", explicou Perani. "[Mas] Seu estado de conservação é excelente."

"Os nazistas na Europa central e os fascistas na Itália destruíram dezenas de milhares de rolos. Aconteceu uma incrível destruição no século 20", disse.

Angústia, espiritualidade e fé

imagem: Internet
De onde vem a angústia? A minha chega sorrateira. Sentimentos trágicos se insinuam parecidos com o frio quando entra no quarto por entre as frestas da janela. Tudo me parece cotidiano, normal, até que, de repente, vem aquele nó, o aperto entre a garganta e o peito que chamam de angústia.
Sofro comigo mesmo. Noto que meus movimentos em busca da felicidade são estabanados. Machuco quem eu gosto de amar, esqueço que lido com nervos expostos.
Fico também nervoso com o sacerdote engravatado a gesticular promessa de abundante prosperidade. Pergunto-me se ele não pensa nas mulheres e crianças de mãos estendidas para a tigela de arroz que grupos humanitários oferecem em campos de refugiados. Sei que tais questionamentos me indispõem com os religiosos. Mas como transpor o fosso que separa o discurso da prática? Talvez reconhecer que é próprio da religião preferir as afirmações categóricas aos atos precários de solidariedade. Angustio-me em perceber que a humanidade experimenta o céu como vislumbre intuitivo, mas o inferno se concretiza e tortura de fato.
Minha alma não sossega. Não há trégua na confusão teológica quando observo jatos supersônicos e tanques de guerra. Quero saber: como eles queimam galões de combustível se falta gaze e esparadrapo nos ambulatórios da periferia? Na madrugada, antes do sol nascer, vejo os pontos de ônibus já lotados de homens e mulheres que se antecipam ao dia para ganhar subsalários. Eu precisaria de uma dose cavalar de cinismo para me isolar dessa realidade que me agride todos os dias. Contudo, acabo me afastando.
Por isso acho ridículo o debate sobre a existência ou não de Deus. Noto que  poucos se dispõem abraçar a mulher que acabou de enterrar o filho morto pelo tráfico. Enquanto não tivermos peito de agir como humanos, não devemos ousar debates sobre o transcendente. Pragmático, só me permito pensar em justiça nas ações verdadeiras. Divagação meramente filosófica me aborrece. Que mundo os humanos construíram em que ricos e famosos ostentam relógios pontilhados de diamantes enquanto multidões dormem com fome nos bolsões miseráveis? Para mim, essas lógicas – teológicas, filosóficas – justificam a atual ordem das coisas, mas não passam de remendos mal cerzidos para que pequenos burgueses – como eu – continuem em suas zonas de conforto.
Abro mão de qualquer  espiritualidade que se cala diante de uma economia canibalizadora de gente. Muitos não ligam, não se importam. Na agonia de ver tanta alienação, tento orar com Cecília Meireles: Salva-me, Senhor, do horizonte/ sem estímulo ou recompensa/ onde o amor equivale à ofensa. Mas me frustro. Os anos aceleram. A vida vai se esgotando. Falta tempo. Meu ânimo corre o risco de desbaratar-se em nada. Nada mais fútil que uma tesoura que não corta. Nada mais irritante que um vaso trincado. Nada mais triste que um homem constatar que sua vida pode se esvair, inodora e sem sabor.

