Por Hermes C. Fernandes, no Cristianismo Subversivo
"Pensai por conta própria e deixai que os demais desfrutem do direito de fazer o mesmo". Voltaire
Um dos pilares da democracia é a liberdade de expressão. Qualquer tipo de censura é contrário ao espírito democrático. Parafraseando Voltaire, ainda que eu não concorde com as idéias de alguém, devo defender o seu sagrado direito de expressá-las. Se impedirmos que as pessoas se expressem livremente, jamais saberemos o que há em seu coração. Estaremos forçando-as a viver hipocritamente.
Sobre isso, Jesus disse:
"Ou fazei a árvore boa e o seu fruto bom, ou fazei a árvore má e o seu fruto mau, pois pelo fruto se conhece a árvore. Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca. O homem bom tira boas coisas do seu bom tesouro, e o homem mau do mau tesouro tira coisas más. Mas eu vos digo que de toda palavra frívola que os homens proferirem hão de dar conta no dia do juízo". Mateus 12:33-36.
Liberdade de expressar suas idéias, opiniões, dúvidas, anseios e temores, é condição sine qua non para que o ser humano desfrute de saúde emocional. Entretanto, deve-se tomar cuidado para que tal liberdade não esbarre no bom senso, possibilitando denegrir pessoas e instituições, e insuflando a sociedade a cometer injustiças. Como disse o escritor e médico americano Oliver Wendell Holmes,"liberdade de expressão não dá direito a alguém de gritar 'Fogo' em um teatro lotado".
A liberdade de expressão, como todo poder, demanda responsabilidade. Não se trata de censura, ou de algum tipo de mordaça, mas de responsabilidade. Quem quer desfrutar de plena liberdade de expressão, tem que estar disposto a arcar com a responsabilidade sobre aquilo que diz e faz.
Todo ser humano tem o direito de discordar, questionar, argumentar e defender suas idéias. Ninguém deve ser privado desse direito, nem mesmo no ambiente eclesiástico.
Uma das coisas que mais me atraem nas Escrituras é a franqueza e honestidade com que são expostos seus personagens e suas respectivas histórias. Encontramos de tudo nas páginas do texto sagrado: homicídios, genocídios, estupro, incesto, adultério, corrupção. Jamais foi propósito de Deus jogar a poeira pra debaixo do tapete. A mesma Bíblia que fala dos feitos heróicos de Davi, também revela suas ambigüidades, seu adultério, sua péssima atuação como pai, etc. Deus não poupou nem aquele que fora chamado de “o homem segundo o coração de Deus”.
Recentemente, houve uma campanha em Hong Kong, para que a Bíblia fosse proibida para menores de 18 anos, por causa de seu conteúdo explícito e impróprio para mentes imaturas. Qual deveria ser nossa postura como cristãos diante da censura? É certo censurar obras de arte? É ético conceder ao Estado o direito de dizer o que deve ou não ser acessível ao público?
Ora, se os cristãos resolvermos pressionar o governo a promover algum tipo de censura nos meios de comunicação, devemos estar preparados para sermos vítimas do próprio feitiço. Deveríamos ser gratos a Deus pela liberdade de expressão que a democracia nos garante.
Todavia, convém lembrar que essa estrada tem mão dupla. Assim como queremos opinar sobre assuntos controversos como o homossexualismo, o aborto, e outros, devemos estar prontos para ouvir e receber com humildade as eventuais críticas e opiniões contrárias a nosso respeito. Não podemos, simplesmente, querer calar a boca de quem pensa diferente de nós. Somos uma sociedade pluralista, e devemos ser agradecidos por isso. Pergunte a quem vive em um país islâmico fundamentalista o que acha da liberdade de que usufruímos em nosso país.
