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"Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever - inclusive a sua própria história." Bill Gates

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segunda-feira, 25 de março de 2013

Cidades no interior cearense obtêm resultados exemplares

Educação redonda. Alunos de escola de Groaíras participam de roda de leitura:
desempenho surpreendente em salas simples e de móveis antigos
JARBAS OLIVEIRA/7-3-2013
Flávio Freire, O Globo

GROAÍRAS (CE) - A maioria dos alunos da 8ª série da escola Professora Júlia Elisa Farias, em Groaíras, sertão cearense, usa chinelo de dedo na sala de aula. Adolescentes, idade média de 14 anos, nenhum deles manuseia smartphones ou tablets. Alguns levam banana para completar a merenda que recebem no intervalo. É simples o prédio do colégio, fincado num bairro de periferia com ruas de pedra e barro, e cujo portão de acesso é trancado com arame enferrujado. Alguns alunos, para estudar ali, chegam de carona no lombo do cavalo. Há duas semanas, compenetrados, meninos e meninas estavam diante do primeiro simulado do ano. Interpretavam o texto que ilustrava uma das tirinhas da personagem argentina Mafalda, garota de humor ácido e raciocínio rápido. Mal percebiam a movimentação da equipe do GLOBO. Estavam atentos a perguntas e respostas em diferentes matérias, as quais testariam o quanto aprenderam nos últimos dias.

Tem sido essa a rotina nos últimos anos, quando a Secretaria municipal de Educação adotou a aplicação de simulados semanalmente. A prefeitura ainda colocou cuidadores em salas de aula — profissionais que dividem espaço com os professores para dar atenção especial a alunos com dificuldade de aprendizado —, criou turnos especiais para aulas de reforço e pregou um quadro colorido na sala dos professores que indica o grau de frequência e ausência dos alunos por turma.

Média de país desenvolvido

Resultado: as crianças de famílias simples ajudaram a colocar Groaíras no ranking das escolas com resultado surpreendente no último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). A nota da cidade foi 6,7, considerada uma média de países desenvolvidos (acima de 6,0). Assim como acontece em Sobral, segunda maior cidade cearense, que fica a 38 quilômetros de Groaíras, os alunos dessa cidade também estão amparados pelo Programa de Alfabetização na Idade Certa (Paic), implantado no estado em 2007. Após cinco anos de trabalho, os resultados começaram a aparecer. Em 2011, os municípios atingiram a média satisfatória de alfabetização.

Uma análise feita pelo Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica demonstrou que 81,5% dos estudantes do Ceará encontram-se alfabetizados ao término do segundo ano do ensino fundamental. Em 2007, esse percentual era de 40%. Com relação aos municípios cearenses, 178 atingiram médias de proficiência em nível desejável, seguidos de seis que estão em patamar “suficiente”.

O reflexo positivo tem sido percebido em boa parte dos municípios do Ceará. De 11 cidades nordestinas com boas notas no exame, nove estão no estado.

Com pouco mais de dez mil habitantes, cerca de dois mil jovens estão distribuídos nas seis escolas de Groaíras, em diferentes turnos. Desse total, 40% na zona rural. A cidade tem apenas 80 professores efetivos. Chama a atenção a aparente falta de estrutura nas unidades de ensino. As salas de aulas são simples, carteiras e cadeiras antigas e algumas janelas sem cortina ou persiana. Ao chegar de surpresa, no entanto, O GLOBO identificou quase todas as turmas em atividade. Além de simulados, vídeo de História do Brasil era apresentado aos alunos de uma das séries, assim como rodas de leitura e aulas de reforço em uma área anexa ao colégio.

— Nossa prioridade é focar nas necessidades do aluno. Este ano, vamos passar os simulados para cada 15 dias e, assim, poderemos ter mais tempo para fazer o diagnóstico individual dos alunos — diz a secretária municipal de Educação, Ana Paula Lima Azevedo, que assumiu o cargo no início do ano.

Dentro do projeto de personalizar o sistema de aprendizado, o primeiro passo foi dado. A secretaria já identificou 94 alunos com necessidade especial de aprendizado. São eles que se revezam em aulas de reforço e ganham atenção em salas improvisadas. José Cassiano Ximenes, de 12 anos, parecia brincar com jogos de encaixe. O garoto era auxiliado pela cuidadora Maria Antônia Paiva Souza, mãe de um menino com necessidades especiais, e,agora, responsável por tentar “acalmar” o garoto, considerado hiperativo e com déficit de atenção. Enquanto a professora dava aula de Português, Maria Antônia focava atenção no menino.
— É importante a gente prestar atenção na dificuldade de cada aluno. As crianças são muito diferentes umas das outras, e, muitas vezes, esse olho no olho é o que mais pode ajudar alguém com mais problema para aprender — diz Maria Antônia.

Também no sertão cearense, a cidade de Mucambo é outra que comemora bons resultados no Ideb. Com 15 mil habitantes, 3,1 mil alunos e 18 escolas, o município alcançou a nota 7,5 no ano passado. Resultado, segundo as autoridades locais, de um trabalho que vai além das salas de aula. Há anos, o município tem feito um trabalho porta a porta para tentar aproximar o máximo possível as famílias dos alunos da escola. Segundo a secretária municipal de Educação, Xarla Paulino Nepomuceno, os agentes de ensino são orientados a ter encontros semanais com as famílias dos estudantes, melhorando desse modo o diagnóstico individual.

— Assim, a gente fica sabendo o que pode estar, de fato, prejudicando o rendimento de um determinado aluno. Muitas vezes, ele não tem problema para aprender, mas tem uma situação doméstica que tira seu foco — diz Xarla.

Para melhorar esse trabalho, a prefeitura de Mucambo contratou duas psicopedagogas para acompanhar a relação entre a escola e os alunos, principalmente os matriculados do 1º ao 5º ano do ensino fundamental. No caso de Mucambo, uma situação chama a atenção. O número de reprovados aumentou de 2011 para 2012, passando de 73 para 125 estudantes. A secretaria explica que não há o sistema de progressão continuada, como alguns estados adotaram.

— Os alunos não podem passar de um ano para o outro sem conhecimento. Se isso acontece, acabaríamos tendo alunos analfabetos na quinta série, por exemplo — diz Xarla.

Além de Mucambo e Groaíras, outros sete municípios cearenses tiveram boas notas no Ideb: Sobral (7,3), Itarema (6,9), Jijoca de Jericoacoara (6,9), Pedra Branca (6,6), Independência (6,4), Novo Oriente (6,4) e Milhã (6,0).
/// Há esperança para uma boa educação, e formação integral dos alunos e cidadãos.

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