‘Jesus não foi crucificado’: Evangelho vai causar colapso religioso, diz Irã

Para iranianos, alegações do Evangelho de Barnabé devem abalar a política mundial; críticos apontam “risível” propaganda anticristã nessa divulgação
Autoridades turcas acreditam que essa possa ser uma versão autêntica do evangelho escrito pelo discípulo Barnabé (Foto: Daily Mail / Reprodução)
Autoridades turcas acreditam que essa possa ser uma versão autêntica do evangelho escrito pelo discípulo Barnabé (Foto: Daily Mail / Reprodução)
Publicado originalmente no Terra
Um texto religioso encadernado em couro - provavelmente datado do século 5, porém descoberto há apenas 13 anos - vai causar o colapso do cristianismo no mundo inteiro, alega uma agência de notícias do Irã. O livro, escrito sobre pele curtida, aparentemente afirma que Jesus nunca foi crucificado e que Cristo previu a vinda do profeta Maomé. Escrito em siríaco (um dialeto do aramaico), o evangelho vaticinaria inclusive a chegada do último messias islâmico. As informações são da iraniana Basij Press e foram divulgadas pelo site conservador americano WorldNetDaily (WND).
Autoridades turcas acreditam que essa possa ser uma versão autêntica do evangelho escrito pelo discípulo Barnabé, e a imprensa iraniana afirmou que seu conteúdo vai desencadear a queda do cristianismo ao provar que o Islã é a verdadeira religião. Outras fontes, no entanto, julgaram as alegações improcedentes e a consideraram uma “risível” propaganda anticristã. A Basij Press informa que o texto foi escrito nos séculos 5 ou 6 e previu o surgimento de Maomé e da religião islâmica. Segundo a agência, o mundo cristão nega a existência de tal evangelho.
No capítulo 41 do Evangelho de Barnabé, estaria escrito: “Deus se escondeu enquanto o Arcanjo Miguel os levou (Adão e Eva) para fora do céu, (e) quando Adão se virou, ele notou que sobre a porta de entrada para o céu estava escrito La elah ela Allah, Mohamad rasool Allah“, que significa “Alá é o único Deus e Maomé é seu profeta”.
O texto teria sido confiscado em 2000 por autoridades turcas durante um trabalho de repressão sobre gangues acusadas de contrabando de antiguidades, escavações ilegais e posse de explosivos. A descoberta, contudo, só atraiu a atenção do mundo em fevereiro deste ano, quando foi informado que o Vaticano fez uma requisição oficial para ver o livro. Ainda não se sabe se o pedido foi atendido.
As origens do suposto evangelho são desconhecidas, mas o site National Turk afirmou naquele mês que o livro foi mantido no palácio da Justiça da capital turca, Ancara, e seria transferido sob escolta policial armada para o Museu Etnográfico da cidade. Para a Basij Press, a descoberta é tão importante que vai abalar a política mundial.
“A descoberta da Bíblia original de Barnabé vai agora comprometer a Igreja e sua autoridade e revolucionar a religião no mundo”, escreveu a Basij Press em seu site. “O fato mais significativo, porém, é que essa Bíblia previu a vinda do profeta Maomé e comprovou a religião do Islã.”
Apesar de autoridades turcas acreditarem que o texto é verdadeiro, outros questionaram sua autenticidade. Erick Stakelbeck, um analista de terrorismo e observador próximo dos assuntos iranianos, afirmou à WND que “o regime iraniano está empenhado em erradicar o cristianismo por qualquer meio necessário, ainda que isso signifique executar cristãos convertidos, queimar Bíblias ou invadir igrejas”.
Escrevendo para o site Catholic Culture, o jornalista católico Phil Lawler descreveu o conjunto de alegações como “um risível desafio iraniano ao cristianismo”. Ele afirmou que “se o documento foi escrito no século 5 ou 6, não pode muito bem ter sido escrito por alguém que estava viajando com São Paulo cerca de 400 anos antes. Deve ter sido escrito por alguém reivindicando representar São Barnabé. Devemos aceitar essa alegação?”, indaga Lawler. “Tenha em mente que a datação do documento é fundamental. Por volta do século 7, não era necessária muita clarividência para ‘prever’ a aparição de Maomé.”
Com informações do Daily Mail.

Dicionário feito por crianças traz definições que os adultos se esqueceram

Crianças sempre nos conquistam porque carregam consigo uma ingenuidade e inocência que somos obrigados a abandonar quando viramos adultos. Conheçam esse projeto desenvolvido pelo professor colombiano Javier Naranjo, que passou 10 anos compilando definições dadas pelos seus alunos a palavras do cotidiano, enquanto trabalhada em diferentes escolas do estado de  Antioquía, região rural do leste do país.
O dicionário virou o livro “Casa das estrelas: o universo contado pelas crianças“, uma obra que traz cerca de 500 definições para 133 palavras, de A a Z,  e que surpreendeu ao se tornar o maior sucesso da Feira Internacional do Livro de Bogotá, no final do mês de abril.
Veja algumas definições cheias de sabedoria e poesia criada pelas crianças:
12 DICIOARIO2 DICIONARIO3 DICIONARIO4 DICIONARIO5 IMAGEM2 IMAGEM4 imagem31 S 

terça-feira, 28 de maio de 2013

Um monge, um cristão e uma mexerica



Minoru Raphael, no Minourolândia
Há algum tempo perdi minha avó. Japonesa, teve seu cerimonial de despedida típico budista. Se a dor era inegociável, tentei tirar qualquer aprendizado da situação. Eu estava num templo budista, com monges e todo aquele aparato de coisas que imagino que um lugar com monges deva ter por pré-requisito.
Cristão, tudo me era não-normal. Mas por outro lado, milito a favor das culturas, do Fator Melquisedeque, da graça comum. Lá no fundo eu sentei e tentei perceber cada detalhe. Fechei os olhos quando os cantos começaram e senti algo bom. Melismas melódicos que certamente tinham algo de gregorianos. Várias perguntas apareciam e eu guardei todas.
Ao final, esperei até que o último saísse da sala e então abordei aquele que orquestrava a cerimonia. Comecei:
-       Com licença, me chamo Minoru. Esses textos que o senhor leu, essas cartas, são de quem para quem?
-       Muito prazer Minoru! (um sorriso natalino) Estas cartas são do 8º patriarca, apenas um homem que viu que cada um estava falando uma coisa diferente sobre o budismo, então resolveu sistematiza-lo.
-       Que engraçado, o livro que rege meu povo também teve o mesmo pressuposto para nascer, desde o primeiro cânon da bíblia com Macião. Mas me diga sobre essas imagens. Vocês as adoram? Como sabe que Deus é assim?
-       Não não, ninguém sabe como Deus é. Acontece que para nos ajudar, criamos uma valorização sobre alguma figura meramente representativa. Nos ajuda na fé. Não é um ídolo, mas um carinho a algo que não conseguimos desenhar (risos).
-       Poxa… assim também somos com a cruz… E este terço que você segura?
-       Cada bolinha deste terço representa um de nós. Estamos ligados e tudo que eu fizer pode acarretar consequências a todas as outras bolinhas. Se estourar o barbante, todas caem. Vê também que elas são diferentes? Cada uma, é uma…

Quando as diferenças já não fazem a menor diferença



Por Hermes C. Fernandes, no Cristianismo Subversivo


Os discípulos estavam preocupados. Motivo? Alguém estava usando o nome de Jesus para fazer milagres. Ao contar a Jesus o que estava acontecendo, imaginaram que Ele daria um basta naquilo, exigindo que se respeitasse os direitos autorais de Sua mensagem. Mas para a surpresa deles, Jesus disse: "Não lhe proibais. Ninguém há que faça milagre em meu nome, e logo a seguir possa falar mal de mim, pois quem não é contra nós, é por nós" (Mc.9:39-40).

