O cardeal brasileiro Odilo Scherer viajou esta semana para Roma para o conclave que elegerá o sucessor do papa Bento 16. E seus fiéis rezam para que não volte.
No Brasil, país com o maior número de católicos do mundo, muitos sonham em ver no próximo mês o arcebispo de São Paulo surgir de branco no balcão da Basílica de São Pedro, como o primeiro papa latino-americano.
O cardeal de 63 anos que fala de política e conta piadas em sua conta no Twitter é, dizem seus fiéis, um candidato ideal para tirar a Igreja Católica da crise e renová-la.
"Que ninguém espere coisas espetaculares", advertiu no domingo, em sua última missa antes de embarcar para Roma. "Não imaginemos que a eleição do papa seja uma questão de políticas humanas", acrescentou.
Mas, como pastor de um dos maiores rebanhos católicos do mundo, vários analistas colocam Scherer entre os candidatos para suceder Bento 16, que deixa o pontificado nesta quinta-feira por razões de idade depois de um período abalado por intrigas e escândalos.
"Seria muito bom para o Brasil", disse Ruth de Souza, de 67 anos, na saída da Catedral da Sé, no centro de São Paulo. "Nós, católicos, estamos sendo muito pressionados pelas igrejas evangélicas", acrescentou.
As igrejas na América Latina, historicamente um bastião do catolicismo, foram se esvaziando durante os últimos anos à medida que mais e mais fiéis desertaram para os cultos evangélicos.
E o Brasil é um dos principais campos de batalha na disputa por almas, que, junto com os escândalos de abusos sexuais, será um dos maiores desafios do próximo papa.
A população católica do país minguou de 73,6 por cento em 2000 para 64,6 por cento, segundo o censo de 2010. Na mesma década, a porcentagem de evangélicos cresceu de 15,4 para 22 por cento.
Scherer sabe disso. Sua exortação para redobrar a fé retumbou no domingo em uma catedral com a metade dos bancos vazios e a outra ocupada na maioria por mulheres e idosos.
"Um papa brasileiro ajudaria muito a evangelização da América Latina", disse Valeriano Costa, diretor da Faculdade de Teologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. "Daria à Igreja uma visão juvenil, outra mentalidade", disse.
"Scherer tem a capacidade de assumir um pontificado. Mas não sei se os cardeais estão maduros para tomar essa decisão", acrescentou.
A matemática, pelo menos, está contra ele: apesar de ter 50 por cento dos católicos do planeta, a América Latina contará apenas com 19 cardeais com direito a voto no conclave, ou cerca de 16 por cento do total.
Cerca de 52 por cento dos cardeais que se fecharão no próximo mês na Capela Sistina para escolher o próximo papa são europeus, que nos últimos 15 séculos passaram elegendo o papa entre eles.
DIFÍCIL DE ROTULAR
Os analistas têm dificuldades para rotular Scherer, um homem que escuta Beethoven, mas também Chico Buarque.
Conservador em assuntos como a união de pessoas do mesmo sexo, o aborto ou as investigações com células-tronco, o cardeal brasileiro é visto como um religioso moderno e conectado com a realidade social do Brasil.
Scherer, que costuma andar de metrô e usa um iPhone 4S, ainda tem senso de humor. Preso recentemente em um dos congestionamentos que martirizam diariamente seus fiéis, tuitou em sua conta @DomOdiloScherer: "Espero que o caminho para o céu esteja ainda mais congestionado que o de São Paulo".
O cardeal defende a participação dos católicos na política e não se esquiva de polêmica.
Filho de imigrantes alemães radicados no sul do Brasil, Scherer teve uma carreira meteórica dentro da Igreja, até chegar a cardeal em 2007 com 58 anos, um dos mais jovens da história moderna da Igreja.
Seus assessores dizem que é pragmático e articulador de consensos, algo que poderia ajudá-lo a colocar ordem na Igreja fustigada por escândalos e traições.
Além disso, conhece os meandros da Cúria Romana, onde trabalhou durante anos na Congregação para os Bispos e - dizem - conserva amigos influentes.
Um sinal de que está destinado a coisas grandes, segundo observadores do Vaticano, é que foi designado por Bento 16 para integrar dois grupos de elite: um novo conselho para promover a evangelização e uma comissão para supervisionar o Instituto para as Obras Religiosas, o banco do Vaticano sob suspeitas de irregularidades financeiras.
Seus colaboradores dizem que "há expectativas" em torno do cardeal. Mas Scherer mantém a bola no chão.
"Seria muito pretensioso que um cardeal dissesse: ‘estou preparado'", disse a jornalistas após a renúncia de Bento 16 no início de fevereiro. "Ninguém vai dizer: ‘sou candidato'".