Prensa na Imprensa
A imprensa deve ter completa isenção para publicar a verdade sem parcialidade. Nenhum órgão de imprensa deveria estar ideologicamente comprometido. Infelizmente não é isso que constatamos. Já que esse ideal
parece não ser alcançável, somente os articulistas dos jornais deveriam expressar suas opiniões particulares, e a direção deveria restringir-se a expressar suas opiniões em seus editoriais. Porém, os repórteres deveriam limitar-se a publicar as notícias com isenção e sem parcialidade. Deve-se dar a notícia, e deixar que o leitor faça sua própria interpretação.
parece não ser alcançável, somente os articulistas dos jornais deveriam expressar suas opiniões particulares, e a direção deveria restringir-se a expressar suas opiniões em seus editoriais. Porém, os repórteres deveriam limitar-se a publicar as notícias com isenção e sem parcialidade. Deve-se dar a notícia, e deixar que o leitor faça sua própria interpretação.
Quando João, o Batista, enviou dois de seus discípulos para conferir se Jesus realmente era o Messias, ou se deveriam continuar esperando, Ele respondeu: "Ide, e anunciai a João as coisas que ouvis e vedes: Os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são limpos, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados e aos pobres é anunciado o evangelho" (Mt.11:4-5). Jesus não disse que sim, nem disse que não. Apenas pediu que eles reportassem a João tudo o que haviam visto Jesus fazer. O Mestre sabia que João encontraria a resposta tão logo recebesse a reportagem dos seus discípulos.
Não se pode subestimar a capacidade de compreensão que as pessoas têm, nem tampouco achar que devamos pensar por elas. Deixemos que tirem suas próprias conclusões. Não as manipulemos, nem as façamos aderir às nossas opiniões.
Foi Sócrates, o grande filósofo grego, que criou um método de ensino chamado maiêutica, que significa "o parto de idéias", em homenagem à sua mãe, que era parteira. Na maiêutica, Sócrates estimulava seus alunos a dar à luz novas idéias. Em vez de lhes dar respostas fáceis, pré-fabricadas, mastigadas, Sócrates lhes respondia sempre com uma nova pergunta. Seu objetivo era que o discípulo encontrasse a resposta por si mesmo, e assim, se sentisse pai daquela ideia. Uma ideia adotada é facilmente abandonada. Mas uma ideia parida, concebida pela própria pessoa, dificilmente é descartada. Jesus usava método semelhante em Seu ministério. Muitas das perguntas que lhes eram feitas, eram respondidas com outras perguntas.
Quem defende a liberdade de expressão, deve igualmente defender a liberdade de pensamento.
Concordo com o Prof. Dr. José Luiz Furtado, que em seu texto “O que significa pensar’, conclui: “Se é verdade que o pensamento constitui a essência do homem, então nossa época é paradoxal. As informações circulam em quantidade surpreendente, através de meios de comunicação cada vez mais sofisticados e eficazes. Entretanto, a liberdade de expressão, quando reduzida à liberdade de imprensa, parece caminhar em sentido contrário à liberdade de pensamento. No momento em que tudo pode ser dito e comunicado, quase nada do que se veicula pela mídia é verdadeiramente pensado.” O papel da imprensa é dar a notícia, mas jamais manipular a opinião de seus leitores.
Internet e livre acesso à informação
Foi em 1844 que Samuel Morse ajudou a anunciar o início da era da comunicação, ao telegrafar de Washington para Baltimore a frase que foi imortalizada: “Que obra fez Deus!” Era o início de uma revolução, um caminho sem volta. A estrada da comunicação tem mão dupla: liberdade de expressão deve vir acompanhada de livre acesso à informação.
Com o advento da internet em anos recentes, muitas barreiras tiveram que ceder à liberdade expressão e ao livre acesso à informação. Mesmo países onde a censura ainda prevalece, internautas têm acesso quase ilimitado às informações contidas na grande rede mundial de computadores. Acredita-se que, até 2020, a Internet vá dar acesso à soma total da experiência humana neste planeta, o conhecimento coletivo e a sabedoria dos últimos cinco mil anos de história registrada. A revolução que estamos presenciando vai afetar a sociedade humana de maneira mais profunda e abrangente do que a revolução industrial.
Espero que a igreja de Cristo saiba usar esta poderosa ferramenta, não para impor a verdade a ninguém, mas simplesmente para dar a boa notícia de que Cristo está reinando soberanamente, conclamando aos homens a que se reconciliem com Ele. Deixemos ao Espírito Santo o papel de convencer e converter os corações.