Jesus jamais exigiu royalties ou direitos autorais de Suas obras ou mensagem. Ele queria que a mensagem fosse propagada.

Paulo também captou o mesmo espírito, e por isso, declarou: "Verdade é que também alguns pregam a Cristo por inveja e porfia (...) mas que importa? contanto que Cristo, de qualquer modo, seja anunciado, ou por pretexto ou de verdade, nisto me regozijo, sim, e me regozijarei" (Fp.1:15a,18).

A mensagem de Cristo não é monopólio de quem quer que seja.
Quanto as motivações, deixemos que Deus as julgue no momento certo. Por agora, o que importa é que a mensagem seja anunciada.
Não importa se em uma igreja protestante histórica, ou em uma paróquia católica, ou numa igreja neopentecostal, ou mesmo em um centro espiritualista ou numa mesquita. A verdade é a verdade, não importa por quem está sendo anunciada. E quem ama a verdade, reconhece-a de cara, ainda que anunciada pelos lábios de um cético. Assim como podemos reconhecer a mentira, mesmo quando dita por aqueles que julgamos estar acima do bem e do mal.

Diferentes, mas nem tanto

Em vez de realçarmos o que nos distingue por que não realçamos o que temos em comum? Para isso, temos que descobrir quais as ameaças e os inimigos que temos em comum. Somente assim as diferenças já não farão tanta diferença.

Por exemplo: em um país muçulmano, não faz diferença se você é evangélico ou católico. Ambos se reconhecem mutuamente como cristãos.

Numa classe universitária na França, onde a maioria dos alunos se diz ateia a diferença entre muçulmanos e cristãos perde a importância. O ateísmo é um "inimigo" comum para ambos os grupos, haja visto que são monoteístas.

E quando somos ameaçados por um inimigo comum à toda a humanidade?

Se fosse anunciado que um asteroide estava prestes a chocar-se com a Terra, pondo em risco a civilização humana, todas as diferenças religiosas, raciais, étnicas, culturais, perderiam totalmente sua relevância. Ateus, cristãos, espíritas, hindus, budistas, dariam as mãos num esforço coletivo para evitar a tragédia.

O Bom Travesti




E perguntaram a Jesus: “Quem é o meu próximo?“ E
ele lhes contou a seguinte parábola:
”Voltava para sua casa, de madrugada, caminhando
por uma rua escura, um garçom que trabalhara até
tarde num restaurante. Ia cansado e triste. A vida de
garçom é muito dura, trabalha-se muito e ganha-se
pouco. Naquela mesma rua dois assaltantes
estavam de tocaia, à espera de uma vítima. Vendo o
homem assim tão indefeso saltaram sobre ele com
armas na mão e disseram: “Vá passando a carteira“.

O garçom não resistiu. Deu-lhes a carteira. Mas o
dinheiro era pouco e por isso, por ter tão pouco
dinheiro na carteira, os assaltantes o espancaram
brutalmente, deixando-o desacordado no chão. Às
primeiras horas da manhã passava por aquela
mesma rua um padre no seu carro, a caminho da
igreja onde celebraria a missa. Vendo aquele
homem caído, ele se compadeceu, parou o caro, foi
até ele e o consolou com palavras religiosas: “Meu
irmão, é assim mesmo. Esse mundo é um vale de
lágrimas. 

Mas console-se: Jesus Cristo sofreu mais
que você.“ Ditas estas palavras ele o benzeu com o
sinal da cruz e fez-lhe um gesto sacerdotal de
absolvição de pecados: “Ego te absolvo...“ Levantouse
então, voltou para o carro e guiou para a missa,
feliz por ter consolado aquele homem com as
palavras da religião. Passados alguns minutos,
passava por aquela mesma rua um pastor
evangélico, a caminho da sua igreja, onde iria dirigir
uma reunião de oração matutina. 

Vendo o homem caído, que nesse momento se mexia e gemia, parou
o seu carro, desceu, foi até ele e lhe perguntou,
baixinho: “Você já tem Cristo no seu coração? Isso
que lhe aconteceu foi enviado por Deus! Tudo o que
acontece é pela vontade de Deus! Você não vai à
igreja. Pois, por meio dessa provação, Deus o está
chamando ao arrependimento. Sem Cristo no
coração sua alma irá para o inferno. Arrependa-se
dos seus pecados. Aceite Cristo como seu salvador e
seus problemas serão resolvidos!“ O homem gemeu
mais uma vez e o pastor interpretou o seu gemido
como a aceitação do Cristo no coração.