No Brasil, país com o maior número de católicos do mundo, muitos sonham em ver no próximo mês o arcebispo de São Paulo surgir de branco no balcão da Basílica de São Pedro, como o primeiro papa latino-americano.
O cardeal de 63 anos que fala de política e conta piadas em sua conta no Twitter é, dizem seus fiéis, um candidato ideal para tirar a Igreja Católica da crise e renová-la.
"Que ninguém espere coisas espetaculares", advertiu no domingo, em sua última missa antes de embarcar para Roma. "Não imaginemos que a eleição do papa seja uma questão de políticas humanas", acrescentou.
Mas, como pastor de um dos maiores rebanhos católicos do mundo, vários analistas colocam Scherer entre os candidatos para suceder Bento 16, que deixa o pontificado nesta quinta-feira por razões de idade depois de um período abalado por intrigas e escândalos.
"Seria muito bom para o Brasil", disse Ruth de Souza, de 67 anos, na saída da Catedral da Sé, no centro de São Paulo. "Nós, católicos, estamos sendo muito pressionados pelas igrejas evangélicas", acrescentou.
As igrejas na América Latina, historicamente um bastião do catolicismo, foram se esvaziando durante os últimos anos à medida que mais e mais fiéis desertaram para os cultos evangélicos.
E o Brasil é um dos principais campos de batalha na disputa por almas, que, junto com os escândalos de abusos sexuais, será um dos maiores desafios do próximo papa.
A população católica do país minguou de 73,6 por cento em 2000 para 64,6 por cento, segundo o censo de 2010. Na mesma década, a porcentagem de evangélicos cresceu de 15,4 para 22 por cento.
Scherer sabe disso. Sua exortação para redobrar a fé retumbou no domingo em uma catedral com a metade dos bancos vazios e a outra ocupada na maioria por mulheres e idosos.
"Um papa brasileiro ajudaria muito a evangelização da América Latina", disse Valeriano Costa, diretor da Faculdade de Teologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. "Daria à Igreja uma visão juvenil, outra mentalidade", disse.
"Scherer tem a capacidade de assumir um pontificado. Mas não sei se os cardeais estão maduros para tomar essa decisão", acrescentou.
A matemática, pelo menos, está contra ele: apesar de ter 50 por cento dos católicos do planeta, a América Latina contará apenas com 19 cardeais com direito a voto no conclave, ou cerca de 16 por cento do total.
Cerca de 52 por cento dos cardeais que se fecharão no próximo mês na Capela Sistina para escolher o próximo papa são europeus, que nos últimos 15 séculos passaram elegendo o papa entre eles.
DIFÍCIL DE ROTULAR
Os analistas têm dificuldades para rotular Scherer, um homem que escuta Beethoven, mas também Chico Buarque.
Conservador em assuntos como a união de pessoas do mesmo sexo, o aborto ou as investigações com células-tronco, o cardeal brasileiro é visto como um religioso moderno e conectado com a realidade social do Brasil.
Scherer, que costuma andar de metrô e usa um iPhone 4S, ainda tem senso de humor. Preso recentemente em um dos congestionamentos que martirizam diariamente seus fiéis, tuitou em sua conta @DomOdiloScherer: "Espero que o caminho para o céu esteja ainda mais congestionado que o de São Paulo".
O cardeal defende a participação dos católicos na política e não se esquiva de polêmica.
Filho de imigrantes alemães radicados no sul do Brasil, Scherer teve uma carreira meteórica dentro da Igreja, até chegar a cardeal em 2007 com 58 anos, um dos mais jovens da história moderna da Igreja.
Seus assessores dizem que é pragmático e articulador de consensos, algo que poderia ajudá-lo a colocar ordem na Igreja fustigada por escândalos e traições.
Além disso, conhece os meandros da Cúria Romana, onde trabalhou durante anos na Congregação para os Bispos e - dizem - conserva amigos influentes.
Um sinal de que está destinado a coisas grandes, segundo observadores do Vaticano, é que foi designado por Bento 16 para integrar dois grupos de elite: um novo conselho para promover a evangelização e uma comissão para supervisionar o Instituto para as Obras Religiosas, o banco do Vaticano sob suspeitas de irregularidades financeiras.
Seus colaboradores dizem que "há expectativas" em torno do cardeal. Mas Scherer mantém a bola no chão.
"Seria muito pretensioso que um cardeal dissesse: ‘estou preparado'", disse a jornalistas após a renúncia de Bento 16 no início de fevereiro. "Ninguém vai dizer: ‘sou candidato'".
fonte: O Estadão