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"Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever - inclusive a sua própria história." Bill Gates

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sexta-feira, 15 de março de 2013

A Bíblia, Jesus e eu

imagem: google


Ricardo Gondim, no seu site
Aconteceu num feriado. O sol já caminhava na metade do seu percurso diário quando, preguiçosamente, resolvi pular da cama. Sem coragem de enfrentar um ônibus até a praia, decidi ficar em casa. E ler. Fui até a estante abarrotada e sempre empoeirada, querendo um livro que me servisse de companhia em um dia que me parecia sem importância. A capa preta da Bíblia sobressaiu.
Eu já tentara entendê-la, mas não conseguia terminar o quarto livro, Números, cheio de estatísticas chatas. As Escrituras me punham para dormir. Hesitei se devia ou não tentar enfrentá-la mais uma vez. Duas mãos pareceram se estender do seu dorso, implorando que eu a salvasse daquele monte de pó. Aquiesci.
Adolescente sem grandes pretensões, eu não cogitava mudança radical de vida. Ledo engano. Ao pegar a Bíblia, jamais fui o mesmo.
Lembrei que amigos crentes aconselharam a ler o Novo Testamento. Abri em Mateus e em poucos minutos cheguei ao Sermão do Monte. Cada versículo se destacou como punhal, lacerando a minha alma. As sentenças de Jesus me encurralavam. E Mateus 7.13-14 me levou a nocaute: “Entrem pela porta estreita, pois larga é a porta e amplo o caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram por ela. Como é estreita a porta, e apertado o caminho que leva à vida! São poucos os que a encontram”. Esta simples declaração, no começo de uma tarde despretensiosa, me fez trancar a porta e, ajoelhado, assumir o compromisso que definiria meu futuro: eu tentaria seguir Jesus pela vereda estreita.
Desde então procuro referenciar-me a partir do que aprendo sobre Jesus na Bíblia, que passou a ser o texto fundante de minha fé. Procuro estudá-la. Medito em seus ensinos. Nela baseio palestras e sermões.
A Bíblia é uma coletânea de livros que narra a história de pessoas, famílias e nações; com relatos milenares do comportamento humano nas crônicas, sabedoria popular nos provérbios, indignação social nos profetas, orações e cantos nos  Salmos. Revela como determinadas tribos, clãs e povos [os semitas principalmente] em determinados tempos, em determinadas circunstâncias perceberam Deus [com erros e acertos] e como ele os amou, apostando que o sol da justiça brilharia a partir das ações de quem ama e pratica o bem.
Alguns detalhes da Bíblia fascinam: sobreviveu a intermináveis manipulações do poder eclesiástico; tem histórias irretocadas de heróis que também são vilões: Abraão mentiu; Moisés, conhecido por sua mansidão, irou-se e matou; Davi, o reverenciado rei de Israel, adulterou e tramou o assassinato de um amigo. Pedro e Paulo travaram debates ríspidos sobre banalidades [usos e costumes]. Igrejas plantadas no primeiro esforço missionário tinham problemas seríssimos — em Corinto, o rito da Ceia descambou para bacanal.

A Bíblia não alega ter sido ditada ou psicografada. Em 2 Pedro 1.21 sua origem é considerada divina, sem desmerecer a singularidade dos autores: “Pois jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens santos falaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo”. O conceito de “inspiração” sugere que Deus respeitou liberdade e ambiguidade humanas, permitindo inclusive contradição nos relatos históricos. Diante de circunstâncias diversas, autores demonstraram que a revelação pode se dar dentro de contextos geográficos, sociais e culturais distintos.
Para os cristãos, a Bíblia prepara a linhagem do Messias e o revela; sua grandeza reside na encarnação. A chegada do Messias, seu breve tempo de vida na terra, seu curtíssimo ministério, fazendo o bem e anunciando a chegada do reino de Deus, sua morte e ressurreição, representa o eixo da mensagem. Até Jesus Cristo vir, Deus permanecia no campo da especulação. Na tradição filosófica grega se dizia que assim como um pássaro não pode voar até o infinito, os mortais jamais poderiam alcançar a divindade eterna. No cristianismo, Deus faz o caminho inverso. “Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos a sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1.14). O filho de Maria tornou Deus conhecido da humanidade. Paulo ressalta na carta aos colossenses (Cl 2.9): “Pois em Cristo habita corporalmente toda a plenitude da divindade”.
Em João 14.8-9, Felipe pediu uma revelação completa de Deus: “Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta”. Jesus respondeu: “Você não me conhece, Filipe, mesmo depois de eu ter estado com vocês durante tanto tempo? Quem me vê, vê o Pai. Como você pode dizer: Mostra-nos o Pa?”.
Jesus encarnou o Salmo 119.105 para que viajantes não se percam nas estradas tortuosas da vida: “A tua palavra é lâmpada que ilumina os meus passos e luz que clareia o meu caminho”. Aos vergados pela culpa, ele se tornou o bálsamo da liberdade, constantemente a dizer o que falou  à mulher na iminência de ser apedrejada: “‘Mulher, onde estão eles [os seus acusadores]? Ninguém a condenou? Eu também não a condeno. Agora vá e abandone sua vida de pecado” (Jo 8.10-11).
Jesus inspirou Paulo a um cântico: “Ó profundidade da riqueza da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos e inescrutáveis os seus caminhos! Quem conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Quem primeiro lhe deu, para que ele o recompense? Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para sempre!” (Romanos 11.33-36). E eu, desde a adolescência, não cesso de repetir a mesma canção.
Soli Deo Gloria

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