 Disse, então,
“aleluia!“ e voltou para o carro feliz por Deus lhe ter
permitido salvar mais uma alma. Uma hora depois
passava por aquela rua um líder espírita que, vendo
o homem caído, aproximou-se dele e lhe disse: “Isso
que lhe aconteceu não aconteceu por acidente.
Nada acontece por acidente. A vida humana é
regida pela lei do karma: as dívidas que se contraem
numa encarnação têm de ser pagas na outra. Você
está pagando por algo que você fez numa
encarnação passada. Pode ser, mesmo, que você
tenha feito a alguém aquilo que os ladrões lhe
fizeram. 

Mas agora sua dívida está paga. Seja,
portanto, agradecido aos ladrões: eles lhe fizeram
um bem. Seu espírito está agora livre dessa dívida e
você poderá continuar a evoluir.“ Colocou suas
mãos na cabeça do ferido, deu-lhe um passe,
levantou-se, voltou para o carro, maravilhado da
justiça da lei do karma. O sol já ia alto quanto por ali
passou um travesti, cabelo louro, brincos nas
orelhas, pulseiras nos braços, boca pintada de
batom. 

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Karen Armstrong: "Não espere muito do papa Francisco"

A mais importante historiadora das religiões diz que o novo pontífice não será capaz de reformar a Igreja Católica
TRANSCENDENTE Karen Armstrong, em São Paulo. Para ela, Deus responde à necessidade humana de alcançar o inexplicável (Foto: Alexandre Severo/ÉPOCA)
TRANSCENDENTE
Karen Armstrong, em São Paulo. Para ela, Deus responde à  necessidade humana de 
alcançar 
o inexplicável (Foto: Alexandre Severo/ÉPOCA)
Luís Antônio Giron, na Época
A britânica Karen Armstrong, de 68 anos, tornou-se freira em 1962, num gesto de revolta contra o materialismo de sua família. Seus ideais religiosos se desfizeram nos sete anos em que esteve no convento. Quando desfez os votos, depois de se formar em letras na Universidade Oxford, já não acreditava em Deus. Passou a estudar as religiões para tentar recuperar a fé. Tornou-se a mais eminente historiadora das religiões da atualidade. Escreveu duas dezenas de livros sobre o tema. Foi pela ciência que ela diz ter reencontrado Deus. Há duas semanas, ela participou da série de debates Fronteiras do Pensamento, em Porto Alegre e São Paulo. Falou com ÉPOCA sobre intolerância religiosa, fundamentalismo e ateísmo. Para ela, Deus não existe se não é praticado.
ÉPOCA – O papa Francisco promoverá mudanças importantes na Igreja Católica?
Karen Armstrong –
 A chegada de um papa latino-americano está dando um ar novo ao Vaticano, um local que precisa se livrar da poeira. O cardeal Jorge Mario Bergoglio conviveu com a pobreza na Argentina. A escolha do nome Francisco comprova seu compromisso com um voto de pobreza. Gostei de vê-lo se hospedar num hotel modesto de Roma. Foi um gesto natural e bonito. Mas ele continua a ser conservador, escolhido pelo mais retrógrado dos papas, João Paulo II. Não espere muito do papa Francisco. Não só porque é difícil romper com a rigidez e a decadência do Vaticano, mas também porque seu perfil é austero. Ele não realizará as reformas radicais de que a Igreja Católica precisa.
ÉPOCA – Uma reforma poderia abrir a Igreja à maior participação das mulheres. Se a senhora fosse eleita papisa num conclave, quais seriam suas primeiras medidas?
Karen –
 Seria impossível. Mas começaria fazendo aquilo que Bergoglio deveria ter feito no instante em que apareceu à multidão do balcão da igreja de São Pedro: pedir desculpas pelos pecados que a Igreja cometeu nos últimos anos. Pediria perdão às crianças assediadas sexualmente por sacerdotes. Pediria perdão às vítimas, porque o papa João Paulo II ocultou esses problemas, incentivando a pedofilia no seio da Igreja. Eu me desculparia com as freiras, por elas sempre ocuparem um lugar secundário tanto nas missas como na hierarquia da Cúria romana. Decretaria, além da participação das mulheres religiosas em todos os níveis da Igreja, o fim do celibato e o direito à opção sexual dos religiosos. Isso traria uma renovação espiritual ao catolicismo. O celibato clerical surgiu arbitrariamente, no século XI, por decreto do papa Gregório VII. Esse decreto está mais do que na hora de cair. É impossível manter a Igreja com proibições que vão contra a natureza humana. O resultado são escândalos sexuais em todos os lugares envolvendo padres.
ÉPOCA – O aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo podem ser aceitos por alguma igreja cristã?
Karen –
 A permissão do aborto e do casamento gay será muito difícil, senão impossível, pois são temas tabus, que chocam milhões de pessoas. Para ser sincera, considero o aborto e o homossexualismo reflexo da civilização egoísta, materialista e consumista em que vivemos. São temas pouco relevantes numa revolução religiosa. Há coisas mais urgentes a fazer, como as que citei anteriormente.
ÉPOCA – Seu livro 12 passos para uma vida de compaixão afirma que a solução para os conflitos mundiais está em aplicar a “regra de ouro”, de Confúcio: “Não trate os outros como você não gostaria de ser tratado”. É suficiente?
Karen –
 Sim, porque a regra de ouro é prática. Ela implica uma ação. Ela sugere a prática de um valor que está em quase todas as religiões: a compaixão – palavra que significa “colocar-se no lugar de outra pessoa e sentir o que ela sente”. Daí nasce a atitude altruísta, que pode mudar a história. As religiões são disciplinas que levam seu praticante a agir. “Alcançar Deus requer disciplina e desprendimento. Não combina com a era tecnológica”
ÉPOCA – Um dos passos que a senhora arrola para viver em compaixão é bem difícil de praticar: “Ame seus inimigos”. Como é possível?
Karen –
 Quando Cristo prega que precisamos amar o inimigo, ele não sugere que você se entregue a ele. Na realidade, ele aconselha evitar o ódio e a vingança. Nelson Mandela (ex-presidente da África do Sul) e o Dalai-Lama (líder espiritual tibetano) são exemplos atuais de homens que não praticaram o revanchismo nem o ódio em relação a seus inimigos. Mandela buscou a reconciliação, mesmo depois de ter permanecido na prisão por 27 anos. O Dalai-Lama não condenou os algozes do budismo, os chineses. Os dois não se vingaram. Preferiram a vida da compaixão.
ÉPOCA – No ensaio Em defesa de Deus (2009), a senhora associa a intolerância, o fundamentalismo e o ateísmo, como movimentos que reduzem o sentimento religioso. Como explica esse entrelaçamento?
Karen –
 Um fenômeno leva ao outro. O ateísmo contemporâneo de Richard Dawkins (zoólogo inglês) e Sam Harris (neurocientista americano) é resultado do fundamentalismo religioso. Tanto ateístas como fundamentalistas são intolerantes, pois condicionaram a existência de Deus a provas factuais e materiais. Para eles, Deus deixou de envolver a transcendência.

