Por Hermes C. Fernandes, no Cristianismo Subversivo
A igreja cristã contemporânea está enferma. Um vírus chamado “falso profetismo” infiltrou-se em seu organismo e o infectou. Acredito na possibilidade de tal contágio, porém, sem afetar os fundamentos. Deixe-me explicar:
Paulo, o apóstolo, diz que “ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo” (1 Co.3:11). Todas as denominações que professam sua fé em Cristo, têm n’Ele seu único e irremovível fundamento. Por pior e mais letal que seja um vírus, ele é incapaz de afetar a composição genética do organismo. O DNA é o fundamento que não pode ser alterado. Qualquer grupo religioso que confessar que Cristo é o Filho de Deus, vindo ao mundo para salvar a humanidade, pode ser reconhecido como genuinamente cristão.
O problema começa, não no fundamento, mas na edificação das paredes. Embora o fundamento já esteja posto, “veja cada um como edifica sobre ele” (v.10b). Uns poderão levantar um edifício de ouro, outros de madeira, e outros até de palha.
Jamais poderemos culpar a Cristo pela cabeça de porco que alguns ministérios têm edificado sobre Ele. Porém, é mister que se diga que cada obra passará por uma avaliação. Não se vai avaliar a beleza das paredes, mas a sua durabilidade. Afinal de contas, o fruto que produzimos deve permanecer.
Madeira, palha e feno não servem porque são incapazes de resistir ao fogo. Ouro, prata e pedras preciosas são preferidos, não por serem mais apresentáveis, mas por serem resistentes ao tempo, às pressões, às altas temperaturas e à corrozão.
Quem resolve construir com materiais nobres, sabe que sua obra não ficará pronta da noite para o dia, porque tais materiais não são facilmente encontrados. Há que se garimpar, depurar, derreter e depois dar formato a eles. Para quem tem pressa, madeira, palha e feno são sempre abundantes, e podem ser encontrados em qualquer esquina.
Essa é a diferença entre edificar com a sabedoria do alto, e edificar a partir de estratégias humanas. O que precisamos não é de marketing, e sim da exposição do Evangelho de Deus que é poder de Deus para a salvação de todo o crê. Mas logo surgem os falsos profetas, com suas insinuações, do tipo: Bem, se fosse do meu jeito, as coisas seriam diferentes; a igreja cresceria mais rapidamente; haveria mais recursos disponíveis.
O falso profeta se apresenta como um baluarte da eficiência. Para eles, o mais importante é atrair as pessoas, e para isso, apresentam sempre uma mensagem ao gosto do freguês.
Veja a denúncia feita por Ezequiel:
“A minha mão será contra os profetas que têm visões falsas e que adivinham mentira (...) Visto que, sim, visto que andam enganando o meu povo, dizendo: Paz, não havendo paz, e quando se edifica a parede, rebocam-na de argamassa fraca, portanto dize aos que a rebocam de argamassa fraca que ela cairá. Haverá uma chuva torrencial, e grandes pedras de saraiva cairão, e um vento tempestuoso a fenderá. Caindo a parede, não vos perguntarão: Onde está o reboco de que a rebocaste?” (Ez.13:9a, 10-12)
Nesta visão, os profetas eram responsáveis pela edificação das paredes. Ainda que se use material de primeira, se as paredes não forem devidamente emboçadas, fatalmente cairão. É o emboço que dá firmeza à parede. Não basta que os tijolos estejam bem ajustados , rejuntados e no prumo. Eles têm que estar firmes.
Os profetas de Israel estavam usando argamassa fraca. Que argamassa era essa? O texto revela:
“Assim diz o Senhor Deus: Ai das que cosem pulseiras mágicas para todos os braços, e que fazem véus de diferentes comprimentos para suas cabeças, a fim de caçarem as almas! Caçareis as almas do meu povo mas preservareis as vossas próprias?” (v.18)
A argamassa usada pelos profetas de Israel era uma mistura de misticismo elegalismo, bem semelhante à que temos presenciado em nossos dias. Porém hoje, o misticismo está mais variado, sofisticado e arrojado. Além de pulseiras mágicas, encontramos também outros pontos de contacto, como rosas ungidas, mantos, fogueiras santas, etc.
Os que tais coisas praticam se justificam dizendo que são estratégias para atrair as pessoas a Cristo. Em vez de pescadores de homens, tornaram-se caçadores de almas. O tipo de pesca usada por Cristo como analogia do trabalho de evangelização é a pesca com redes, que dispensa o uso de apetrechos, de iscas e anzóis. Caçadores usam armas e arapucas, pescadores de homens usam apenas redes. Basta lançar a Palavra da Verdade, e as almas virão, como aconteceu no dia de Pentescostes.
O misticismo é, sem dúvida alguma, a marca principal da igreja contemporânea. Mas além dele, também encontramos outro sintoma desta doença que é o ‘falso profetismo’. Trata-se do legalismo.
No texto de Ezequiel, lemos sobre profetizas que faziam véus de diferentes comprimentos para suas cabeças. Tais véus tinham como objetivo vender uma imagem de santidade. Tudo no afã de caçar as almas incautas.
A genuína santidade não tem nada a ver com o comprimento das saias, ou dos cabelos, ou com qualquer outra coisa ligada à aparência. A verdadeira santidade tem mais a ver com o comprimento da língua. Tanto o misticismo quanto o legalismo aprisionam as pessoas. São rebocos feitos de argamassa fraca, que a qualquer momento apodrecerão, fazendo com que a parede se fragilize e se deteriore.
Depois que a parede cai, não adianta acusar o diabo ou a oposição. É o próprio Deus quem Se levanta contra tais profetas, para derrubar-lhes as paredes mal emboçadas.
Repare no que diz o texto:
“Portanto, assim diz o Senhor Deus: Aí vou eu contra as vossas pulseiras mágicas, com que vós ali caçais as almas como aves, e as arrancarei de vossos braços; soltarei as almas que vós caçais como aves. Rasgarei os vossos véus, e livrarei o meu povo das vossas mãos; nunca mais estará ao vosso alcance para ser caçado. Então sabereis que eu sou o Senhor” (vv.20-21).
Não importa o sucesso momentâneo que um ministério alcance, se estiver baseado na falsidade, na mentira, no roubo, na extorsão, na traição, a parede um dia virá a baixo. Deus mesmo a derribará.
O fundamento permanecerá intacto, e sobre ele, o próprio Deus reedificará.
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