Em missa, Papa defende batismo de filhos de mães solteiras

Quando era o arcebispo de Buenos Aires, Francisco incentivava padres e bispos a batizarem as crianças nascidas fora do casamento
Francisco defende que a Igreja seja facilitadora da fé, e não controladora (Foto: EFE)
Francisco defende que a Igreja seja facilitadora da fé, e não controladora (Foto: EFE)
Publicado originalmente no Terra
Em missa na Capela da Casa Santa Marta, no Vaticano, o papa Francisco defendeu neste sábado o batismo de filhos de mães solteiras. “Somos muitas vezes controladores da fé, em vez de facilitadores”, disse o Papa ao se referir a algum padre que se recusa a batizar uma criança filha de mãe solteira. “Essa mulher teve a coragem de continuar a gravidez. E o que encontra? Uma porta fechada?”, questionou ele.
“Isso não é zelo, isso é distância de Deus. Quando fazemos este caminho com esta atitude não estamos ajudando o povo de Deus. Jesus instituiu sete sacramentos e, com este tipo de atitude, estamos criando um oitavo, o sacramento da alfândega pastoral”, acrescentou.
Antes de ser Papa, quando era o arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio incentivava padres e bispos a batizarem as crianças nascidas fora do casamento. O Pontífice citou durante a missa outro exemplo: um casal de noivos que queria marcar a data do casamento e foi alertado pelo sacerdote de que precisaria pagar enfeites, cantos. Francisco disse que, no caso, o casal encontrou “as portas da

Articulação da bancada evangélica na Câmara é praticamente nula

bancada-evangélica
Fabiano Maisonnave, na Folha de S.Paulo
A bancada evangélica da Câmara dos Deputados ampliou recentemente a visibilidade ao assumir o controle da Comissão de Direitos Humanos. Mas a aparente demonstração de força esconde um bloco de 66 deputados disperso entre 16 partidos e 24 igrejas, com articulação quase nula em votações.
Contrariando a percepção de que os evangélicos tem uma representação exagerada, o percentual da bancada sobre o total da Câmara (15%), é menor do que a população que se declarou evangélica no mais recente Censo do IBGE, 22,2% -embora tenha mais do que duplicado com relação à legislatura anterior, quando contava com 36 deputados.
Com raras exceções, a atuação da bancada evangélica está longe de ser suprapartidária. Há alguns dias, por exemplo, deputados do bloco estiveram no centro do embate entre governo e oposição por causa da Medida Provisória dos Portos.
O deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG) apresentou uma emenda ao texto original tachada de “Tio Patinhas” pelo também evangélico Anthony Garotinho (PR-RJ). O detalhe é que ambos são da Igreja Presbiteriana.
Garotinho, aliás, já foi processado por Benedita da Silva (PT-RJ), também evangélica, por danos morais. E é rival declarado de Eduardo Cunha (PMDB), ligado à igreja Sara Nossa Terra.
A deputada petista, por sua vez, é historicamente ligada aos movimentos negros, ferozes críticos de Marco Feliciano (PSC-SP), processado por racismo ao dizer que os africanos sofrem de uma maldição bíblica.
Entre as bancadas por denominação, a única coesa é a da Igreja Universal do Reino de Deus: todos os seis deputados federias estão filiados ao Partido da República.
DESTAQUE
O bloco evangélico também tem pouca influência individual. Somente quatro deles aparecem na lista dos cem parlamentares mais influentes do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), órgão de interlocução entre Congresso e entidades sindicais.
Por outro lado, muitos têm problemas com a Justiça: 32 são réus em processos no Supremo Tribunal Federal.
Falando sob a condição de anonimato, um deputado disse que vê três grandes grupos na chamada bancada: o núcleo duro, formado por pastores, como Feliciano; os que costumam aparecer quando convocados, caso de Garotinho; e os que praticamente não participam, incluindo Benedita.

Esse rapaz acabou de falecer. Veja o que deixou de legado

Tem um ditado que diz que a vida é boa pra quem gosta dela. E Zach Sobiech foi uma dessas pessoas, mesmo tendo todos os motivos para se revoltar com ela.
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Com 14 anos, ele foi diagnosticado com Osteossarcoma, um raro tumor maligno que ataca os ossos e que costuma aparecer em crianças. Durante seu tratamento, ele fez 10 cirurgias e 20 sessões de quimioterapia.
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Em março de 2012, os médicos disseram que não havia mais o que fazer e que ele só teria mais um ano de vida. Ele então se viu tendo que responder uma complexa pergunta que precisava de uma resposta rápida: como usar seu último ano de vida? Diante dessa situação, há duas opções: desistir e passar o resto dos dias sofrendo e se perguntando porque isso tinha que acontecer com você; ou seguir em frente e viver os seus últimos dias da melhor forma. Zach ficou com a segunda opção.
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Ele resolveu investir pesado na sua maior paixão – a música. E correu, porque o tempo era curto. Se juntou com a amiga de infância, Samantha Brown, e gravou o seu primeiro álbum, Fix Me Up, lançado no começo de 2013.
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O garoto gravou um vídeo com a música “Clouds” que rapidamente se tornou viral no Youtube, chegando a 6 milhões de visualizações:
Eis um trecho da música livremente traduzido:
We could go up, up, up (nós poderíamos ir pro alto, alto, alto)
And take that little ride (e dar aquele passeio)
And sit there holding hands (e sentar aqui dando as mãos)
And everything would be just right (e tudo ficaria bem
And maybe someday i’ll see you again (e talvez algum dia eu te verei de novo)
We’ll float up in the clouds and we’ll never see the end (vamos flutuar nas nuvens e nunca veremos o fim)
And we’ll go up, up, up (e iremos pro alto, alto, alto)
But i’ll fly a little higher (mas eu vou voar um pouco mais alto
We’ll go up in the clouds because the view is a little nicer (vamos por cima das nuvens, porque a vista de lá é melhor)
Up here my dear (porque aqui, meu amor)
It won’t be long now, it won’t be long now (não vai durar muito, não vai mais durar muito)
Vários artistas e celebridades se inspiraram com a história do mais novo e talentoso cantor dos EUA, e gravaram versões cover da sua música de despedida:

Vaticano corrige Papa: Ateus ainda vão para o inferno

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Publicado originalmente na Examiner - [via Pavablog]
Após o papa Francisco dizer ao mundo que mesmo os ateus podem ir para o céu, o Vaticano divulgou um comunicado: ateus ainda vão para o inferno.
O Vaticano emitiu “nota explicativa sobre significado de ‘salvação”, na quinta-feira, 23 de maio, após a mídia noticiar que o papa Francisco “prometeu o céu a todos engajados em boas ações”, incluindo os ateus.
Em resposta às matérias publicadas em sites e jornais, o Rev. Thomas Rosica, porta-voz do Vaticano, disse que pessoas que conhecem a Igreja Católica “não podem ser salvas” se “recusarem-se a entrar nela ou fazer parte dela”.
(Ou seja: ateus ainda estão indo para inferno se não aceitarem Jesus Cristo como Senhor e Salvador.)
O porta-voz também disse que o papa Francisco não tinha “intenção de provocar um debate teológico sobre a natureza da salvação” na sua homilia na última quarta-feira.
A confusão teológica começou após o líder de 1,2 bilhão de católicos romanos no mundo declarar em sua mensagem que ateus iriam desfrutar da salvação se fossem boas pessoas. O papa Francisco disse:
“O Senhor redimiu a nós todos, a todos, pelo sangue de Cristo: todos nós, não apenas católicos. Todos! “Padre… os ateus também? Mesmo os ateus?” Todos!”

domingo, 26 de maio de 2013

Onde está Deus?!




imagem: Internet

Ed René Kivitz, no Facebook



Eis uma pergunta universal, e atemporal. “Ninguém jamais viu a Deus”, disse o apóstolo João, sugerindo que Deus não é obvio. Com Deus, ensina o apóstolo Paulo, “andamos por fé, não por vista”. O profeta Isaías chega a dizer que Deus é absconditus, isto é, um Deus velado, que se esconde, que não se mostra tão facilmente, somente percebido para aqueles que recebem revelação.

Os homens mais íntimos de Deus conviveram com angustias profundas, e sensações da ausência de Deus: “Como o servo clama pela corrente das águas, assim suspira a minha por ti ó Deus”, suspiravam os poetas bíblicos. “Até quando Senhor? Até quando o Senhor vai manter a sua face escondida, até quando eu vou clamar e o Senhor não vai responder?”, gritavam quase em desespero.

O povo de Israel precisa responder às nações vizinhas que pergutam “Onde está o seu Deus?” E mesmo Jesus, em seu momento de maior agonia, é confrontado com a sensação de ter sido abandonado e esquecido na mais profunda solidão: “Deus meu, Deus, por que me desamparaste?”. A pergunta “Onde está Deus?” é, portanto, uma das mais relevantes que podemos fazer hoje.

O teólogo anglicano John Robinson, em sua obra Um Deus Diferente (Honest to God, Moraes Editores/Herder), comenta as respostas mais usuais à questão da presença de Deus no mundo. A primeira resposta que encontramos na Bíblia, diz Robinson, é que “Deus está lá em cima”. O salmista diz que “O nosso Deus está nos céus; ele faz tudo o que lhe apraz”. Jesus nos ensinou a orar com palavras que sugerem que Deus está lá em cima, nos céus, onde sua vontade é feita de modo perfeito, diferentemente do que aconce na terra. A cosmogonia medieval nos ensinou que o céu está lá em cima, a terra aqui no meio, e o inferno lá em baixo!

A noção de que Deus habita lá em cima, resulta numa percepção hierarquizada: o General dos exércitos com seus comandados, o Rei com seus súditos, o Senhor com seus escravos, o que não deixa de ser verdadeiro. É verdade que Deus está lá em cima! Mas essa não é toda a verdade! Deus está também aqui, disse o profeta Isaías, pois habita o “alto e sublime”, mas também está presente ao lado “dos humildes e quebrantados de coração”. Deus mergulhou para dentro da sua criação quando se fez carne e habitou entre nós, e por isso, em Jesus de Nazaré, é chamado Emanuel – Deus conosco! O transcendente, é também presente.

Falamos hoje de um universo em expansão e em diversas dimensões. Euclides acreditava em 3 dimensões, enquanto Einsteien, a partir de sua teoria da relatividade propôs 4 dimensões. Os cientistas atuais discutem a Teoria das Supercordas e acreditam que são necessárias entre 11 e 26 dimensões para explicar a tessitura do universo: além das 4 conhecidas, algumas outras estariam enroladas e escondidas. Robinson sugere que quando a ideia de “acima, no meio e abaixo” ficou ultrapassada, pareceu melhor dizer que “Deus está lá fora”, isto é, fora do Universo, sob pena de ser confundido com ele ou suas realidades espaço–temporais.

Para explicar que Deus não é uma substancia material e não está dentro do seu universo – pois “Deus é Espírito”, os teólogos criaram essa idéia de que Deus é transcendente, isto é, Deus é de outra natureza, de outra ordem, nas palavras de Karl Barth, “Deus é totalmente outro”, absolutamente distinto de toda a realidade criada, e portanto está fora do universo. Isso também é verdadeiro. Mas essa não é toda a verdade, pois a tradição cristã também crê que Deus veio não apenas habitar entre em nós e ao nosso lado, mas também em nós, na pessoa de seu Espírito Santo. Essa constatação levou alguns teólogos, comenta Robinson, a resgatar outra verdade igualmente bíblica: Deus está nas profundezas do ser. Santo Agostinho, em suas Confissões, exclama: “Deus me é mais íntimo que meu íntimo, mais íntimo que eu a mim mesmo”. O mistério que esteve oculto durante os séculos foi revelado, conforme Paulo, apóstolo, e nos trouxe a mais gloriosa esperança: “Cristo em nós”. O transcendente, é também imanente.

Uma vez que “ninguém jamais viu a Deus’, que por sinal é identificado pelo apóstolo Paulo como aquele que “habita em luz inacessível”, buscamos diferentes maneiras de responder a pergunta “Onde está Deus?”. Lá em cima, lá fora, e nas profundezas do ser, são algumas delas. Mas quero sugerir uma quarta possibilidade: Deus está nas relações de amor, porque “Deus é amor”, e portanto, necessariamente um Deus em relação – relacionamento.

Ed René Kivitz: "Comercializar religão é melhor que vender drogas"


O menino e sua observação do Universo


via TVUOL

Orar antes e depois do orgasmo?!

Vídeo mostra terapeuta sexual ensinando que se deve orar após um orgasmo potente. “Bendito seja Deus”, ela recomenda dizer


/// ôôôôÔÔÔôÔh Glóriaaaaa

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Fé e consciência


Evangélicos recusam rótulo de curral eleitoral e avisam a candidatos que é preciso muito mais do que ser “irmão” para ganhar o voto

Marcelo Santos, na Revista do Brasil [via Pavablog]

Evangélica e nordestina, como se apresenta, Franqueline Terto dos Santos, de 31 anos, garante: na hora de votar, faz o que manda sua consciência, não os pastores ou lideranças de sua igreja, a Batista do Pinheiro, em Maceió. Ela lembra que em 2010, a poucos dias das eleições, o líder máximo de sua igreja no Brasil, o pastor Paschoal Piragine Junior, tentou desancar os candidatos da esquerda por meio de um vídeo que se tornou viral na internet. 
Pensamento livre. A alagoana Franqueline, na hora de votar, faz o que manda sua consciência, e não o que o pastor orienta (Foto: Arquivo pessoal)
No episódio, Piragine Junior orientava os crentes a não votar em candidatos do PT, classificava posições do então governo federal sobre aborto e homoafetividade como “iniquidade institucionalizada” e dizia que, caso os cristãos não se posicionassem nas urnas, “Deus iria julgar a Terra”.
Franqueline, ativista de movimentos sociais como o MST em Alagoas, não entrou na do pastor. E diz conhecer muitos evangélicos como ela que também ignoraram os arroubos partidários do líder religioso. O resultado eleitoral todos sabem. Mas o voto dos fiéis é cada vez mais alvo da sanha política. Principalmente após recente divulgação do Censo 2010: eles já somam 22% da população no país, um expressivo contingente de 42 milhões de pessoas. 
Os números podem ser medidos por meio do crescimento da participação na política partidária. A Frente Parlamentar Evangélica (FPE) no Congresso Nacional, composta por 70 deputados federais e três senadores, cresceu 50% em relação à legislatura anterior. “Desde a redemocratização, as lideranças passaram a trabalhar junto aos fiéis para que essa ‘tradução’ ocorresse. As elites evangélicas agiram no sentido de conquistar eleitores dentro de suas igrejas”, observa o cientista político Tiago Daher Padovezi Borges, da Universidade de São Paulo (USP). 
Segundo Borges, embora os evangélicos não se alinhem com uma visão comum de economia ou política, as lideranças conseguem mobilizar eleitores por meio de visitas às igrejas e da influência dos pastores. “A relação entre pastor e fiel existe, mas não é imediata. Os fiéis não votam de uma maneira cega com o pastor”, acredita. 
Pastor Elienai (Foto: Gerardo Lazzari)Ainda assim, a atuação parlamentar dos evangélicos tem sido contestada. Dados organizados pela ONG Transparência Brasil revelam que 32 deputados federais da Frente Parlamentar Evangélica, ou seja, quase metade, sofrem processos de sonegação fiscal, formação de quadrilha, peculato, corrupção eleitoral, improbidade administrativa e rejeição das contas de campanha. Nesse caso, justiça seja feita, o percentual é elevado, mas ainda abaixo da média do Congresso, onde 63% dos parlamentares estão em litígio com os Tribunais Regionais Eleitorais.
Elienai: “Muitos pastores não têm uma visão política decente. Para eles, o parlamentar é um despachante avançado da instituição" (Foto: Gerardo Lazzari/RBA)

Relação perigosa

Na opinião de Elienai Cabral Junior, liderança da igreja evangélica Betesda e pastor na zona leste de São Paulo, o pastoreio não combina com política partidária, já que instrumentaliza um valor que não é inerente a outras forças políticas. 
“O líder religioso possui uma aura mística que lhe é dada pela comunidade. Sua palavra tem um peso revestido de sacralidade. Se ele a usa para outros fins que não o sacerdócio, corrompe sua vocação, que é desinteressada. O sacerdócio tem de ser um exercício desprovido de qualquer troca”, sustenta.
Elienai já vivenciou a estranha relação entre igrejas e parlamentares. Na década de 1990 trabalhou no escritório do deputado distrital Peniel Pacheco (PDT-DF). Evangélico e próximo às lideranças de diversas igrejas, o político era constantemente procurado para as mais diversas solicitações. “Pediam cópias de cartazes para eventos, camisetas, lotes de terreno e até pão e salsicha para as festas das igrejas. Sempre dizíamos que o gabinete não dispunha de verbas para esses fins, o que contrariava bastante pastores e líderes”, conta.
Numa dessas ocasiões um pastor de uma grande igreja de Taguatinga, cidade-satélite de Brasília, procurou o gabinete em busca de passagens aéreas para um congresso religioso. Como não conseguiu, conforme lembra Elienai, o líder se indignou e foi atrás de outros deputados distritais. “Pouco tempo depois ele passou novamente exibindo os talões e disparando ameaças, tais como ‘o deputado não quer mais ser eleito, é isso?’”  
Para o pastor da Igreja Betesda, trata-se de um “mau exemplo” em que os próprios evangélicos atuam para corromper os políticos. “Muitos pastores não têm uma visão política decente. Para eles o parlamentar é um despachante avançado da instituição.”

Debates no templo

Pastor Levi (Foto: Fernanda Salviano)Filho de metalúrgico e nascido em Santo André, o pastor Levi Correa de Araújo sente falta da época em que sua antiga igreja organizava debates com políticos e gestores públicos no ABC Paulista. “Foi uma extraordinária experiência pedagógica, de formação e informação sobre política, política partidária e políticas públicas.” Era 2002 e Levi, então envolvido na organização das Conferências de Direitos Humanos de Santo André, atuava na Primeira Igreja Batista da cidade. O que começou como um protesto contra o antigo vício de uso do ambiente religioso como curral eleitoral, questionando a máxima “irmão vota em irmão”, transformou-se em espaço em que representantes do poder público prestavam esclarecimentos dentro da nave da igreja. 
Levi: tempo de eleição é propício para a igreja promover debate, contribuir com informação e com formação 
(Foto: Fernanda Salviano)
Com a proximidade das eleições, Levi teve a ideia de convidar candidatos ao governo estadual e os presidenciáveis. O então candidato Luiz Inácio Lula da Silva esteve por lá, acompanhado à época pelo senador norte-americano e ativista pelos direitos humanos Jesse Jackson e por intelectuais como o teólogo Leonardo Boff. A organização de debates e outras atividades de reflexão continuou por mais um ano, quando Levi, por motivos pessoais, deixou o pastoreio daquela igreja.

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